Nascimento da Filosofia: Mito x Filosofia
Desde os primórdios da cultura grega o homem buscava encontrar respostas para a origem do mundo e do universo. A primeira fonte de explicação desenvolvida na antiguidade foram as narrativas mitológicas, sobretudo, as composições homéricas e hesiódicas. Entre as quais destacam-se a Ilíada e Odisséia, atribuídas a Homero, e Teogonia de Hesíodo. O mito era a principal chave interpretativa da realidade, origem das coisas, suas funções e finalidade, os poderes divinos sobre a natureza e os homens. No entanto, a necessidade humana de materializar as explicações propostas da existência do mundo e das coisas, fez surgir na Grécia, na segunda metade do século VII e início do VI, uma nova forma de pensamento alicerçada na razão. Nascia, assim, a ruptura com o pensamento mítico e religioso, que preponderava na Grécia e outras civilizações, a filosofia. Os primeiros filósofos, chamados de pré-socráticos, destacaram-se por investigar através dos elementos da natureza, observações e pesquisa a origem e organização do mundo. A temática central de explicação do cosmo deslocava-se da narrativa mítica para a natureza, do fantástico para o real e, assim, a filosofia encarregava-se de explicar o universo.
Filosofia e senso comum
A filosofia enquanto método de investigação, ciência ou sabedoria prioriza o rigor analítico, sistemático e racional. Promove o conhecimento através da fundamentação epistemológica e crítica de ideias e princípios anteriormente aceitos. Busca compreender a realidade, bem como os eventos, seres e acontecimentos presentes nela, priorizando o exame racional para apreensão de modo profundo e extenso do mundo, universo e do ser humano. Desenvolvida na Grécia em meados do século VI, estilhaçou-se em diversas modalidades e correntes. Encarregando-se de investigar desde questões relacionadas à natureza até assuntos essencialmente teóricos e conceituais. É naturalmente antagônica ao senso comum ou conhecimento sem qualquer rigor analítico e investigativo. Embora por vezes o conhecimento obtido através do senso comum possa estar certo, não possui a mesma clarividência do método analítico e filosófico. Seu conhecimento provém, sobretudo, da aceitação passiva e acrítica da religião, tradição e cultura sem se preocupar com a verdade ou fundamentação teórica das afirmações.
O que é uma pergunta filosófica?
Imaginemos, agora, um indivíduo que tomasse uma decisão muito estranha e começasse a fazer perguntas pouco convencionais. Ao invés de nos perguntar que horas são? Ou que dia é hoje? Nos perguntasse: O que é o tempo? Em vez de dizer, essa casa é mais bela do que a outra, quisesse saber: O que é o belo? O que é mais? Ao invés de julgar alguém arbitrariamente quisesse saber o que são valores: O que é ética, justiça e virtude? Ao se questionar desta forma o indivíduo estaria naturalmente recusando aceitar a realidade e convenções sociais passivamente e direcionando seu pensamento e reflexão ao saber crítico, analítico e filosófico. Afastar o valor ou preconceito, inicialmente como ação de negação, seguido de questionamento, crítica e investigação, faz parte do rol de ações necessárias para o questionar filosófico. No entanto, a pergunta filosófica não se limita apenas a saber “o que é a coisa, valor ou ideia”, mas também “como a coisa a ideia ou o valor é” e “porque a coisa, a ideia e o valor existem e são como é”. Aos poucos percebemos que as perguntas filosóficas se relacionam com a nossa própria habilidade de conhecer, pensar e raciocinar. Por isso poderíamos dizer de forma resumida que a Filosofia é o pensamento interrogando-se a si próprio e a pergunta filosófica esse questionar e desejo pelo conhecimento, afinal a própria etimologia da palavra Filosofia, tem como significado, desejo ou amor ao conhecimento.
Tipos de saberes e temáticas filosóficas
Ao longo da história da Filosofia foi desenvolvido uma série de sistemas filosóficos com distintas abordagens temáticas acerca do princípio fundamental e primeiro do entendimento humano. O antagonismo característico de algumas correntes filosóficas buscava encontrar a via de acesso mais segura para o conhecimento verdadeiro. Para tanto, na tentativa de responder a questão sobre a possibilidade de conhecimento da verdade, distintas teorias foram elaboradas, destacando-se, entre elas, o ceticismo, dogmatismo, empirismo e racionalismo. O ceticismo, fundado por Pirro em (365-275 a.C.), acredita que não é possível conhecer a verdade, pois tudo aquilo que os indivíduos conhecem não passam de aparências, pelo fato de fundamentarem-se em impressões subjetivas. A única certeza para o cético seria a dúvida. O dogmatismo, diferentemente dos céticos, acredita ser possível alcançar o conhecimento por meio das atividades perceptivas, ou seja, basta a percepção para conhecê-lo. O racionalismo, por sua vez, também acredita ser possível conhecer a verdade, porém esse conhecimento só seria alcançado pela razão. O empirismo, antagonicamente aos racionalistas, julga que a verdade sobre o mundo e as coisas nele presente somente pode ser alcançada por meio das experiências e impressões. Assim o sujeito cognoscente alcançaria a verdade por meio dos seus sentidos.