A grande extensão latitudinal (do Alaska a Terra do Fogo) e longitudinal, principalmente ao norte e a sul, faz as características naturais do continente americano serem bastantes diversificadas, possuindo diferentes tipos climatobotânicos, acentuado pela presença de dobramentos modernos na sua porção ocidental.
Divisões da América:
a) Colonização.
A América foi colonizada predominantemente por espanhóis, portugueses, ingleses e franceses, fato que somado aos tipos de colonização aplicados no norte e no sul, respectivamente, povoamento e exploração, propiciaram modelos antagônicos de desenvolvimento, para muitos, responsável pelo desenvolvimento desigual no continente.
b) Divisão Geográfica ou Política.
Apresenta o continente dividido em três partes, conforme mapa a seguir:
Disponível em: http://www.geoensino.net/2011/10/divisao-fisica-do-continente-americano_10.html
c) Divisão Sócio-Econômica ou cultural:
Divide o continente em países ricos (anglo-saxônica) e pobres (latina), situação que reproduz o clássico modelo da Nova Ordem Mundial, norte rico e sul pobre.
A expansão do comercio internacional ocorrida no final do século XX propiciou um aumento das parcerias comerciais ampliando as relações de interdependência característicos dessa Nova Ordem Mundial. Diante dos avanços tecnológicos, resultado principalmente da 3ª Revolução Industrial, modernizações significativas aconteceram na América Latina, porém não foram suficientes para romper com o passado agroexportador que caracteriza o continente, na realidade agrominerador, em função de alguns países específicos.
Os avanços na área agropecuária foram nítidos, com o avanço significativo do capitalismo no campo, através da mecanização, cultivo de transgênicos e uso de agrotóxicos. Esse desenvolvimento acaba propiciando a expansão dos latifúndios agravando os problemas relacionados com a má distribuição de renda, riqueza e terra. Apesar de todos esses avanços e do aumento da quantidade e consequentemente dos lucros esses países não avançaram no seu desenvolvimento econômico e social, ressaltando que por se tratar de exportação de commodities nem sempre o capital acumulado é significativo.
Outro produto bastante importante na pauta das exportações dos países latino-americanos está relacionado a mineração, com alguns países de destaque, como é o caso da Venezuela com o petróleo, Bolívia com gás natural e estanho e o Peru com a prata e diamante.
Recentemente, com a crise agravada pela Covid19, acontece um êxodo de transnacionais dos países mais industrializados do continente, processo denominado de “desindustrialização” que afetará significativamente a riqueza desses países, trazendo significativas reduções no PNB e consequentemente nos investimentos em infraestrutura por parte desses governos.
https://www.sna.agr.br/america-latina-mostra-forca-na-exportacao-agropecuaria/
Colômbia:
País que apresenta saída para os dois oceanos, Atlântico e Pacífico, com uma grande diversidade de riquezas naturais, com destaque para esmeraldas, primeiro produtor mundial e o ouro. Na agroexportação, característica presente em todos os países latino-americanos destaque para o cultivo do café.
Entretanto o que chama a atenção para esse país desde o final do século XX é o narcotráfico, atualmente denominado também de narcoagronegócio, devido a toda cadeia produtiva que envolve esse setor. O poder paralelo que se consolidou com a formação dos carteis, que controlam a produção e a distribuição da cocaína, provoca grande instabilidade política.
Os conflitos na Colômbia se intensificaram com o surgimento das guerrilhas de esquerda na década de 1960, recebendo apoio soviético, com destaque para as FARCS (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e o ELN (Exército de Libertação Nacional). Com a fim da URSS (1991) houve o fortalecimento das FARCS, que se instalaram na Cordilheira dos Andes, na sua porção oriental, favorecendo a sua atuação.
Com o fim do apoio soviético, para suprir seus gastos utilizava no princípio estratégias de extorsão e sequestro de empresários e grandes latifundiários, e, embora seja negado pelo grupo, o governo colombiano acusa as FARCS de controlarem o narcoagronegócio. Apesar das poucas evidências é notório que essa economia informal acaba beneficiando as guerrilhas.
Ainda na década de 1980, grupos de empresários e latifundiários constituíram a AUC (Autodefesas Unidas da Colômbia), com o intuito de combater as guerrilhas, algo que potencializou os conflitos enfraquecendo ainda mais o poder constituído.
Em 2016 foi firmado um acordo de paz, muito criticado pela população colombiana entre o Governo de Juan Manoel Santos e as lideranças das FARCS não colocou fim a violência no país. Em 2018 a chegada ao poder do presidente de extrema direita Iván Duque acentuou os conflitos com o assassinato de membros das FARCS e líderes de comunidades camponesas.
Em 2021 a situação ficou novamente complicada no país vizinho, com medidas antipopulares do Presidente Duque, com destaque para uma reforma tributária aumentando a carga de impostos sobre a população, que geraram várias manifestações da população, com uma guerra civil praticamente instalada, colocando em cheque a aparente estabilidade do país e de seus vizinhos.
Venezuela:
País fundador da OPEP, na década de 1960, tem no petróleo a base de sua economia. Na década de 1970, com a crises do petróleo, conseguiu uma estabilidade econômica que não foi capaz de alavancar um desenvolvimento socioeconômico do país, acentuando a concentração de renda, riqueza e terra.
Nos anos 1980, considerados a década perdida, a crise econômica mundial, associada a redução do preço do barril de petróleo, os problemas sociais se avolumaram levando ao surgimento de um movimento popular contrário as medidas adotadas pelo governo de Carlos Pérez, conhecido como “Caracazo”.
Essas insatisfações prosseguiram pela década de 1990, quando eclodiu uma revolta militar comandada por jovens militares, com destaque para Hugo Chávez. Essa revolta recebeu forte apoio popular que culminou com Carlos Pérez destituído do poder, e nas eleições de 1998 chegava ao poder Hugo Chávez.
No poder, Chávez elaborou aquilo que ficou conhecido como Constituição Bolivariana, implantado a República Bolivariana da Venezuela com poderes amplos ao presidente. Como proposta de governo adotou reformas econômicas, como a agrária, e aproximou seu governo de países de governos de esquerda, como Cuba e Bolívia. Essas ações provocaram atritos políticos com os EUA, fato que gerou vários ataques de ambos os lados ao ponto de Chávez adotar uma postura anti-estadunidense. No âmbito interno perdia apoio das classes dominantes, como empresários e grandes latifundiários.
Com a morte de Hugo Chávez em 2013, ocorreram novas eleições no país e seu sucessor Nicolás Maduro venceu por uma pequena margem, algo que teceu questionamentos pela oposição e países interessados na ruptura com o chavismo, como é o caso dos EUA.
Com a crise econômica agravada a partir de 2008, o governo de Maduro mergulhou numa grave crise econômica e política, tendo efeitos no abastecimento de bens de primeira necessidade e o aumento significativo da violência, com elevados índices de criminalidade.
Essa situação caótica gerou uma saída expressiva de refugiados venezuelanos que encontraram no país vizinho Brasil o melhor e mais prático destino. Esse êxodo em massa acabou gerando atritos diplomáticos entre os dois países, em particular na fronteira localizada no estado de Roraima, florescendo o sentimento de xenofobia inexistente de forma declarada ao longo da história brasileira.
Em maio de 2021 Maduro e o líder da oposição Juan Guaidó firmaram um acordo para a sobrevivência da Venezuela, onde deverão negociar etapas que culminarão com possibilidades mais positivas, entre elas eleições livres democráticas.
Argentina:
Segunda maior economia da América do Sul, atrás somente do Brasil, possui uma economia agroindustrial, com destaque para a agropecuária, com os cultivos de cereais, principalmente o trigo, e na pecuária a criação de bovinos e ovinos. No setor industrial destaque para os setores alimentício, têxtil e químico. Convém ressaltar também a importância do turismo para a economia do país.
A atividade econômica da Argentina teve uma queda muito acentuada no ano de 2020, em virtude da crise provocada pela Covid19, dados oficiais apontam para uma retração de 10%, a mais grave do continente desconsiderando a Venezuela. Elevada inflação, desvalorização da moeda e aumento do índice de pobreza são características atuais, onde de 4 em cada 10 argentinos vivem na pobreza.
Em 2019 o peronista Alberto Fernandéz assumiu o poder com a difícil missão de retomar o crescimento econômico. Seu antecessor, o liberal Mauricio Macri, é responsabilizado pela crise econômica do país pelo atual governo. Seu legado envolve todo o cenário descrito acima somado ao corte de crédito feitos pelo FMI e as negociações para o pagamento de dívidas com credores privados.
Chile:
País da Bacia do Pacífico, com grande instabilidade geológica devido a localização no limite convergente das placas tectônicas Sul-Americana e Nazca. Apresenta a peculiaridade de ter mais de 4 mil km de extensão e menos de 200km de largura, essa grande extensão latitudinal confere características climáticas bem distintas, tendo inclusive em parte de seu território o Deserto de Atacama, com os mais baixos índices de umidade relativa do ar do mundo.
Sua economia é bastante diversificada com destaque para a agropecuária, com os cultivos dos produtos mediterrâneos videira e oliveira, extrativismo mineral, com grande produção de cobre e ferro. No setor industrial os setores alimentício, vinícola e metalúrgico apresentam grande desenvolvimento, somado ao turismo em virtude de toda a sua biodiversidade e de importantes sítios arqueológicos.
Os indicadores sociais da população chilena estão entre os melhores do continente americano, sendo o primeiro colocado no ranking do IDH entre os países latino-americanos. No campo político o ano de 2021 ficará marcado pela instalação de uma Assembleia Constituinte que será responsável por encerrar um ciclo iniciado na Ditadura de Augusto Pinochet.
Em 2019 violentas manifestações populares ameaçaram a estabilidade política do país, quando o então presidente Sebastián Piñera adotou políticas antipopulares, como por exemplo o aumento das passagens de metrô e da tarifa de energia elétrica, fato que desencadeou uma greve em todo país. O presidente Piñera declarou estado de emergência e recuou em suas decisões.
Esse contexto político colocou em evidência que mesmo o país da América do Sul que adotou pioneiramente as medidas neoliberais propostas pelo Consenso de Washington com elevados indicadores socioeconômicos apresenta problemas internos, onde o que mais chama a atenção é a má distribuição de renda, riqueza e terras, como já dizia Milton Santos, retratando a face perversa da globalização.
Bolívia:
O país insulado da América do Sul, sem saída para o oceano, apresenta uma economia bastante dependente da agromineração, com destaque para gás natural, estanho e o cultivo da soja. A pobreza é uma característica da maior parte da população boliviana, principalmente entre os nativos, também denominados de ameríndios.
As características geográficas do seu território, divide o país em duas regiões distintas: a região do Altiplano, considerada pobre, situada na Cordilheira dos Andes, com população nativa e a economia baseada na mineração e agricultura de subsistência, e a região de planície, denominada Meia Lua, mais rica, com concentração de agroindústria e extração do gás natural, com forte presença de imigrantes brasileiros.
Em 2005 uma reviravolta na política boliviana elegeu pela primeira vez um representante da região do altiplano, Evo Morales, denominado de “cocaleiro”, devido a dependência da população dessa região com o cultivo da folha de coca, utilizada para amenizar o mal da altitude (soroche). No poder Evo deu início a uma reforma político-econômica, com tendências socialistas, visando melhorar as condições de vida da população pobre, nacionalizando a exploração de hidrocarbonetos e implantando uma reforma agrária que enfraquecia o poder da velha elite da região do Meio da Lua.
O governo Morales, inserido no contexto da esquerdização da América Latina, se estendeu até 2019, quando foi forçado a renunciar do cargo pelas forças militares, processo também denominado de golpe de estado. Com a renúncia dos políticos que apoiavam o governo, houve um vácuo no poder, que favoreceu a senadora Jeanine Áñes se autodeclarar presidenta da Bolívia. Evo se refugiou no México. Entretanto esse governo teve vida curta e em eleições realizadas em 2020 o partido de Evo sai vencedor colocando no poder Luis Arce.
México:
País considerado subdesenvolvido industrializado, apresenta uma economia baseada nas indústrias petroquímica, metalúrgica e atualmente as maquiladoras. Possui fronteira denominada de risco com os Estados Unidos, corredor de entrada de latinos em terras norte-americanas.
A adesão ao NAFTA em 1994, acentuou o processo de implantação dos ideais neoliberal bastante criticado pela população pobre do país, com ênfase no estado de Chiapas, onde atua o EZLN (Exército Zapatista de Libertação Nacional), com forte influência dos descendentes maias e que reivindicavam acesso a terra, refazendo uma história de reforma agrária do início do século XX, quando as haciendas, grandes propriedades rurais, foram substituídas pelos ejidos, pequenas propriedades.
No final do século XX, aproveitando da aproximação entre México e EUA, carteis do narcoagronegócio se instalaram em território mexicano, porta de entrada de mais de 90% das drogas consumidas pelos norte-americanos.
Em 2018, duas grandes mudanças poderão dar novos destinos a realidade mexicana: o fim do NAFTA com a criação da UMSCA e as eleições do esquerdista Andrés Manuel Lópes Obrador, conhecido popularmente como AMLO.
Cuba:
País situado na América Central Antilhana ou Insular, obteve sua independência junto a Espanha somente com o apoio dos EUA, algo que significou fortes laços de dependência, através da Emenda Platt, e um “pedaço” estadunidense na Ilha Cubana, a Baía de Guantánamo.
Essa dependência foi rompida com a Revolução Cubana em 1959, quando um grupo liderado por Fidel Castro e Ernesto Che Guevara tiraram do poder o ditador Fulgêncio Batista, aliado dos EUA. Após o processo revolucionário Fidel assumiu o governo dando início a reformas políticas e econômicas, como a nacionalização das empresas que atuavam no país e uma reforma agrária.
Essas medidas, somada a tentativa frustrada de retomada do poder no desembarque da Baía dos Porcos, em 1961, afastaram cada vez mais Cuba dos EUA, culminando com a aproximação da URSS, ressaltando que em tempos de mundo bipolar só existiam essas opções. Essa aproximação se concretizou numa parceria com a Crise dos Mísseis em 1962 e a expulsão de Cuba da OEA (Organização dos Estados Americanos) seguido de um embargo econômico.
Com o fim da Guerra Fria na década de 1990, Cuba deixou de receber o apoio soviético necessário para a manutenção do socialismo implantado no país, com fortes investimentos nas áreas da saúde, educação e habitação. Essa situação, somado ao reforço do embargo econômico em 2001 pelo presidente dos EUA George W. Bush obrigou Fidel a promover algumas reformas econômicas, flexibilizando o socialismo até então vigente.
Em 2008 a renúncia de Fidel, devido a problemas de saúde, levou ao poder seu irmão Raul Castro, responsável pela ampliação das reformas econômicas que aproximavam Cuba do capitalismo. Em 2013 tiveram início reuniões diplomáticas visando a reaproximação entre EUA e Cuba, fato que se consolidará com a assinatura de um acordo que oficializava a retomada das relações entre os dois países, feito pelos presidentes Barack Obama (EUA) e Raul Castro (Cuba).
Em 2018 assume a presidência de Cuba Miguel Díaz-Canel, dando prosseguimento as reformas, que visam conduzir o país de uma forma mais segura, para essa nova realidade. Durante o governo Donald Trump, as relações de reaproximação entre EUA e Cuba recrudesceram, tendo como momento crucial a inserção de Cuba na lista de países do Eixo do Mal, acusada de não cooperar com o combate ao terrorismo no mundo.