Formação da Monarquia Nacional Francesa
Figura 1 - Brasão da Casa Francesa
O processo de Formação da Monarquia Nacional da França que ocorreu na Idade Média foi fundamental para o estabelecimento do Absolutismo na Idade Moderna. Veremos como ocorreu a monarquia francesa com a Dinastia Capetíngia até o episódio da Guerra dos Cem Anos (1337-1453). No texto Idade Média - Francos, Dinastia Merovíngia e Dinastia Carolíngia, vimos o nascimento das dinastias Merovíngia e Carolíngia na região da Gália após a chegada dos francos com o fim do Império Romano do Ocidente no século V. Após o Tratado de Verdun, em 843, o império Carolíngio na região, na região ocidental começou a Dinastia Capetíngia, em 987, com Hugo Capeto (941-996), e que durou até 1328.
O reinado capetíngio se estabeleceu por, basicamente, toda a Baixa Idade Média e foi importante para a centralização política. Lembrem-se que Capeto herdou a fragmentação territorial e política que aconteceu após a morte de Carlos Magno (742-814), pois desde que seu filho Luís, o Pio (778-840) assumiu a situação ficou crítica. O ápice do conflito ocorreu em 840, quando Carlos, o Calvo (823-877), Luís, o Germânico (806-876) e Lotário (795-855) passaram a disputar o território. Portanto, uma das questões que mudaram a partir do século X foi esse esfacelamento.
Figura 2 - Retrato de Filipe II, rei da França - Louis-Félix Amiel - 1837 - Palácio de Versalhes - Louis-Félix Amiel [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Louis-F%C3%A9lix_Amiel-Philippe_II_dit_Philippe-Auguste_Roi_de_France_(1165-1223).jpg">via Wikimedia Commons</a>
Outro ponto foi o estremecimento das relações com a nobreza. A situação escalou aos poucos e ficou mais forte com o reinado de Filipe Augusto, ou Filipe II (1180-1223). Em 1181, o rei decidir buscar a anexação da região de Flandres, em um movimento de expansão do domínio francês. Durante o feudalismo, o controle ficava nas mãos dos senhores feudais, até que a monarquia passou a se impor e a conquistar mais espaço. Para que isso ocorresse, a organização de um exército nacional era importante, assim se desligavam da nobreza como fornecedora da segurança de todos a partir do acordo de suserania e vassalagem.
A relação com a burguesia se estreitava e se fazia presente com as Cartas Comunais ou Cartas de Franquia, que eram documentos que liberavam as cidades do domínio feudal. Assim, se tornavam centros administrados pelos burgueses que, de alguma forma, buscavam autonomia em relação ao controle dos senhores feudais. Estes podiam influenciar diretamente o desenvolvimento dos comerciantes, artesãos e agricultores com o aumento de taxas e impostos, por exemplo. A burguesia nascente queria liberdade de ação, e a carta entregue pelo rei outorgava esse novo momento. Era o início da parceria entre rei e burguesia que foi fundamental para o estabelecimento do Absolutismo.
Filipe II ficou conhecido pela relação conflituosa com os monarcas ingleses, sobretudo Ricardo I, “Coração de Leão” (1157-1199). As invasões aos territórios ao Norte da França, como a Normandia, que pertenciam à Inglaterra, agravou a situação entre eles. Além disso, ambos participaram da Terceira Cruzada em 1191, quando os descontentamentos ganharam novos contornos.
Figura 3 - São Luís, rei da França, e um pajem – El Greco – c. 1585-1590 – Museu do Louvre - El Greco [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Saint_Louis_IX_by_El_Greco.jpg">via Wikimedia Commons</a>
Outro rei importante foi Luís IX (1226-1270) que foi responsável por algumas medidas que fortaleceram a monarquia. A padronização de medidas e instituições era necessária para que a unidade central prevalecesse perante a fragmentação de poder. Portanto, instituiu uma moeda única que circularia por todo o reinado, facilitando o comércio e a cobrança unificada de impostos. Além disso, criou novos caminhos jurídicos para a Justiça, que já havia sido centralizada com Filipe II.
Luís IX é um dos reis franceses mais populares por ter pacificado o confronto com a Inglaterra durante o seu reinado a ponto de Henrique III (1207-1272), rei inglês, se tornou seu cunhado.
Figura 4 - São Luís feito prisioneiro no Egito na Sétima Cruzada - Gustave Doré - século XIX - Gustave Doré [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:C_croisade7_prisonnier1.jpg">via Wikimedia Commons</a>
Apesar disso, sua liderança as Sétima (1248-1254) e Oitava (1270) Cruzadas, e sua postura em relação à Terra Santa fizeram com que o povo o declarasse santo. A aclamação popular foi aceita pela Igreja Católica, e em 1297 o papa Bonifácio VIII (1235-1303) o canonizou. São Luís da França é o único rei do país que se tornou santo.
Figura 5 - Filipe IV, o Belo - para a iluminura de Jean du Tillet - Recueil des rois de France – 1566 - Bibliothèque nationale de France [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Philippe_IV_le_Bel.jpg">via Wikimedia Commons</a>
Filipe IV, o Belo (1285-1314), por sua vez, se tornou notório pelo conflito com a Igreja Católica ao discordar das medidas instituídas pelo papado. A monarquia francesa passou a perseguir a Ordem dos Templários, sendo que um dos motivos era aumentar a arrecadação de impostos, ao taxar as propriedades dos religiosos. Visando restringir as ações reais, que não vinham apenas na França, em 1296, Bonifácio VIII lançou a bula Clericis laicos, que impedia qualquer taxação a eclesiásticos sem a autorização da Igreja. Filipe IV não obedeceu a ordem papal e a briga ganhou novos contornos a ponto de ser ameaçado de excomunhão. A monarquia mirou especificamente no papa, considerado o grande influenciador para que as relações internacionais da França fossem contestadas. Com isso, o monarca francês ordenou a invasão de Roma para aprisionar o chefe da Igreja, que acabou falecendo em 1303.
Figura 6 - Mapa do Cisma do Ocidente. Em rosa são os países que se alinharam a Avignon. Em roxo os que estiveram ao lado de Roma - https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/eb/Great_schism_1378_1417.jpg
Filipe IV viu a oportunidade de controlar a situação e mudou a sede eclesiástica para Avignon, cidade da França, muito mais perto para interferir quando quisesse. Além disso, elegeu Clemente V (1264-1314) para ser papa, causando o chamado Cisma do Ocidente ou Cisma Papal, pois os países europeus tiveram que escolher a qual jurisdição se submeter, Avignon ou Roma. A situação só se normalizou em 1417, quando o papa Martinho V (1369-1421) encerrou o cisma.
Foi a partir da Dinastia Capetíngia que a França conseguiu se organizar como uma monarquia nacional, mas o fim do seu domínio ocorreu com a Guerra dos Cem Anos (1337-1453), contra seu frequente inimigo, a Inglaterra. A integração entre sociedade, administração e exército foi o ponto de virada francês para a sua vitória. Mesmo com problemas posteriores entre burguesia e nobreza, uma das principais características desse período foi a consolidação territorial da França e a pavimentação do caminho para o Absolutismo.
A História francesa é importante aqui no Brasil pois a nossa historiografia, nossa base intelectual nascida no século XIX e início do XX. Dessa forma, entendemos como a sociedade se desenvolveu na França e vemos o estilo trazido pelos nossos historiadores. Nos vestibulares, o mais importante é entender que a monarquia nacional se consolidou a partir do século XIV.
1. (Ufu 2017) Os especialistas em demografia histórica são mais ou menos concordes em estimar que a população global do reino da França no mínimo duplicou entre os anos mil e 1328, passando de cerca de 6 milhões de habitantes para 13,5 milhões, e de 16 a 17 milhões, considerando as regiões que desde então se tornaram francesas.
LE GOFF, Jacques. O apogeu da cidade medieval. Trad. Antônio Danesi, São Paulo: Martins Fontes, 1992, p. 4. (Adaptado).
De acordo com a citação, pode-se afirmar que o principal fator que permitiu o crescimento da população europeia foi
a) o controle da Peste Negra por meio da implantação de medidas de saneamento das grandes cidades europeias.
b) o fim dos conflitos entre os reinos, especialmente o da “Guerra dos Cem Anos”, entre França e Inglaterra.
c) a relativa estabilidade política e econômica, que fomentou a expansão dos burgos e o aumento da produção agrícola nos campos.
d) o incremento da agricultura, que impulsionou o sistema de trocas de mercadorias promovendo a prosperidade nos feudos.
2. (Uece 2007) A formação das monarquias absolutistas na França e na Inglaterra esteve ligada à Guerra dos Cem Anos.
Sobre as mudanças proporcionadas por esta Guerra, analise as seguintes afirmativas:
I - Os monarcas, tanto da Inglaterra quanto da França, tiveram a sua autoridade fortalecida.
II - As alianças entre a nobreza feudal e a burguesia fortaleceram a centralização dos feudos.
III - O poder dos nobres, que exerciam autoridade particular nos feudos, foi abalado.
São corretas
a) apenas I e II
b) apenas I e III
c) apenas II e III
d) I, II e III
Gabarito:
Questão 1 - [C] – A partir do século X a Europa começou um período de estabilidade, com menos invasões. É o momento em que surgem os burgos, burguesia e temos, também, o início das Monarquias Nacionais, que se consolidam no final da Idade Média.
Questão 2 - [B] – Vejam as características das monarquias francesa e inglesa.
Formação da Monarquia Nacional Francesa – séculos XII-XV
- Luís IX – estímulo ao comércio
- Felipe IV, o Belo – centralização de tributos
- Guerra dos Cem Anos – 1337-1453 – consolidação francesa