Globalização, capitalismo e questões sociais
Figura 1 - Mapa de rotas aéreas - Demonstrando o quão conectado está o mundo - 2009 - Jpatokal [<a href="https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0">CC BY-SA 3.0</a>], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:World-airline-routemap-2009.png">via Wiki
O conceito de Globalização está presente nas nossas vidas diariamente. Vemos nos livros escolares, nos jornais, e vivemos os seus efeitos com a internet. Contudo, tem profunda complexidade e é isso que mostraremos aqui. Esse processo teve várias características ao longo do tempo, e veremos como chegamos na nossa concepção, qual a relação com o capitalismo e quais são as consequências.
Globalização é um conceito que todos os alunos do século XXI já ouviram ou leram em algum momento de suas vidas. Hoje, temos uma ideia específica do que significa, sendo que, no geral, se relaciona à aproximação das relações econômicas, políticas, sociais e culturais, acelerada na década de 1990 com o fim da Guerra Fria. Essa percepção não está errada, porém, entender a globalização é muito mais complicado do que isso, mas não impossível.
Antes de tudo, a “ampliação” do mundo não é fruto da sociedade contemporânea. Na História, vemos momentos parecidos, como o domínio do Oriente Médio e de parte da Ásia feito pelo Império Macedônico; a expansão do Império Romano tanto em seu território, como na política. No início da Idade Moderna, as Grandes Navegações foram a retomada desse ímpeto expansionista, encorajadas pela necessidade de ampliação de mercado e de se encontrar mais produtos para serem consumidos por uma Europa em efervescência cultural e econômica. Assim sendo, a ideia de se globalizar, de dominação do mundo, de hegemonia e monopolização, não são prerrogativas da contemporaneidade, mas ganhou novas características. Isso acontece em todos os processos históricos, pois em cada época possui sua premissa, seu contexto, e é a partir daí que conseguimos começar a entender o que ocorre hoje em dia.
Em 1760, ocorreu a Revolução Industrial na Inglaterra, transformando completamente as relações econômicas, políticas e sociais do ser humano. Um dos pontos importantes é que o capitalismo industrial surgiu daí e a sociedade precisou se adaptar às novas necessidades que foram criadas. Nesse momento, e até a metade do século XX, a maioria dos países enfatizavam o crescimento do consumo interno. Lembre-se que todos eram basicamente rurais, com produção de subsistência e artesanal de produtos para si, principalmente as colônias. No século XIX, Inglaterra e outros países europeus buscaram mercado consumidor externo para ampliar suas áreas de influência, assim como necessitavam de produtores de matéria-prima para seus produtos industrializados. Porém, ainda era em uma escala menor.
Após a Segunda Guerra Mundial, houve uma transformação contundente do mercado consumidor. A preocupação agora dos países industrializados se voltou ao mercado externo, e a produção focou nisso. Os produtos passaram a ter matéria-prima de um local, montagem em outro, para serem vendidos em um terceiro. Criou-se uma interdependência econômica em larga escala, isto é, as economias precisam umas das outras. Já acontecia anteriormente, o processo foi aprofundado. Com o fim da Guerra Fria e o desenvolvimento do Neoliberalismo, a Globalização adquiriu novas características, similares às que nós vivemos hoje.
O capitalismo, agora, é financeiro, ou seja, estruturado a partir das transações financeiras ou bancárias. Dessa forma, ocorre uma monopolização do capital, que é movimentado pelos maiores mercados e pelos países mais ricos. O mercado é global, pois tanto a compra quanto a venda ocorrem em níveis mundiais, mas são controlados pelos interesses de uma minoria. Isto é, as principais economias (Estados Unidos, Europa, China) padronizam os acordos comerciais ao pressionares os países mais desfavorecidos – geralmente os produtores de matéria-prima ou fornecedores de mão-de-obra barata – a aceitarem os termos ou se tornariam alheios ao sistema. Nesse tipo de economia tão conectada, não participar é um problema financeiro muito grande para o país, que não se torna competitivo internacionalmente. Então, muitos mercados cresceram a partir desses acordos, como o Sudeste Asiático, porém, desregulamentaram a produção, o que significa tirar leis de proteção seja para o próprio consumo, meio ambiente ou para os trabalhadores.
Muitos concordam que a amplitude comercial auxiliou na criação de milhões de empregos em países muito populosos e com péssimo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). De acordo com as taxas mundiais, muitas pessoas saíram da pobreza extrema por causa dessas oportunidades. Porém, não podemos fechar os olhos para as consequências disso. Mesmo que essas pessoas não sejam mais miseráveis, muitas são exploradas e não tem legislação trabalhista que as proteja. Temos, portanto, um sistema que privilegia o lucro e dá poucas oportunidades de ascensão econômica e social para aqueles que ainda não são os privilegiados pelo mesmo.
Outra característica da Globalização é o aumento na circulação tanto de mercadorias quanto de pessoas. Se no início do século XIX levava-se 2 meses para atravessar o Oceano Atlântico, hoje isso ocorre em algumas horas. Para as mercadorias, a lógica é a mesma, já que em menos de uma semana os produtos saem da Ásia e chegam à América de navio. Essa facilidade deixou as fronteiras flexíveis, ou seja, as migrações ocorrem mais intensamente. Elas podem ser tanto de mão-de-obra barata que busca melhorar de vida – por exemplo, os latino americanos que migram para os Estados Unidos – ou daqueles muito especializados, que não conseguem espaço em seus países de origem pela grande concorrência ou pela falta de incentivo. Um exemplo é a Espanha, que é um país com alta escolarização e muitos dos seus habitantes saem de lá para terem melhores oportunidades. Para o segundo tipo, o Brasil é, infelizmente, parte, pois a pouca mão-de-obra especializada precisa imigrar para países ricos, o que acontece com muitos cientistas.
O Neoliberalismo prima pelo estado que regulamente pouco, ou nada, o mercado. Dessa forma, temos uma lógica baseada não só no lucro como na competitividade para se tornar hegemônica. As grandes empresas querem se tornar conglomerados com braços atuando simultaneamente por todo o mundo, o que acontece hoje em dia. Contudo, a competição se tornou algo social e aqui entram as questões que atingem a sociedade.
A Internet é a responsável pela revolução social que o mundo sofre atualmente. As comunicações e as relações se aceleraram. A quantidade de informação a que somos expostos diariamente é gigante, algo nunca visto pela História. Assim, estamos em um momento de transformação e ainda descobrindo os alcances dessas mudanças. Zygmunt Bauman é um dos autores que analisou a Globalização e diz que ao mesmo tempo que estamos conectados há um limite muito claro de quem tem a oportunidade de ser inserido nesse momento. Existe uma separação grande entre as sociedades, um aumento da desigualdade social, que é inerente do capitalismo, mas que ganha outras proporções com a internet e a necessidade do consumo.
As consequências da nossa Globalização são vastas, mas a principal é a velocidade com que as relações sociais, econômicas, políticas e culturais ocorrem. Isso acentua as desigualdades, pois aqueles que não conseguem participar estão excluídos em vários níveis.
Nos vestibulares a Globalização é cobrada a partir da interpretação de textos e gráficos e é um assunto muito em voga porque vivemos um período de grandes transformações. Ainda não sabemos como lidar com crimes cibernéticos, por exemplo. Portanto, é importante o aluno se ligar nos jornais, nas mudanças tecnológicas e como elas são demonstradas na sociedade.
1. (Enem 2018) TEXTO I
As fronteiras, ao mesmo tempo que se separam, unem e articulam, por elas passando discursos de legitimação da ordem social tanto quanto do conflito.
CUNHA, L. Terras lusitanas e gentes dos brasis: a nação e o seu retrato literário. Revista Ciências Sociais, n. 2, 2009.
TEXTO II
As últimas barreiras ao livre movimento do dinheiro e das mercadorias e informação que rendem dinheiro andam de mãos dadas com a pressão para cavar novos fossos e erigir novas muralhas que barrem o movimento daqueles que em consequência perdem, física ou espiritualmente, suas raízes.
BAUMAN, Z. Globalização: as consequências humanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.
A ressignificação contemporânea da ideia de fronteira compreende e
a) liberação da circulação de pessoas.
b) preponderância dos limites naturais.
c) supressão dos obstáculos aduaneiros.
d) desvalorização da noção de nacionalismo.
e) seletividade dos mecanismos segregadores.
2. (Unimontes 2016) O processo de globalização estabelece intensa circulação, não somente de mercadoria, mas também do capital financeiro. Nesse contexto de mundialização, predomina a competição em todos os níveis, a liberalização dos mercados, a desregulamentação dos mecanismos de controle da economia, a flexibilização das relações de trabalho etc.
Sobre o fenômeno da globalização, é possível afirmar, EXCETO
a) De acordo com o sociólogo britânico Anthony Giddens, a globalização atinge também a dimensão das ideias e valores, e os indivíduos são “desencaixados de seus contextos locais”.
b) A globalização é um fenômeno estritamente empresarial e não interfere no desenvolvimento autônomo da América do Sul e do principal país da região: o Brasil.
c) Com a globalização, o Estado perde força no planejamento e na implementação de políticas públicas e sociais.
d) No contexto da globalização, a ideologia neoliberal estabelece sua hegemonia, e o mercado firma-se como o grande regulador e dinamizador da vida econômica.
Gabarito:
Questão 1 - [E] – Aqui, temos a ideia de fronteira que vai além das barreiras físicas. Contudo, também são meios de separação e diferenciação entre pessoas. Com a Globalização, ressurgiram discursos nacionalistas que pretendem isolar o país, o que é inviável neste mundo de hoje.
Questão 2 - [B] – Nesta questão, fica claro qual é a incorreta porque a Globalização é mundial, como o próprio nome já diz.
Globalização – Várias concepções ao longo do tempo.
Década de 1990 - Guerra Fria - Neoliberalismo
Capitalismo financeiro
- Circulação de mercadorias e de pessoas
- Fronteiras flexíveis
- Migrações
- Internet