Cultura Medieval – Renascimento Carolíngio
Figura 1 - Capa de um Evangelho carolíngio - Codex Aureus de St Emmeran - c. 870 - Palácio do Sacro Imperador Romano Carlos, o Calvo - English: Image was made by the Bayerische Staatsbibliothek München and the work itself was made by Carolingian craftsmen in ca. 870 AD.Français : Image réalisée par la Bayerische Staatsbibliothek München, d'un travail fait vers 870 par des artisans carolingiens. [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Codex_Aureus_Sankt_Emmeram.jpg">via Wikimedia Commons</a>
O Renascimento Carolíngio foi o momento de alta atividade cultural na Idade Média, fundamental para o pensamento humanista do início da Idade Moderna. O principal esforço veio com o reinado de Carlos Magno (768-814). A expansão territorial do Império Carolíngio não começou com Magno, mas foi a partir dele que o domínio alcançou grande parte da Europa. Dessa forma, consolidou o poder dos francos, porém, não sem buscar as referências da Antiguidade.
A queda de Roma significou o fim das estruturas burocráticas que auxiliavam na administração imperial. Os romanos possuíam um sistema jurídico e político aprimorados durante séculos. Para a população comum pouco mudou, pois a desigualdade e as classes continuavam como sempre. Contudo, na questão política, as transformações foram sensíveis. Os reinos germânicos precisaram se adaptar para ganhar legitimidade perante o povo que passou a ser governado por eles. A aliança com a Igreja foi uma estratégia bem-sucedida, mas isso não significou a homogeneização do catolicismo. A crença variava de acordo com o lugar, pois absorvia as suas particularidades e se transformava junto dos fiéis.
Carlos Magno queria a unificação do seu Império, o que seria feito por meio da fé. A necessidade de educar a todos, inclusive os funcionários e clero, fez com que dedicasse muitos recursos para o desenvolvimento cultural dos reinos. Se a base era o catolicismo, a referência era o Império Romano. O rei carolíngio se considerava sucessor dos antepassados romanos e queria que o latim fosse praticado como na Antiguidade. É bom destacar que esse ponto de vista era claramente idealizado, porque a língua no passado imperial não era a mesma em todas as províncias. Primeiro, a uniformização da língua falada não existe em nenhum lugar, pois uma das características da linguagem é a transformação. Dialetos e maneirismos são adicionados organicamente ao longo do tempo, o que impede a unificação. Esta só é possível ao ser institucionalizada, quando o estado estabelece uma língua oficial que é utilizada em níveis burocráticos, na sistematização política. Magno queria que o seu reinado tivesse uma língua conhecida por todos pois era um dos caminhos para unificá-lo e diferenciá-lo dos outros territórios europeus.
Figura 2 - Iluminura Carolíngia "Os quatro evangelistas" - c.820 - Catedral de Aachen, Alemanha - Karolingischer Buchmaler um 820 [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Karolingischer_Buchmaler_um_820_001.jpg">via Wikimedia Commons</a>
Para que isso ocorresse, a ideia era educar. O Império Carolíngio começa a patrocinar a formação de escolas e de intelectuais focados no ensino e aprendizagem, inclusive, se incluiu no processo. Como exemplo e por vontade própria, contratou os principais eruditos europeus para ensiná-lo latim, escrita e conhecimentos gerais. Boa parte dos nobres e clero eram analfabetos, e queria corrigir essa situação. A ideia principal era instituírem ensinamento correto das escrituras sagradas para todos, por isso o ponto de partida para a unificação formal do Império veio por meio do catolicismo.
Com isso, houve o desenvolvimento literário que atingiu, de início, o clero. Nos monteiros, os monges passaram a se dedicar à produção dos manuscritos, que exigia muito tempo e habilidades. A partir de cópia dos livros clássicos, preservaram os principais conteúdos criados na Antiguidade. Junto disso, surgiram as iluminuras, decorações introduzidas nos manuscritos medievais que foram ganhando mais espaço ao longo do tempo e demonstravam o ponto de vista estético do período. A padronização do ato de copiar, do trabalho manual, foi uma das premissas de Carlos Magno pois auxiliaria na disseminação do conteúdo e das ideias dessas obras, facilitando a compreensão que antes era mais difícil pelas diferenças gritantes entre elas.
Vale destacar que as iluminuras não foram exclusividade Carolíngia, pois outros tipos foram criados ao longo da Idade Média, inclusive no Império Bizantino. O ponto em comum era a temática religiosa, já que boa parte dessa arte tinha fins litúrgicos, por exemplo.
Com as obras antigas sendo copiadas e preenchendo as bibliotecas eclesiásticas, aumentam as atividades intelectuais que culminou no surgimento das Universidades. Os primeiros cursos eram de Teologia, e conforme as ciências foram se desenvolvendo, novas carreiras se tornaram foram agregadas.
Tudo isso foi possível devido ao crescimento econômico da Dinastia Carolíngia. A ideia de Renascimento, contudo, pode ser debatida, porque dá a entender que o período anterior não tinha qualquer manifestação artística, o que é incorreto. Além dos motivos explanados anteriormente, a ambição de normalizar o latim ajudaria no processo de ordenação do sistema burocrático.
Foi por essa iniciativa de escolarização, aprendizagem e produção massiva de manuscritos, que o Renascimento moderno foi possível, já que a cópia dos clássicos manteve essas obras para a posteridade. Os métodos desenvolvidos nesse momento foram vastamente aplicados, dando espaço para o surgimento de duas línguas: o latim formal, ensinado nas escolas, Universidades e utilizado com mais frequência pela Igreja; e o latim comum, que era falado pelo povo, e foi o embrião das línguas conhecidas hoje como latinas: o italiano, francês, português, espanhol, entre outros dialetos falados na Europa.
A Idade Média foi muito rica culturalmente, com o desenvolvimento de características que foram essenciais para a identidade dos povos europeus e, também, para as mudanças políticas que ocorrerão após o século XIII.
O Renascimento Carolíngio foi o momento de desenvolvimento artístico, cultural e educacional do Império Carolíngio, marcado pela centralização política e expansão do território. Surgiram, nessa época, as Universidades, onde pesquisas e ensino eram praticados de forma inédita. Vemos a riqueza cultural do medievo.
1. (Ufjf-pism 1 2018) Leia o texto abaixo:
"Na análise das origens das universidades na Idade Média, dois fatos históricos se destacam. O primeiro diz respeito ao conflito político entre os poderes laico e eclesiástico. O segundo liga-se à disseminação do pensamento aristotélico no Ocidente. Os estudiosos são unânimes em afirmar que diversos acontecimentos interferiram e estimularam o nascimento dessas instituições, como o renascimento das cidades, o desenvolvimento das corporações de ofícios, o florescimento do comércio, o aparecimento do mercador. (...) Há interpretações segundo as quais as universidades somente poderiam ter nascido no século XIII, o século das corporações de ofício. Contudo, a disputa pelo poder entre a realeza e o papado, que reivindicavam o governo da sociedade, influenciou sobremaneira o surgimento das universidades. No início do século XIII, o papa e os príncipes encaravam essas instituições como importantes pontos de apoio político e cultural. Em função disso, editaram leis e bulas com o objetivo de instituí-las, protegê-las e nelas intervir, tanto no ensino como nas relações entre estudantes e mestres e entre estes e a comunidade."
OLIVEIRA, Terezinha. Origem e memória das universidades medievais: a preservação de uma instituição educacional. Varia Historia, Belo Horizonte, vol. 23, nº 37: p.113-129, Jan/Jun 2007.
Sobre o tema e cenário histórico abordados no texto, é CORRETO afirmar:
a) A idade Média foi uma época de regressão econômica, social e intelectual, dominada pelo poder da Igreja católica que interditava o acesso ao conhecimento. Essa época é comumente conhecida como Idade das Trevas. As Universidades, entendidas enquanto espaço de produção e disseminação de saber, tiveram origem na Idade Média e são expressões de uma sociedade com poder inventivo e necessidade de conhecimento.
b) As Universidades, entendidas enquanto espaço de produção e disseminação de saber, tiveram origem na Idade Média e são expressões de uma sociedade com poder inventivo e necessidade de conhecimento.
c) As Universidades medievais organizavam-se em função dos interesses dos feudos, que orientavam a pauta de pesquisas e produção de conhecimento visando à expansão dos seus lucros em escala mundial.
d) O processo de expansão marítima que impulsionou a sociedade europeia a partir dos séculos XV e XVI independe do conhecimento produzido pela intelectualidade que se organizou em torno das universidades.
e) Tal como nos dias atuais, em que as Universidades são dissociadas da política e afastadas da sociedade, também as Universidades medievais eram instituições desvinculadas dos grandes temas de seu tempo.
2. (Ucs 2015) As sociedades, em diferentes épocas e lugares, têm concepções divergentes acerca do desenvolvimento tecnológico. Comparando as concepções que os europeus tinham na Idade Média e na Idade Moderna, é correto afirmar que
I. as ideias renascentistas, que surgiram em um contexto de desenvolvimento do comércio e do artesanato, incentivaram a investigação racional e a intervenção na natureza, estimulando novas descobertas científicas.
II. as universidades – uma das mais importantes invenções medievais – surgiram no começo do século XIII.
III. as catedrais góticas, construídas no período medieval, simbolizavam o domínio da Igreja sobre a sociedade.
Das proposições acima,
a) apenas I está correta.
b) apenas II está correta.
c) apenas I e II estão corretas.
d) apenas II e III estão corretas.
e) I, II e III estão corretas.
Gabarito:
Questão 1 - [B] – Aqui, vemos como houve desenvolvimento cultural na Alta Idade Média, sobretudo com o surgimento das Universidades.
Questão 2- [E] - Todas as alternativas estão corretas.
Renascimento Carolíngio – século VII – IX
- Desenvolvimento artístico
- Retomada dos clássicos – leitura e cópia
- Reforma educacional
- Monastérios
- Universidades