A Imigração no Segundo Reinado
Figura 1 - Propaganda para imigração italiana ao Brasil - Império do Brasil [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Manifesto_Emigrazione_San_Paolo_Brasile.jpg">via Wikimedia Commons</a>
O processo de imigração para o Brasil se tornou uma política de Estado apenas no século XIX, sobretudo após 1850. O fim eminente da escravidão forçou os grandes latifundiários, proprietários e traficantes de escravos a mudarem suas ações. Contudo, obrigou o país a se desfazer do sistema secular de abastecimento de mão-de-obra e introduzir outro, que ainda fosse lucrativo. É a partir desse momento que começa a vinda de imigrantes para o país.
Desde a transferência da corte portuguesa ao Brasil em 1808, alguns estrangeiros – sem ser portugueses nem africanos – vieram para cá a pedido do rei. Suíços e alemães se estabeleceram em algumas regiões, sobretudo no Rio de Janeiro, mas não foi sistematizado. Já no Primeiro Reinado,
de 1824 a 1830, outra leva de navios com alemães se dirigiram ao Sul, sob patrocínio do governo federal. Porém, esse processo não foi contínuo.
Na década de 1840, novos esforços foram feitos para a atração de imigrantes. Em São Paulo, onde estavam os principais apoiadores da iniciativa, Nicolau de Campos Vergueiro (1778-1859) viabilizou, com financiamento público, a vinda de europeus para o trabalho na colheita de café. O trato era que ambos dividiriam lucros e prejuízos, o que foi aceito de início por todos. Os problemas surgiram quando os trabalhadores perceberam a falta de infraestrutura encontrada no Brasil, além das situações impostas pelos fazendeiros como toques de recolher, limite de correspondências, etc. Essas foram as chamadas colônias de parceria. Com o tempo, aos estrangeiros seriam designadas pequenas propriedades para se estabelecerem no país.
Esta perspectiva de posse de terras desagradava os latifundiários. Em 1850, foi aprovada a Lei de Terras, que transformava todos os territórios sem posse como pertencentes do Estado. Foi criado o imposto territorial, para que houvesse comprovação por parte dos fazendeiros a propriedade. O sistema não deu certo por causa do conflito, que em 1856, se tornou motim na primeira fazenda de Vergueiro, em Ibicaba, Limeira, no interior de São Paulo, por exemplo. Foi o fim dessa iniciativa.
Apenas depois de 1850 que a imigração se tornou política de Estado, com o apoio de fazendeiros que viam uma nova forma de lucrar com essa solução para a crise da escravidão. A mão-de-obra europeia, o foco a partir daquele momento, beneficiaria no âmbito social, pois havia uma inclinação ao branqueamento do povo. No século XIX, as teorias sobre as diferenças sociais estavam em voga, e ganharam ainda mais peso com o darwinismo social. Portanto, a busca por brancos e europeus tinha um significado além do econômico. Os trabalhadores livres brasileiros eram vistos como incapazes e descomprometidos com a lida. Essa visão só aumentava a percepção de que o europeu era melhor do que a variada população local.
Figura 2 - Gravura do porto de Bremen - c. 1870 - s/a - Acervo digital do Museu da Imigração do Estado de São Paulo - http://www.inci.org.br/acervodigital/upload/fotografias/MI_ICO_AMP_008_001_081_001.jpg
Após a Lei do Ventre Livre, 1871, novas tentativas foram organizadas pelos fazendeiros paulistas com recursos públicos. Essa iniciativa ocorreu após uma lei aprovada na província de São Paul, que consentia o uso de dinheiro do governo para proporcionar a vinda dos imigrantes. Enquanto havia uma crise de mão-de-obra, o café estava em plena ascensão. Foi a partir desse momento que teve início a imigração subvencionada, por meio da qual a viagem era subsidiada pelo Império. Este também propagandeava as vagas de trabalho, criando o discurso favorável às oportunidades brasileiras. Contratos eram assinados pelos trabalhadores, nos quais eram discriminados seus honorários, benefícios e deveres. Boa parte deles vieram da Itália ou da Alemanha, que se unificaram em 1871, logo viviam períodos de crise e conflitos que levaram essas pessoas a saírem de suas terras natais para começarem uma nova vida em outro lugar.
Em São Paulo, todo o processo foi articulado via governo. Em 1884, foi aprovada uma lei provincial sobre impostos por escravos que trabalhassem nas lavouras, o que aumentava os recursos que seriam aplicados para a imigração. Surgiram, desde 1871, companhias particulares que facilitavam os trâmites da imigração. A partir da década de 1880, a chegada de estrangeiros na província paulista, pelo porto de Santos, cresceu acima da média, graças às propagandas, crises europeias e esforços da Sociedade Promotora da Imigração, de 1886. E surtiu efeito, pois se em 1885 chegaram 6500 pessoas, em 1888 foram mais de 90 mil.
Na cidade de São Paulo, iam para a Hospedaria dos Imigrantes, no Brás, onde passavam por consultas médicas, eram vacinados e, também, encaminhados para as lavouras por meio da Agência Oficial de Colonização e Trabalho. A década de 1880, a mão-de-obra livre e assalariada praticamente cobriu todo o trabalho necessário das fazendas de café. O processo imigratório aconteceu, variando a intensidade, até a década de 1940, e o país recebeu cerca de 5 milhões de pessoas, no total, entre italianos, portugueses, espanhóis, os maiores grupos no geral, seguidos dos alemães e dos japoneses. Entre 1887 e 1914, mais de 2,7 milhões vieram, o que é explicado pelos motivos já apresentados. Tanto no Segundo Império quanto na República, o Centro-Sul concentrou os imigrantes, o que demonstra o deslocamento total do eixo econômico brasileiro.
No Sul do país, por sua vez, o sistema foi diferente, pois era esperado e desenhado o estabelecimento de colônias. Desde o período joanino essas ideias eram aplicadas, sobretudo entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que receberam muitos alemães. Eles trabalhavam em pequenas propriedades e com a criação de produtos de subsistência, como gado, verduras e frutas. Entre 1846-1875, os alemães eram o segundo maior grupo de estrangeiros no Brasil, perdendo para os portugueses que ainda eram dominantes. Na década de 1870, um grande número de italianos foi para a província rio-grandense e também se voltaram para a produção para o mercado local, principalmente na plantação de uvas e de gado.
O choque cultural foi significativo, pois os costumes eram diferentes, assim como a adaptação com o clima e produtos locais levou um tempo para ocorrer. Porém, a época da imigração como política estatal combina com o período em que o Brasil vivia mudanças significativas na sua administração, economia e sociedade.
A Imigração iniciada no século XIX é muito valorizada pois ajudou na construção da identidade brasileira. Como tivemos vários tipos de imigração, a agregação cultural foi grande, além das mudanças no cenário econômico. Além disso, houve a política de branqueamento da sociedade brasileira.
1. (Fac. Pequeno Príncipe - Medici 2018) Leia o trecho abaixo escrito pelo médico legista e psiquiatra Nina Rodrigues.
A concepção espiritualista de uma alma da mesma natureza em todos os povos, tendo como consequência uma inteligência da mesma capacidade em todas as raças, apenas variável no grau de cultura e passível, portanto, de atingir, mesmo em um representante das raças inferiores, o elevado grau a que chegaram as raças superiores, é uma concepção irremessivelmente condenada em face dos conhecimentos científicos modernos.
RODRIGUES, Raimundo Nina. As Raças Humanas e a Responsabilidade Penal no Brasil. Salvador: Livraria Progresso, 1957. p. 28.
Analisando o pensamento exposto de Nina Rodrigues, inserido no fim do século XIX, podemos compreender que
a) o dito de Nina Rodrigues se encaixa no pensamento imperialista em que grandes potências europeias tentaram legitimar sua dominação aos continentes africano e asiático, demonstrando como as qualidades e os defeitos dos diferentes povos eram exclusivamente fonte de seu meio social.
b) a teoria demonstrada no texto foi inspirada nas ideias de Thomas Malthus, economista britânico que desenvolveu a hipótese de que o aumento populacional traria maiores possibilidades genéticas e, por consequência, um aprimoramento evolucionista.
c) o autor foi influenciado pelo darwinismo social, desenvolvido pelo naturalista britânico Charles Darwin como forma de explicar a seleção natural, que privilegiava os mais fortes e adaptados diante dos demais, reforçando a dominação europeia sobre outros continentes.
d) fica clara a insatisfação contra o neocolonialismo europeu e contra sua dominação recorrente, visto que as raças eram tidas como de iguais condições quanto à possibilidade de evolução.
e) diversos intelectuais adotaram a existência de uma raça superior às demais, defendendo inclusive o incentivo à imigração de trabalhadores europeus como forma de branqueamento da população brasileira ao longo do tempo.
2. (Fgv 2018) Terra do sonho é distante/e seu nome é Brasil/ plantarei a minha vida/ debaixo de céu anil/ Minha Itália, Alemanha/ Minha Espanha, Portugal/talvez nunca mais eu veja/ minha terra natal.
Milton Nascimento. Sonho imigrante.
Acerca do processo de imigração para o Brasil, registrado no século XIX, é correto afirmar:
a) O Brasil tornou-se o destino preferencial dos imigrantes europeus graças à possibilidade de se constituírem pequenos proprietários rurais devido à promulgação da Lei de Terras em 1850.
b) Desde a proclamação da independência do Brasil, a imigração europeia foi estimulada pelo governo central como uma maneira de atender às pressões inglesas pelo fim da escravidão no país.
c) O fluxo imigratório só deslanchou no Brasil após as alterações nas leis trabalhistas que garantiram condições de trabalho análogas àquelas oferecidas no continente europeu.
d) A partir da década de 1870, com as iniciativas do governo de São Paulo, intensificou-se o fluxo imigratório de europeus para a província paulista destinados, sobretudo, à produção cafeeira.
e) A modernização das atividades agrícolas brasileiras iniciaram-se a partir do declínio da produção canavieira e com o desenvolvimento do complexo cafeeiro na região do Recôncavo Baiano e do Sul da Bahia.
Gabarito:
Questão 1 - [E] – A questão aborda a política racista de branqueamento da sociedade brasileira, pois o negro era visto como ser inferior e um problema.
Questão 2 - [D] – A produção do café cresceu no Segundo Reinado e, com o fim paulatino da escravidão, nova forma de mão-de-obra era necessária, e a imigrante foi uma das instituídas.
Imigração no Brasil
- Segundo Reinado
- Colônias de parceria
- 1850 – Lei de Terras
- Imigração subvencionada
- 1886 – Sociedade Promotora da Imigração
- Italianos e alemães – problemas na Europa
- Branqueamento da sociedade