Baixa Idade Média - Expansão comercial e urbana
Figura 1 - Mapa da Europa no século XIV - https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/0c/Europe_in_1328.png?uselang=pt-br
A Idade Média foi um longo período da história europeia que abarcou diversas mudanças essenciais para a sociedade ocidental. Aqui falaremos sobre o processo de expansão comercial e urbana que foi a origem de Renascimento comercial e cultural e das características políticas, sociais, culturais e econômicas da Idade Moderna. A Baixa Idade Média (séculos XI – XIV) ficou marcado pelo desenvolvimento dos burgos e, consequentemente, da burguesia, além dos momentos de crise, como a do feudalismo.
No medievo, fenômenos naturais eram incontroláveis e afetavam diretamente as taxas demográficas. Logo, crises econômicas e políticas se desenvolveram constantemente tanto na Alta Idade Média quanto na Baixa. A partir do século IX, houve um período de pacificação, com, por exemplo, o fim das disputas de poder em vários países, como a França após o Tratado de Verdun, em 843, por exemplo.
O continente viveu um crescimento populacional atípico e surgiu a necessidade de aumentar a produtividade agrícola. Houve, portanto, concomitantemente às características citadas, o desenvolvimento de novas tecnologias de manuseio do solo e uso de novos equipamentos e instrumentos que aumentaram a capacidade de colheita. Essas mudanças, contudo, não foram suficientes para suprir a demanda social crescente e a Europa teve um novo intervalo de escassez de alimentos.
Junte a essa informação o fato de que a melhora tecnológica não se traduzia em benefícios para os camponeses. Mesmo com colheitas minguadas, os senhores feudais mantiveram e, posteriormente, elevaram os valores das taxas. Essa medida foi fundamental para que os feudos passassem a sofrer o processo de êxodo rural, com o povo se direcionando às cidades. Vale destacar que mesmo com o desmantelamento paulatino dos feudos e o deslocamento populacional para os centros urbanos, a atividade agrícola ainda era a mais importante durante toda a Idade Média e por boa parte da Moderna. As cidades só se tornaram prioridades e centros de poder a partir da Revolução Industrial em 1760. Ou seja, uma minoria saiu do campo, mas causou um impacto importante na constituição social e econômica da época.
Em relação ao status social, houve uma grande mudança. Na tradição desenvolvida na Alta Idade Média, o servo era ligado ao senhor feudal devido às obrigações pagas pelo uso da terra. Taxas como corveia, talha, banalidades, mão-morta, entre tantas outras, eram tão dispendiosas que a dívida se tornava hereditária. O que mudou, no entanto, foi o status de quem migrou para a cidade, que virou homem-livre. A organização social se caracteriza por ser estamental, ou seja, com muito pouca ou nenhuma mobilidade entre os estamentos. O homem-livre era uma figura atípica para aquela sociedade e ganhou a alcunha de burguês. Porém, devemos entender que as cidades se localizavam em territórios que eram propriedade de alguém, portanto, o pagamento de taxas não acabou.
Figura 2 - Rotas comerciais no período medieval - Lampman [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Late_Medieval_Trade_Routes.jpg">via Wikimedia Commons</a>
As principais atividades econômicas eram o comércio e o trabalho manual, que era feito pelas corporações de ofício. O artesanato era considerado uma habilidade a ser preservada, que passava de mestre para aprendiz. A administração do artesanato era feita pelas associações de artesãos, as chamadas corporações de ofício. Porém, foi o crescimento do comércio um dos aspectos mais importantes dessa época. Cidades como Gênova, Nápoles, Pisa e Veneza, a principal, encabeçavam o desenvolvimento mercantil na Europa. Os burgos precisavam ser abastecidos, e os portos italianos eram intermediários dos produtos orientais para a parte ocidental do continente. Esse compartilhamento econômico e cultural, devido ao contato entre diversos povos, ficou conhecido como Renascimento comercial e urbano.
As rotas comerciais no Mar Mediterrâneo foram reabertas, outras, como no Mar do Norte ou Mar Báltico se tornaram essenciais. Uniões de cidades surgiram com a função de facilitar o comércio e reivindicar vantagens, eram as chamadas ligas, sendo uma das mais famosas a Liga Hanseática, a região da Alemanha. Outra coisa que se desenvolveu foram as feiras, locais onde a atividade mercantil poderia ser realizada de forma itinerante e sob a proteção dos senhores feudais, que não era gratuita. A situação feudal não era estável. A crise se estabeleceu com força ao longo dos séculos XI e XII em todas as instâncias.
A maior instituição da época, a Igreja, estava inserida nesse contexto de incertezas. Internamente, ela passava por disputas políticas que culminaram em uma medida extrema. Em 1054 ocorreu o Cisma do Oriente, a divisão entre Igreja Católica Apostólica Romana – na qual o chefe era o Papa e a sede em Roma – e, Igreja Ortodoxa – baseada em Constantinopla e com o Patriarca como líder. Para os católicos, esse momento foi seguido de decisões que visavam fortalecer o seu papel como uma instituição sólida, a única que unia a Europa ocidental cristã. Concílios foram convocados para definirem o aparato legal da Igreja.
Figura 3 - Papa Urbano II pregando no Concílio de Clermont – c. 1474 - Sébastien Mamerot - Encontrada na Iluminura francesa chamada Passages d'outremer
Além disso, convocaram as Cruzadas em 1095 no Concílio de Clermont, conduzido pelo Papa Urbano II. A ida para Jerusalém tinha objetivos religiosos e civis, sendo estes o processo de expansão territorial para o aumento de área útil cultivável e o resgate da Terra Santa. Outro ponto é que toda a guerra significa um tipo de controle populacional, o que era visto como necessário naquele contexto. Os nobres de menor escalão viam nas cruzadas uma oportunidade de ascensão econômica e lutar contra os mouros também era importante pelo lado religioso.
As Cruzadas acabaram no século XIII e o principal legado foi a expansão das rotas comerciais, auxiliando no processo de Renascimento comercial. A partir desse momento, a crise do feudalismo já estava disseminada e foi agravada pelos problemas do século XIV. Geralmente, destacam-se três situações chaves. A primeira foi a Grande Fome que assolou a Europa entre 1315 e 1317, devido ao mau uso da terra que levou ao seu esgotamento combinado com invernos rigorosos. Foi a causa de várias rebeliões camponesas tanto no campo quanto nas cidades por causa da falta de comida.
Em 1337, por sua vez, teve início a Guerra dos Cem Anos, que marcou pelas longas e cansativas batalhas entre Inglaterra e França, terminando apenas em 1453. Os motivos eram vários, a rivalidade era centenária, mas os principais foram as disputas pela posse da região de Flandres, muito importante para a atividade comerciais, e a questão sucessória francesa com a morte de Felipe IV, quando os ingleses viram uma oportunidade de dominar o país inimigo. Quem venceu foi a França, que tinha unificado seu país e possuía mais força política e econômica do que a Inglaterra que estava mergulhada em problemas internos.
Figura 4 - São Sebastião reza pelas vítimas da peste - Josse Lieferinxe – c. 1497-1499.
Para finalizar, a próxima grande crise foi a epidemia de peste, sobretudo bubônica, ocorrida entre 1348 e 1350. A proximidade entre as cidades e a falta de higiene ajudou a disseminar a doença que vinha pelos navios mercantis. Altamente contagiosa, numa época com pouco desenvolvimento médico, dizimou cerca de 1/3 da Europa, o que piorou a situação agrícola do continente.
Do século XIV em diante a sociedade europeia viveu mudanças profundas em todos os aspectos. Foi na Baixa Idade Média que se iniciam os caminhos para a centralização do poder e para as transformações culturais que levaram ao desenvolvimento da modernidade.
Foi na Baixa Idade Média que houve o surgimento dos burgos e retomada das atividades comerciais como base da economia de vários locais. O Renascimento comercial e urbano se inicia nesse período e é fundamental para a transição para a Idade Moderna. Façam a linha do tempo sobre o medievo e aponte as características principais de cada momento.
1. (Ufrgs 2019) Assinale a alternativa correta sobre a chamada Guerra dos Cem Anos (1337-1453), entre Inglaterra e França.
a) O conflito marcou a gradual transformação dos exércitos feudais em forças militares profissionalizadas e iniciou o lento processo de decadência da aristocracia feudal nos respectivos países.
b) A guerra foi vencida pela Inglaterra e teve como consequência a eclosão de rebeliões na França que culminaram com a deposição da dinastia dos Valois do trono francês.
c) O confronto consolidou a transformação da Inglaterra na principal potência econômica do período moderno, por meio do processo de pacificação interna que se seguiu à guerra.
d) A consequência da guerra para os dois países foi a consolidação de estruturas sociais feudais, tornadas mais fortes com o enfraquecimento das monarquias centrais.
e) A origem do conflito foi a invasão da Inglaterra pela França e a subsequente instalação de uma dinastia pró-França no trono inglês, derrubada ao longo da guerra.
2. (Fgv 2018) Este documento, do século XIV, encontra-se nos arquivos de Assize, na ilha de Ely, na Inglaterra: Adam Clymne foi preso como insurgente e traidor de seu juramento e porque traiçoeiramente com outros celebrou uma insurreição em Ely. Penetrando na casa de Thomas Somenour onde se apossou de diversos documentos e papéis selados. E ainda, que o mesmo Adam no momento da insurreição, estava andando armado e oferecendo armas, levando um estandarte, para reunir insurgentes, ordenando que nenhum homem de qualquer condição, livre ou não, deveria obedecer ao senhor e prestar os serviços habituais, sob pena de degola.
O acima mencionado Adam é culpado de todas as acusações. Pela ordem da justiça, o mesmo Adam foi levado e enforcado.
(Leo Huberman. História da riqueza do homem, 2008. Adaptado)
Considerando o documento, é correto afirmar que, no século XIV,
a) as violentas revoltas e mortes de camponeses foram provocadas pelo desespero em não conseguir pagar, em dinheiro, aos senhores feudais, as novas taxas e o aumento das já existentes, além da exigência de mais tempo de trabalho nas reservas senhoriais.
b) as revoltas camponesas aconteceram, tanto na Inglaterra como na França, contra os cercamentos, que empobreceram os trabalhadores e os obrigaram a deixar a terra pelo não pagamento do aumento dos aluguéis, o que enriqueceu ainda mais os senhores da terra.
c) a impossibilidade de juntar dinheiro para a compra da terra onde trabalhavam fez com que muitos camponeses se revoltassem, porque se colocaram contra os senhores que aumentaram os impostos e exigiram o pagamento de novos; algo considerado ilegal.
d) o recrudescimento da servidão decorria de uma nova estrutura econômica presente na Inglaterra, onde as pequenas propriedades rurais e os campos comunais perdiam espaço para os latifúndios produtores de matéria-prima para a nascente indústria.
e) as insurreições camponesas ocorridas na Inglaterra e parte do Norte da Europa decorreram do rápido processo de dissolução dos laços servis de produção, dirigido por uma nova elite de proprietários rurais, que detinha forte representação no Parlamento inglês.
Gabarito:
Questão 1 - [A] – A Guerra dos Cem Anos é considerada o último grande conflito da Idade Média e foi parte do processo de consolidação do Absolutismo francês e inglês.
Questão 2 - [A] – Foi na Baixa Idade Média que começou a crise do Feudalismo, pelos problemas agrícolas e financeiros dos feudos. O surgimento dos burgos foi fundamental.
Baixa Idade Média
- Crise do Feudalismo
- Cruzadas
- Renascimento comercial e urbano
- Crise do século XIV
- Guerra dos Cem Anos
- Formação das Monarquias Nacionais