(EsPCEx - 2001)
Meti os dedos no bolso do colete que trazia no corpo e senti umas moedas de cobre; eram os vinténs que eu deveria ter dado ao almocreve, em lugar do cruzado em prata. Porque, enfim, ele não levou em mira nenhuma recompensa ou virtude, cedeu a um impulso natural, ao temperamento, aos hábitos do ofício; acresce que a circunstância de estar, não mais adiante nem mais atrás, mas justamente no ponto do desastre, parecia constituí-lo simples instrumento da Providência; e, de um ou de outro modo, o mérito do ato era positivamente nenhum. Fiquei desconsolado com esta reflexão, chamei-me pródigo, lancei o cruzado à conta das minhas dissipações antigas; tive (por que não direi tudo?) tive remorsos.
(Machado de Assis - Memórias Póstumas de Brás Cubas)
O fragmento acima é o final do episódio em que o narrador-personagem, salvo de ferir-se gravemente com a disparada do animal em que cavalgava, avalia a gratidão dele para com o seu salvador. Analise-o cuidadosamente e assinale a alternativa em que a declaração sobre ele corresponda à característica realista.
Trata-se de um texto predominantemente dissertativo, pois relata uma das aventuras vividas pela personagem.
A presença da dissertação nesse fragmento, comum na Escola a que pertence, é decorrência da visão crítica que o caracteriza.
O assunto abordado (explicação para os atos humanos) no texto acima apresenta uma única causa: a Providência, tema freqüente neste estilo de época.
A mudança que se vai operando no comportamento do homem ante o dinheiro, à medida que o tempo passa, escapa à conclusão de qualquer escritor realista.
Como se pode observar, o excesso de detalhes da narrativa afasta-se das características do Realismo.