Resumo de historia: A Semana de Arte Moderna de 1922



A Semana de Arte Moderna de 1922

Figura 1 - Cartaz sobre a Semana de Arte Moderna de 1922 - Prefeitura de São Paulo, Brasil [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Arte-moderna-8.jpg">via Wikimedia Commons</a>

Em República Oligárquica – Epitácio Pessoa (1919-1922) e Artur Bernardes (1922-1926) – o começo da mudança política aprendemos que na década de 1920 a política da República Oligárquica começara a ser questionada com mais ênfase do que anteriormente. A Semana de Arte Moderna de 1922 refletiu esse processo de mudança. Analisaremos as características do movimento, os principais artistas participantes e as consequências do evento para a cena artística brasileira.

Até então, o Brasil se apoiava nas artes produzidas e validadas pelas Academias de Belas Artes, que chegaram ao país após a Missão Artística Francesa em 1816 e ganhou forças no Segundo Reinado. Na Europa, desde o século XIX com o surgimento das novas formas de produção artística como o Impressionismo, o Neoclassicismo foi debatido e os salões de arte se encheram de obras consideradas transgressoras. No século XX, aconteceram os movimentos de vanguarda, como o Cubismo, Surrealismo, Dadaísmo, entre outros, que influenciaram diretamente os artistas brasileiros. Tanto as artes plásticas quanto a literatura ganharam novos contornos, sendo que esta última já era modificada desde o início do século.

Em 1902, Euclides da Cunha (1866-1909), publicou Os Sertões, que trouxe uma nova temática para o campo literário. Ele abordou a Guerra de Canudos, expondo a vida dos sertanejos com uma linguagem não utilizada até então. A inovação não passou despercebida, pois ele rompia com a estrutura da prosa que era normalmente publicada, como os romances indigenistas de José de Alencar (1829-1877): O Guarani de 1857 e Iracema de 1865. O Parnasianismo dominava a poesia, mas a discussão sobre outas formas de produção artística começou a ter força.

Em 1914, Oswald de Andrade (1890-1954) lançou a revista O Pirralho, junto de Dolor de Brito, pela qual questionava os rumos da arte no país e foi uma das faíscas que despertaram o Modernismo brasileiro. Outras ações demonstram como o evento de 1922 foi construído paulatinamente. Em 1913, Lasar Segall (1891-1957) realizou sua primeira exposição no Brasil nas cidades de São Paulo e Campinas. Sua obra era inspirada pelo Expressionismo alemão, principalmente pelo primeiro grupo que foi fundado em 1905, o Die Brücke ou “A Ponte”. A novidade trazida pelo artista impactou diversos brasileiros, inclusive Mario de Andrade (1893-1945), que escreveu sobre o ineditismo da mostra no país.

Entre 1917 e 1918 foi a vez de Anita Malfatti (1889-1964) expor seus trabalhos após ter estudado com as vanguardas alemãs e americanas. Em 1914, ela já havia feito uma pequena exposição, mas três anos depois se considerava mais madura. O diferencial foi se instruir em países sem tradição perante os pintores brasileiros, que normalmente iam para França e Itália. A elite artística e intelectual se mobilizou ainda mais do que fizeram com Segall. O barulho repercutiu alto o suficiente para despertar críticas. 

Em 20 de dezembro de 1917, Monteiro Lobato (1882-1948) publicou o artigo “A Propósito da Exposição de Malfatti” que é conhecido como “Paranoia ou Mistificação?”. Nele, o autor atacou os artistas que, como a pintora, se enveredaram pelas vanguardas artísticas. Para a pintora o efeito foi profundo, pois parou de pintar por um período e só retornou depois de parcerias com amigos. Para seus colegas, no entanto, a crítica os motivou a se organizarem para divulgar os novos rumos da arte brasileira e desafiar o academicismo. Em 1919, Manuel Bandeira (1886-1968) publicou o livro de poesias Carnaval, um marco no estilo por apresentar poemas que quebravam a métrica parnasiana, como o conhecido “O Sapo”, que foi lido na Semana de Arte de 1922. Outro nome importante foi Menotti Del Picchia (1892-1988), que em 1917 lançou Juca Mulato, seu livro de poesias de temática regionalista.

Figura 2 -  Mário de Andrade (sentado), Anita Malfatti (sentada, ao centro) e Zina Aita (à esquerda de Anita) - 1922 - Prefeitura de São Paulo, Brasil [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Arte-moderna-1922.jpg">via Wikimedia Commons<

Em 1922, 100 anos após a independência, entre 13 e 17 de fevereiro, o Teatro Municipal de São Paulo hospedou a Semana de Arte Moderna. A capital paulista era o símbolo da mudança causada pela industrialização e urbanização. O café foi outro motivo pelo qual o estado enriqueceu e permitiu o nascimento de uma burguesia que se interessou pelo progresso, inclusive nas artes. São Paulo abraçou os imigrantes, os recebendo após subirem a Serra do Mar a partir de Santos. Italianos, alemães, japoneses, sírios, libaneses etc. fazem parte da identidade local, marcada pela diversidade cultural. A cidade do Rio de Janeiro era vista como o berço do academicismo, pois foi repaginada à partir de influências francesas desde a chegada da Família Real em 1808.

O evento consistiu em saraus, palestras, conferências, exposições sobre a vanguarda artística brasileira. Graça Aranha (1868-1931), que havia publicado Canaã em 1902, abriu a Semana de Arte com a fala “A emoção estética da arte moderna”. Participaram desses dias os escritores: Mario de Andrade, Menotti Del Picchia, Guilherme de Almeida (1891-1969), Oswald de Andrade, entre outros. Nas artes plásticas estavam Di Cavalcanti (1897-1976), Malfatti, Vicente do Rego Monteiro (1899-1970), Yan de Almeida Prado (1898-1991), Zina Aita (1900-1968), e outros mais. Muitos deles ficaram conhecidos por exporem no evento. Dos músicos, os notórios foram Villa-Lobos (1887-1959) e Guiomar Novaes (1895-1979), mas outros também se apresentaram.

Os dias foram frutíferos e turbulentos. Atraíram vários curiosos que não entenderam o propósito dessa nova forma de expressão artística. A intenção principal dos modernistas era criar a identidade brasileira sem interferência externa. Queriam que a tradição neoclássica ficasse no passado e que o Brasil adotasse um novo olhar em relação à arte. As vanguardas artísticas deveriam servir de inspiração e não uma cartilha a ser copiada. Para desenvolver a brasilidade deveriam voltar-se para si, entender o que era o nosso país. Daí o surgimento da temática sertaneja, regional, indígena.

A ideia de “destruir” a tradição veio do artigo “O movimento modernista” de Mario de Andrade, lançado em 1942 n’O Estado de São Paulo, 20 anos após a mostra de 1922. Ele analisa as repercussões do evento e estabelece a importância do mesmo na construção de uma nova arte que destituiu o conservadorismo. A América Latina, no geral, buscava criar e fortalecer as identidades nacionais e se desvencilhar das metrópoles.

Figura 3 - Publicação do Manifesto Antropófago com os contornos da obra O Abaporu, de Tarsila do Amaral - 1928 - Mrwildeson [<a href="https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0">CC BY-SA 4.0</a>], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Manifesto_An

As consequências do movimento modernista foram profundas para o cenário artístico brasileiro. Em 1928, Tarsila do Amaral (1886-1973) era aclamada pela sua obra O Abaporu. Seu estilo se tornou marcante por enfatizar a multiplicidade étnico-cultural do país. Em 1928, Oswald de Andrade escreveu o “O Manifesto Antropófago” (ou Antropofágico), publicado na Revista de Antropofagia. Ele propôs, ao combinar a teoria de diversos autores, de Montaigne a Freud, juntar as tradições indígenas com as coloniais para formar o que seria a cultura brasileira. A estética moderna será adotada em várias áreas ao longo das décadas seguintes, atingindo a arquitetura também.

A Semana de Arte Moderna de 1922 foi o primeiro passo para que a arte brasileira mudasse profundamente e refletia as mudanças políticas do período. O crescimento industrial proporcionado pelas consequências da Primeira Guerra Mundial com a escassez de produtos europeus e o aumento do consumo interno. Assim, o desenvolvimento urbano foi impulsionado na década de 1920, e alcançava números cada vez maiores, mesmo que o país permanecesse essencialmente rural. A imprensa ganhava mais público, e se investiu mais em transportes e nos meios de comunicação. Esse cenário é importante para entendermos o porquê da transformação no campo artístico.

1. (Upe 2013) Considere a imagem seguinte:

O quadro Os operários (1933), de Tarsila do Amaral, é um dos exemplos da arte moderna brasileira. Com base na análise desse quadro e no contexto histórico de sua produção, analise as seguintes afirmações:

I. Esse quadro foi o marco inicial da pintura modernista no Brasil.

II. A Semana de Arte Moderna, realizada no Rio de Janeiro, em 1922, foi um dos eventos iniciais de divulgação da estética modernista no país.

III. O quadro Os operários representa, entre outras questões, a diversidade étnica do povo brasileiro.

IV. Além de Tarsila do Amaral, destacaram-se, na pintura modernista brasileira, as figuras de Anita Malfatti e Cândido Portinari.

V. A presença africana no Brasil também está representada na referida obra da artista.

Estão CORRETAS

a) I, II e IV.   

b) II, IV e V.   

c) III, IV e V.   

d) I, III e V.   

e) II, III e V.   

2. (G1 - ifba 2016) Política e cultura andaram muito próximas nos anos 20. Cada uma a seu modo trazia ventos de mudança. (...). Na cultura, o grande evento, sem dúvida, foi a realização da Semana de Arte Moderna, em fevereiro de 1922, (...) que ajudou a projetar uma geração de importantes escritores e artistas, como Mario de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Heitor Villa-Lobos e Guiomar Novais, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral e Vitor Brecheret.

(Fonte: TEIXEIRA, Francisco M. P. Brasil: História e Sociedade. São Paulo: Ática, 2002. p. 255. Adaptado.)

No contexto de efervescência político, cultural e ideológico, que marcou o Brasil a partir dos anos de 1920, a Semana de Arte Moderna cumpre o importante papel de:

a) identificar influências artísticas e culturais europeias que estivessem compatíveis com os interesses da burguesia cafeeira brasileira, descontente com as velhas tradições culturais.   

b) buscar uma arte moderna de raízes brasileiras e de compromisso com a nacionalidade, promovendo uma revisão de valores artístico-culturais, de linguagem e conceitos.   

c) estabelecer fóruns de discussões intelectuais, no sentido de garantir o respeito à tradição artística e cultural do país e impedir a adesão às novas tendências das artes que vigoravam na Europa.   

d) substituir os velhos valores artísticos e culturais brasileiros de base nacionalista por outros mais modernos e identificados com o capitalismo dos Estados Unidos, fonte de inspiração para a arte mundial.   

e) romper com a liberdade criadora que ameaçava a tradição artística brasileira, impondo uma unidade na produção artístico-cultural com base na valorização da linguagem e dos velhos conceitos artísticos.   

Gabarito: 

Questão 1 - [C] – Essa é uma questão parecida com o modelo ENEM, porque propõe a análise da imagem. O aluno deve saber relacionar os problemas surgidos a partir da industrialização, além da miscigenação brasileira, como o quadro da Tarsila do Amaral demonstra. É um viés moderno dar destaque a essa perspectiva da história brasileira.

Questão 2 - [B] – A Semana de Arte Moderna de 1922 foi um movimento de contestação do status vigente, não só artístico como cultural. Eles valorizavam o que era considerado nacional, e não importado.

 

Semana de Arte Moderna de 1922 – Uma crítica às Academias de Belas Artes (origem na Missão Artística Francesa em 1816 e fortalecimento no Segundo Reinado)

- 1902, Euclides da Cunha (1866-1909), publicou Os Sertões

- 1914, Oswald de Andrade (1890-1954) lançou a revista O Pirralho

- Em 1913, Lasar Segall (1891-1957) fez a primeira exposição no Brasil – inspiração no Expressionismo alemão

- 1917 e 1918, exposição de Anita Malfatti (1889-1964)

- 1919, Manuel Bandeira (1886-1968) publicou o livro de poesias Carnaval - “O Sapo”

13 e 17 de fevereiro de 1922 - Semana de Arte Moderna

Graça Aranha (1868-1931) - abriu a Semana de Arte com a fala “A emoção estética da arte moderna”.

- Construção de uma nova arte que destituiu o conservadorismo.