Questão 652022Redação
(AFA - 2022)
Com base nos textos contidos nesta prova, bem como no seu conhecimento de mundo, escreva um texto dissertativo-argumentativo, em prosa, posicionando-se sobre a seguinte afirmao de Raul Marinho Gregorin:
Acontece que d para levar vantagem em tudo sem fazer com que os outros saiam em desvantagem.
TEXTO I:
O HOMEM CORDIAL
Marcos A Rossi
de 1936 o livro Razes do Brasil, do historiador
Srgio Buarque de Holanda. Nele est contida a ideia de
homem cordial, uma das maiores contribuies j
realizadas para a compreenso do Brasil e dos brasileiros.
5 O homem cordial resultado de um cruzamento entre a
cultura colonial e o improviso de um pas para para sempre
inacabado , afetuoso, interesseiro e autoritrio: adora
obter vantagens em tudo, detesta regras, vive em busca de
atalhos favorveis: no v problemas no que faz de errado,
10 embora seja raivoso na hora de apontar os erros dos
outros. Variao muito mal-humorada de um tipo nico de
homo brasilliensis, o homem cordial avesso ao esforo
metdico e concentrao; prefere o circunstancial, a
moda do momento o jeito mais rpido de conquistar aquilo
15 que deseja. Adepto do curtir a vida adoidado o homo
brasilliensis encarnado no homem cordial sofre muito
diante do de compromissos que exijam dispndio de energia e
tempo - na cultura humana do juro, opta sempre por curtir
hoje e pagar amanh, em vez de investir agora para
20 saborear depois por tempo indeterminado e mais tranquilo.
A impessoalidade no trato, as regras universais, a tica
como parmetro para a tomada de decises, o antever dos
desdobramentos da sua ao sobre a vida e o planeta, o
incentivo ao fortalecimento de instituies pblicas e
25 sociais, nada disso agrada ao homem cordial, que no
esconde amar o familiarismo nas relaes sociais, as
regras particulares, a moral privada, o salva-se quem-
puder, o apelo a sadas pessoais diante de problemas e
questes que so, de superfcie e de fundo, coletivas. Em
30 1936, Srgio Buarque de Holanda apontava esses traos
culturais brasileiros como uma barreira intransponvel para
a democracia. E Hoje? Creio que a atualidade da ideia de
homem cordial salta aos olhos de quem observa com
interesse o pas. Rasta saber o tamanho desse malfazejo
35 esplio.
(Fonte: Marco A., Rossi. Acesso 10/01/2013 s 12:30 p.mhttp://travessia21.blogspot.com.br/2013/01/0-homem-cordial.html.)
TEXTO II:
A VERDADEIRA LEI DE GRSON
Raul Marinho Gregorin
Voc se lembra daquele clebre comercial do
cigarro Vila Rica, onde nosso tricampeo Grson falava
a famosa frase: ...Porque voc tem que levar
vantagem em tudo, cerrrto? A frase teve tanto
5 impacto que acabou sendo criada a Lei de Grson, que
simboliza o oportunismo e a falta de escrpulos tpicas de
uma grande parcela da nossa sociedade.(...)
Concordo que nossa postura oportunista
realmente contribui para nos manter neste estado de
10 atraso econmico e culturam em que vivemos. S que a
Lei de Grson, na verdade muito mais antiga que o
prprio. No excelente livro Mau, Empresrio do
imprio, de Jorge Caldeira (Ed. Companhia das Letras),
percebe-se que h quase duzentos anos atrs esta lei j
15 era cumprida. Alis, essa deve ser a lei mais antiga do
Brasil, pois desde as capitanias hereditrias nossa
histria pontilhada de exemplos de oportunismo e falta
de escrpulos. A prpria escravido no deixa de ser
uma mostra do vis tico de nossa sociedade desde
20 tempos imemoriais, mas isso j outra histria.
Eu no conheo a biografia do Grson, muito
menos do publicitrio que criou a frase e o comercial do
Vila Rica. Mas acho muito improvvel que o Grson real
seja um oportunista sanguinrio como ficou sendo sua
25 imagem. Nem acredito que o diretos da criao da
agncia poderia imaginar que esta frase seria usada mais
de vinte anos depois para designar esta nossa
caracterstica.
Nossa lngua ferina. Quando a Volkswagen
30 lanou o Fusca com teto solar no final da dcada de60,
as vendas despencaram depois que passou a ter a
conotao de carro chifrudo. A VASP na dcada de
35 criou um voo noturno ligando So Paulo ao Guaruj
para atender aos executivos que deixavam suas famlias
no balnereo e passavam a semana trabalhando na
capital. O nome do voo era Corujo devido ao horrio.
No demorou muito o voo passou a ser apelidado de
Cornudo, pelo fato das esposas ficarem na praia
enquanto os maridos ficavam na cidade. A VASP teve
40 que cancelar a linha por falta de passageiros.
E bvio que a VW tinha introduzido o teto solar
baseado no fato do Brasil ser um pas quente e
ensolarado, perfeito para aquele opcional. S que o
consumidor preferia ficar passando calor a ser visto
45 dirigindo um carro com um buraco no teto para deixar os
chifres de fora. O voo corujo era perfeito,
especialmente na poca em que no havia Piaaguera e,
para chegar ao Guaruj de carro na alta temporada, o
motorista tinha que enfrentar horas de fila na balsa. Mas
50 era melhor demorar oito ou dez horas de carro do que ir
de avio, em meia hora, num voo chamado Cornudo...
Com o comercial do Grson foi a mesma coisa.
Levar vantagem em tudo no significa que os outros tem
que levar desvantagem. O oportunismo foi incorporado
55 frase por quem a leu/ouviu, no por quem a
escreveu/disse. O problema que passou a ficar (para
usar um conceito atual) politicamente incorreto levar
vantagem em alguma coisa.
Na verdade, parece que nossa sociedade se
60 divide em dois grandes blocos: um que leva vantagem
em tudo (no sentido pejorativo) e outro que no pode
levar vantagem em nada. Acontece que d para levar
vantagem em tudo sem fazer com que os outros saiam
em desvantagem. Voc no precisa esmagar a outra
65 parte para sair ganhando.
(http://www.geocities.ws/cp_adhemar/leidegerson.html. Acesso em: 10 abril 2017. Texto revisado conforme a nova ortografia.)
TEXTO III:
Observe a seguir um dos cartazes da campanha publicitria sobre o cigarro Vila Rica - que circulou no Brasil durante a dcada de 1970 - e deu origem chamada Lei de Grson, conforme citado no 1 pargrafo do texto II. O personagem do cartaz o jogador de futebol Grson, j citado tambm no Texto II.
TEXTO IV:
Instrues:
Considere os textos desta prova como motivadores e fontes de dados. No os copie, sob pena de ter a redao zerada.
A redao dever conter no mnimo 100 (cem) palavras, considerando-se palavras todas aquelas pertencentes s classes gramaticais da Lngua Portuguesa.
D um ttulo redao