Guerras Púnicas
Figura 1 - Mapa da República Romana e de Cartago - Grandiose (talk · contribs) [CC BY 3.0 (https://creativecommons.org/licenses/by/3.0)]
O processo de expansão romana caracterizou o período da República (509 a.C. – 27 a.C.) e teve início na própria península itálica. Contudo, Roma ganhou mais notoriedade na Antiguidade ao conquistar Cartago com as Guerras Púnicas (264 a.C. – 146 a.C.). Começou pela península itálica com a conquista de vários povos que viviam na região, como os etruscos, lombardos, gregos, entre outros. Assim, as práticas mercantis passaram a ganhar destaque na economia de Roma. Esse crescimento não foi aceito passivamente por todos os povos do Mediterrâneo. Cartago, cidade fenícia situada no norte da África, atual Tunísia, foi uma das primeiras a desafiar o domínio romano e foram o principal obstáculo expansionista.
Cartago era privilegiada geograficamente com uma posição de fácil acesso ao Mar Mediterrâneo, ao continente europeu e às civilizações africanas e do Oriente Médio. A cidade foi fundada pelos fenícios em cerca de 800 a. C., que, como já vimos no post Civilizações da Antiguidade Oriental – Hebreus, fenícios e persas, ficaram conhecidos na História por dominarem as atividades comerciais. Eram, aproximadamente, 250 mil cartagineses que viviam num local bem estruturado e importante para a região, atraindo o interesse dos romanos, que queriam se tornar a figura hegemônica do período.
O conflito ficou conhecido como Guerras Púnicas, que vem da palavra punos, substantivo pelo qual os romanos chamavam os fenícios de Cartago, e elas foram divididas em três fases:
- 1ª Guerra Púnica – 264 a. C. – 241 a. C.
- 2º Guerra Púnica – 218 a. C. – 201 a. C.
- 3º Guerra Púnica – 149 a. C. – 146 a. C.
Figura 2 Moeda cartaginesa reproduzindo Amílcar Barca - 237-227 a. C
A primeira Guerra Púnica se desenvolveu na Sicília, ilha localizada ao sul da Península Itálica. Roma, nesse momento, queria solidificar sua posição na região e manter o alcance cartaginês distante. De início, Cartago conseguiu vitórias importantes, pois eram proficientes nas batalhas marítimas. A marinha deles era muito mais avançada do que a romana, que, por sua vez, possuía uma força militar em terra mais consolidada. A cidade fenícia obteve boas vantagens no começo, mas a situação mudou a partir do momento em que os gregos auxiliaram os romanos na criação dos estratagemas militares. As primeiras batalhas já ocorriam por quase 20 anos, com intervalos, e Roma passou a mudar a estratégia ao criar embarcações de guerra para rivalizar com os cartagineses, e isso só ocorreu por causa dos gregos que viviam na Magna Grécia.
Os resultados positivos para os romanos nas lutas ao mar passaram a acontecer. As batalhas navais foram essenciais para a vitória, pois Roma conseguiu inserir características próprias do seu estilo de organização militar, como o embate corporal. O estopim para a derrota dos africanos veio com a batalha de Égales, vencida pelos europeus, em 241 a. C. Cartago foi obrigada a indenizar seu oponente, por meio de um tratado de paz forçado, com ouro e possessões territoriais, dentre elas a Córsega, a Sardenha e a Sicília. Roma, também, destruiu parte da frota cartaginesa.
Um personagem importante, nessa época, foi o general cartaginês Amílcar Barca, que sofreu o revés romano, mas se destinou à Península Ibérica, conquistando terras na Espanha e em Portugal. Foi derrotado em 228 a. C., porém, a influência na região, sobretudo na atual Catalunha, foi fundamental para que Cartago conseguisse manter sua força, sobretudo após a descoberta de minas de prata.
Figura 3 Aníbal vitorioso contemplando pela primeira vez a Itália pelos Alpes – 1770 - Francisco de Goya
A segunda Guerra Púnica começou com a intervenção romana ao descobrir as ações cartaginesas. Como a intenção de Roma era o domínio do comércio, tanto no Mediterrâneo quanto no continente, o crescimento de Cartago era visto com maus olhos. Ao declarar nova guerra, em 218 a. C., a república europeia instigou o general Aníbal Barca, filho de Amílcar, considerado uma das maiores mentes militares e estrategistas da Antiguidade. Novamente, as batalhas iniciaram com a vitória dos africanos, que saíram da Espanha, passaram pelos Pirineus, atravessaram o sul da França, alcançou os Alpes e rumaram em direção ao sul com o objetivo de tomar Roma. Esse caminho foi formulado por Aníbal e enfrentaram diversas batalhas nas quais conseguiu ótimos resultados e, ainda por cima, enganou os generais romanos que esperavam um ataque via mar.
Mesmo construindo alianças pelo seu percurso, Aníbal decidiu não invadir Roma no momento em que chegaram à capital. O consenso dessa movimentação é que o general procurou descansar seu exército que estava cansado de uma empreitada longa e desgastante. O exército romano, por sua vez, estava enfraquecido e, por isso, criou novas estratégias para derrotar Aníbal sem o confronto direto, que seria danoso para si. Além disso, começaram a organizar e executar a invasão de Cartago, visando tomar o território que estava vulnerável sem a presença do principal líder e seus homens. Aníbal soube da ação e se dirigiu para a sua cidade o mais rápido possível. Contudo, os romanos conseguiram vencê-lo sob a autoridade do general Cipião em 201 a. C. Uma das principais consequências foi a diminuição das possessões territoriais cartaginesas, principalmente a Espanha, minando, mesmo que temporariamente, o poder econômico de Cartago.
Figura 4 O Declínio do Império cartaginês - 1817 - Joseph Mallord William Turner
Roma se mostrava uma força imbatível no Mediterrâneo, e obrigou Cartago a assinar um novo acordo de paz. Neste, qualquer conflito em que os fenícios se envolvessem, deveria ser aprovado pelo Senado romano. Isso significa o início de uma dominação política da região. Vale ressaltar que Roma também passou a se aliar, e dominar, os povos vizinhos à cidade africana, visando se fortalecer para destruí-la.
Em 149 a. C., o governo romano instigou a Numídia a provocar um conflito com Cartago, para que esta se defendesse e quebrasse o acordo. Um dos porquês dessa ação romana de aniquilação da cidade ganhou força por causa de reportes de um senador romano, Catão. Ele e sua comitiva visitaram Cartago após a segunda guerra e observaram a forte estrutura comercial da região e sua alta capacidade de recuperação econômica. Dessa forma, Catão acreditava que somente a destruição total daria a Roma o espaço livre para seu processo expansionista. É daí que surgiu a expressão latina Delenda est Cathago, que significa “destrua Cartago” e passou a ser repetida constantemente por ele em reuniões, assembleias e discursos públicos. Em 149 a. C., Roma invadiu Cartago após a “quebra” do pacto de paz ao atacarem seus vizinhos. O cerco feito pelos romanos foi fundamental para a eliminação das estruturas de defesa da cidade e, em 146 a. C., aproximadamente 70 mil cartagineses foram mortos. A destruição foi completa ao salgarem a terra para que ninguém voltasse ali e incendiassem a cidade.
A partir desse momento, Roma não possuía mais nenhum obstáculo considerável para a dominação continental e estrangeira.
Dentre as grandes guerras da Antiguidade, os vestibulares cobram com mais frequência as Guerras Médicas, entre gregos e persas, e as Guerras Púnicas, entre romanos e cartagineses. Insira, no seu quadro cronológico, a importância desses conflitos para o andamento das pólis e da República romana.
1. (Uece 2018) As Guerras Púnicas, que se constituíram por uma série de combates entre Roma e Cartago no período entre o século III e o século II a.C., assinalaram uma mudança radical na história de Roma e do mundo antigo, porque
a) mesmo tendo Roma sofrido algumas derrotas, triunfou com as vitórias de Aníbal.
b) os conflitos entre Roma e Cartago duraram mais de um século.
c) após o fim do conflito, Roma se aproximou de uma civilização mais avançada e rica.
d) redesenhou toda a organização do mundo antigo e Roma transformou-se na grande potência do Mediterrâneo.
2. (Mackenzie 2018) Após a unificação da península Itálica, em 272 a.C, e a vitória contra Cartago, Roma se tornou uma potência que não parou mais de se expandir. Contudo, para os plebeus, o expansionismo de Roma ocasionou profundas mudanças sociais, que atingiram, principalmente, esse grupo social. Analise as afirmativas abaixo.
I. Ao mobilizar para a guerra, os pequenos e médios proprietários plebeus, sem que recebessem nenhum tipo de remuneração do Estado, por tais serviços, ocasionou a ruína dos mesmos. Ao retornar para Roma, não tinham recursos financeiros para retomar suas atividades.
II. A conquista do norte da África e da Sicília e a remessa de suas colheitas de trigo para Roma fizeram com que o preço do produto despencasse, impossibilitando os proprietários plebeus de concorrerem com o baixo preço do trigo importado.
III. A solução encontrada pelos pequenos e médios proprietários plebeus para enfrentarem a crise foi a reconversão das culturas em suas terras: substituíram o trigo e a cevada pelo plantio e cultivo de vinhas e olivais.
Assinale a alternativa correta.
a) I está correta, apenas.
b) II está correta, apenas.
c) III está correta, apenas.
d) I e II estão corretas, apenas.
e) II e III estão corretas, apenas.
Gabarito:
Questão 1 - [D] – Nessa questão, vemos que a vitória de Roma foi fundamental para sua expansão para além da Península Itálica e, posteriormente, contribuiu para a crise política que levou ao início do Império.
Questão 2 - [D]
Guerras Púnicas – 272-265 a.C.
- Roma x Cartago;
- Questões comerciais e de hegemonia do Mar Mediterrâneo;
- 1ª Guerra Púnica – vitória romana;
- 2ª Guerra Púnica – novamente, vitória romana – destaque da figura de Aníbal que tentou abafar os inimigos na Península Itálica;
- 3ª Guerra Púnica – dominação da cidade de Cartago.