Resumo de historia: Invasões estrangeiras – Brasil Holandês



Invasões estrangeiras – Brasil Holandês

Figura 1 Mapa do Brasil Holandês - H. Hettema jr. (ed.) [Public domain]

Como mostrado em Invasões estrangeiras – França Antártica e França Equinocial, o processo de invasão colonial se relacionava com a dificuldade de Portugal em estabelecer o domínio territorial na colônia. Ao contrário da França, as invasões holandesas (1630-1654) foram bem-sucedidas por mais tempo e tiveram um impacto profundo no período colonial. Ocorridas no Nordeste do país, o “Brasil Holandês” influenciou diretamente os rumos do açúcar nas Américas e seu comércio com a Europa.

Antes de falarmos sobre a invasão especificamente, precisamos entender a chamada União Ibérica. Com o desaparecimento de D. Sebastião na batalha de Alcácer-Quibir, Portugal sofreu um grave problema sucessório. O rei se encaminhou para mais um conflito contra os mouros sem deixar nenhum herdeiro e tinha como ideal a cristianização do norte da África e o fim dos árabes muçulmanos. Com sua provável morte, D. Henrique, seu tio-avô, assumiu o trono, mas logo faleceu, agravando o problema.

O rei espanhol Felipe II reivindicou o direito à coroa portuguesa pelo seu parentesco com D. Manuel, antigo rei de Portugal. Lembrem-se que os casamentos entre dinastias eram muito comuns por toda a Europa e se manteve ao logo da Idade Moderna. Como a pressão interna foi forte, assim como o apoio recebido por membros da nobreza portuguesa, Felipe II se tornou, também, Felipe I de Portugal, em 1580, dando início à União Ibérica.

Alguns acertos foram feitos entre a aristocracia portuguesa e a coroa espanhola para que esta não dominasse completamente o país vizinho. Portugal ainda possuía sua autonomia territorial e o rei se comprometeu em mantê-la, sobretudo em relação ao poder administrativo local, que foi conservado entre a elite portuguesa. Contudo, esse comprometimento ficou no reinado de Felipe II. Com os monarcas que o sucederam, as nomeações de espanhóis para cargos em Portugal se tornaram constantes, ou seja, o conflito entre os dois países se estreitou. Com esses problemas na Europa, o controle colonial diminuiu, deixando locais como o Brasil mais vulneráveis às investidas estrangeiras e piorando a situação com a burguesia portuguesa, que se prejudicava cada vez mais. É nesse momento em que a Holanda invade e se estabelece no nordeste do país.

Figura 2 -  Cerco a Olinda - John Ogilby - 1671

Os Países Baixos não tinham autonomia administrativa até 1579, quando eram parte dos reinos espanhóis. Contudo, não eram colônia, não eram governados pelo sistema absolutista como a América, por exemplo. Protestante e calvinista, a burguesia holandesa prosperava e passou a contestar a dominação política e religiosa, que se acirraram com Felipe II. Antes de chegar na capitania de Pernambuco, os holandeses estiveram na costa africana, em 1595 e em Salvador, em 1604. Para tentar apaziguar a situação, a coroa espanhola propôs um acordo com os Países Baixos e, entre 1609-1621, vigorou a Trégua dos Doze Anos. Esta foi quebrada com a criação da Companhia das Índias Ocidentais, em 1621, financiada pelo capital estatal e burguês e procuravam os lucros do açúcar, sobretudo o brasileiro, que estava florescendo.

Em 1624, os holandeses invadiram e se estabeleceram novamente em Salvador, por um ano, o que demonstrou o poder de dominação. Em Pernambuco, investiram em 1630 na cidade de Olinda. Entre 1630-1637, a resistência brasileira confrontou os invasores, mas sem sucesso. Nesse período, além de se afirmarem, os holandeses conquistaram mais territórios, chegando ao Ceará. Para isto, contaram com o apoio de brasileiros insatisfeitos com o mando colonial, que tinham conhecimento da região e auxiliaram na expansão para outras capitanias.

Figura 3 - Bandeira da Nova Holanda. - Giro720 [Public domain]

Em 1637, começou o governo do príncipe Mauricio de Nassau e, até 1644, a região viveu uma época de tranquilidade e mudanças profundas nas cidades. Recife se tornou Maurícia, foi o centro das transformações urbanas, como os canais aludindo à Amsterdam, e essa foi apenas uma das várias medidas tomadas para estreitar o laço com a população local. Acreditavam que poderiam desvincular a região do domínio português e criar uma colônia holandesa, que tinha outro tipo de projeto governamental e administrativo. A tolerância religiosa era praticada, com o incentivo do convívio entre calvinistas, católicos e até os judeus. A economia também foi afetada, com a revenda dos engenhos obsoletos e a preocupação com o abastecimento interno, regulamentando as quantidades a serem produzidas, por exemplo. Outro detalhe foi a vinda de vários intelectuais ao país para registrarem o progresso executado por Nassau, por meio das crônicas de viajantes, com a descrição imagética da natureza e da sociedade. Mesmo com o prestígio adquirido por aqui, Nassau entrou em conflito com a cúpula da Companhia das Índias Ocidentais e teve que regressar aos Países Baixos em 1644.

Após a partida de Nassau, Portugal inicia o processo de recuperação do seu território. Lembram da União Ibérica? Em um determinado momento, tanto a burguesia quanto a nobreza portuguesas se uniram para lutarem pelo fim da dominação espanhola. Esse período foi chamado de Restauração. Em 1640, a casa de Bragança toma o poder caracterizando o fim da União Ibérica. Se antes a relação entre Portugal e Holanda era relativamente pacífica, com os anos de domínio espanhol se deteriorou e, mesmo com a recuperação portuguesa, essa relação não se tornou amigável novamente. Os Países Baixos não pretendiam sair do Brasil e isso era um problema para Portugal. A partir desse momento, começaram as revoltas.

Vários motivos fizeram com que a derrota holandesa fosse um fato. A Companhia das Índias Ocidentais passava por problemas econômicos e a administração holandesa também. Em 1652, os Países Baixos entraram em guerra contra a Inglaterra, deslocando recursos e homens para o conflito e desestruturando o serviço militar na colônia. Além disso, havia setores da burguesia holandesa que preferia um acordo de paz com Portugal para garantir as trocas comerciais do que insistir no confronto. Os brasileiros também se mobilizaram e as revoltas tiveram foco em Pernambuco, mais especificamente Recife e Olinda. As Batalhas de Guararapes, em 1648 e 1649, foram as mais célebres da época. O interior da capitania já era dominado por brasileiros a favor da saída dos invasores, enquanto Recife ainda era holandês. A vitória foi dos brasileiros. Em 1654, os portugueses enviaram reforço marítimo para a retirada dos holandeses, que voltaram definitivamente à Europa.

Um dos principais legados desse período foi o sentimento independentista que surgiu em Pernambuco. A emancipação da Coroa portuguesa, mesmo que sob domínio holandês, deu uma noção de autonomia à região que foi sempre buscada, mesmo após a independência, com a Revolução Praieira, por exemplo.

 

As invasões estrangeiras fazem parte do período de dificuldades de Portugal em estabelecer sua legitimidade como metrópole. O Brasil colônia sofreu com essas intervenções, e, nos vestibulares, elas são cobradas em conjunto. Ou seja, façam as comparações entre as invasões francesas e holandesas.

1. (G1 - cps 2019)  Frans Post, pintor, desenhista e gravador holandês, documentou paisagens e cenas do cotidiano do chamado “Brasil Holandês”, sob o governo de Maurício de Nassau (1630–1654).

Entre as características da presença holandesa em Pernambuco, pode-se citar, corretamente,

a) a valorização da cultura muçulmana, a implementação da monocultura do café e a abolição da escravidão, considerada pelos holandeses um símbolo do atraso civilizatório brasileiro.   

b) a intolerância religiosa e a perseguição a cristãos e muçulmanos, o estímulo à mineração de ouro e prata e o descaso pelo patrimônio público, que não resistiu às intempéries e ao vandalismo.   

c) a implementação do regime absolutista, a perseguição a intelectuais e artistas e a deterioração dos equipamentos urbanos, cuja manutenção dependia dos investimentos diretos da Coroa portuguesa.   

d) o princípio da isonomia, o incentivo a pesquisas sobre geologia e astronomia e o desenvolvimento de uma cultura própria, na qual se destaca a miscigenação de elementos das três religiões monoteístas.   

e) a tolerância religiosa, o incentivo a pesquisas sobre a fauna e a flora tropicais e o desenvolvimento da arquitetura, no qual se destacam a drenagem de áreas alagadiças e a construção da primeira ponte de grande porte do Brasil.   

 

2. (Upf 2017)  “As invasões holandesas que ocorreram no século XVII foram o maior conflito político-militar da Colônia brasileira. Embora concentradas no Nordeste, elas não se resumiram a um simples episódio regional. Ao contrário, fizeram parte do quadro das relações internacionais entre os países europeus, revelando a dimensão da luta pelo controle do açúcar e das fontes de suprimento de escravos”

(Boris Fausto, História do Brasil, 1996, p. 84)

Sobre o tema destacado no texto acima, é correto afirmar que

a) Domingos Fernandes Calabar foi o personagem principal das forças luso-brasileiras, lutando heroicamente até o final ao lado de Portugal, que lhe deu o título de príncipe.   

b) a ocupação das zonas de produção açucareira na América portuguesa e o controle do suprimento de escravos teve como principal interessada a maior companhia de comércio da época, a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, financiada com capitais do Estado e de financistas particulares.   

c) o despotismo de Maurício de Nassau em Pernambuco levou a sociedade local a se levantar contra o período de pobreza imposto por ele, em 1630.   

d) o projeto holandês de colônias de povoamento, similar ao dos Estados Unidos, poderia ter estimulado um desenvolvimento autônomo à colônia brasileira, com base na industrialização.   

e) as Batalhas de Guararapes (1648 e 1649) marcaram a tomada de Recife pelo exército luso-brasileiro, formado majoritariamente por índios tapuias que, com sua técnica de guerra avançada, foram decisivos para a derrota dos holandeses.   

Gabarito: 

Questão 1 - [E] – Lembre-se do contexto da União Ibérica, ocorrida entre 1580-1640, e como isso influenciou na chegada dos holandeses no Brasil.

Questão 2 - [B] – Vejam a participação da Cia das Índias Ocidentais na invasão holandesa, sobretudo a questão comercial.

 

Brasil Holandês – União Ibérica – relação entre Espanha e os Países Baixos afetou Portugal

- 1624 – Salvador

- 1630 – Olinda

- 1637 – administração de Maurício de Nassau – Recife fica conhecida como Maurícia.

- 1644 – regresso de Nassau aos Países Baixos – período da Restauração com o fim da União Ibérica