(IME - 2015/2016 - 2ª FASE)
TEXTO 4
PSICOLOGIA DE UM VENCIDO
Augusto dos Anjos
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância, Sofro,
desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
ANJOS, A. Eu e Outras Poesias. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.
Quanto ao poema de Augusto dos Anjos (texto 4), é coerente afirmar que
revela um “eu” conformado com seu destino ao traduzir um olhar depressivo sobre o homem reduzido às leis fisiológicas
vai ao encontro do movimento parnasiano e da tendência geral de se pensar a poesia como a arte de dizer o sublime, o inefável.
reduz as possibilidades de polissemia exigidas pela arte literária ao trazer palavras consideradas “antipoéticas” como “carbono”, “verme” e “epigênese”.
resiste às classificações literárias de cunho didático por suas características formais e temáticas.
despreza completamente o cientificismo em voga no início do século XX.