Guerra de Canudos – 1896 e 1897
Figura 1 - Militares chegando a Canudos - Orphan work [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Chegada_das_for%C3%A7as_que_vieram_da_Guerra_dos_Canudos_na_Bahia.jpg">via Wikimedia Commons</a>
No início da República Velha e Campos Salles (1898-1902)), diversos conflitos armados despontaram pelo país. Um dos mais importantes ocorreu no interior da Bahia, a Guerra de Canudos, que durou de 1896 a 1897, liderada pelo beato Antônio Conselheiro (1830-1897). A combinação de pobreza extrema, desigualdade e milenarismo foram fundamentais para o nascimento de um dos maiores embates do início da República. Vamos lá!
Os problemas sociais e econômicos nas áreas rurais do Brasil eram comuns desde a colônia. Os centros de desenvolviam mais do que as regiões distantes, seja no Nordeste durante o ciclo do açúcar, nas Gerais com a descoberta do ouro ou em São Paulo com a ascensão do café. Na República, isso não foi diferente e a situação do Norte e Nordeste piorou no início do século XX. O foco do sistema político e econômico residia em fazer as vontades dos oligarcas que assumiram o poder. A população estava à deriva e se apegava a qualquer tipo de esperança de uma vida mais justa, inclusive no milenarismo.
Figura 2- Antônio Conselheiro - única foto conhecida - 1897 - Flávio de Barros [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Antonio_Conselheiro.jpg">via Wikimedia Commons</a>
A questão em Canudos despertou muito interesse na época, tanto que a imprensa do sudeste mandou profissionais para cobrir os eventos. A obra Os Sertões, de Euclides da Cunha (1866-1909) foi escrito após a experiência in loco vivida pelo jornalista à mando d’O Estado de São Paulo. Seu livro se tornou um clássico literário e uma das principais fontes documentais sobre o período. Deu destaque, entre outros pontos, ao Sebastianismo que permeava a figura de Conselheiro, sobretudo na questão da esperança do surgimento de uma situação melhor tanto nesta vida quanto na eterna. Como todo documento, o autor foi vastamente debatido e criticado posteriormente, mas continua sendo uma as principais palavras sobre Canudos.
Em 1893, às margens do rio Vaza-Barris, uma comunidade se formou em uma antiga fazenda. Nasceu ali o arraial de Belo Monte, conhecido como Canudos, que era liderado por Antônio Vicente Mendes Marcial, o Antônio Conselheiro. Sua origem era humilde, nasceu no interior do Ceará e foi criado para ser padre. Porém, com os problemas da família, sobretudo de ordem financeira, teve que assumir várias funções para sobreviver. Se converteu a beato, se tornando uma forma de guru espiritual para o povo das regiões por onde passava ao desbravar o sertão. Conseguir arrebanhar várias pessoas com suas andanças, até que se estabeleceu em Canudos com cerca de 30 mil que acreditavam que o líder os ajudaria a ter algum tipo de dignidade em vida e salvação após a morte.
O que era um incidente único no sertão baiano passou a incomodar as autoridades do estado, principalmente os religiosos. Conselheiro pregava e fazia parte da vida dos moradores locais. Tinha um alcance emocional que outras figuras, eclesiásticas ou não, tinham dificuldade de conseguir. A população era formada por pessoas humildes sem muita perspectiva, geralmente famílias e até desertores da polícia, Exército e outros cargos.
Um dos pontos que foram destacados em relação a Conselheiro era sua exortação constante contra a República e o estado laico. Seu viés era religioso, contra a liberdade civil e de culto, inclusive o casamento civil era condenado. Para muitos, o arraial era considerado um local povoado por fanáticos, sendo o líder a cabeça de tudo. A comunidade tinha regras de conduta restritas e deveriam realizar afazeres coletivos, como a construção de casas, cuidar das plantações de subsistência, e outros.
A organização era complexa e extensa, abrangia vários níveis da vida comunal. A hierarquia era rígida e autores apontam que isso dava estrutura àqueles que eram esquecidos pelo poder público. Observando a quantidade de gente que existia ali, alguns coronéis da região resolveram se aliar a Conselheiro no intuito de obter esse apoio popular futuramente. Mesmo com a construção dessas alianças, elas não modificaram o destino do arraial quando o conflito com o Exército nacional se tornou latente. Além disso, Canudos passou a ser visado pela Igreja Católica, que decidiu agir contra o líder.
Figura 3 - Desenho de Angelo Agostini, Antônio Conselheiro rechaça a República - 1896 - Revista Ilustrada - Angelo Agostini [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Conselheiro_Revista_Ilustrada.jpg">via Wikimedia Commons</a>
Em 1895, dois capuchinos entraram na comunidade com o intuito de alertar a população a partir da palavra divina. Fizeram missas – todas outorgadas por Conselheiro – falaram sobre a situação herética do arraial, mas ninguém saiu de lá. A tentativa, portanto, não deu certo, mas o reporte feito por essas figuras causou danos importantes. Conselheiro foi acusado de ser monarquista, um grande problema no início da República. Lembrem-se do florianismo e dos movimentos contra a Monarquia que floresceram nos primeiros anos republicanos.
Em 1896, ocorreu o incidente descrito como o estopim do conflito. Canudos havia encomendado um grande lote de madeira da região de Juazeiro. Um juiz, já acompanhando a situação desconfortável que o arraial provocava, proibiu a entrega do material, causando um grande descontentamento em Conselheiro e na população. Em represália, o líder afirmou que eles mesmos buscariam o que era deles. O estado da Bahia, temendo um problema maior, decidiu enviar tropas para Canudos para impedir a ação do povo. O resultado foi que os sertanejos bloquearam os militares, para espanto geral. A partir desse momento, o estado pediu ajuda do governo federal, que acompanhava a situação de longe e, em 21 de novembro de 1896, a Guerra de Canudos estava instaurada. Conselheiro e a população se tornaram um problema nacional.
Em janeiro de 1897, Prudente de Moraes autorizou o envio de quase 600 homens do Exército comandados pelo major Febrônio de Brito. Foi a segunda expedição para Canudos e, novamente, o povo venceu a tropa federal. O país que participara da Guerra do Paraguai e de tantas outras revoltas, não conseguia abafar uma comunidade sem liderança militar. Para finalizar a situação que crescia aos olhos da imprensa, o presidente decidiu nomear um dos coronéis que lutou contra os rebeldes da Revolta Federalista, Antônio Moreira César (1850-1897).
Em março de 1897, o coronel liderou a terceira expedição para o interior baiano. Naquele momento, já se espalhara a notícia de que o Exército nacional marcava em direção à região, o que mobilizou ainda mais jagunços e sertanejos para lutar a favor de Conselheiro. O viés místico da situação ganhou força, pois haviam vencido tropas bem estruturadas. Porém, mais de mil soldados invadiram a cidade dessa vez e carregando forte munição. Os militares não contavam com as táticas de guerrilha dos moradores. Nessas batalhas, Moreira César morreu, assim como seu substituto, forçando o recuo das tropas.
Em junho de 1897, a quarta, e maior, expedição foi enviada, dessa vez pensada pelo Ministério da Guerra e comandada por Arthur Oscar de Andrade Guimarães, com mais de 4 mil soldados. No dia 25, ocorreu o primeiro ataque e os jagunços conseguiram conter parte dos homens do governo. Contudo, o contingente militar era muito maior, além de mais recursos bélicos. As batalhas ocorreram até 05 de outubro, mas Conselheiro foi morto em setembro. A resistência popular durou pouco mais de 2 semanas, quando o Exército arrasou a cidade, queimou todas as casas, além de deceparem o corpo do líder.
O que era uma exceção local, ganhou notoriedade a ponto de se tornar ameaça nacional. Canudos era visto como uma comunidade comandada por um líder monarquista e fanático que ameaçava a jovem República Brasileira.
Canudos foi uma questão de contraste entre o desespero popular devido às péssimas condições de vida e falta de perspectiva, aliada ao encontro de um discurso esperançoso diante da inaptidão do governo nacional. Não se esqueçam de entender o contexto da formação desses conflitos, porque isso que vai ajudá-los no vestibular.
1. (Espcex (Aman) 2018) O conflito ocorrido no final do Século XIX, caracterizado pelo caráter messiânico (religioso) e de contestação social, foi a
a) Guerra do Contestado.
b) Revolta da Armada.
c) Revolta Federalista.
d) Revolta da Vacina.
e) Guerra de Canudos.
2. (Uece 2018) Atente ao seguinte enunciado: “Há 120 anos, em 5 de outubro de 1897, a quarta expedição militar enviada por órgãos do Estado conseguiu, enfim, destruir a comunidade. Ao final de tudo, apenas quatro pessoas a defendiam. Quando foi incendiada pelo exército, este registrou que a comunidade contava com 5.200 casebres. Aqueles que, depois da morte de seu líder, dias antes, haviam se rendido após receber promessas de garantia de vida foram também degolados pelas tropas, inclusive mulheres e crianças”.
O enunciado acima diz respeito ao evento denominado
a) Guerra do Contestado, ocorrida numa região fronteiriça do Paraná com Santa Catarina, e que teve líderes religiosos que se antepuseram à dominação da região por empresas madeireiras estrangeiras que receberam aquelas terras do governo brasileiro.
b) Massacre do Caldeirão, evento transcorrido no município do Crato, Ceará, e que teve como líder José Lourenço Gomes da Silva, o Beato José Lourenço, que conduziu os desvalidos enviados por Pe. Cícero durante vários anos em uma próspera comunidade.
c) Revolta da Vacina, ocorrida no Rio de Janeiro, quando agentes públicos invadiam à força as comunidades pobres da cidade para impor a vacinação obrigatória contra a febre amarela e a varíola a todos os moradores.
d) Guerra de Canudos, ocorrida no sertão da Bahia e que teve no cearense Antônio Vicente Mendes Maciel, o Antônio Conselheiro, o principal líder daquela comunidade rural, formada por sertanejos miseráveis que fugiam da fome e buscavam a salvação eterna.
Gabarito:
Questão 1 - [E] – É uma pergunta conteudista típica da Espcex. É importante saber o conteúdo para responder.
Questão 2 - [D] - A Guerra de Canudos, ocorrida na Bahia entre 1896-1897, foi um movimento messiânico comandado por Antônio Conselheiro e ocorreu, em especial, devido às péssimas condições políticas, econômicas e sociais do Nordeste brasileiro. Somente na quarta expedição que o governo conseguiu massacrar a comunidade, com muita violência.
Guerra de Canudos – 1896 e 1897
- Problemas sociais e econômicos nas áreas rurais do Brasil
Antônio Vicente Mendes Marcial, o Antônio Conselheiro - Sebastianismo e milenarismo
Organização era complexa e extensa – hierarquia rígida
- 1896 - o estopim do conflito – 1ª expedição - sertanejos bloquearam os militares
- Janeiro de 1897 – 2ª expedição - 600 homens do Exército – Canudos venceu
- Março de 1897 – 3ª expedição – 1000 homens do Exército – Coronel Antônio Moreira César morreu - Canudos venceu
- Junho de 1897 – 4ª expedição – 4000 homens do Exército – Coronel Arthur Oscar de Andrade Guimarães - Conselheiro foi morto em setembro – fim de Canudos em outubro.