Resumo de sociologia: O universo da cultura II



Antropologia e cultura no Brasil, Intérpretes do Brasil

Em termos de formação do povo brasileiro podemos afirmar que houve uma grande miscigenação, isto é, uma grande mistura entre índios, europeus e africanos. Essa diversidade cultural, ética e social presente no país é naturalmente um atrativo para antropólogos de todas as partes do mundo desde o século XVI, interessados em descobrir os mistérios e segredos da heterogeneidade de povos e culturas. Embora seja necessário conhecer que houve inúmeros trabalhos realizados antes de 1930, é somente nessa década que a antropologia brasileira dá um grande salto a partir do trabalho do marechal Cândido Rondon, sob ordens de Getúlio Vargas, a fim de unificar, através de uma perspectiva evolucionista, o território brasileiro sobre uma única cultura. Na década seguinte passou a ser influenciada pelo culturalismo, de Franz Boas, e pelo estruturalismo, de  Claude Lévi-Strauss, além de nomes como Orlando e Cláudio Villas Bôas. Seus trabalhos foram elementares para mudanças de uma concepção integracionista, para preservacionista, posicionamento típico de diversos autores brasileiros, como Gilberto Freyre, Darcy Ribeiro, Luís da Câmara Cascudo entre outros. Até a primeira metade do século XX, não podemos afirmar que havia uma sociologia tipicamente brasileira, pois a visão sociológica que dominava o Brasil era a europeia, sem mencionar a clara aceitação das teorias do racismo científico europeu. Nesse cenário, colaboraram para desmistificação da teorias evolutivas e racistas, os trabalhos de Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, com a tese do “homem cordial”, que não só defendiam a mestiçagem, mas também buscavam uma identidade própria do brasileiro, sua “brasilidade”.

 

Patrimônio cultural, material e imaterial

Cultura material e imaterial constituem os dois tipos de patrimônio cultural que formam a cultura de um determinado grupo ou sociedade. São modalidades que pressupõem, por um lado, a existência de elementos culturais fisicamente construídos e, por outro lado, elementos culturais que não possuem uma criação física e material pela qual possam existir fisicamente. A cultura material é composta por todo tipos de objetos, artefatos, utensílios, construções, obras arquitetônicas e, em geral, todos os instrumentos produzidos por um determinado povo ou cultura e que existem concretamente. A título de exemplo: as Igrejas do centro histórico de Ouro Preto, Minas Gerais; o Pelourinho, em Salvador; os Arcos da Lapa, no Rio de Janeiro; e a Serra da Barriga, Zona da Mata do Estado de Alagoas, local onde se estabeleceu a confederação de quilombos de Palmares no século XVII. Já o Patrimônio Cultural Imaterial é constituído por componentes que não possuem existência física, isto é, que não existem materialmente. Possuem associação a prática, saberes, crenças, gírias, variações linguísticas, festas populares, como o forró, axé, quadrilhas e em suma todas as manifestações que fazem parte da cultura de um povo, mas que não existem substancialmente. São exemplos do Patrimônio Imaterial no Brasil: o queijo de Minas Gerais; o frevo e o maracatu de Pernambuco; ofício das paneleiras do Espírito Santo e a viola de cocho de Mato Grosso. No Brasil, o órgão encarregado da preservação patrimonial é o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

 

Teoria crítica da indústria cultural

Em 1920 um significativo grupo de pesquisadores das ciências sociais, formado por Theodor Adorno, Max Horkheimer, Walter Benjamin e Herbert Marcuse se reuniram e fundaram um instituto de pesquisas com a finalidade de estudar as novas transformações sociais que surgiam desde a Revolução industrial e Revoluções burguesas do fim do século XVIII. Seu principal objetivo era compreender as novas sociedades e práticas culturais que surgiram após o desenvolvimento do capitalismo industrial, extremamente marcado pelos meios de comunicação em massa e pela necessidade de consumo como uma deficiência biológica e natural. Apesar da indústria cultural constituir um fator de extrema importância na formação de consciência coletiva, seus produtos não poderiam ser considerados, pelo menos não a partir do ponto de vista crítico, produções artísticas, isso porque não representariam mais uma classe ou grupo social específico, na medida que estariam extremamente subordinados às relações e lógicas de mercados. Nessa perspectiva, a industrial cultural estaria transformando a arte e a cultura em meros produtos comercializados a partir da repetição de padrões e estandardização de práticas de consumo amplamente difundidas. Segundo Adorno e Horkheimer, a cultura estaria sendo processada e produzida com meras finalidades de mercado, isto é, de comercialização e isto a conduziria a perder suas características específicas. Adorno e Horkheimer produziram severas críticas a este formato de produção, sobretudo, na obra Dialética do Esclarecimento de 1985.

 

Adorno e Horkheimer

Theodor Adorno e Max Horkheimer foram os dois importantes teóricos da Escola de Frankfurt, Alemanha, responsáveis por desenvolver o termo “indústria cultural”, o qual se refere à maneira de fazer arte em escala industrial. Adorno nasceu em Frankfurt em 1903, e estudou na Universidade de sua cidade, na qual junto de outros importantes intelectuais da época fundaram o “Instituto de Pesquisas  Sociais”, conhecido mais tarde como “Escola de Frankfurt”. Contemporâneo de Adorno, Horkheimer também nasceu na Alemanha, na cidade de Stuttgart, em 1895, local onde estudou e concluiu doutorado em filosofia, em 1922. Respeitado pensador da “Escola de Frankfurt”, Horkheimer agiu ativamente com trabalhos e pesquisas que buscavam compreender as sociedades, sobretudo no âmbito cultural, do capitalismo pós-industrial. Ambos autores foram importantes críticos da produção cultural e artística desenvolvida após a Revolução Industrial, a partir da qual, segundo os autores, a arte teria perdido sua essência e particularidade, tornando-se um mero produto em benefício do lucro. Transformada em produto, a arte, consequentemente, perderia três características básicas: expressividade, criatividade e valor revolucionário. A perda desses elementos foi suficiente para que os autores apontassem o surgimento de uma pseudo-arte viabilizada pela prática de produção em massa. No entanto, o fenômeno não é exclusivo das artes, pois aparece na cultura, padronizada, estandardizada e ajustada às normas de mercado e pressão econômica.
 

Relativismo Cultural

Diferentemente do posicionamento defendidos pelas teorias de superioridade europeia, aplicadas sobretudo na África e Ásia durante o imperialismo europeu dos séculos XIX e XX, como o evolucionismo e darwinismo social, o relativismo social, como o próprio nome sugere, favorece uma visão e interpretação particular de cada cultura. Observar distintas culturas de maneira livre de qualquer etnocentrismo, isto é, sem julgamento do outro a partir de suas práticas e experiências culturais é a principal base desta perspectiva antropológica. Desse modo, é fácil concluirmos que o relativismo se opõe a categorização cultural como superior ou inferior, na medida que afirma que cada cultura ou grupo social possui uma cultura específica que só pode ser analisada a partir de suas próprias características e códigos culturais. Esse método pressupõe que o investigador tenha uma visão neutra acerca dos hábitos, crenças e comportamentos culturais da sociedade ou grupo, embora possam aparentemente lhe parecer estranhos em primeiro plano, a qual está analisando. Isso corresponde na prática o próprio exercício do relativismo cultural, afastar aspectos de sua cultura ao contactar outras a fim de evitar julgamentos e exercícios comparativos, nos quais nossos padrões culturais sempre parecem possuir supremacia e superioridade. Erro comum de pesquisadores e estudiosos que blindados de seus hábitos e práticas culturais parecem cometer quando não procuram efetuar a atividade de relativizar, isto é, de se colocar neutro ao analisar distintas culturas.