A interiorização da colônia e o Bandeirismo
Figura 1 - Território brasileiro em 1709 - Shadowxfox [CC BY-SA 4.0 (https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0)]
Como já vimos em Expedições colonizadoras e Presença da Coroa o Brasil e Brasil Colônia – As culturas econômicas, a administração colonial não era homogênea. O processo de interiorização do Brasil significou a expansão do território colonial não só para Portugal, mas também para os que procuravam uma nova oportunidade de prosperar na vida. O bandeirismo foi o movimento iniciado nas capitanias do Sul, da iniciativa privada, que financiava exploradores para adentrarem pelo interior do país e buscarem índios e minérios.
Logo de início, o crescimento dos engenhos de açúcar deslocou o foco da metrópole para as capitanias do Nordeste, como Pernambuco. A capital era em Salvador, o que ajudava no destaque dado à região. Desde o século XVI, a carência vivida pelas capitanias do Sul fez com que os colonos passassem a procurar novas formas de subsistência.
As bandeiras começaram com a aliança entre brancos e índios na busca de metais e novos escravos. Com as invasões holandesas, o tráfico de africanos para o Brasil diminuiu consideravelmente, já que a ação da Companhia das Índias não ocorreu só aqui. Além disso, durante a União Ibérica, os problemas sucessórios e internos desfocaram a importância da colônia por algumas décadas. Por isso, aprisionar novos gentios era fundamental para que houvesse mão-de-obra escrava na região. As diversas comunidades indígenas que aqui viviam tinham suas animosidades, como já vimos em Índios e portugueses na colonização do Brasil e era comum, portanto, a atividade de caça e captura de inimigos. Essas expedições ganharam o nome de bandeiras de apresamento, quando tinham a única intenção de arrebanhar pessoas para mão-de-obra e duraram até o fim do século XVII. Após esse período, o foco direcionou-se, principalmente, à busca de metais preciosos, ou bandeiras de prospecção.
A maioria das empreitadas de apresamento se dirigiram para os atuais Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais ao mesmo tempo em que se confrontaram com as missões jesuíticas. Estas eram autônomas e tinham outorga real de agirem de forma independente. Por exemplo, os colonos não tinham passagem livre para essas regiões, precisavam de autorização e aceite. Os índios eram catequizados, possuíam pequenos pedaços de terra e trabalhavam na produção de alimentos para subsistência. Contudo, as missões cresceram bastante, criando excedentes agrícolas que serviam para a comercialização. O conflito com os bandeirantes ocorria em vários níveis, mas a busca destes por minérios e índios auxiliaram na expansão territorial e trouxeram a destruição de várias missões.
Figura 2 Escultura de Raposo Tavares - Luigi Brizzolara - Museu Paulista
Uma das expedições mais conhecidas foi conduzida por Raposo Tavares em 1629, quando invadiu a missão situada no Guaíra, região paranaense, e saqueou e capturou todos os índios que viviam ali. Durante toda a empreitada, também conduzida por Manuel Preto, cerca de 60 mil nativos foram sequestrados e levados à São Paulo. Vendo o que aconteceu ali, os jesuítas decidiram fugir do raio de atuação de Tavares e foram para o sul. A viagem foi atribulada, religiosos e índios sofreram diversos reveses e não conseguiram chegar ao Rio Grande do Sul.
Tavares não foi o único, mas seus feitos se espalharam pelo país. Depois do Guaíra, em 1632 se deslocou para o Mato Grosso do Sul e invadiu as Missões de Itatim. Já entre 1648-1652, chegou ao Pará pelo rio Amazonas e muitos foram se estabelecendo pelos caminhos ribeirinhos, criando novas comunidades, vilas e cidades. Outras bandeiras foram bastante destacadas ao longo do tempo, como as de Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhangüera; Manuel de Borba Gato; e, Fernão Dias Pais.
A história de Anhangüera é interessante. Herdou o nome do pai, que foi um dos primeiros bandeirantes e temos poucas informações sobre ele. Seu apelido teria surgido de um encontro com índios no Goiás. Ao procurar metais preciosos, e encontra-los adornando as mulheres da região, pressiona os nativos a dizerem onde estavam aquele ouro. Para isso, teria colocado fogo em uma cumbuca com aguardente e a demonstração de poder lhe rendeu a alcunha de diabo velho. O filho seguiu os passos do pai, mas agora, no século XVIII, com intervenção da coroa. Chegou a assumir cargos administrativos e pedir licença para explorar o ouro da região de Goiás.
Desde o século XVI, o sucesso dessas empreitadas despertou o interesse da Coroa, que queria mapear e explorar o potencial da sua colônia. Deram início, portanto, nas entradas, que eram conduzidas por membros do governo, sobretudo soldados. Além disso, tinham interesse de controlar os índios, levando-os para a catequização e eventual exploração da mão-de-obra. Porém, algumas bandeiras tiveram patrocínio real, muito por causa da experiência e excelência dos paulistas em conduzirem as empreitadas. Um exemplo foi a de Domingos Jorge Velho que invadiu e destruiu o Quilombo dos Palmares, em 1694, depois de diversas tentativas da metrópole.
Borba Gato, em 1682, encontrou grandes quantidades de ouro e pedras preciosas nas Minas Gerais, em Sabará. Antes dele, Fernão Dias Paes, em 1671, rumou para o Norte, também na busca de metais, e encontrou turmalinas pensando ser esmeraldas. Morreu sem a riqueza que procurava, mostrando que as bandeiras eram difíceis e uma aposta de grande risco para todos, pois muitos não voltaram ou encontraram o que imaginavam.
Figura 3 - Domingos Jorge Velho - Benedito Calixto - 1903 - Museu Paulista
As consequências do bandeirismo foram a quebra do Tratado de Tordesilhas, que limitava os territórios de Espanha e Portugal na América. Por conta disso, disputas internas se intensificaram após o fim da União Ibérica sobre os limites das propriedades dos dois países. No século XVIII, outros tratados foram assinados, como os de Ultrecht, em 1713 e 1714, de Madri, em 1750, do Pardo, em 1761 e de Santo Ildefonso, em 1777.
Raposo Tavares se tornou um dos bandeirantes mais conhecidos da História brasileira a partir da década de 1920 com a construção da historiografia patriótica paulista. Monumentos, estradas, ruas, avenidas e edifícios foram nomeados a partir de bandeirantes considerados importantes. Hoje em dia, porém, revisa-se o significado dessa importância. Como diz o historiador Boris Fausto, eles foram fundamentais para a expansão territorial da colônia, sem eles, é improvável que o país tivesse alcançado o nível continental que atingiu. Além disso, são essenciais para a história paulista, feita por uma elite independente e corajosa. Porém, as ações bandeirantes destruíram os gentios e tinham uma justificativa higienista ao afirmarem serem os bastiões da civilidade. Sabemos que esse olhar civilizatório só trouxe devastação e atraso para diversas sociedades ao longo do tempo. Isso quer dizer que não devemos falar dos bandeirantes? Claro que não, devemos sempre relembrar doa atos violentos do nosso passado para aprendermos e não repetirmos, e, também, darmos voz aos que foram silenciados por tanto tempo, neste caso, os índios.
A diferença entre Entradas e Bandeiras é cobrada nos vestibulares. Porém, o processo de expansão do território brasileiro é um dos pontos mais importantes dentro desse conteúdo. Aprendendo isso, entendemos como as fronteiras foram formuladas e os problemas locais e políticos.
1. (Uece 2018) A História do Brasil colonial apresenta o movimento de entradas, bandeiras e monções como um importante fator para o processo de ocupação das áreas do interior da colônia, uma vez que a ocupação originada da atividade canavieira se limitava, naqueles tempos, aos espaços próximos ao litoral.
Atente ao que se diz a seguir sobre essas expedições, e assinale com V o que for verdadeiro e com F o que for falso.
( ) Enquanto as bandeiras eram financiadas exclusivamente pela coroa portuguesa, as entradas eram expedições fluviais privadas que usavam os rios nordestinos.
( ) Os bandeirantes foram importantes personagens na destruição dos quilombos, pois uma das modalidades de bandeirantismo foi a do sertanismo de contrato.
( ) As monções, expedições fluviais que adentravam ao interior da colônia, foram muito importantes na colonização dessa região, partindo do rio Tietê que nasce em São Paulo.
( ) As bandeiras, expedições oficiais de apresamento de indígenas, não tiveram importância na prospecção de metais preciosos como o ouro, que se deu somente através das entradas.
A sequência correta, de cima para baixo, é:
a) F, F, V, V.
b) F, V, V, F.
c) V, F, F, V.
d) V, V, F, F.
2. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Para responder à(s) questão(ões), considere o texto abaixo.
Se a obra historiográfica de Sérgio Buarque de Hollanda foi um olhar para o passado brasileiro a partir da História de São Paulo (as monções, as entradas e bandeiras, os caminhos e fronteiras) entre a generalidade do ensaio, em Raízes do Brasil, e a sistematização acadêmica de sua produção na USP, a cidade do Rio de Janeiro funda um universo poético e um horizonte criativo inteiramente novos em Chico Buarque, no cruzamento das atividades do “morro” (o samba, sobretudo) com as da “cidade” (A Bossa Nova e a vida intelectual do circuito Zona Sul).
FIGUEIREDO, Luciano (org). História do Brasil para ocupados. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013, p. 451.
(Puccamp 2018) As entradas e bandeiras, durante o Período Colonial, foram expedições
a) contratadas pelos donatários das capitanias, a fim de mapear as populações indígenas que habitavam a região e instalar missões e aldeias visando à sua pacificação, etapa indispensável para o sucesso do empreendimento colonial.
b) idealizadas por autoridades coloniais e pelos primeiros moradores instalados na Vila de São Paulo, com o objetivo principal de combater os colonizadores espanhóis que vinham desrespeitando os limites do Tratado de Tordesilhas e tomando-lhes as minas de ouro e prata.
c) planejadas pelos brancos colonizadores, empreendedores particulares ou encarregados da Coroa, compostas de dezenas de índios e mestiços contratados para desbravar o “sertão” e viabilizar rotas comerciais de minérios, especiarias e gado entre as isoladas vilas do interior.
d) articuladas e executadas pelos bandeirantes, a mando da Coroa, da Igreja Católica ou por iniciativa própria, a fim de assegurar o controle português das minas de ouro e o plantio em terras férteis, dizimando índios hostis e fundando vilas jesuíticas para o branqueamento da população.
e) organizadas e financiadas, respectivamente, pela Coroa Portuguesa e por particulares, em busca de metais preciosos, do apresamento de indígenas e da efetivação da posse das terras por colonizadores portugueses.
Gabarito:
Questão 1 - [B] – Para responder essa questão, é necessário saber as características das bandeiras, como o sertanismo e a caça aos índios.
Questão 2 - [E] – A interpretação do texto aliada ao conhecimento sobre as bandeiras são o suficiente para a questão.
Interiorização da colônia – séculos XVII e XVIII
- Bandeiras – expedições particulares – caça aos índios e escravos fugitivos, exploração de metais;
- Entradas – expedições financiadas pela coroa;
- Mapeamento do território
- relação com a União Ibérica.