Durkheim: quem foi, contexto
Émile Durkheim foi um sociólogo, filósofo e antropólogo francês considerado, ao lado de Augusto Comte, fundador da Sociologia no século XIX. Nasceu na França, em 1858, em um período marcado por profunda instabilidade política e social, além de conflitos entre o individualismo liberal e o socialismo influenciado por autores como Marx, e lá viveu até sua morte, em 1917. Junto de Karl Marx e Max Weber, compõe a tríade dos pensadores clássicos da sociologia moderna. Inspirado em Augusto Comte que propôs a criação de uma ciência capaz de estudar e nortear o progresso social diante das transformações econômicas, políticas e sociais que passava a Europa no final do século XVIII e início do XIX, dedicou sua trajetória intelectual ao desenvolvimento de regras e métodos sociológicos emancipando e materializando a sociologia enquanto ciência autônoma. Preocupou-se sobretudo em explicar os elementos capazes de manter coesa a sociedade que se desenhava a partir da dupla revolução dos finais do século XVIII na Europa, elaborando como método científico de investigação o fato social. De acordo com Durkheim, todas as comunidades possuem hábitos e maneiras de agir e pensar que determinam a forma como os indivíduos se comportam coletivamente. Essas regras, valores e normas sociais que submetem as pessoas a agirem de acordo com padrões culturais da comunidade em que estivesse presente seriam os fatos sociais. Nesse sentido, o trabalho do sociólogo seria estudá-los a fim de compreender os princípios que organizam a sociedade em um determinado tempo e local, como por exemplo, a educação.
Consciência coletiva e coesão social
Durkheim forjou ambos os conceitos estudando a funcionalidade da sociedade enquanto espaço coletivo de convivência social. Assim como Comte, Durkheim assemelhava a sociedade a uma grande máquina ou organismo vivo, a um corpo composto por múltiplas partes e por isso sua Sociologia ficou conhecida como funcionalista, na medida que busca compreender o todo em função de suas partes. Sua unidade e funcionamento seria possível em sociedade através de um conjunto de características e conhecimentos comuns que criariam uma identidade coletiva a qual Durkheim chamou de consciência coletiva. Segundo ele, esses padrões de comportamentos, que viabilizaram a vida em comunidade, correspondem às normas, leis morais e éticas, e representações coletivas que possibilitariam que os indivíduos pensassem e agissem de modo equivalente. Para Durkheim esses elementos não estariam na consciência individual, sendo necessário inseri-los por meios das instituições sociais, responsáveis pela internalização de tais comportamentos. As três instituições sociais mais usuais, embora não sejam as únicas, são a família, o Estado e a religião, consideradas pilares da vida em sociedade. De acordo com ele, a consciência coletiva influencia os indivíduos de maneiras distintas em razão da sociedade na qual estão inseridos. Assim, cada sociedade exerceria um tipo de influência com base em seus princípios e regras de convivência social, determinando maior ou menor grau de coesão social. De modo geral poderíamos afirmar que consciência coletiva é um conjunto de prática, ações e conhecimentos que permitem a vida comunitária, enquanto a coesão social seria a absorção desses comportamentos pelos membros da comunidade, agindo dessa forma, de maneira semelhante.
Os fatos sociais
O fato social foi um conceito criado por Émile Durkheim na necessidade de desenvolver um método de investigação científica que fosse somente da sociologia. Para Durkheim havia a necessidade substancial de entender como a sociedade se estrutura, sua origem e funcionamento. De acordo com ele, fatos sociais são formas de agir, pensar e sentir que se generalizam como uma regra de convivência social entre todos os indivíduos de uma sociedade ou comunidade científica. No entanto, nem todos os hábitos coletivos podem ser considerados fatos sociais, como por exemplo, dormir e comer, embora partilhados universalmente, não fazem parte desse universo, na medida que representam necessidades biológicas sendo assim assunto das ciências naturais. Segundo ele, o fato social pode ser identificado a partir de sua capacidade de coesão social e externalidade em relação ao indivíduo. Em muitos casos essas formas de agir e pensar são expressas em conjuntos de normas oficiais do Estado ou país, como as leis. Em outros casos estão relacionadas a hábitos culturais, religiosos e comportamentais de um determinado povo ou comunidade específica. Tudo parece ficar mais claro quando estudamos culturas diferentes da nossa, pois os comportamentos que julgamos estranho para nós, para outra cultura pode estar instituído como um hábito naturalmente estabelecido, como uma prática ou comportamento que se reproduz independentemente da vontade de seus membros. O fato é que independentemente de como, onde e quando são expressos constituem uma poderosa força de identidade e unidade coletiva.
Divisão social do trabalho e as formas de solidariedade
:Por divisão do trabalho compreende-se as funções, individuais ou coletivas, de produção nas estruturas socioeconômicas. Uma de suas principais características é o aumento da produtividade com a especialização do trabalho que permite a maior circulação de produtos a menor preço. Esse tipo de organização surgiu com as transformações ocorridas no âmbito da Revolução Industrial que provocaram não só modificações na vida social, como também nos sistemas financeiros com a consolidação do sistema capitalista e mecanização do trabalho. Para Durkheim, no entanto, a divisão social do trabalho não se limitaria à especialização de funções econômicas, mas também ao surgimento de outras instituições profissionais, como o sistema educacional, legislativo, judiciário entre outras. Segundo ele, seus princípios são mais morais do que econômicos, pois a forma como se estrutura fomenta nos indivíduos um sentimento de solidariedade entre aqueles que desempenham as mesmas funções. Dessa forma, Durkheim buscou compreender como a organização do trabalho influencia as relações de solidariedades, fator elementar da coesão social por um tempo específico. De acordo com ele, haveria duas formas básicas de solidariedade, a primeira mecânica, típica das sociedades tradicionais e anterior a modernidade, na qual a consciência coletiva restringia as ações dos indivíduos. Haveria menor divisão do trabalho em razão do tipo de produção e, consequentemente, maior coesão social da estrutura trabalhista. A segunda, orgânica, seria marcada pelo capitalismo e maior divisão social do trabalho, causada pelas especializações das funções, gerando uma interdependência entre os indivíduos e as distintas tarefas.
Suicídio
Émile Durkheim se tornou pioneiro no estudo sobre o suicídio ao afirmar que tal prática possui inferências sociais e, portanto, deve ser estudada a partir da influência que o corpo social lhe exerce. Sua leitura sobre o fato social foi expressa sobretudo em sua obra intitulada O Suicídio, publicada em 1897, na qual Durkheim busca através da aplicação de seu método sociológico as relações de causa e efeito por trás de uma decisão tomada como individual. Segundo Durkheim, haveria três tipos de suicídio: o suicídio egoísta, o suicídio altruísta e o suicídio anônimo. O primeiro, seria aquele no qual o ego individual se afirmar mediante as relações sociais, haveria nessas circunstâncias uma individualização desmensurada. Com essa ruptura das relações com a sociedade o indivíduo não veria mais sentido na vida, não encontraria mais razão em existir e isso o conduziria a tal prática. O segundo caso, seria aquele no qual o indivíduo se sentiria na obrigação de realizá-lo a fim de libertar-se de uma vida insuportável. Esse tipo de suicídio seria mais comum nas sociedades arcaicas, na qual o indivíduo estaria disposto a dar sua vida em nome de uma nação ou religião. Exemplos modernos de tal prática são os Kamikazes japoneses e os muçulmanos que colidiriam com o World Trade Center em Nova York, em 2001. O terceiro caso, é típico de períodos de anomalia social, como crises econômicas, guerras e fases de instabilidade social, períodos em que as taxas “normais” de suicídio tenderiam a aumentar. Exemplos de suicídio anônimo são Primeira e Segunda Guerra Mundial e a quebra da bolsa de valores de Nova York, grande depressão, em 1929.