(ENEM PPL - 2016)
Chegou de Montes Claros uma irmã da nora de tia Clarinha e foi visitar tia Agostinha no Jogo da Bola. Ela é bonita, simpática e veste-se muito bem. [...] Ficaram todas as tias admiradas da beleza da moça e de seus modos políticos de conversar. Falava explicado e tudo muito correto. Dizia “você” em vez de “ocê”. Palavra que eu nunca tinha visto ninguém falar tão bem; tudo como se escreve sem engolir um s nem um r. Tia Agostinha mandou vir uma bandeja de uvas e lhe perguntou se ela gostava de uvas. Ela respondeu: “Aprecio sobremaneira um cacho de uvas, Dona Agostinha.” Estas palavras nos fizeram ficar de queixo caído. Depois ela foi passear com outras e laiá aproveitou para lhe fazer elogios e comparar conosco. Ela dizia: “Vocês não tiveram inveja de ver uma moça [...] falar tão bonito como ela? Vocês devem aproveitar a companhia dela para aprenderem”. [...] Na hora do jantar eu e as primas começamos a dizer, para enfezar laiá: “Aprecio sobremaneira as batatas fritas”, “Aprecio sobremaneira uma coxa de galinha”.
MORLEY, H. Minha vida de menina: cadernos de uma menina provinciana nos fins do século XIX. Rio de Janeiro: José Olympio, 1997.
Nesse texto, no que diz respeito ao vocabulário empregado pela moça de Montes Claros, a narradora expõe uma visão indicativa de
descaso, uma vez que desaprova o uso formal da língua empregado pela moça.
ironia, uma vez que incorpora o vocabulário formal da moça na situação familiar.
admiração, pelo fato de deleitar-se com o vocabulário empregado pela moça.
antipatia, pelo fato de cobiçar os elogios de laiá sobre a moça.
indignação, uma vez que contesta as atitudes da moça.