As obras obrigatórias dos vestibulares são uma pedra no sapato de muitos estudantes. Há muitos livros que devem ser lidos, alguns extensos e com uma linguagem complicada. Para te ajudar, disponibilizamos um resumo da obra Vidas Secas, de Graciliano Ramos!
O romance, que em 2018 completa 80 anos, conta a história de Fabiano e sua família, que vivem no sertão nordestino e diariamente enfrentam a dificuldade e a pobreza.
A ordem da narrativa
A obra contém 13 capítulos no total. Embora o padrão de leitura seja ler do primeiro ao último, os capítulos de “Vidas Secas” não têm continuidade temporal. Isso faz com que a obra possa ser lida em qualquer ordem.
No entanto, o ideal é que o primeiro capítulo, “Mudança”, e o último “Fuga” sejam lidos nessa sequência. Isso porque ambos demonstram o início e o fim de um ciclo.
Os personagens
Fabiano é um homem simples, com pouca familiaridade com as palavras. Trabalhou como vaqueiro e, por sua simplicidade na visão das coisas, muitas vezes se via cansado pelas palavras e ideias.
Sinha Vitória é uma mulher trabalhadora e com muita fé. Durante a história, ajudava o marido com o trabalho e cuidava dos filhos. Por saber fazer contas, avisava Fabiano sobre as trapaças que tentavam fazer com ele. Sinha Vitória sonhava com um futuro melhor para a família e seu maior desejo era ter uma cama com uma fita de couro.
Os dois filhos, que não têm nome, viviam alheios à realidade. O filho mais velho, curioso sobre as palavras, se aproxima da figura da mãe. Já o filho mais novo se espelhava na figura do pai.
A cadela Baleia, um dos personagens mais importantes da narrativa, é a companheira da família. Embora seja um animal, Baleia representa uma forma de humanização no livro. Enquanto Baleia é humanizada, os personagens humanos sofrem animalização devido às condições em que vivem. É notório também o fato de ela ter um nome e os filhos não.
Outros personagens aparecem no livro completando a narrativa. Entre eles estão: o Papagaio (morto por não saber falar), Seu Tomás da Baladeira (homem alfabetizado, que Fabiano admirava), Soldado Amarelo (simboliza os militares autoritários), o Dono da Fazenda (representa o poder econômico) e o Fiscal da Prefeitura (resume a visão de Fabiano sobre seus inimigos).
A história
O nordestino Fabiano, sua esposa Sinhá Vitória e seus filhos, que não têm nome, vivem uma vida de fuga das secas no sertão nordestino. A família segue sua rota até que chega a uma fazenda abandonada.
Sem perspectivas e cansados demais para continuar a viagem, Fabiano e sua família se alojam na fazenda. Pouco tempo depois a chuva chega ao sertão. O dono da fazenda reaparece e Fabiano passa a trabalhar como vaqueiro.
Prisão de Fabiano
Durante o período de morada na fazenda, Fabiano entra em uma confusão com o soldado amarelo por conta de um jogo de apostas. Após perder o jogo, é provocado pelo soldado com xingamentos e insultos. Até que Fabiano perde a cabeça, insulta a mãe do soldado e acaba preso. Durante seu período na prisão, Fabiano briga com outros presos e, revoltado, enxerga a família como um peso em sua vida.
Enquanto isso, Sinhá Vitória vive com os dois filhos e a cadela Baleia. A esposa de Fabiano segue sonhando com sua cama, que simboliza uma vida melhor. Os filhos seguem alheios à situação, cada um com suas características.
A chuva chega e todos se unem em casa ouvindo histórias inventadas de Fabiano, com fatos que ele nunca havia vivido. O natal chega também e a família inteira vai à festa da cidade. Fabiano, embriagado, fantasia uma vingança contra o soldado que o prendeu e acaba adormecendo no chão. Sinhá Vitória se vê cansada de suas responsabilidades com o marido e os filhos. Com vontade urinar durante o festejo, se abaixa em cantinho e resolve sua necessidade. Após resolvê-la, acende uma piteira e segue sonhando com um futuro melhor.
A morte de Baleia
Fabiano um dia vê o estado de Baleia, desnutrida e ferida, e resolve sacrificá-la por acreditar que está doente. Os filhos, apegados à cadela, protestam até que a mãe os tira de perto. Fabiano atira no traseiro de Baleia e ela, pressentindo seu fim, sente um misto de raiva e apego a Fabiano. Baleia morre com dor, mas sonhando com um paraíso onde poderia caçar preás, em um dos momentos mais marcantes da obra.
Chega por fim a hora em que a família deve seguir seu caminho fora da fazenda. Partem de madrugada: Fabiano com pensamentos sobre a cachorra Baleia; Sinha Vitória tentando conversar com o marido e ambos fazendo planos para o futuro e pensando se haveria um futuro mais promissor para os dois filhos.
Contexto histórico
Escrita durante a década de 1930 e publicada em 1938, a obra tem reflexos do que havia no Brasil e no mundo naquela época. Os Estados Unidos passavam pela grande Crise de 1929; a Europa se recuperava do fim da Primeira Guerra Mundial.
No Brasil, o Estado Novo de Getúlio Vargas, implantado em 1937, regia a sociedade sob um viés autoritário e anticomunista. O regime afetou diretamente a vida de Graciliano Ramos, que foi preso em 1936. Em 1945, o autor se filiou ao Partido Comunista Brasileiro.
Com influência da ideologia marxista, Graciliano Ramos incluía em suas obras algumas críticas ao capitalismo, como por exemplo a exploração pelas classes altas. Essa questão é bastante explorada em Vidas Secas com as reclamações de Fabiano sobre o dono da fazenda.
Corrente Literária
“Vidas Secas” compõe a 2ª geração do Modernismo no Brasil (geração de 1930), marcada pela Semana de Arte Moderna, de 1922. A valorização da cultura nacional era uma das bases dessa corrente. Muitas obras buscavam abordar atributos genuinamente brasileiros, fugindo da dominação de cultura europeia.
A literatura agora tinha a função não somente de entreter, mas de denunciar mazelas sociais, como ocorre em Vidas Secas. Além disso, as personagens tornaram-se mais profundas psicologicamente, buscando promover a reflexão do leitor.
Sobre o livro
O livro foi publicado em 1938 pela editora José Olympio, que publicou nomes como Rachel de Queiróz e Ferreira Gullar. Segundo informações do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (USP), a obra “Vidas Secas” foi traduzida para diversos idiomas, entre eles inglês, espanhol, italiano, francês, alemão, russo, polonês, holandês e húngaro.
Em 1963 o livro foi adaptado e deu origem ao filme “Vidas Secas”, dirigido por Nelson Pereira dos Santos. O filme fez parte do movimento Cinema Novo, que mudou o contexto artístico do Brasil com obras que questionavam os problemas sociais do país.
A obra faz parte da lista dos 100 Melhores Filmes Brasileiros segundo a Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abranccine). Além disso, o filme foi a única produção brasileira apontada pelo British Film Institut como uma das 360 obras fundamentais em uma cinemateca.
Sobre o autor
Nascido em 1892 no estado de Alagoas, Graciliano Ramos exerceu diversas atividades durante sua carreira. Foi romancista, jornalista, cronista, contista, político e memorialista, sendo mais conhecido pela obra Vidas Secas.
Viveu no Rio de Janeiro enquanto trabalhou como jornalista. Voltou para o Nordeste em 1915 e lá viveu até ser preso em 1936, durante o Governo Vargas. Solto no ano seguinte, o autor mudou-se para o Rio de Janeiro e lá viveu até 1953, ano de sua morte.
Homem de olhar crítico e político, Graciliano Ramos reuniu as vivências que teve no Nordeste a seu conhecimento formal para elaborar a obra Vidas Secas.
O que achou deste post? Deixe seu comentário e continue acompanhando o Blog do Kuadro para mais conteúdos sobre vestibular!