No contexto de formação dos Estados Nacionais, das novas concepções acerca do homem e da Terra, das Reformas Religiosas surgiu uma nova demanda: a descoberta de novas rotas de comércio e de novos territórios, seja para sustentar os Estados que estavam se unificando, seja para expandir a fé (católica ou protestante) que estava em disputa. Por conta disso se dariam as Grandes Navegações.
As novas descobertas científicas do período fizeram com que europeus se lançassem ao “mar tenebroso” (como era chamado o oceano). A combinação de novas tecnologias, novas concepção (passou-se a acreditar na esfericidade da Terra, antes vista como plana) e mão-de-obra qualificada, fez com que os Estados Nacionais Ibéricos (Portugal e Espanha), dessem início às Grandes Navegações.
O pioneirismo ibérico pode ser explicado por uma série de fatores econômicos, políticos e sociais. Vamos nos deter mais atentamente a eles a seguir:
“Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.”
Esse famoso poema, escrito pelo poeta português Fernando Pessoa, em 1934, retrata o período das Grandes Navegações. Portugal, no século XV, iniciou sua expansão ultramarina em busca de novas terras, o que foi considerado um feito extraordinário para época, conjunto de uma série de fatores geográficos, políticos, econômicos, sociais e tecnológicos:
Portugal se encontra na confluência entre o Oceano Atlântico e o mar Mediterrâneo, próximo à África e as ilhas Atlânticas. Assim, não encontrava obstáculos naturais que dificultassem sua empreitada.
A formação do Estado Português se deu ainda na Idade Média, conforme vimos no resumo sobre formação dos Estados Nacionais, o que colaborou para o avanço dos projetos.
As especiarias eram muito lucrativas, mas Portugal tinha controle restrito de rotas como o mediterrâneo ou a Ásia. Era fundamental então, a procura por novas rotas.
Várias transformações tecnológicas colaboraram para as grande navegações, como a construção de naus e caravelas, o desenvolvimento de cartas náuticas, o conhecimento sobre rotas marítimas, uso do astrolábio e da bússola permitiam navegações mais seguras.
O “Theatrum Orbis Terrarum” (“Teatro do Globo Terrestre”) de Abraham Ortelius, publicado em 1570 em Antuérpia, é considerado o primeiro atlas moderno e foi resultado das intensas explorações marítimas.
Os feitos náuticos portugueses só começaram a ter alguma concorrência no final do século XV, quando a coroa espanhola financiou o projeto do genovês Cristovão Colombo.
Portugal insistia em atingir as Índias a partir da circunavegação da África, rota que o país dominava desde a 1488, quando o navegador Bartolomeu Dias atingiu o extremo sul do continente africano, cruzando a Cabo da Boa Esperança (chamado na época de Cabo das Tormentas).
Os reis espanhóis, Fernando e Isabel, decidiram financiar o projeto de Colombo para chegar ao Oriente navegando na direção oeste, proposta que não gerava muita confiança.
Em 12 de outubro de 1492, Colombo desembarcou em solo americano, na ilha do Caribe, hoje batizada de São Salvador.
Apesar de ter voltado para Espanha sem ter chegado ao oriente e com as naus relativamente vazias, diferente do que aconteceu com Vasco da Gama ao retornar a Portugal, os novos territórios passaram à soberania espanhola e renderam, em médio prazo, muito mais lucro do que qualquer rota com destino às Índias.
Depois de uma série de tentativas de acordos pelo controle dos novos territórios achados, em 1494, com a mediação da Igreja, foi assinado o Tratado de Tordesilhas, que dividia as terras encontradas entre as duas maiores potências marítimas do período: Portugal e Espanha.
As expedições marítimas se tornaram um marco da integração de diferentes povos e um gigantesco intercâmbio cultural. Mas não podemos esquecer também, que elas tiveram custos altíssimos: a destruição, a exploração e a dominação de muitos povos e culturas.