Guerras Médicas
Figura 1 - Mapa das Guerras Médicas - Juan José Moral (talk · contribs) [CC BY-SA 3.0 (https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0)]
O Período Clássico da história grega é caracterizado pelo desenvolvimento das cidades-estado de Atenas e Esparta e os conflitos gerados devido à busca pela hegemonia, como a Guerra do Peloponeso. Contudo, houve um confronto mais longevo que também foi muito importante, as Guerras Médicas entre os gregos e o Império Persa (conhecidos como medos, ou, descendentes de Medeia). Ocorrida entre 500 – 479 a.C., a origem do enfrentamento é econômica, pois ambos desejavam o domínio do comércio marítimo. Além disso, suas políticas expansionistas se chocavam, já que o Império Persa caminhava para o Oeste enquanto os gregos para o Leste.
O que sabemos sobre o Império Persa vem, majoritariamente, da obra do historiador grego Heródoto sobre as Guerras Médicas. Heródoto é considerado o “pai da História”, porque foi o primeiro a usar a História para compreender o comportamento e questionamentos do ser humano. Porém, ele introduz ao leitor a parcialidade ao descrever o Império Persa como tirânico. Devemos sempre instigar o nosso próprio pensamento crítico, ou seja, conferir as informações que lemos. As Historias de Heródoto são fundamentais, mas devemos contrabalança-las com outras informações. Isso serve para qualquer disciplina e/ou tema que vocês estudem.
O Império Persa, no século VI a. C., começou uma corrida expansionista tanto para leste quanto oeste. No reinado de Ciro, o Grande, conquistaram parte do Oriente Médio, inclusive a região da antiga Babilônia, entre os rios Tigre e Eufrates, de grande significância para o Império. Seu filho Dario I, por sua vez, conseguiu estender os avanços do pai ao adentrar o Egito, a Índia e a Anatólia, mais conhecida atualmente como a Ásia Menor. No local, existiam as cidades-estado gregas jônicas, que enfrentaram os persas pela primeira vez. Falaremos disso mais para frente. Voltando ao Império, a forma de conquista e expansão que realizavam era bem agregadora. Os lugares tomados por eles preservavam as estruturas hierárquicas políticas e sociais, ou seja, quem possuía poder continuava no poder, se você fosse rei, se mantinha rei. Isso parece confuso para nós, pois temos na memória uma ideia de dominação total e irrestrita, que aconteceria em todos os níveis do território. Porém, a partir do momento em que dominavam a região, os persas exigiam que prestassem lealdade ao seu rei - “O Rei de todos os reis” – e pagassem impostos, que eram altos. Com esse dinheiro arrecadado, construíram várias obras de infraestrutura, como a Estrada Real que tinha 2 mil km de extensão e ligava boa parte do Império, que facilitava comunicação e deslocamento, sobretudo de tropas imperiais. Uma das inovações mais conhecidas foi a unificação monetária, que padronizou as trocas comerciais, auxiliando no pagamento de impostos e na fiscalização também.
Outro ponto que diferia os persas dos gregos era a proibição e extinção da escravidão dos primeiros, e isso se dava por vários motivos, sendo um deles o religioso. O zoroastrismo, religião persa, não permitia a escravização das pessoas e não pregava a conversão forçada. Ou seja, mesmo com a expansão territorial, as populações arrebanhadas pelo Império não eram escravizadas e nem obrigadas a seguir a religião oficial, ponto de vista totalmente diferente da maioria das cidades-estado gregas.
Os gregos, por sua vez, são a base política, social e cultural do Ocidente. Foi deles que vieram a democracia, a filosofia, a política, o pensamento crítico, grandes inovações artísticas e arquitetônicas, entre outros. Porém, essas características se relacionam mais diretamente a Atenas, sobretudo no que os historiadores denominaram de período Clássico, no século V a. C. Sabemos que a Grécia atual, estado independente e soberano, só foi unificada no século XIX. A região passou por vários mandos e desmandos políticos desde a Antiguidade. Entre os séculos VI – IV a.C., as cidades-estado eram praticamente autossuficientes, algumas misturavam democracia para os cidadãos e autoritarismo aos não cidadãos. Essa fragmentação passa a mudar a partir das Guerras Médicas.
Figura 2- Batalha de Maratona - Georges Rochegrosse - 1859 - https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/56/Les_H%C3%A9ros_de_Marathon_Georges_Rochegrosse_1859.jpg
O conflito entre as cidades-estado gregas e os persas começa com a revolta das cidades da Anatólia com a invasão imperial. Atenas passou a apoiar os revoltosos, pois tinha interesse na contenção do expansionismo persa. Em 490 a.C., Dario I organizou um grande exército para atacar Atenas, que auxiliou as cidades da Ásia Menor. Atenienses e persas se encontraram em Maratona, cidade a 42 km de Atenas, na chamada Batalha de Maratona. Nela, a frota naval persa foi surpreendida pelo ataque fulminante do exército grego, que derrotou mais da metade dos homens rivais, provocando a retirada das tropas persas e a vitória grega.
Leonidas na Batalha das Termópilas - Jacques-Louis David - 1814 - Museu do Louvre
Com a morte de Dario I, quem assumiu foi Xerxes I, que reuniu mais de 200 mil homens com a intenção de dominar toda a região grega, não só a Anatólia. O primeiro grande confronto da era Xerxes foi em 480 a.C. na Batalha das Termópilas. Nela, os espartanos conduziram os inimigos até o desfiladeiro das Termópilas, pois precisavam diminuir a vantagem numérica persa. Para isso, utilizavam todo o conhecimento geográfico que possuíam e a intenção era confinar o exército rival na região. O plano foi contrariado quando um traidor contou todos os detalhes aos persas. Leônidas, o comandante espartano, manteve sua posição, pois sabia que, assim, os outros exércitos gregos conseguiriam se reorganizar. Como previsto, ele e seus homens foram aniquilados na batalha, mas a bravura espartana auxiliou a frota naval grega, que conseguiu enfrentar os persas na Batalha de Salamina em 480 a.C.
O uso da marinha foi fundamental, porque após a queda dos espartanos, os persas conseguiram atravessar para a Península Ática e encontraram uma Atenas esvaziada. Os comandantes gregos sabiam que não conseguiriam defrontá-los em terra, portanto, ordenaram a saída de mulheres, crianças, idosos e se armaram nas costas. Os navios persas, que eram base de abastecimento do exército, encalharam nas costas rasas da região. Os atenienses conseguiram dominá-los facilmente, saindo-se vitoriosos e dando início à decadência do domínio persa.
O fim das Guerras Médias ocorreu com a Batalha de Plateia, em 479 a.C, quando os persas foram expulsos das penínsulas gregas por Atenas e Esparta, voltando ao continente. Depois desse episódio, temos o nascimento da expansão ateniense. Empoderados pelas vitórias contra o Império Persa, passaram a buscar o domínio em relação às outras cidades, dando início ao imperialismo ateniense.
A vitória das cidades gregas foi fundamental para elas se entenderem como uma unidade, não no sentido de país, mas na formação de alianças. A formação da Liga de Delos é um exemplo desse elo. As mais de 300 cidades participantes da Confederação buscavam a unificação militar e facilidades econômicas. Atenas e Esparta dispararam como cidades hegemônicas em suas regiões e, após o conflito com os persas e o período de crescimento de ambas, os problemas internos começaram a tomar forma.
Dica: o filme 300 (2006), conta a história da Batalha das Termópilas a partir da HQ de Frank Miller. Estudar História por meio de filmes fica mais divertido!
Trailer - https://www.youtube.com/watch?v=X6qQbPtM-iE
As Guerras Médicas são parte do processo de legitimação do poder das cidades-estado gregas, junto da Guerra do Peloponeso. Portanto, essas duas batalhas são cobradas, geralmente, de forma concomitante, comparando suas causas e consequências.
1. (Fgv 2017) (...) a partir do século V a.C., a guerra tornou-se endêmica no Mediterrâneo. Foram séculos de guerra contínua, com maior ou menor intensidade, ao redor de toda a bacia. O trabalho acumulado nos séculos anteriores tornara possível um adensamento dos contatos, um compartilhamento de informações e estruturas sociais, uma organização dos territórios rurais que propiciava a extensão de redes de poder. Foram os pontos centrais dessas redes de poder que animaram o conflito nos séculos seguintes.
Norberto Luiz Guarinello. História Antiga, 2013.
Sobre esses “séculos de guerra contínua”, é correto afirmar que
a) as Guerras Púnicas, entre Atenas e Cartago, foram uma disputa pelo controle comercial sobre o mar Mediterrâneo, terminando após três grandes enfrentamentos, com a vitória de Cartago e a hegemonia cartaginesa em todo o Mundo Antigo ocidental.
b) as Guerras Macedônicas foram um longo conflito entre o Reino da Macedônia, em aliança com os persas, e o Império Romano, que venceu com muitas dificuldades porque ainda estava em guerra com outros povos.
c) as Guerras Médicas, entre persas e gregos, resultaram na vitória dos últimos e, em meio a esses confrontos, permitiram que Atenas liderasse a Liga de Delos, aliança de cidades-Estados gregas com o intuito de combater a presença persa no Mediterrâneo.
d) as Campanhas de Alexandre, o Grande, aliado a Esparta e Corinto, combateram e venceram as poderosas forças persas e ampliaram os domínios gregos até a Ásia Menor, propagando os princípios da democracia ateniense pelo Mediterrâneo.
e) a Guerra do Peloponeso, o mais importante conflito bélico da Antiguidade, envolveu as principais cidades-Estados gregas que, aliadas a Roma, enfrentaram e derrotaram as forças militares cartaginesas.
2. (Upe 2013) Sobre as Guerras Médicas, travadas entre gregos e persas no início do século V a. C., assinale a alternativa CORRETA.
a) A vitória grega deveu-se à forte liderança espartana, uma vez que Atenas se submeteu aos persas desde o início dos conflitos.
b) As batalhas de Maratona, Salamina e Termópilas foram travadas em campo aberto.
c) Os gregos se destacaram na guerra por causa do uso da poderosa cavalaria ateniense.
d) Os principais instrumentos de um soldado grego eram: a lança, o escudo e a espada.
e) Temístocles, principal general do exército persa, conseguiu grandes vitórias graças à ação de mercenários financiados pelo rei Dario.
Gabarito:
Questão 1 - [C] – As Guerras Médicas ocorreram contra os persas e uma das mudanças após o conflito foi a formação da Liga de Delos.
Questão 2 - [D] – As vitórias gregas tornaram-se mais frequentes após as batalhas de Maratona, ocorridas em terra, mesmo com o domínio marítimo.
Guerras Médicas: 500 – 479 a.C – Conflito entre gregos e persas. Revolta contra a dominação de Dario I – Ataque a várias cidades-estado. Consequências: crescimento político e econômico das cidades gregas e decadência do Império Persa.