Cabanagem
Figura 1 - Bandeira dos rebeldes cabanos
A Cabanagem foi uma das revoltas ocorridas no Período Regencial entre 1835 e 1840, na Província do Grão-Pará, onde hoje são os estados do Pará e do Amazonas. O conflito entre os cabanos – como era chamada a população que vivia nas cabanas – e a elite local eclodiu após décadas de exploração do povo e da falta de estrutura. O status quo foi desafiado pelos rebeldes que reivindicavam maior participação política, ganhos justos, fim da pobreza e mais oportunidades.
Negros, índios e trabalhadores livres moravam de forma precária às margens dos rios e eram parte da mão de obra que explorava os recursos da floresta Amazônica e que cultivava tabaco, cacau e arroz em pequena escala. A elite era formada, basicamente, por estrangeiros, em sua maioria comerciantes portugueses, que se aproveitavam da falta de rigidez no controle imperial para comandar a região de acordo com suas necessidades.
O descontentamento geral ganhou forças com a união de líderes de diversas origens, que buscavam se rebelar contra o sistema. Um deles foi o cônego e jornalista João Batista Gonçalves Campos (1782-1834), que mobilizou a população, junto de outras pessoas, para contestarem o poder local. Vale destacar que desde a independência em 1822, a região do Grão-Pará lutava pela sua soberania, já que as atenções do Império se dispersavam entre o vasto território brasileiro. O cônego foi um dos que buscaram autonomia, assim como Antônio Vinagre, Francisco Pedro Vinagre (1793-1873), e até o militar e latifundiário Félix Antônio Clemente Malcher (1772-1835). Ou seja, o sentimento anti-lusitano estava presente na sociedade daquela província desde décadas atrás.
Em 1831, João Batista Gonçalves Campos formou um levante contra a nomeação do governador escolhido pelo governo central. Porém, a situação não saiu como planejado, pois além de ter sido preso, em 1833, Bernardo Lobo de Sousa foi indicado como presidente da província pela Regência. Uma das primeiras medidas tomadas foi acirrar a repressão contra qualquer manifestação contra a coroa. Mesmo assim, isso não diminuiu o ímpeto popular em se organizar.
Em 07 de janeiro de 1835, os rebeldes, sob a liderança de Antônio Vinagre, invadiram a sede do governo e mataram o presidente Lobo de Sousa. Ainda em Belém, os cabanos estabeleceram que Clemente Malcher seria o novo chefe da província, enquanto Francisco Vinagre se tornou o Comandante Militar, agora muito mais abastecido por todo o armamento apreendido nos quarteis invadidos. Outro líder importante para os rebeldes foi Eduardo Angelim (1814-1882), natural do Ceará, de onde saiu em 1827 após longos períodos de seca, e que assumiu posições estratégicas no movimento.
A liderança buscava muitas mudanças além da separação, o problema é que não existia unidade nas reivindicações. Parte queria a saída dos portugueses e o fim da elite exploradora, outros queriam mais autonomia, por exemplo. Apesar de tudo, no início, essa variedade de interesses ajudou a convencer um grande número de pessoas a se juntarem à causa. Contudo, também auxiliou na decadência da mesma, que começou nas rachaduras internas.
Após Clemente Malcher ser nomeado para governador da província, ele se manteve fiel à coroa no momento em que o movimento se radicalizava. Essa atitude trouxe descontentamentos entre os cabanos que se sentiram traídos pelo fazendeiro. Uma das medidas impopulares que ajudou a firmar esse sentimento foi a autorização assinada pelo governador para o encarceramento de Eduardo Angelim. Ocorreu um grande levante, bastante violento, que culminou no assassinato de Malcher e a exposição de seu corpo em praça pública. Francisco Vinagre assumiu a posição de chefe, mas não durou muito tempo no cargo.
A violência da Cabanagem é algo destacado pela historiografia. Um exemplo era o açoite e chicoteadas prestadas aos senhores de escravos, ou a execução de militares por parte, principalmente, dos índios. Apesar desse caráter brutal do movimento, alguns historiadores concordam que escravos e indígenas ganhavam mais prestígio local com a radicalização. Para a elite e o governo local, a similaridade com a Revolução Haitiana ocorrida entre 1791 e 1804, os alarmava, já que o conflito na ilha levou ao estabelecimento de uma república conduzida por negros. Ou seja, a condenação dos cabanos não ocorria apenas pelo contexto violento, mas também sob o medo de que as minorias sociais se alinhassem e tomassem o poder.
Vinagre decidiu sair da presidência caso os rebeldes fossem anistiados pelo governo imperial. Porém, os líderes haviam perdido o controle da situação, e muitos cabanos não obedeciam mais às suas ordens. Manuel Jorge Rodrigues se tornou o chefe provincial, e, assim como outros anteriormente, não cumpriu com as promessas feitas. Além disso, Antônio Vinagre morrera lutando em agosto de 1835, acirrando ainda mais os ânimos locais. As tropas de Angelim resolveram, portanto, invadir a Belém.
Figura 3 - Almirante Tamandaré - s/d - Marinha do Brasil - See page for author [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Marquis_of_tamandare_1873.jpg">via Wikimedia Commons</a>
Em 1836, a coroa enviou a marinha à capital do Pará para conter o crescimento do número de cabanos. Reconquistaram a cidade e os rebeldes foram expulsos. O Almirante Tamandaré, Joaquim Marques Lisboa (1807-1897), conhecido como Marquês de Tamandaré, e o Almirante Barroso, Francisco Manuel Barroso da Silva (1804-1882), o Barão do Amazonas, foram figuras importantes na vitória contra os rebeldes. Apesar de terem fugido, o movimento não acabou e alcançou o interior das províncias angariando mais adeptos. A principal medida do exército foi bloquear os rios mais importantes, e a diferença bélica para com os rebeldes era notável. Mesmo assim, os conflitos duraram até 1840, demonstrando a resiliência não só dos cabanos mas das ideias pelas quais lutavam.
Figura 4 - Memorial da Cabanagem - 7 de janeiro de 1985 - Projeto de Oscar Niemayer - Comemoração dos 150 anos do movimento. Foto: Andre Luis Aquino - link: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/0a/Memorial_da_Cabanagem.jpg
Acredita-se que a diversidade de reivindicações auxiliou no desmantelamento da rebelião. Mesmo assim, a Cabanagem se destacou devido à particularidade da região Amazônica em relação aos territórios imperiais, tanto pela distância quanto pela composição social, que auxiliaram no nascimento de uma cultura particular.
Após 1840, D. Pedro II assumiu sua posição como Imperador e um novo momento da história brasileira se iniciou. O Segundo Reinado começava com a esperança depositada na figura do jovem monarca, mas outros problemas tão complexos quanto os vividos na Regência surgiram.
Assim como a Revolta dos Malês e a Balaiada, a Cabanagem também foi um movimento popular com participação de negros e índios. Estude os detalhes que a diferencia desses outros movimentos.
1. (Ufrgs 2015) No bloco à esquerda, são citadas cinco rebeliões ocorridas no Brasil durante o período regencial; no bloco à direita, as razões de ocorrências dessas rebeliões.
Associe adequadamente o bloco da direita com o da esquerda.
1. Abrilada 2. Cabanagem 3. Levante Malê 4. Sabinada 5. Balaiada |
( ) Movimento popular ocorrido na Bahia, em 1835, com o objetivo de tomar o poder em Salvador e de estendê-lo para a região do Recôncavo. |
( ) Movimento popular ocorrido no Pará, que levou ao desligamento do Império e à proclamação da República. |
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( ) Movimento surgido da disputa entre conservadores e liberais no Maranhão, com a participação também de índios, negros e mestiços. |
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é
a) 1 - 3 - 5.
b) 2 - 4 - 3.
c) 3 - 4 - 1.
d) 5 - 3 - 4.
e) 3 - 2 - 5.
2. (G1 - ifsc 2014) O período regencial vai de 1831 a 1840. Nesse período, o país foi governado por regentes, pois o herdeiro do trono do Império do Brasil, Pedro de Alcântara, tinha apenas cinco anos de idade, quando D. Pedro I abdicou do trono em seu favor, em sete de abril de 1831. Nesse período, algumas províncias rebelaram-se e chegaram até mesmo a se separar, temporariamente, do resto do país.
Sobre as revoltas do período regencial, leia e analise as afirmações abaixo:
I. A revolta da Cabanagem eclodiu em 1835, na província do Grão-Pará, reunindo pobres, escravos e fazendeiros contra o governo central. Os pobres queriam distribuição de terras, o fim da escravidão e os fazendeiros queriam escolher seu governador.
II. A Revolução Farroupilha, de 1835 a 1845, ocorreu no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Os fazendeiros gaúchos reclamavam dos altos impostos cobrados pela entrada de seus produtos nas outras províncias brasileiras. O movimento fundou a República Rio-Grandense e a República Juliana.
III. A Revolta dos Malês e a Sabinada ocorridas no Maranhão, em 1838, eram movimentos pela Independência do Brasil, pois a exploração portuguesa estava levando à falência os produtores de algodão.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) Apenas a afirmação I e III são verdadeiras.
b) Apenas as afirmações I e II são verdadeiras.
c) Apenas as afirmações II e III são verdadeiras.
d) Apenas a afirmação III é verdadeira.
e) Todas as afirmações são verdadeiras.
Gabarito:
Questão 1 - [E] – A Cabanagem foi um movimento popular da região do Grão-Pará, região distante da capital e muito negligenciada pelo governo. Já a Revolta dos Malês ocorreu na Bahia e foi protagonizada pelos negros muçulmanos. A Balaiada ocorreu no Maranhão entre os liberais e conservadores.
Questão 2 - [B] – Aqui você precisa entender sobre as revoltas não só regenciais. No caso, a III está incorreta porque a Revolta dos Malês e a Sabinada não buscavam a independência porque o país já era autônomo.
Cabanagem – 1835-1840
- Província do Grão-Pará – atual Pará
- Cabanos – vem das cabanas ao longo dos rios e bairros mais pobres – sem estrutura
- Descontentamento geral – tanto população quanto elite local
- Revolta violenta entre os soldados e cabanos
- Repressão durou cinco anos
- Prisões e mortes