(ENEM - 2010) A carreira do crime Estudo feito por pesquisadores da Fundao Oswaldo Cruz sobre adolescentes recrutados pelo trfico de drogas nas favelas cariocas expe as bases sociais dessas quadrilhas, contribuindo para explicar as dificuldades que o Estado enfrenta no combate ao crime organizado. O trfico oferece ao jovem de escolaridade precria (nenhum dos entrevistados havia completado o ensino fundamental) um plano de carreira bem estruturado, com salrios que variam de R$ 400,00 a R$ 12.000 mensais. Para uma base de comparao, convm notar que, segundo dados do IBGE de 2001, 59% da populao brasileira com mais de dez anos que declara ter uma atividade remunerada ganha no mximo o piso salarial oferecido pelo crime. Dos traficantes ouvidos pela pesquisa, 25% recebiam mais de R$ 2.000 mensais; j na populao brasileira essa taxa no ultrapassa 6%. Tais rendimentos mostram que as polticas sociais compensatrias, como o Bolsa-Escola (que paga R$ 15 mensais por aluno matriculado), so por si s incapazes de impedir que o narcotrfico continue aliciando crianas provenientes de estratos de baixa renda: tais polticas aliviam um pouco o oramento familiar e incentivam os pais a manterem os filhos estudando, o que de modo algum impossibilita a opo pela deliquncia. No mesmo sentido, os programas voltados aos jovens vulnerveis ao crime organizado (circo-escola, oficinas de cultura, escolinhas de futebol) so importantes, mas no resolvem o problema. A nica maneira de reduzir a atrao exercida pelo trfico a represso, que aumenta os riscos para os que escolhem esse caminho. Os rendimentos pagos aos adolescentes provam isso: eles so elevados precisamente porque a possibilidade de ser preso no desprezvel. preciso que o Executivo federal e os estaduais desmontem as organizaes paralelas erguidas pelas quadrilhas, para que a certeza de punio elimine o fascnio dos salrios do crime. Editorial.Folha de São Paulo.15 jan. 2003. Com base nos argumentos do autor, o texto aponta para
(ENEM - 2010) Venho solicitar a clarividente ateno de Vossa Excelncia para que seja conjurada uma calamidade que est prestes a desabar em cima da juventude feminina do Brasil. Refiro-me, senhor presidente, ao movimento entusiasta que est empolgando centenas de moas, atraindo-as para se transformarem em jogadoras de futebol, sem se levar em conta que a mulher no poder praticar este esporte violento sem afetar, seriamente, o equilbrio fisiolgicos de suas funes orgnicas, devido natureza que disps a ser me, Ao que dizem os jornais, no Rio de Janeiro, j esto formados nada menos de dez quadros femininos. Em So Paulo e Belo Horizonte tambm j esto se constituindo outros. E, neste crescendo, dentro de um ano, provvel que em todo o Brasil estejam organizados uns 200 clubes femininos de futebol: ou seja: 200 ncleos destroados da sade de 2,2 mil futuras mes, que, alm do mais, ficaro presas a uma mentalidade depressiva e propensa aos exibicionismos rudes e extravagantes. Coluna Pnalti.Carta Capital.28 abr. 2010. O trecho é parte de uma carta de um cidadão brasileiro, José Fuzeira, encaminhada, em abril de 1940, ao então presidente da República Getúlio Vargas. As opções linguísticas de Fuzueira mostram que seu texto foi elaborado em linguagem
(ENEM - 2010) Negrinha Negrinha era uma pobre rf de sete anos. Preta? No; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruos e olhos assustados. Nascera na senzala, de me escrava, e seus primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros da cozinha, sobre velha esteira e trapos imundos. Sempre escondida, que a patroa no gostava de crianas. Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo na igreja e camarote de luxo reservado no cu. Entaladas as banhas no trono (uma cadeira de balano na sala de jantar), ali bordava, recebia as amigas e o vigrio, dando audincias, discutindo o tempo. Uma virtuosa senhora em suma dama de grandes virtudes apostlicas, esteio da religio e da moral, dizia o reverendo. tima, a dona Incia. Mas no admitia choro de criana. Ai! Punha-lhe os nervos em carne viva. [...] A excelente dona Incia era mestra na arte de judiar de crianas. Vinha da escravido, fora senhora de escravos e daquelas ferozes, amigas de ouvir cantar o bolo e estalar o bacalhau. Nunca se afizera ao regime novo essa indecncia de negro igual. LOBATO, M. Negrinha. In: MORICONE, I.Os cem melhores contos brasileiros do século.Rio de Janeiro: Objetiva, 2000 (fragmento). A narrativa focaliza um momento histórico-social de valores contraditórios. Essa contradição infere-se, no contexto, pela
(ENEM - 2010) Captulo III Um criado trouxe o caf. Rubio pegou na xcara e, enquanto lhe deitava acar, ia disfaradamente mirandoa bandeja, que era de prata lavrada. Prata, ouro, eram os metais que amava de corao; no gostava de bronze, mas o amigo Palha disse-lhe que era matria de preo, e assim se explica este par de figuras que aqui estna sala: um Mefistfeles e um Fausto. Tivesse, porm, de escolher, escolheria a bandeja - primor de argentaria, execuo fina e acabada. O criado esperava teso e srio. Era espanhol; e no foi sem resistncia que Rubio o aceitou das mos de Cristiano; por mais que lhe dissesse que estava acostumado aos seus crioulos de Minas, e no queria lnguas estrangeiras em casa, o amigo Palha insistiu, demonstrando-lhe a necessidade de ter criados brancos. Rubio cedeu com pena. O seu bom pajem, que ele queria pr na sala, como um pedao da provncia, nem pde deixar na cozinha, onde reinava um francs, Jean; foi degradado a outros servios. ASSIS, M. Quincas Borba. In:Obra completa. V.1. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1993 (fragmento). Quincas Borba situa-se entre as obras-primas do autor e da literatura brasileira. No fragmento apresentado, a peculiaridade do texto que garante a universalização de sua abordagem reside
(ENEM - 2010) O Flamengo comeou a partida no ataque, enquanto o Botafogo procurava fazer uma forte marcao no meio campo e tentar lanamentos para Victor Simes, isolado entre os zagueiros rubro-negros. Mesmo com mais posse de bola, o time dirigido por Cuca tinha grande dificuldade de chegar a rea alvinegra por causa do bloqueio montado pelo Botafogo na frente da sua rea. No entanto, na primeira chance rubro-negra, saiu o gol. Aps cruzamento da direita de Ibson, a zaga alvinegra rebateu a bola de cabea para o meio da rea. Klberson apareceu na jogada e cabeceou por cima do goleiro Renan. Ronaldo Angelim apareceu nas costas da defesa e empurrou para o fundo da rede quase que em cima da linha: Flamengo 1 a 0. Disponvel em: http://momentodofutebol.blogspot.com (adaptado). O texto, que narra uma parte do jogo final do Campeonato Carioca de futebol, realizado em 2009, contm vrios conectivos, sendo que
(ENEM - 2010) Superinteressante. Ed. 256, set. 2008. Segundo pesquisas recentes, é irrelevante a diferença entre sexos para se avaliar a inteligência. Com relação às tendências para áreas do conhecimento, por sexo, levando em conta a matrícula em cursos universitários brasileiros,
(ENEM - 2010) Aps estudar na Europa, Anita Malfatti retornou ao Brasil com uma mostra que abalou a cultura nacional do incio do sculo XX. Elogiada por seus mestres na Europa, Anita se considerava pronta para mostrar seu trabalho no Brasil, mas enfrentou as duras crticas de Monteiro Lobato. Com a inteno de criar uma arte que valorizasse a cultura brasileira, Anita Malfatti e outros artistasmodernistas
(ENEM - 2010) É muito raro que um novo modo de comunicação ou de expressão suplante completamente os anteriores. Fala- se menos desde que a escrita foi inventada? Claro que não. Contudo, a função da palavra viva mudou, uma parte de suas missões nas culturas puramente orais tendo sido preenchida pela escrita: transmissão dos conhecimentos e das narrativas, estabelecimento de contratos, realização dos principais atos rituais ou sociais etc. Novos estilos de conhecimento (o conhecimento teórico, por exemplo) e novos gêneros (o código de leis, o romance etc.) surgiram. A escrita não fez com que a o sistema da comunicação e da memória social. A fotografia substituiu a pintura? No, ainda h pintores ativos. As pessoas continuam, mais do que nunca, a visitar museus, exposições e galerias, compram as obras dos artistas para pendurá-las em casa. Em contrapartida, é verdade que os pintores, os desenhistas, os gravadores, os escultores não são mais como foram até o século XIX os únicos produtores de imagens. LÉVY, P.Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 1999 (fragmento). A substituição pura e simples do antigo pelo novo ou do natural pelo técnico tem sido motivo de preocupação de muita gente. O texto encaminha uma discussão em torno desse temor ao
(ENEM -2010) Texto I Eu amo a rua. Esse sentimento de natureza toda ntima no vos seria revelado por mim se no julgasse, e razes no tivesse para julgar, que este amor assim absoluto e assim exagerado partilhado por todos vs. Ns somos irmos, ns nos sentimos parecidos e iguais; nas cidades, nas aldeias, nos povoados, no porque soframos, com a dor e os desprazeres, a lei e a polcia, mas porque nos une, nivela e agremia o amor da rua. este mesmo o sentimento imperturbvel e indissolvel, o nico que, como a prpria vida, resiste s idades e s pocas. RIO, J. A rua. In:A alma encantadora das ruas.So Paulo: Companhia das Letras, 2008 (fragmento). Texto II A rua dava-lhe uma fora de fisionomia, mais conscincia dela. Como se sentia estar no seu reino, na regio em que era rainha e imperatriz. O olhar cobioso dos homens e o de inveja das mulheres acabavam o sentimento de sua personalidade, exaltavam-no at. Dirigiu-se para a rua do Catete com o seu passo mido e slido. [...] No caminho trocou cumprimento com as raparigas pobres de uma casa de cmodos da vizinhaa. [...] E debaixo dos olhares maravilhados das pobres raparigas, ela continuou o seu caminho, arrepanhando a saia, satisfeita que nem uma duquesa atravessando os seus domnios. BARRETO, L. Um e outro. In:Clara dos anjos.Rio de Janeiro: Editora Mrito (fragmento). A experincia urbana um tema recorrente em crnicas, contos e romances do final do sculo XIXe incio do XX, muitos dos quais elegem a rua para explorar essa experincia. Nos fragmentos I e II, a rua vista, respectivamente, como lugar que
(ENEM - 2010) Fora da ordem Em 1588, o engenheiro militar italiano Agostinho Romelli publicouLe Diverse ET Artificiose Machine, no qual descrevia uma mquina de ler livros. Montada para girar verticalmente, como uma roda de hamster, a inveno permitia que o leitor fosse de um texto ao outro sem se levantar de sua cadeira. Hoje podemos alternar entre documentos com muito mais facilidade um clique no mouse suficiente para acessarmos imagens, textos, vdeos e sons instantaneamente. Para isso, usamos o computador, e principalmente a internet tecnologias que no estavam disponveis noRenascimento, poca em que Romelli viveu. BERCITTO, D. Revista Lngua Portuguesa. Ano II. N14. O inventor italiano antecipou, no sculo XVI, um dos princpios definidores do hipertexto: a quebra de linearidade na leitura e a possibilidade de acesso ao texto conforme o interesse do leitor. Alm de ser caracterstica essencial da internet, do ponto de vista da produo do texto, a hipertextualidade se manifesta tambm em textos impressos, como: