Resumo de historia: Renascimento - Inglaterra, Espanha e França
Renascimento - Inglaterra, Espanha e França
Figura 1 - O banho de Diana - François Clouet - c.1550 - MASP/SP - Exemplo Renascentista francês - François Clouet [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Fran%C3%A7ois_Clouet_-_The_Bath_of_Diana_-_WGA05070.jpg">via Wikimedia Commons</a>
Em Renascimento, aprendemos que foi um movimento artístico, científico e cultural que marcou o início da Idade Moderna. A Península Itálica foi o berço dessa efervescência, mas não se restringiu a essa região. Outros países europeus também viveram os ideais humanísticos difundidos e neste texto, aprenderemos sobre as características do Renascimento na Inglaterra, Espanha e França, tanto no campo das artes plásticas, literatura e teatro. Cada local teve sua especificidade e as analisaremos aqui.
Inglaterra
Como vimos em Formação da Monarquia Nacional Inglesa e Absolutismo na Inglaterra, o país demorou para centralizar seu poder político e, consequentemente, as finanças sofreram. O humanismo começou a tomar forma no governo de Henrique VIII, da Dinastia Tudor, e o principal autor foi Thomas Morus (1478-1535), que escreveu A Utopia em 1516 e foi influenciado pela leitura de obras italianas e clássicas. Porém, o Renascimento se estabeleceu de fato na época de Elizabeth I (1533-1603) e ficou conhecido como Período Elisabetano. Foi o momento de florescimento cultural e político do país, quando passou a acumular riquezas, desenvolver sua burguesia mercantil, fortalecer a Marinha que se tornara a mais poderosa tempos depois.
A literatura teve destaque no renascimento inglês, dominou o cenário pela sua originalidade e forte presença tanto com a prosa quanto a filosofia, a poesia e a dramaturgia. Muitos autores discutiam as mudanças sociais que observavam e viviam, além do advento do espírito racionalista. Um dos filósofos mais conhecidos foi Francis Bacon, que defendia a produção de conhecimento por meio do pensamento indutivo e da metodologia científica. Dessa forma, afirmava que a Filosofia era uma ciência e deveria evoluir no seu campo, possuir um rigor. Aliás, os preceitos como antropocentrismo eram encontrados nas entrelinhas das temáticas escolhidas pelos autores para retratar o presente e as narrativas acerca da sociedade.
Figura 2 - Retrato de William Shakespeare - John Taylor - 1610 - John Taylor [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Shakespeare.jpg">via Wikimedia Commons</a>
O nacionalismo, outra característica do período, se tornara marca da Dinastia Tudor, alcançando seu ápice com a rainha Elizabeth. Junte a isso a influência das obras gregas e romanas da Antiguidade, e das produzidas pelos autores italianos contemporâneos. A tragédia, o drama, a farsa, eram baseadas nos textos antigos e inspiraram a composição das histórias publicadas. Os nomes mais conhecidos foram Edmund Spenser (1552-1599), Christopher Marlowe (1564-1593) e William Shakespeare (1564-1616).
Um ponto que destaca e diferencia as obras renascentistas inglesas, em todos os campos, eram os elementos medievais, que eram utilizados na composição artística. Isso ocorria porque se relacionam diretamente ao nacionalismo, são características produzidas em uma época que fazia parte da história local. Diferentemente dos italianos que viam no Império Romano o ápice do seu desenvolvimento, os outros estados europeus começaram sua formação no medievo. A arte produzida naquela época foi repensada, reinterpretada e amalgamada às novas ideias provenientes da modernidade renascentista. Vemos isso em outro ramo muito importante do período elisabetano, que foi a arquitetura. Um exemplo foi a reinterpretação das ordens arquitetônicas gregas na construção de prédios públicos, pois elas pregavam a simetria, a ordenação, a proporção. Porém, no período do Renascimento, os adornos, como esculturas e vitrais, tinham características do gótico, estilo medieval.
Espanha
No caso espanhol, tanto a Reforma Protestante quanto a Contrarreforma tiveram influência direta no atraso e desenvolvimento do movimento. A Igreja era muito presente nos reinos ibéricos, sobretudo em Castela e Aragão. Isso significa que, mesmo com o crescimento do cientificismo, a ideologia católica permeava as monarquias. Em Formação das Monarquias Nacionais - Portugal e Espanha aprendemos como a centralização política e o crescimento econômico ocorreu após o casamento de Isabel I de Castela (1451-1504) e Fernando II de Aragão (1452-1516). Foi o momento de concentração de poder, da expulsão dos mouros em 1492, e da Conquista da América. Enquanto isso ocorria, a efervescência cultural era visível, com o humanismo presente nas Universidades, principalmente Salamanca, e o florescer da cena literária, arquitetônica e artística. Foi chamado de Século de ouro espanhol, quando possuíam o respeito internacional, muitas reservas de ouro e prata por causa das colônias, a Invencível Armada na época de Felipe II e grande influência na Europa.
A inspiração italiana estava presente e alguns intelectuais argumentam que a ação da Contrarreforma, sobretudo a Inquisição, pode ter atrasado o Renascimento espanhol e suas descobertas científicas, já que o ambiente era propício para que acontecessem. O estilo de pintura italiano influencio bastante, mas essa manifestação artística só alcançou o auge na Espanha a partir do século XVII com o barroco.
A literatura, assim como na Inglaterra, teve vários autores importantes e se destacou pela particularidade dos gêneros e temáticas cultivadas. Um exemplo é a crônica, utilizada para descrever e narrar as primeiras décadas dos colonos na América, o encontro com os indígenas, assim como o processo colonial em si ao longo das décadas, e se tornou o principal tipo de documento histórico sobre essa época. As novelas de cavalaria, pastoris, foram os tipos que mais se desenvolveram desde a Idade Média.
Figura 3 - Primeira edição de Dom Quixote de la Mancha - 1605 - Juan de la Cuesta (impresor); Miguel de Cervantes (autor) [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:El_ingenioso_hidalgo_don_Quijote_de_la_Mancha.jpg">via Wikimedia Commons</a>
Apesar disso, o autor espanhol mais conhecido é Miguel de Cervantes Saavedra (1547-1616) e sua obra Don Quixote de la Mancha, lançada em 1605. Se tornou um dos principais romancistas no início da modernidade pela combinação de diferentes estilos e temáticas. Dom Quixote, Sancho Pança e Dulcineia viraram personagens populares e Cervantes o grande nome da literatura ficcional fantástica. Petrarca (1304-1374) foi uma das inspirações dos autores espanhois, sobretudo Garcilaso de la Vega (1503-1536), poeta natural de Toledo.
França
Figura 4 - Retrato de Francisco I, rei da França - Jean Clouet - c.1530 - Museu do Louvre - Jean Clouet [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Francis1-1.jpg">via Wikimedia Commons</a>
O Absolutismo francês se concretizou, mas os problemas políticos eram frequentes, como os conflitos contra a Inglaterra, como a Guerra dos Cem Anos, e religiosos, como a perseguição aos huguenotes. O país também fez alianças com reinos italianos nas disputas dentro da Península, como em Milão com a participação do rei Carlos VIII (1470-1498). Em outras ocasiões, os reis Luís XII (1462-1515) e Francisco I (1494-1547) também fizeram parte das guerras na Itália. Dessa forma, o contato com as obras renascentistas inspirou a coroa francesa que, inclusive, adquiriu pinturas e esculturas que foram transportadas para a França. Surgiu, assim, a Escola de Fontainebleau, centro de produção artística renascentista do país no século XVI. A temática mitológica era a mais frequente nas pinturas de Jean Clouet (1475-1540), um dos principais nomes. Rafael e Michelangelo eram as influências recorrentes.
Assim como na Inglaterra, a arquitetura teve grande destaque, sobretudo com as construções de palácios. O Louvre, por exemplo, foi reconstruído a partir de 1546, com o projeto de Pierre Lescot. O palácio de Tuileries, por sua vez, e o de Fontaineblau, também foram iniciados nessa época. Andrea Palladio (1508-1580), arquiteto veneziano, era o nome mais importante do estilo palaciano e foi estudado por muitos pares pela Europa. Porém, o gótico francês fazia parte da cultura nacional e foi implantado nas construções.
É importante ressaltar algumas premissas básicas acerca do Renascimento antes de adentrar nas especificidades de cada país. As Grandes Navegações, as descobertas científicas, o acesso aos escritos da Antiguidade clássica foram fatores importantes para o desenvolvimento do Renascimento. Contudo, as condições políticas e econômicas dos países e cidades-estado europeus, além da religião, foram basilares para que o movimento se estabelecesse. Entendendo os processos vai fazer com que o aluno consiga compreender o período da melhor forma.
1. (Ufpr 2019) Considere o excerto abaixo sobre o livro Utopia, do escritor inglês Thomas Morus (1478-1535), lançado entre 1516 e 1518:
[...] Em sua obra Utopia, Morus descreve a vida numa ilha em formato de lua crescente, na qual tudo é dividido de maneira equânime entre as pessoas, onde não existe injustiça e violência e se vive confortavelmente. [...] na ilha de Utopia, o problema da exclusão social, tema candente de seu tempo, [...] seria resolvido de uma vez por todas. E de que maneira? Pela aplicação de todos ao trabalho [...]”.
(LOPES, M. A. Uma História da ideia de utopia: o real e o imaginário no pensamento político de Thomas Morus. História: Questões & Debates, Curitiba, n. 40, 2004, p. 141-142.)
A partir do trecho acima e dos conhecimentos sobre o início da Idade Moderna (1453-1789), é correto afirmar que a obra de Morus pertenceu ao:
a) Iluminismo europeu e foi publicada no contexto do absolutismo inglês, em que o clero católico possuía privilégios, terras e metais preciosos, ao contrário da maioria da população.
b) Renascimento europeu e foi publicada no contexto do republicanismo inglês, em que os parlamentares possuíam terras, títulos de nobreza e isenção de impostos, ao contrário da maioria da população.
c) Arcadismo europeu e foi publicada no contexto do protecionismo inglês, em que o clero protestante possuía terras, privilégios e perdão de dívidas, ao contrário da maioria da população.
d) Humanismo europeu e foi publicada no contexto do absolutismo inglês, em que a aristocracia possuía privilégios, terras e rendas, ao contrário da maioria da população.
e) Romantismo europeu e foi publicada no contexto de expansionismo inglês, em que a monarquia possuía manufaturas, terras e ouro, ao contrário da maioria da população.
2. (Pucrs 2018) A cidade, na época do Renascimento, é um ser de razão. Não é só vivida como também é pensada. (...) A cidade não deve ser apenas prática. É conveniente que seja também bela.
(DELUMEAU, Jean. A Civilização do Renascimento. Lisboa: Editorial Estampa, 1994, p. 258-261).
Com base na citação acima, que aponta para o novo contexto político, social, econômico e cultural da Europa nos séculos XVI e XVII, analise as afirmativas a seguir, preenchendo os parênteses com V (verdadeiro) ou F (falso).
( ) Os arquitetos projetaram tanto a forma urbana, a partir de formas geométricas belas ideais, quanto construíram, para a comodidade dos habitantes, os palácios, as praças, as fontes e os monumentos.
( ) A centralização do Estado e a ampliação da máquina burocrática para a administração dos negócios públicos, o comércio, a aplicação da justiça e a cobrança dos impostos exigiram que a nobreza se abrisse para o exercício de novas profissões.
( ) Foram criadas editoras, academias e bibliotecas, que permitiram a expansão da cultura letrada e a circulação de novas ideias nas principais cidades europeias.
( ) A laicização da cultura urbana provocou o abandono de práticas religiosas na vida cotidiana e a perda de importância da Igreja Católica na política.
O correto preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é
a) V – F – V – F
b) V – V – F – F
c) F – F – V – V
d) F – V – F – V
Gabarito:
Questão 1 - [D] – Morus vivenciou o Renascimento inglês que tinha como base as premissas do racionalismo, empirismo, humanismo, entre outros. Sua obra é uma análise da sociedade a partir da fantasia. Criou uma ilha utópica, com justiça irrestrita e pacífica, diferente da realidade que conhecia.
Questão 2 - [A] – As afirmações erradas são as II e IV. A segunda está errada porque a nobreza ainda teve seus privilégios mantidos com o Absolutismo. A quarta é falsa porque a Igreja Católica, mesmo com a Reforma, ainda manteve uma profunda influência na época.
- Inglaterra – “Período Elisabetano”
Antropocentrismo
Nacionalismo
Thomas Morus (1478-1535) – literatura fantástica
Francis Bacon – filósofo - Empirismo
Edmund Spenser (1552-1599), Christopher Marlowe (1564-1593) e William Shakespeare (1564-1616) – poesia e dramaturgia
Arquitetura - simetria, ordenação, proporção + gótico
- Espanha – “Século de ouro”
- Influência da Igreja – Contrarreforma e Inquisição
Humanismo - Universidades
Literatura - crônica
Miguel de Cervantes Saavedra (1547-1616) - Don Quixote de la Mancha – 1605 - romance
Garcilaso de la Vega (1503-1536) - poesia
- França
Escola de Fontainebleau
Arquitetura palaciana + gótico - Andrea Palladio (1508-1580)