Período Helenístico
Figura 1 - Mapa do Império de Alexandre, o Grande - Mircalla22 (talk · contribs) [CC BY-SA 3.0 (https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0)]
Nas classificações temporais da história grega da Antiguidade, o período Helenístico foi o último, sucedendo o Clássico (V-IV a.C.), e ocorreu entre os séculos IV e II a.C., após o domínio macedônio de Filipe II (382-336 a.C.). Falaremos aqui das principais características desse momento, da expansão feita por Alexandre, o Grande (356-323 a.C.) e as transformações vividas pela cultura ocidental.
O contexto de formação do período Helenístico se relaciona diretamente com a decadência das pólis gregas após uma série de conflitos enfrentados no período Clássico, desde as Guerras Médicas contra os persas, até a Guerra do Peloponeso.
Esta, como vocês podem observar no texto linkado, enfraqueceu as cidades-estado, o que deu espaço para a invasão externa de Filipe II, rei da Macedônia.
A subjugação grega pelos macedônios foi concretizada na Batalha de Queronéia, em 338 a.C., mas as iniciativas do imperador tinham começado 30 anos antes, com as anexações das cidades do sudoeste da Grécia, da região da Trácia. Em Queronéia, Filipe II venceu os exércitos de Tebas e Atenas e formou a Liga de Corinto, mandatória para as cidades gregas. Ou seja, a participação era obrigatória sob a penalidade de serem invadidas e destruídas. Com o tempo, a queda das pólis se tornou um fato irreversível e toda a região sucumbiu perante o Império Macedônio.
Em 336 a.C., Filipe II foi assassinato e sucedido por Alexandre, seu filho, que instaurou uma nova, e grandiosa, fase à expansão macedônia. Todos conhecemos Alexandre e sua denominação “o Grande” e essa ideia de nomeá-lo assim foi comum por muito tempo na História da humanidade, que exaltava os feitos de homens considerados importantes. Normalmente, esses personagens eram estadistas, imperadores, reis, nobres, aristocratas ou aqueles que lutavam contra essas figuras. Isso significa que a História era feita por aqueles que destacavam os processos políticos da elite e das altas hierarquias como fundamentais para compreendermos o passado. Essa tradição se modificou ao longo do tempo, e hoje damos a mesma atenção à população, comunidades, grupos étnicos, minorias, etc. Esta mudança se deu porque agora reconhecemos a importância de todos os aspectos sociais e culturais na construção histórica.
Alexandre era filho de Filipe II, mas sua notoriedade se deu com a constatação das suas habilidades militares. Conquistador nato, aumentou exponencialmente o império iniciado por seu pai, que havia dominado a Grécia. Alexandre expandiu para leste, destruiu o Império Persa ao desafiar o rei Dario III. Venceu rapidamente o seu algoz na batalha de Issos em 333 a.C. e alcançou o que os gregos não conseguiram ao derrotarem os persas nas Guerras Médicas: se apossou de todos os territórios na Ásia Menor, Egito, Oriente Médio, e não parou até chegar à Índia.
Figura 2 Busto de Alexandre c. 340-330 a.C. - Cópia da romana de uma escultura de bronze feita por Lysippos- Museu do Louvre
Contudo, sua habilidade militar não se traduziu em longevidade imperial. As terras conquistadas não foram bem incorporadas ao Império, ou seja, não foram institucionalizados órgãos administrativos capazes de garantir a posse e permanência ao domínio macedônio além do período alexandrino. Portanto, a validade do império não resistiu à sua morte, ele não conseguiu estabelecer uma linhagem hereditária que desse continuidade ao que adquiriu em vida. Com sua morte, o Império foi divido em três entre os principais generais macedônios, chamados de Reinos Helenísticos, que foram dominados pelos romanos quanto estes iniciaram seu próprio processo de expansão. É interessante pensar que a Grécia não obteve soberania desde a tomada de Filipe II até 1821, com as Guerras de Independência.
A habilidade militar e política de Alexandre foi construída a partir da sua vasta formação em diversas áreas. Desde as aulas com Aristóteles até os treinamentos militares, Alexandre traçou um caminho certeiro de dominação territorial. Assumiu o Império aos 20 anos de idade e desenvolveu duas características como conquistador: ou aceitavam a dominação ou seriam totalmente aniquilados pelo preparado e rico exército macedônio. Após o aceite, e aqui vem a característica mais peculiar do seu jeito de governar, integrava as culturas e respeitava autoridades locais. Um dos exemplos dessa integração era o incentivo ao casamento entre os militares de alta patente com membros das elites locais.
Sua reputação como general chegou até nós pela recuperação e exaltação da Antiguidade Clássica greco-romana a partir do Renascimento na Idade Moderna e com o Iluminismo, quando houve uma nova onda de releituras dos grandes pensadores antigos. Uma curiosidade é que Napoleão era obcecado por Alexandre, suas conquistas e feitos, chegando até mesmo a relacionar a sua invasão ao Egito àquela realizada pelo macedônio. As histórias contadas sobre Alexandre enfatizam seu caráter espetacular e único, organizando temporalmente sua vida até se tornar um líder grandioso. Por exemplo, existe uma conhecida lenda que Filipe II percebeu a distinção de seu filho ao vê-lo domar um cavalo arisco aos 12 anos, animal até então considerado indomável pois nem o rei conseguira controla-lo.
O impacto pós-morte foi grande, motivado tanto pelos resultados militares quanto pelas conquistas realizadas. Outro exemplo que se pode destacar foi a construção de cidades, por todo o Império, que se tornaram referências culturais em suas regiões que ele nomeou a partir de si, as “Alexandrias”. No Egito, ficou conhecida como uma das capitais culturais do Ocidente com a maior e principal biblioteca da Antiguidade, destruída em um incêndio possivelmente iniciado por Júlio César quando este tentava trilhar os mesmos caminhos de Alexandre e conquistar o Egito.
Algumas medidas foram implementadas no Império para facilitar a comunicação e a própria dominação que se traduziram num dos maiores legados do período e do próprio Alexandre. A absorção da cultura local era feita a partir de um referencial específico, a cultura helênica (tradição grega), que era associada aos orientais, dando início a uma nova forma de se pensar e organizar o mundo. O grego se torna língua oficial, ou seja, apesar de respeitar o outro, o ponto de partida do Império era sempre a cultura considerada mais evoluída. Essa fusão foi fundamental para as civilizações que vieram depois, pois deu espaço para o desenvolvimento científico e artístico, e a conhecemos como cultura helenística.
O Período Helenístico é conhecido pelo fim da hegemonia das cidades-estado gregas e expansão do Império Macedônico. A miscelânea cultural entre oriente e ocidente foi fundamental para o surgimento do pensamento romano antigo que influenciou a sociedade ocidental.
1. (Fatec 2019)
A figura mostra uma tapeçaria funerária produzida no Egito, durante o chamado Período Helenístico, retratando um homem vestido como grego, posicionado entre dois deuses egípcios, Osíris e Anúbis.
Assinale a alternativa que explica, corretamente, a fusão das culturas grega e egípcia representada na tapeçaria.
a) As sucessivas incursões militares empreendidas pela rainha Cleópatra VI nos territórios gregos proporcionaram o contato dos egípcios com a arte e a filosofia helenística, cuja concepção estética influenciou a produção dos artesãos do Baixo Egito.
b) Educado por Aristóteles, o faraó Menés, responsável pela unificação dos reinos do Baixo e do Alto Egito, tornou-se grande admirador da arte e da filosofia gregas, e foi o responsável pela difusão da cultura helenística em seu império.
c) A política expansionista de Alexandre, o Grande, promoveu o contato dos gregos com outros povos da Europa, da Ásia e da África, e originou a cultura helenística, caracterizada pela miscigenação de diversos elementos culturais.
d) Os egípcios tomaram contato com a cultura helenística por meio do comércio com os povos visigodo, ostrogodo, viking e alano que, partindo do norte da Europa, navegavam até o Nilo levando produtos de diferentes procedências.
e) Resultado da união política da Grécia e do Egito, por meio do casamento de Alexandre, o Grande, com Cleópatra VI, a cultura helenística foi imposta, muitas vezes à força, a todos os súditos do novo império.
2. (Ufpr 2012) Sobre o período helenístico (séculos IV a II a.C.) é correto afirmar:
a) Com a rápida conquista territorial feita pelos macedônios, liderados especialmente por Alexandre Magno, houve a difusão da cultura grega do Egito até a Índia, por meio da adoção da koiné, uma variante mais simples do grego. Ocorreu a fusão entre culturas orientais e a cultura grega, além da construção de polos culturais, como Alexandria. Esse período deixou uma influência duradoura, que se manteve também dentro dos limites do Império Romano.
b) Foi um longo período de desenvolvimento econômico, em que a agricultura foi incentivada por todos os territórios conquistados por Alexandre Magno. O objetivo desse imperador era rivalizar com o Império Romano, estabelecendo em Alexandria um governo despótico e centralizador. Nesse período, a cultura grega se expandiu do Egito até a China.
c) Foi marcado pelas conquistas de Alexandre Magno, que teve dificuldades em expandir o seu governo, por conta da resistência dos romanos e dos persas. Apesar de ter reinado por décadas, Alexandre Magno não conseguiu manter a independência grega, perdendo seus territórios para o nascente Império Romano.
d) Foi um período de decadência cultural, em que manifestações culturais gregas misturaram-se a influências de outras culturas conquistadas pelos exércitos de Alexandre Magno. Devido ao seu rápido crescimento, o império helenístico permitiu que as culturas e costumes locais se preservassem em troca de lealdade política. Isso levou ao fim da língua, da filosofia, do teatro e da arquitetura gregas.
e) Foi uma era de violência endêmica e de escravidão dos povos conquistados por Alexandre Magno, o que explica sua breve duração. Logo após a morte de Alexandre, o império se dividiu e foi conquistado pelos persas. Dessa forma, o projeto de difusão da cultura grega foi abandonado, deixando alguns poucos monumentos e bibliotecas pelo Oriente.
Gabarito:
Questão 1 - [C] – O Período Helenístico ficou marcado pela fusão cultural entre os gregos e orientais, sobretudo persas e egípcios, enriquecendo esses povos.
Questão 2 - [A] – Helenismo foi o nome dado ao amálgama cultural no Período Helenístico.
Período Helenístico – início com a vitória de Filipe II na Batalha de Queroneia.
Invasão das cidades-estado gregas.
333 a.C. – Alexandre, o Grande assumiu e dominou todo o Oriente Próximo
Império Macedônico – dividido entre Reinos Helenístico
- Helenismo: fusão cultural entre Grécia e Oriente.