Guerra do Peloponeso
Figura 1 - Mapa da Guerra do Peloponeso - Original map: U.S. Army CartographerThis svg version: Ruthven [Public domain]
Para entendermos a Guerra do Peloponeso, precisamos discutir o desenvolvimento de Atenas e de Esparta. Para uma maior profundidade, não deixe de ler o post Antiguidade Clássica: Atenas e Esparta. O conflito ocorreu entre 431-405 a. C., no chamado Período Clássico da história grega, século do apogeu ateniense, marcando a queda das cidades-estado e o posterior domínio macedônico de Felipe II (382-336 a.C.).
Esparta foi uma cidade-estado que se localizava na península do Peloponeso, com uma organização política muito diferente da ateniense. Fundada pelos dórios, povo guerreiro e militar, tinha pouco domínio comercial, então sua economia era basicamente agrária. A militarização da sociedade que é uma das características mais conhecidas de Esparta, que a educava para a guerra. Desde o nascimento, o espartano seguia regras restritas de treinamento e aos sete anos, o Estado passa a ensinar estratégias de guerras e educação física. Só a partir dos 20 anos de idade que os homens poderiam entrar na política.
Atenas, por sua vez, ficava na península Ática tornou célebre o conceito de democracia, que modificou muito desde então. É considerado seu apogeu no século V a.C. a partir do governo de Péricles, quando o desenvolvimento interno foi tão forte que a cidade-estado se tornou referência na região. Para entendermos a grandiosidade: foi o período de construção do Partenon e de toda a Acrópole, com o Erecteu e o templo para Atena Niké. O estilo arquitetônico era formulado, e a cidade se torna o maior centro comercial e cultural da região.
Figura 2 Acrópole Ateniense - Christophe Meneboeuf [CC BY-SA 3.0 (https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0)]
A educação militar masculina também era uma prerrogativa ateniense, por meio dela aprendiam a caçar e a se exercitar para competições. Porém, a democracia ateniense era um sistema que segregava boa parte do povo, já que só participavam os cidadãos. Mulheres, estrangeiros, escravos eram excluídos, e representavam cerca de 85% da população, ou seja, apesar da grandiosidade da cidade, ela era restrita.
Junto do crescimento de Atenas e Esparta vieram os conflitos. Nas Guerras Médicas (500-479 a.C.), o Império Persa, que expandia para o oeste, tentava a todo custo a dominação de toda a região grega. Atenas e Esparta lutaram contra as invasões cada uma em seus territórios ou em conjunto, atacando os persas em várias batalhas que se tornaram conhecidas, como a das Termópilas, que o rei Leônidas conduziu os espartanos à vitória ou a de Salamina, onde os atenienses mostraram o poderia da sua frota naval. Com a vitória na guerra, o relacionamento das duas cidades deteriorou. Atenas se torna a cabeça-chave da Liga (ou Confederação) de Delos, a dominando de forma unilateral, o que significava a intervenção política e militar quando necessário. Lembrem-se que a Liga foi formada por causa das invasões persas, uma uma forma de organizarem-se para o conflito, inclusive com a participação de Esparta. Como a maioria dos membros eram cidades costeiras, o forte da Liga era o poderio marítimo, para salvaguardarem o mar Egeu.
Atenas se tornou sede da Liga com o encerramento da guerra, concentrando toda a renda acumulada a partir de taxações, recursos estes utilizados na reconstrução da cidade após a destruição causada nas Guerras Médicas. Isso significa que todo aquele desenvolvimento arquitetônico que citamos anteriormente, foi financiado a partir da Liga de Delos, o que não era totalmente aceito pelos outros membros. A hegemonia ateniense incomodava cada vez mais, e as cidades na península do Peloponeso também passaram a se organizar, formando a Liga (ou Confederação) do Peloponeso, sendo Esparta a líder de cidades como Elis, Corinto e Argos.
A Liga do Peloponeso foi a maneira delineada por Esparta para tomar à frente das cidades-estado da região e se transformar na principal referência. Só ela poderia convocar reuniões pela Liga, assim como coordenar o exército formado com militares enviados por todos os membros. Enquanto a Liga de Delos tinha uma frota naval poderosa e controlava o comércio marítimo, a do Peloponeso possuía o poder militar terrestre bem desenvolvido, destacando outro ponto divergente entre as duas cidades sede.
A animosidade entre Atenas e Esparta só crescia, atingindo a região do istmo de Corinto, uma pequena faixa de terra que transformava a região do Peloponeso em uma península. O que elas queriam era a hegemonia econômica, política e militar de toda a Grécia, iniciando, assim, a Guerra do Peloponeso.
Considera-se que a guerra teve 3 fases distintas, sendo que foi iniciada depois do conflito no istmo de Corinto, entre a cidade homônima e Megara, que fazia parte da Liga de Delos. Tudo se resumia ao controle territorial da região. Pode-se entender esse momento como o estopim de todas as batalhas que acabaram com a hegemonia das duas cidades.
Na primeira fase da guerra, em 431 a.C., Esparta ocupou o território da península Ática num avanço terrestre, um movimento que era sua especialidade, enquanto Atenas dominava os ataques marítimos. Esparta conseguiu dominar boa parte da região, menos a sua cidade principal. Depois de décadas de guerra, houve uma tentativa de apaziguamento com a assinatura da Paz de Nícias em 421 a.C, que não durou muito.
A segunda fase começa em 415 a.C. com a quebra do acordo de paz por parte de Atenas, que ataca a Sicília, ilha ao sul da atual Itália, mais especificamente Siracusa. A autoridade no mar não trouxe a vitória ateniense, que foi derrotada de forma acachapante, com seus soldados aprisionados ou mortos pelos espartanos e aliados. A partir desse momento a derrocada da Liga de Delos se tornava cada vez mais uma realidade.
A terceira, e última, fase da guerra começa em 405 a.C. com a investida espartana à península Ática, aproveitando a decadência ateniense. Agora, Esparta sabia que para dominar a região não poderia ser apenas pela conquista terrestre. Compraram frotas de navios persas com os metais preciosos adquiridos com a invasão e, comandados pelo general Lisandro, derrotam definitivamente Atenas na batalha de Egos-Potamos em 404 a. C. Com a vitória espartana na Guerra do Peloponeso, há a destituição da hegemonia da Liga de Delos, e o início do controle de Esparta de todo o Império ateniense. O problema é que as brigas internas não acabaram aí.
A hegemonia espartana não era muito diferente da anterior. Queria o domínio total da região, controle militar e econômico, o que era contestado pelas outras cidades como Corinto e Tebas. Um exemplo foi o relacionamento com os persas, pois Esparta lhes entrega o litoral da Ásia Menor como reconhecimento à ajuda prestada, o que diminuía ainda mais a autonomia das cidades-estado gregas, que ofereciam pouca resistência ao Império Persa.
Tebas logo contestou os movimentos de Esparta, iniciando novos conflitos com alternâncias de poder entre ambas e até Atenas, que recobrou seu poder momentaneamente. Essa situação minou ainda mais a situação local, os deixando vulneráveis a invasões e ataques, o que aconteceu, eventualmente, com a dominação de Felipe II da Macedônia em 338 a. C..
A Guerra do Peloponeso é bastante cobrada nos vestibulares, pois faz parte do momento de início da decadência das cidades-estado gregas e ascensão do Império Macedônico. Para ajudar na compreensão do conteúdo sobre Grécia, faça uma linha do tempo e elenque os principais acontecimentos em ordem cronológica.
1. (Ufrgs 2017) Na sua narrativa da Guerra do Peloponeso, Tucídides assim relata as práticas funerais atenienses.
“Desse cortejo participam livremente cidadãos e estrangeiros; e as mulheres da família estão presentes, ao túmulo, fazendo ouvir sua lamentação. Depositam-se, em seguida, os despojos no monumento público, situado na mais bela avenida da cidade, e onde as vítimas de guerra são sempre sepultadas – à exceção dos mortos de Maratona: a estes, considerando-se seu mérito excepcional, concedeu-se sepultura no próprio lugar da batalha. Uma vez que a terra recobre os mortos, um homem escolhido pela pólis, reputado por distinguir-se intelectualmente e gozar de alta estima, pronuncia em sua honra um elogio apropriado; depois disto, todos se retiram. Assim têm lugar esses funerais; e, durante toda a guerra, quando era o caso, aplicava-se o costume”.
Citado em LORAUX, N. A invenção de Atenas. Rio de Janeiro: Editora 34, 1994. p. 39.
Assinale a alternativa correta a respeito da história da antiguidade grega, a partir do texto apresentado.
a) Os ritos funerais na Grécia antiga eram cerimônias religiosas, destinadas apenas a conduzir ao paraíso os heróis mortos.
b) Os metecos, participantes das práticas funerais, formavam parte do demos ateniense e possuíam os mesmos direitos políticos que os cidadãos da pólis.
c) Todos os soldados atenienses mortos nos confrontos com Esparta, em razão do grande mérito de seus feitos, eram sepultados no próprio lugar da batalha.
d) A cena descrita, ocorrida na democracia ateniense, indica o valor dado aos cidadãos mais eloquentes da cidade.
e) A realização de um discurso fúnebre por alguém escolhido na massa de cidadãos de Atenas revela o caráter secundário e improvisado da cerimônia.
2. (Pucsp 2017) Segundo as minhas pesquisas, foram assim os tempos passados, embora seja difícil dar crédito a todos os testemunhos nesta matéria. (...) A explicação mais verídica, apesar de menos frequentemente alegada, é, em minha opinião, que os atenienses estavam tornando-se muito poderosos, e isto inquietava os espartanos, compelindo-os a recorrerem à guerra. (...)”.
TUCÍDIDES. História da Guerra do Peloponeso. Brasília: Editora Universidade de Brasília, Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2001 XLVII, 584 pp. 13-15
A partir do texto, pode-se afirmar que Tucídides
a) estudou as estratégias utilizadas na Guerra de Tróia em sua formação como general e registrou a sua própria experiência como combatente no conflito com os persas.
b) concluiu que a Guerra do Peloponeso ocorreu devido a um crescente poder que ameaçou os demais, de acordo com a lógica do poder.
c) reconstituiu a Guerra do Peloponeso comparando os relatos dos líderes políticos das várias cidades envolvidas, chegando à verdade dos fatos.
d) pesquisou as Guerras Médicas, conflito entre gregos e persas, e concluiu que a vitória grega deveu-se à superioridade política das cidades-Estado sobre o poder imperial.
Gabarito:
Questão 1 - [D] – A Guerra do Peloponeso, ocorrida entre 431-405 a.C., foi uma guerra entre as Ligas de Delos e do Peloponeso, e foi vastamente abordada pelos historiadores da antiguidade, como Tucídides.
Questão 2 - [B]
Guerra do Peloponeso: 431-405 a.C. – Enfrentamento entre gregos – atenienses: Liga de Delos x espartanos: Liga do Peloponeso. Troca de hegemonias. Final: enfraquecimento das cidades-estado, as deixando mais vulneráveis para a dominação macedônica.