Pré-Socráticos
Figura 1 - Escola de Atenas - Rafael - 1511 - Afresco no Museu do Vaticano - https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c4/Escola_de_Atenas_-_Vaticano_2.jpg
Os filósofos Pré-Socráticos são aqueles que viveram antes do grande filósofo Sócrates (c.469 a.C. – 399 a.C.), de quem divergiam, pois não compartilhavam a mesma forma de pensar. Viveram entre os séculos VII a.C. e VI a.C., período fundamental para o desenvolvimento científico e filosófico. A separação entre mito e aquilo que era fato conhecido – o observável – deu origem à filosofia e como nossa base epistemológica é grega, considera-se os pré-socráticos os primeiros a concluírem esse rompimento. São considerados os “Filósofos da natureza” pelo uso da physis como alicerce para a construção da arkhé.
Esses filósofos viveram no chamado Período Arcaico (séculos VII – V a.C.), quando houve a formação das pólis, o desenvolvimento da estrutura social, política e econômica, que deu espaço para uma maior dedicação às artes e à literatura. No século VI a.C. a região sofreu a segunda diáspora, com o deslocamento de pessoas para as ilhas do Mar Mediterrâneo, como a Magna Grécia. O ponto é que os pré-socráticos eram diversos e tinham como perspectiva convergente a preocupação com a origem de todas as coisas. As explicações nasciam do uso da razão para conduzir o conhecimento e era uma nova forma de unificar as sociedades díspares através do argumento lógico. Até então, os mitos tinham essa função agregadora. A Teogonia de Hesíodo, por exemplo, traz uma série de narrativas que fazem analogia à condição humana. Porém, os filósofos se distanciaram dessa visão, revolucionando a forma de pensar. O fortalecimento econômico das pólis foi elementar para as mudanças sociais que influenciaram as novas formas de raciocínio. O desenvolvimento tecnológico da agricultura e do comércio, sobretudo marítimo, foi um dos passos dados pelo homem para o advento do pensamento racional e o descrédito dado ao mito.
Figura 2 – Ilustração de Tales de Mileto - Ernst Wallis - 1875 - Illustrerad verldshistoria utgifven av E. Wallis. volume I - https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c6/Illustrerad_Verldshistoria_band_I_Ill_107.jpg
Entre o final do século VII a.C. e início do século VI a.C. viveu Tales de Mileto (c.624 a.C. – 546 a.C.), considerado o primeiro filósofo. A Jônia, região da Ásia Menor onde ficava localizada a cidade de Mileto, foi a pioneira na transformação do pensamento, que migrou para as ilhas e Península. A água era o elemento primordial, a causa material que origina o mundo. Disso surge a ideia de arkhé, a explicação principal para o universo, característica que une os pré-socráticos. Cada um dos filósofos encontrará seu princípio que definirá sua teoria filosófica. Tales é conhecido até hoje como o grande matemático que criou teoremas visando a compreensão da natureza, todos comprováveis. Teorias e teses são mutáveis e podem ser reformulados, diferente do mito. A Escola de Mileto seguia a metodologia de seu mestre e seus discípulos a absorvia e refutava. O processo de aprendizado e formulação de conhecimento próprio passa pela contestação para criar. Contudo, deveriam ter três atributos: razão, lógica e observação. Essenciais ao filósofo que os utilizava para construir suas teorias e convencer os outros da sua verdade.
Figura 3- Anaximandro - fragmento da Escola de Atenas - Rafael Sanzio - 1510-1511 - Museu do Vaticano.
O sucessor de Tales na coordenação da escola foi Anaximandro (c.610 a.C. – 546 a.C.), que defendia que a natureza era regida por leis e não via a água como princípio único de tudo. Cunhou, então, a ideia de Apeiron, forma primária amorfa que poderia se moldar a qualquer propriedade experimental, como o fogo, a água, o calor, o frio, de acordo com a necessidade. Para Anaxímenes (c.588 a.C. – 524 a.C.), outro discípulo da Escola de Mileto, por sua vez, o ar era o elemento primordial pelo qual a natureza se originava e transformava. As diferenças e defesas dos pensamentos próprios eram a base da estrutura reflexiva dos filósofos da época, não só os de Mileto.
Figura 4 - Pitágoras de Samos - fragmento da Escola de Atenas - Rafael Sanzio - 1510-1511 - Museu do Vaticano
Pitágoras de Samos (c.570 a.C. – 495 a.C.) foi um dos filósofos pré-socráticos mais conhecidos na história pelo uso da matemática para comprovar as idealizações sobre a origem de tudo. A busca pela harmonia, proporção e medida motivou os “pitagóricos” a disseminarem o pensamento por toda a região helênica, desenvolvendo sua ideia de que todas as coisas possuem estrutura numérica intrínsecas em si. Introduz, dessa forma, a prova matemática para demonstrar a veracidade do raciocínio.
Figura 5 - Heráclito de Éfeso - fragmento da Escola de Atenas - Rafael Sanzio - 1510-1511 - Museu do Vaticano
Outro dos grandes filósofos pré-socráticos foi Heráclito de Éfeso (c. 535 a.C. – 475 a.C.), cidade também localizada na Jônia. Tornou-se célebre por considerar que a natureza está em constante transformação devido aos opostos que se tensionam na busca pelo equilíbrio. O claro e escuro, o cheio e vazio, o bom e o mal, existem e se complementam nas suas diferenças. A sua arkhé, portanto, era a mudança, o “vir-a-ser” – chamado de devir. A base de tudo era o fluxo, portanto imbuía à vida o caráter fugaz. Vem dele a máxima de que ninguém se banha no mesmo rio duas vezes, o que contrasta com as afirmações de outras Escolas que procuravam encontrar um denominador comum para tudo. Para Heráclito, a falta de unidade é o que faz a natureza ser o que é.
Figura 6 - Parmênides de Eleia - fragmento da Escola de Atenas - Rafael Sanzio - 1510-1511 - Museu do Vaticano
Em oposição ao seu pensamento, temos Parmênides de Eleia (c. 530 a.C. – 460 a.C.). Assim como tantos outros filósofos pré-socráticos, ele deixou poucos registros. O que sabemos de sua teoria provém do poema “Sobre a natureza” que foi largamente debatido ao longo do tempo. Partindo de um questionamento ontológico, corrobora pensamentos mais antigos que acreditavam na existência da unidade do ser, que é imutável. Sua arkhé era a permanência, pois a essência do ser é constante e o ato de pensar comprovaria a unicidade do ser. A busca pela Verdade – aletheia – elucida melhor esse ponto. Verdade e pensar andam juntas, porque apenas aquilo que existe é que pode ser pensado, portanto, é verdadeiro. O que não existe não pode ser pensado, pois o “não-ser” é uma premissa ilusória, é o vazio. Ou seja, o ser é unitário e eterno, diferente daquilo que dizia Heráclito.
Figura 7 - Demócrito - Dosso Dossi e Battista Dossi - 1540 - Pinacoteca Civica Domenico Inzaghi, Budrio/Itália
A Escola Atomista criou a teoria de que o mundo era feito de partículas indivisíveis, ou seja, haveria a manutenção da essencial mesmo com a mudança. Demócrito de Abdera (c.460 a.C. – 370 a.C.) foi o pioneiro que cunhou a ideia do átomo que seria o fragmento indestrutível e invisível. Assim como outras escolas, utilizavam a observação da natureza e a premissa do experimento para comprovar a inexistência do vazio. Tudo era preenchido por algo, pois tudo era feito de átomo. Sua teoria foi fundamental para a reflexão sobre ciência e o desenvolvimento da mesma ao longo do tempo. Os pré-socráticos e o modus operandi do debate iniciaram a condição primeira do pensamento filosófico e científico que era questionar e criar duas próprias respostas a partir da observação do mundo, da lógica e da razão.
Os pré-socráticos não são abordados com muitos detalhes nos vestibulares. É mais importante entender o papel desses filósofos na História da Filosofia ocidental e, sobretudo, ateniense. Os principais nomes, citados no texto, devem ser estudados, com destaque a Heráclito e Parmênides porque terão influência no pensamento de Platão e Aristóteles.
1. (Enem 2016) Texto I
Fragmento B91: Não se pode banhar duas vezes no mesmo rio, nem substância mortal alcançar duas vezes a mesma condição; mas pela intensidade e rapidez da mudança, dispersa e de novo reúne.
HERÁCLITO. Fragmentos (Sobre a natureza). São Paulo: Abril Cultural, 1996 (adaptado).
Texto II
Fragmento B8: São muitos os sinais de que o ser é ingênito e indestrutível, pois é compacto, inabalável e sem fim; não foi nem será, pois é agora um todo homogêneo, uno, contínuo. Como poderia o que é perecer? Como poderia gerar-se?
PARMÊNIDES. Da natureza. São Paulo: Loyola, 2002 (adaptado).
Os fragmentos do pensamento pré-socrático expõem uma oposição que se insere no campo das
a) investigações do pensamento sistemático.
b) preocupações do período mitológico.
c) discussões de base ontológica.
d) habilidades da retórica sofística.
e) verdades do mundo sensível.
2. (Uel 2019) Leia o texto a seguir.
Os corcéis que me transportam, tanto quanto o ânimo me impele, conduzem-me, depois de me terem dirigido pelo caminho famoso da divindade [...] E a deusa acolheu-me de bom grado, mão na mão direita tomando, e com estas palavras se me dirigiu: [...] Vamos, vou dizer-te – e tu escuta e fixa o relato que ouviste – quais os únicos caminhos de investigação que há para pensar, um que é, que não é para não ser, é caminho de confiança (pois acompanha a realidade): o outro que não é, que tem de não ser, esse te indico ser caminho em tudo ignoto, pois não poderás conhecer o não-ser, não é possível, nem indicá-lo [...] pois o mesmo é pensar e ser.
PARMÊNIDES. Da Natureza, frags. 1-3. Trad. José Trindade Santos. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2009. p. 13-15.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a filosofia de Parmênides, assinale a alternativa correta.
a) Pensar e ser se equivalem, por isso o pensamento só pode tratar e expressar o que é, e não o que não é – o não ser.
b) A percepção sensorial nos possibilita conhecer as coisas como elas verdadeiramente são.
c) O ser é mutável, eterno, divisível, móvel e, por isso, a razão consegue conhecê-lo e expressá-lo.
d) A linguagem pode expressar tanto o que é como o que não é, pois ela obedece aos princípios de contradição e de identidade.
e) O ser é e o não ser não é indica que a realidade sensível é passível de ser conhecida pela razão.
Gabarito:
Questão 1 - [C] – observem a pergunta – “o que é o ser?” – que permeia o pensamento dos dois filósofos mencionados, mas tanto Heráclito quando Parmênides tem ideias opostas.
Questão 2 - [A] – aqui você deve prestar atenção no texto, no que Parmênides discute como o pensamento é a base de tudo, inclusive do ser.
Pré-Socráticos: ideia de physis e arkhé. Novas respostas para as perguntas seculares feitas pela humanidade. Ontologia, pensamento sobre o ser, o que significa o ser e questionamentos sobre a origem. Uso da razão ao invés do mito.