(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)
Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o 1lazareto. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam:
Ele é mesmo nosso pai e
é quem pode nos ajudar...
Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cântico de despedida:
Ora, adeus, ó meus filhinhos,
Qu’eu vou e torno a vortá...
E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele.
Jorge Amado, Capitães da Areia.
1 lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas por determinadas doenças.
As informações contidas no texto permitem concluir corretamente que a doença de que nele se fala caracteriza-se como
moléstia contagiosa, de caráter epidêmico, causada por vírus.
endemia de zonas tropicais, causada por vírus, prevalente no período chuvoso do ano.
surto infeccioso de etiologia bacteriana, decorrente de más condições sanitárias.
Infecção bacteriana que, em regra, apresenta-se simultaneamente sob uma forma branda e uma grave.
enfermidade endêmica que ocorre anualmente e reflui de modo espontâneo.