(ENEM PPL - 2023)
O voluntário
Quem não sabe o efeito produzido à beira do rio pela notícia da declaração da guerra entre o Brasil e o Paraguai?
Nas classes mais favorecidas da fortuna, nas cidades principalmente, o entusiasmo foi grande e duradouro. Mas entre o povo miúdo o medo do recrutamento para voluntário da Pátria foi tão intenso que muitos tapuios se meteram pelas matas e pelas cabeceiras dos rios, e ali viveram como animais bravios sujeitos a toda a espécie de privações.
[...]
Coisa terrível que era então o recrutamento!
Esse meio violento de preencher os quadros do exército era ao tempo da guerra posto em prática com barbaridade e tirania, indignas dum povo que pretende foros de civilizado.
Suplícios tremendos eram infligidos aos que, fugindo a uma obrigação não compreendida, ousavam preferir a paz do trabalho e o sossego do lar à ventura de se deixarem cortar em postas na defesa das estâncias rio-grandenses e das aldeolas de Mato Grosso.
SOUZA, I. Contos amazônicos. Jundiaí: Cadernos do Mundo Inteiro, 2018 (fragmento).
Para descrever o modo como indígenas e ribeirinhos eram recrutados para lutarem como “voluntários da Pátria”, o texto de Inglês de Souza
enfatiza a capacidade de resiliência dos tapuios.
põe em evidência a brutalidade do alistamento compulsório.
ironiza a importância atribuída à guerra pelas elites da época.
relativiza a prevalência da disputa bélica sobre a natureza pacífica.
critica a incompreensão da população acerca das motivações do conflito.