Reforma Luterana
Figura 1 - 95 Teses de Martinho Lutero - 1517 - Wittenberg: Melchior Lotter d.J., 1522 [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:95Thesen.jpg">via Wikimedia Commons</a>
No início da Idade Moderna ocorreram diversas mudanças nos âmbitos político, social, econômico e religioso. A Reforma Protestante impactou diretamente a Europa e foi uma das grandes rupturas vividas pela Igreja Católica. O Luteranismo foi uma das primeiras religiões surgidas do movimento reformador. Veremos os principais passos de Martinho Lutero (1483-1546), sua ligação com o Sacro Império Romano Germânico e os príncipes da região germânica.
Durante séculos a Igreja Católica criou uma forte estrutura burocrática conectada com as monarquias. Se infiltrou nos sistemas políticos com seus representantes, além da influência profunda que exercia na população. Isso a transformou na instituição mais poderosa da Idade Média, o que não foi diferente no começo da modernidade. Essa conexão com as coroas e as nobrezas corroboravam as desigualdades políticas e sociais que eram profundas. No Absolutismo, por exemplo, reis eram considerados divinos, e os que estavam mais perto dele hierarquicamente, privilegiados. Isso significa que a população não tinha a mesma conexão com Deus do que a nobreza e a coroa.
Outro ponto importante foi o uso das indulgências como forma de arrecadação de fundos. A Igreja sobrevivia de doações, e cada vez mais o luxo, a grandiosidade das construções e a grande quantidade de eclesiásticos exigiam mais receita. As indulgências se relacionavam diretamente com a questão da salvação da alma. No Catolicismo, existia o Purgatório, um lugar por onde as almas pecadoras deveria passar e pagar suas penitências antes de chegarem ao Paraíso. Com o tempo, a Igreja passou a vender as indulgências que era uma espécie de garantia de que sua alma iria direto para o Paraíso e não sofreria as consequências do Purgatório. A compra serviria também para aqueles que já eram falecidos e que estariam sofrendo, o que fez com que as pessoas gastassem o pouco que tinham na esperança se salvarem seus familiares e amigos.
As críticas a essa prática da Igreja cresciam cada vez mais, e ganharam novos contornos no século XVI, quando começou a construção da Basílica de São Pedro, no Vaticano. Projetada para ser a maior edificação da época, exigia muitos recursos da instituição, que aumentou a venda de indulgências. Junte a isso a mudança de mentalidade com o Renascimento e o desenvolvimento científico, que questionava dogmas religiosos e o poder do Papa.
Lembre-se que a Igreja já havia sofrido uma ruptura importante em 1053 com o Cisma do Oriente, quando a Igreja Cristã se separou entre a Igreja Ortodoxa Grega e a Igreja Católica Apostólica Romana. Porém, seu domínio foi quase inabalável na Europa Ocidental durante a Idade Média, até que alguns clérigos começaram a se posicionar. John Wycliffe (1329-1384), teólogo inglês, denunciou os luxos do clero e fez parte de uma contestação interna que criticava a desigualdade entre a pobreza extrema dos fieis e a riqueza dos clérigos. O inglês queria uma maior simplicidade dos religiosos e acessibilidade do culto para a população. Isso demonstra que dentro da Igreja havia descontentamento.
Figura 2 - Martinho Lutero - Lucas Cranach, o Velho - 1529 - Hessisches Landesmuseum Darmstadt - Alemanha - Workshop of Lucas Cranach the Elder [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:1529MartinLuther.jpg">via Wikimedia Commons</a>
Martinho Lutero era um monge alemão que, antes de entrar para a vida religiosa, se formou na Universidade de Erfurt. Sua paixão era estudar as escrituras e a teologia, porém, não deixou de se preocupar com questões práticas, como as indulgências. Sua crítica à ideia de salvação pregada pela Igreja ganhou novos contornos quando a venda da mesma passou a ser constante em todos os locais. Ele acreditava que era uma forma de manipulação da fé das pessoas. Na sua concepção, a salvação vinha por meio da crença e da retidão do fiel. A ideia de caridade ou prática das boas obras não seriam suficientes para alcançá-la. Para isso, também defendia que a Bíblia era a única verdade religiosa ao invés dos clérigos, que também eram pecadores. Dessa forma, ele não acreditava no controle que a Igreja dizia ter das ações divinas.
Figura 3 - Lutero falando suas ideias na Dieta de Worms - 1825- 1833 - Martin Disteli - Zentralbibliothek Solothurn - Suíça - Martin Disteli [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Zentralbibliothek_Solothurn_-_Luther_in_Worms_-_aa0470.
Em 1517, escreveu as famosas 95 Teses, onde expôs todo o seu pensamento acerca do que estava errado na Igreja. Entre as críticas mais famosas estavam na existência do Papa como a ligação entre Deus e os homens, a Bíblia em latim, o luxo da Igreja, entre outras. O choque foi imediato, mas apenas em 1520 que o Papa Leão X (1475-1521) excomungou o monge. Lutero vivia em território do Sacro Império Romano Germânico que, naquela época, era governado por Carlos V de Habsburgo (1500-1558). Em 1521, ele convocou o reformista para se explicar e se retratar, a chamada Dieta de Worms, que consistia em uma deliberação feita por um conselho.
Figura 4 - Retrato equestre de Carlos V - 1548 - Ticiano - Museo Nacional del Prado - Madri, Espanha - Titian [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Carlos_V_en_M%C3%BChlberg,_by_Titian,_from_Prado_in_Google_Earth.jpg">via Wikimedia Co
Carlos V era da Espanha, um país extremamente católico e conectado com a Igreja. Sua intenção era remediar as consequências da Reforma Protestante. Como Lutero não se retificou, foi considerado persona non grata no Império. Contudo, nem todos aceitaram a decisão real. O Sacro Império foi formado especificamente pela ligação entre a Igreja e as monarquias reais, começando com a sacralização de Carlos Magno da Dinastia Carolíngia. Dessa forma, não havia uma hereditariedade para o título de Imperador e os príncipes e governantes locais decidiam quem assumiria o controle de regiões como a Germânia, Borgonha, Países Baixos, entre outros. A família Habsburgo se tornou hegemônica no século XIII e Carlos, então I da Espanha, foi eleito em 1519, se tornando o quinto do Sacro Império.
Assim, quando o Imperador decidiu expulsar Lutero, alguns governantes germânicos se colocaram contra. Frederico III da Saxônia (1463-1525) o abrigou, e o ex-monge ficou em seu castelo até sua morte. Entre 1520 e 1530, sua tradução da Bíblia teve mais de 200 mil cópias impressas, um feito notável. A decisão do príncipe foi apoiada por outros nobres que, para se assegurarem contra o Sacro Império, em 1530 formaram a Liga de Schmalkalden ou Esmalcalda.
A população germânica adotou rapidamente o Luteranismo, que visava a desapropriação dos bens da Igreja e adotava as ideias de Lutero. Contudo, começaram revoltas camponesas que buscavam terras. As chamadas Revolta dos Anabatistas fizeram saques a castelos e à nobreza, e foi imediatamente contida. O próprio criador da doutrina reprovou o comportamento do povo, o que demonstra a sua confluência com a quebra do status católico e não social. Porém, a Liga era formada por nobres que apoiavam a nova religião e entraram em conflito com os católicos do Sacro Império.
As Guerras de Religião ganharam a Europa. Em 1555, foi assinada a Paz de Augsburgo, que instituía a trégua entre a Liga e o Sacro Império, que já estava se fragmentando, além de determinar que cada governante poderia adotar a religião que quisesse, acabando com o domínio católico. As consequências, contudo, foram profundas e os conflitos se estenderam por décadas, até o final da Guerra dos Trinta Anos, em 1648.
A Reforma Luterana foi um dos braços dos movimentos reformistas do século XVI. Ocorreu na Europa, mas afetou diretamente o Sacro Império Romano Germânico, a influência da Igreja na região germânica e saxônica, além de estabelecer uma nova religião. Os vestibulares cobram esses movimentos como parte do contexto de mudanças do início da Idade Moderna.
1. (Fac. Albert Einstein - Medicina 2018) No dia 31 de Outubro de 1517, o monge e doutor em teologia Martinho Lutero publicou em Wittemberg as suas 95 teses sobre questões a serem debatidas com outros teólogos católicos. Entre as posições defendidas, e que acabaram por levar ao rompimento de Lutero com a Igreja Católica, estavam
a) a afirmação de que todo cristão batizado poderia ser o seu próprio sacerdote, o questionamento do dogma da infalibilidade papal e o princípio da salvação pela fé.
b) o reconhecimento apenas do batismo, da eucaristia, do casamento e da extrema unção como sacramentos cristãos válidos.
c) a reafirmação do culto aos santos locais e da Virgem, e a validação do casamento de qualquer membro da Igreja.
d) o uso da Inquisição e do Index como instrumentos de combate aos desvios doutrinais e o reconhecimento da infalibilidade papal na orientação teológica da cristandade.
2. (Unioeste 2018) O que nós chamamos Europa, é uma ideia, uma representação construída, cujas características dependem do respectivo recorte, do respectivo ponto de vista, das respectivas intenções, dos respectivos objetivos e fins ideológicos daquele que usa essa palavra. [...] A ideia da Europa representa somente uma construção intelectual ou um conceito, que varia de século a século, servindo como instrumento de argumentação, seja contra, seja a favor de algo.
MAINKA, Peter Johann. Os fundamentos da identidade europeia na antiguidade, na idade média e nos tempos modernos. Acta Scientiarum. Education. Maringa, v. 33, n. 1, p.67, 2011.
Tomando-se por base a citação acima, assinale a alternativa INCORRETA.
a) A sociedade moderna foi delineada a partir da perda de influência do divino e do sobrenatural. Sua identidade moldou-se pela ideia de que o homem é o responsável por sua história.
b) A Reforma Protestante, que fortaleceu a cristandade ocidental, referendou os dois poderes tradicionais dos chamados Estados pré-modernos nascentes: o Papado e o Império.
c) Na chamada transição da Antiguidade para o mundo medieval, a língua latina se tornou um grande instrumento de estabilidade. Ao conservar a erudição greco-romana, garantiu sua difusão até os Tempos Modernos.
d) Os gregos antigos, que se compreenderam como pertencentes a Europa, definiram-se culturalmente a partir de uma oposição à Ásia: essa, representando a monarquia e a tirania; aqueles a liberdade e a democracia.
e) A construção da identidade europeia foi confrontada, em meados do século VII, com a doutrina religiosa de Mohammed (Maomé) – a expansão do Islã e do mundo muçulmano.
Gabarito:
Questão 1 - [A] – Martinho Lutero publicou as 95 Teses em 1517, dando início à Reforma Protestante. O Luteranismo foi a doutrina religiosa que surgiu a partir dos preceitos pregados pelo ex-monge, que eram a salvação pela fé, interpretação própria da Bíblia etc.
Questão 2 - [B] – Em 1517 ocorreu a Reforma Protestante, a grande crise da Igreja Católica no início da Idade Moderna, que motivou a Contrarreforma.
Reforma Luterana
Martinho Lutero (1483-1546) - críticas à Igreja - uso das indulgências para salvação da alma
Contexto: Idade Moderna, o Renascimento e o desenvolvimento científico
1517 - 95 Tese
1521 – Excomungado
Sacro Império Romano Germânico - Carlos V de Habsburgo (1500-1558)
1521 - Dieta de Worms – expulsão de Lutero do Sacro Império
Frederico III da Saxônia (1463-1525) – o abrigou – rompimento com Carlos V
1530 - Liga de Schmalkalden ou Esmalcalda.
Revolta dos Anabatistas
Guerras de Religião
1555 - Foi assinada a Paz de Augsburgo