Resumo de filosofia: Descartes – Filosofia Racionalista
Descartes – Filosofia Racionalista
Figura 1 - Retrato de René Descartes - Frans Hals - c. 1649-1700 - Museu do Louvre - Paris, França - After Frans Hals [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Frans_Hals_-_Portret_van_Ren%C3%A9_Descartes.jpg">via Wikimedia Commons</a>
A Filosofia na Idade Moderna iniciou um novo processo de construção de conhecimento, que se relacionava diretamente às descobertas do empirismo. Em Aristóteles vimos o desenvolvimento dessa ideia que ficou adormecida por boa parte da Idade Média. René Descartes (1596-1650) é considerado o “pai da Filosofia moderna”. Aqui abordaremos sua teoria e o Discurso do Método, quando criou sua metodologia e exemplificou a famosa frase “Penso, logo existo”. A matemática, a física e a metafísica são utilizadas para demonstrar seu racionalismo.
René Descartes (1596-1650) nasceu em La Haye em Touraine, na França. Filho de família abastada, frequentou Colégio Jesuíta e teve a oportunidade de estudar na Universidade de Poitier, onde cursou Direito. Foi nesse período universitário que teve contato com a filosofia que dominava o ensino, a Escolástica. Como vimos em Filosofia Medieval – São Tomás de Aquino, essa teoria era a mais aceita como verdadeira e defendia o papel divino na formação do universo. Esse ponto de vista, porém, passou a ser questionado pelos intelectuais no início da modernidade. Enquanto algumas Universidades se baseavam na Escolástica, pensamentos críticos e científicos cresciam em vários locais.
Descartes duvidava das verdades absolutas, sobretudo por não concordar com os métodos empregados. O Tomismo partia da premissa de que Deus era onipresente e onisciente, e daí criava os argumentos que provavam sua existência. Descartes achava que os novos tratados científicos deveriam ser considerados e que a “verdade” incontestável deveria ser questionada.
Um momento fundamental em sua vida foi a ida para a Holanda, onde a tolerância religiosa era maior do que nos outros países europeus. Lá, escreveu sobre física e metafísica, que foram modificados após o contato que teve com a obra de Galileu Galilei (1564-1642) que desafiava a influência irrestrita da Igreja e chegou a ser condenado por isso. Foi a partir desse momento que, entre 1633 e 1637, ele criou o Discurso do Método. Nele desenvolveu sua metodologia para análise do presente e encontro da verdade com o usa da razão.
O pensamento racional era a característica que diferencia o indivíduo e o torna especial, pois é a partir da própria razão que se adquire conhecimento. O que vemos, portanto, é a dúvida como base do seu pensamento filosófico, para daí criar um método “seguro” que respondesse a todas essas perguntas, desde as que se relacionavam com a natureza até as ontológicas. Vale destacar que ele não nega o uso prévio da razão, e sim que havia sido feito de forma errada.
Era necessário simplificar o uso da lógica para que as verdades fossem alcançadas, ou o objetivo de tudo – as respostas – se perdia no caminho. A matemática também foi questionada, pois acreditava que tanto a álgebra quanto a geometria não tinham utilidade na forma como eram teorizadas. Para ele, a matemática é uma linguagem universal que era mal demonstrada pela falta de clareza do método. Por isso, criou a geometria analítica, que amalgamava os dois tipos e foi considerada mais pura. Assim, deixa clara a sua vontade de “facilitar” o alcance da verdade por meio do método.
A filosofia dependia dessa mudança para se manter relevante, já que o uso da razão como era feito até então seria ultrapassado. O desenvolvimento científico não seria compatível com a visão pregada pelos escolásticos. O saber pedia uma metodologia mais eficiente, na sua opinião. No Discurso do Método, ele criou quatro regras, ou passos, que deveriam ser seguidos:
1. Aceitar apenas a Evidência, que era racional. Conhecida como Regra da evidência, ela determina o primeiro corte, ou seleção, para a compreensão do que é verdade ou não. A razão age por meio da intuição, assim, vemos o ponto de vista do autor de que a evidência é verdade em si.
2. Separação do objeto em partes para que a análise fosse mais aprofundada. Esse é um dos passos mais elementares de análise, pois ao dividir o assunto pode-se desprender uma atenção maior aos detalhes e não se perder na generalização da pesquisa.
3. Sintetizar o que foi feito até então e, assim, reorganizar o argumento que foi derivado do processo. Para isso, deve-se ordenar os elementos do mais simples ao mais complexo. A síntese reúne essas peças que foram decompostas no procedimento anterior e, desse jeito, criar um argumento coeso.
4. Revisar todo o procedimento para ter o controle do que foi produzido. É a “prova-real” do processo, retomar os passos dados para verificar o resultado.
Com essas normas, a intenção era demonstrar que o indivíduo seria capaz de distinguir o verdadeiro e o falso.
O “Penso, logo existo” – cogito, ergo sum – é uma das respostas de Descartes sobre o que é a Filosofia. Se tudo é dúvida, como se constrói o saber? Isto é, se a base é a não aceitação de nenhuma verdade conhecida, o autor possuía um problema em suas mãos. Contudo, a razão é a resposta. O ato de pensar racionalmente que é a Filosofia, ou seja, se você pensa, logo existe, como um indivíduo que tem a possibilidade de usar suas faculdades mentais e encontrar a verdade. Por meio da dúvida se encontra a afirmação verdadeira. Essa é a grande mudança filosófica desenvolvida por Descartes, pois ela se torna um meio de se chegar ao conhecimento e não este em si.
Temos, portanto, o nascimento de uma nova forma de enxergar o homem, como modelo e centro do saber. Se é através da razão que se encontra a verdade, o homem se torna o referencial. A primeira verdade é o pensar e a razão, o que transforma o ser humano como medida de todas as coisas. Vemos, assim, uma filosofia que encontra terreno fértil em uma época em que o Renascimento ocorria.
A teoria René Descartes ajuda a compreender as mudanças cientificistas do início da Idade Moderna que fizeram parte do Renascimento, das Grandes Navegações e das questões políticas e econômicas. Os vestibulares cobram a interdisciplinaridade e interpretação dos textos sobre o método cartesiano.
1. (Uel 2019) Leia o texto a seguir.
E se escrevo em francês, que é a língua de meu país, e não em latim, que é a de meus preceptores, é porque espero que aqueles que se servem apenas de sua razão natural inteiramente pura julgarão melhor minhas opiniões do que aqueles que não acreditam senão nos livros dos antigos. E quanto aos que unem o bom senso ao estudo, os únicos que desejo para meus juízes, não serão de modo algum, tenho certeza, tão parciais a favor do latim que recusem ouvir minhas razões, porque as explico em língua vulgar.
DESCARTES, R. Discurso do Método. Trad. J. Guinsburg e Bento Prado Jr. São Paulo: Abril Cultural, 1973. Coleção “Os pensadores”. p. 79.
Com base nos conhecimentos sobre Descartes e o surgimento da filosofia moderna, assinale a alternativa correta.
a) A língua vulgar, o francês, expressa de modo mais adequado o espírito da modernidade por estar livre dos preconceitos da língua dos doutos, o latim.
b) Redigir o Discurso do Método em francês teve propósito similar à tradução da bíblia para o alemão feita por Lutero: facilitar o acesso à sacralidade do texto em língua vulgar.
c) O desencantamento do mundo, resultante da radical crítica cartesiana à tradição, teve como consequência o abandono da referência à divindade.
d) As ideias expressas por Descartes em seu Discurso do Método refletem a postura tipicamente moderna de ruptura total com o passado.
e) A razão natural inteiramente pura é um atributo inerente à natureza humana, independentemente da tradição ou da cultura à qual o humano se vincula.
2. (Enem 2016) Nunca nos tornaremos matemáticos, por exemplo, embora nossa memória possua todas as demonstrações feitas por outros, se nosso espírito não for capaz de resolver toda espécie de problemas; não nos tornaríamos filósofos, por ter lido todos os raciocínios de Platão e Aristóteles, sem poder formular um juízo sólido sobre o que nos é proposto. Assim, de fato, pareceríamos ter aprendido, não ciências, mas histórias.
DESCARTES. R. Regras para a orientação do espírito. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
Em sua busca pelo saber verdadeiro, o autor considera o conhecimento, de modo crítico, como resultado da
a) investigação de natureza empírica.
b) retomada da tradição intelectual.
c) imposição de valores ortodoxos.
d) autonomia do sujeito pensante.
e) liberdade do agente moral.
Gabarito:
Questão 1 - [E] – O diferencial de Descartes foi retirar a verdade da fé ou da filosofia cristã, e inserir a razão como a base para o conhecimento. O “Penso, logo existo” é a verdade primeira e absoluta.
Questão 2 - [D] – Descartes foi considerado o primeiro filósofo racionalista e pai da nova filosofia praticada a partir da Idade Média. Os questionamentos e a investigação que são o caminho para chegar à verdade, a partir do uso da razão.
René Descartes (1596-1650) – pai da Filosofia moderna
Escreveu sobre física e metafísica
Contato com a obra de Galileu Galilei (1564-1642)
Uso da Razão - pensamento racional era a característica que diferencia o indivíduo
Uso da Lógica - para que as verdades fossem alcançadas
Discurso do Método - quatro regras
1. Regra da evidência
2. Regra da Separação
3. Regra da Síntese
4. Revisão
“Penso, logo existo” – cogito, ergo sum