Resumo de historia: Política Externa do Segundo Reinado



Política Externa do Segundo Reinado

Figura 1 - Questão Christie - Victor Meirelles - 1864 - Museu Nacional de Belas Artes/Rio de Janeiro

O Segundo Reinado (1840-1889) foi um período em que houve tanto desenvolvimento econômico como uma certa paz interna, se comparado à Regência – link. A política externa foi marcada pela imposição da colocação privilegiada do Brasil perante a América do Sul e, também, de conflitos com a Inglaterra. A Guerra do Paraguai (1864-1870), as intervenções no Sul e atritos com as províncias platinas, e a Questão Christie foram problemas específicos. Aqui, abordaremos as duas últimas, enquanto a Guerra será tratada em outro texto.

A diplomacia brasileira se desenvolveu no reinado de D. Pedro II e amadureceu. O país, naquele momento, buscava sobrepor suas necessidades às influências estrangeiras. Essa mudança entrou em choque e, dessa forma, interferia na política do país. Uma das grandes questões da época era a escravidão. Os europeus pressionavam o governo brasileiro a finalizar com o sistema escravista. As leis formuladas aqui não eram vistas como suficientes, além de não terem sido empregadas com afinco. Se a exigência era feita desde o reinado de D. João VI, a primeira medida efetiva só ocorreu em 1850, com a Lei Eusébio de Queirós e o fim do tráfico de escravos. Sabe-se que a prática inglesa de invadir o domínio marítimo brasileiro foi fundamental para o cumprimento da lei, mesmo tendo desagradado boa parte dos políticos daqui. Contudo, o episódio mais famoso de estremecimento das relações diplomáticas entre Brasil e Inglaterra foi a Questão Christie. O embaixador inglês nos trópicos, William Dougal Christie (1816–1874), foi o responsável pela péssima condução de dois problemas, que levaram ao rompimento entre os dois países.

Figura 2 - Retrato de William Dougal Christie - George Richmond - c. 1840 - https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f7/William_Dougal_Christie.jpg

Em 1861, o navio Prince of Wales – Príncipe de Gales – naufragou perto do Rio Grande do Sul. Os produtos presentes na embarcação foram saqueados, causando irritação no embaixador. Vale destacar que historiadores o definem como uma pessoa de difícil trato, característica problemática para quem ocupava sua posição de, geralmente, mediador de interesses. Investigações foram realizadas para desvendarem a questão, mas Christie se precipitou e exigiu uma alta indenização, de 3200 libras, do governo brasileiro. D. Pedro II não aceitou a demanda, e decidiu não pagar.

A situação piorou em 1862, quando marinheiros britânicos foram presos no Rio de Janeiro. Apesar de estarem embriagados e perturbando a paz local, ao serem identificados pelas autoridades brasileiras, logo foram libertos. O embaixador, novamente, intercedeu com força desmedida e criou um conflito desse episódio pontual. Reivindicou uma punição veemente aos policiais que prenderam os europeus além de uma retratação por parte do governo. Para fechar a lista de demandas, recordava o pagamento da indenização referente ao navio roubado. Mais uma vez, o imperador recusou a ceder.

O que era um pequeno caso de distúrbio social se tornou um problema sério quando em dezembro de 1862, embarcações brasileiras foram apreendidas pelos ingleses sem um motivo aparente. Tanto governo quanto população se voltaram contra as atitudes desproporcionais do embaixador. Visando solucionar o problema diplomático, o imperador requisitou a ajuda do rei belga Leopoldo I (1790-1865). Ele analisava toda a situação e definiria quem estava certo. Assim, evitavam um conflito armado, que não era favorável a ninguém, sobretudo ao Brasil. O monarca declarou que as atitudes inglesas foram incorretas. Portanto, estes deveriam se desculpar com o governo brasileiro, o que não aconteceu. Dessa forma, as relações diplomáticas entre os dois países foram cortadas, mas os acordos econômicos mantidos. O Brasil demonstrou força na escolha de não sucumbir perante as exigências inglesas.

As questões na região do Rio da Prata, chamadas também de questões platinas, se relacionavam ao domínio do local e envolveu Argentina, Paraguai, Uruguai e Brasil. A independência desses países do domínio espanhol ocorreu na década de 1810 e 1820, sendo o Uruguai o último a se tornar autônomo. Ele sempre esteve no meio da disputa pela bacia do rio da Prata. A Argentina sempre disputou a hegemonia na região com o Brasil que interferia diretamente na política Uruguai. Como vimos em Confederação do Equador e Guerra Cisplatina

a posição brasileira na América do Sul era análoga à da Inglaterra junto a nós. Esse imperialismo brasileiro ajudou no crescimento de um sentimento platino. A intenção, por sua vez, era ter acesso ao rio, pois assim controlaria melhor os territórios às suas margens, desde o Rio Grande do Sul até o Mato Grosso.

Na década de 1850, o conflito contra o Uruguai se destacou. Este país vivia problemas políticos internos desde 1828, quando se tornou independente. O Parlamento ficou polarizado entre os blancos, partido do candidato vencedor das eleições Manuel Oribe (1792-1857); e os colorados. Ambos alternavam o controle do poder no país desde a década de 1830.

Oribe era apoiado pelo presidente argentino Juan Manuel Rosas (1793-1877), enquanto os colorados tinham suporte o Brasil, que auxiliou as revoltas internas da oposição. O chefe de Estado blanco foi afastado após uma ação do general argentino Justo José de Urquiza (1801-1870), que governava a província de Entre-Rios. Contrário a Rosas, o militar recebeu apoio do Brasil e do Paraguai, que se aliaram em 1850. Dessa forma, José Fructuoso Rivera y Toscana (1784-1854), líder colorado, assumiu a presidência.

Percebe-se que as alianças eram feitas de acordo com a necessidade do momento e as interferências nas políticas locais eram frequentes. Um exemplo foi o papel do Brasil no processo de destituição do presidente argentino Rosas. Ao apoiar a queda de Oribe, atingiu indiretamente Rosas, que era aliado do uruguaio. O general Urquiza foi ajudado pelo Império, e após o conflito armado, em 1852, tomou posse da presidência argentina.

Essa instabilidade continuou por anos no Uruguai. Em 1863, por sua vez, o país era presidido por Bernardo Prudencio Berro y Larrañaga (1803-1868), do partido blanco quando um confronto político generalizado teve início, causando a sua saída do poder. Quem assumiu provisoriamente foi o presidente do Senado Atanasio de la Cruz Aguirre Aguado (1801-1875), que era blanco. A situação não se acalmou, e escalou com a rebelião organizada pelo general, e colorado, Venancio Flores (1808-1868). Os países ao redor logo se manifestaram. O Paraguai já era liderado por Francisco Solano López Carrillo (1826-1870), figura importante na Guerra do Paraguai. Sua intenção era, acima de tudo, a manutenção da soberania uruguaia perante as constantes investidas argentinas e brasileiras. Mesmo tendo essa posição decidiu não apoiar Flores devido a sua atuação violenta. A Argentina apoiava o general, pois queria voltar a ter influência no país. Já o Brasil esperava a movimentação porteña para se posicionar. Contudo, a estratégia diplomática do Império foi afetada por um episódio interno. A província do Rio Grande do Sul passou a auxiliar os rebeldes, indo de encontro à posição brasileira. Isso deflagrava os constantes problemas com as fronteiras sulistas. Enquanto os países se confrontavam nas vias diplomáticas, Flores invadiu Montevideo e Aguirre fugiu. A partir desse momento, em 1864, a relação entre Brasil, Argentina e Paraguai se deteriorou, dando espaço para início da Guerra do Paraguai no mesmo ano.

 

As problemáticas da Questão Christie e a interferência na política Cisplatina mostram o papel do Brasil perante seus vizinhos, sendo a Guerra do Paraguai a grande questão do período. É importante relacionar esses episódios, e os vestibulares focam nas ações brasileiras.

1. (Fac. Pequeno Príncipe - Medici 2018)  Leia o texto abaixo e assinale a alternativa que indica o conflito militar ao qual o documento faz referência.

 

S. M. o Imperador do Brasil, e os governos da República Oriental do Uruguai, e dos estados de Entre-Rios e de Corrientes, reconhecendo que as declarações oficiais do Governador de Buenos Aires, e o caráter dos preparativos bélicos que está fazendo, os colocam no caso da aliança comum estipulada no art. 15 do convênio de 29 de maio deste ano, contra aquele Governo, cuja existência se tem tornado incompatível com a paz, a segurança e o bem-estar dos Estados

Aliados, acordaram estabelecer, em uma convenção especial, o modo e os meios de satisfazer os deveres dessa aliança, malogrando as intenções e disposições hostis do dito Governador [...].

Convênio especial de aliança entre o Império do Brasil, a República Oriental e os Estados de Entre-Rios e Corrientes. In: TITÁRA, L. dos S. Memórias do grande exército libertador do Sul da América na guerra de 1851 e 1852. Rio Grande do Sul: Typographia Berlink, 1852.

a) Guerra da Cisplatina.    

b) Guerra do Paraguai.    

c) Guerra do Prata, também conhecida como Guerra contra Oribe e Rosas.    

d) Guerra do Chaco.    

e) Guerra do Pacífico.    

2. (Unisc 2016)  Na História do Rio Grande do Sul, encontramos diferentes exemplos de disputas entre portugueses e espanhóis, entre grupos políticos regionais, e de conflitos sucessivos em torno de interesses e de fronteiras na Região do Prata. Assinale a alternativa que apresenta exemplos desses conflitos, com a participação sul-rio-grandense, no século XIX.

a) Campanha da Legalidade, Guerra da Cisplatina e Guerra do Paraguai.   

b) Guerra da Cisplatina, Guerra contra Aguirre e Guerra do Paraguai.   

c) Revolução Farroupilha, Revolução de 1923 e Revolução Federalista.   

d) Revolta da Armada, Guerra da Cisplatina e Confederação do Equador.   

e) Guerra da Cisplatina, Guerras Guaraníticas e Campanha da Legalidade.   

Gabarito: 

Questão 1 - [C] – Os conflitos da América do Sul se relacionavam aos processos de independência e instituição da autonomia política. Aqui se refere às questões da Cisplatina.

Questão 2 - [B] – conflitos entre Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai foram fundamentais no estabelecimento da política desses países, e, no caso brasileiro, o Rio Grande do Sul esteve envolvido em muitos desses confrontos.

 

Questão Christie: 1863-1865 – quebra das relações diplomáticas entre Brasil e Inglaterra. Embaixador W. D. Christie: ações desmedidas – aprisionamento de navios brasileiros. Interferência da Bélgica.

Questões platinas – posição imperialista do Brasil na América do Sul, sobretudo países platinos. Uruguai sofre intervenção das tropas brasileiras. Queda de Oribe – blanco – entrada de Rivera – colorado. Argentina tem a queda de Rosas e Urquiza assume.