(IME- 2017/2018 - 2 FASE ) EXAUSTO Eu quero uma licena de dormir, perdo pra descansar horas a fio, sem ao menos sonhar a leve palha de um pequeno sonho. Quero o que antes da vida foi o sono profundo das espcies, a graa de um estado. Semente. Muito mais que razes. PRADO, Adlia. Exausto. Disponvel em http://byluleoa-tecendopalavras.blogspot.com.br/. Acesso em 31/07/17. A respeito dos versos abaixo (versos 3 e 4), sem ao menos sonhar a leve palha de um pequeno sonho. podemos afirmar que
(IME - 2017/2018 - 2 FASE ) EXAUSTO Eu quero uma licena de dormir, perdo pra descansar horas a fio, sem ao menos sonhar a leve palha de um pequeno sonho. Quero o que antes da vida foi o sono profundo das espcies, a graa de um estado. Semente. Muito mais que razes. PRADO, Adlia. Exausto. Disponvel em http://byluleoa-tecendopalavras.blogspot.com.br/. Acesso em 31/07/17. Qual das palavras a seguir substituindo a palavra semente no verso 8, acarretaria mudana de sentido?
(IME - 2017/2018 - 2 FASE ) Texto 1 A CONDIO HUMANA A Vita Activa e a Condio Humana Com a expresso vita activa, pretendo designar trs atividades humanas fundamentais: 1labor, trabalho e ao. Trata-se de atividades fundamentais porque a cada uma delas corresponde uma das condies bsicas mediante as quais a vida foi dada ao homem na Terra. O labor a atividade que corresponde ao processo biolgico do corpo humano, 2cujos crescimento espontneo, metabolismo e eventual declnio tm a ver com as necessidades vitais produzidas e introduzidas pelo labor no processo da vida. A condio humana do labor a prpria vida. 3O trabalho a atividade correspondente ao artificialismo da existncia humana, existncia esta no necessariamente contida no eterno ciclo vital da espcie, e cuja mortalidade no compensada por este ltimo. O trabalho produz um mundo artificial de coisas, nitidamente diferente de qualquer ambiente natural. Dentro de suas fronteiras habita cada vida individual, embora esse mundo se destine a sobreviver e a transcender todas as vidas individuais. A condio humana do trabalho a mundanidade. A ao, nica atividade que se exerce diretamente entre os homens sem a mediao das coisas ou da matria, corresponde condio humana da pluralidade, ao fato de que homens, e no o Homem, vivem na Terra e habitam o mundo. Todos os aspectos da condio humana tm alguma relao com a poltica; mas esta pluralidade especificamente a condio no apenas a conditio sine qua non, mas a conditio per quam de toda a vida poltica. Assim, o idioma dos romanos talvez o povo mais poltico que conhecemos empregava como sinnimas as expresses viver e estar entre os homens (inter homines esse), ou morrer e deixar de estar entre os homens (inter homines esse desinere). Mas, em sua forma mais elementar, a condio humana da ao est implcita at mesmo em Gnesis (macho e fmea Ele os criou), se entendermos que esta verso da criao do homem diverge, em princpio, da outra segundo a qual Deus originalmente criou o Homem (adam) a ele, e no a eles, de sorte que a pluralidade dos seres humanos vem a ser o resultado da multiplicao4. A ao seria um luxo desnecessrio, uma caprichosa interferncia com as leis gerais do comportamento, se os homens no passassem de repeties interminavelmente reproduzveis do mesmo modelo, todas dotadas da mesma natureza e essncia, to previsveis quanto a natureza e a essncia de qualquer outra coisa. A pluralidade a condio da ao humana pelo fato de sermos todos os mesmos, isto , humanos, sem que ningum seja exatamente igual a qualquer pessoa que tenha existido, exista ou venha a existir. As trs atividades e suas respectivas condies tm ntima relao com as condies mais gerais da existncia humana: o nascimento e a morte, a natalidade e a mortalidade. O labor assegura no apenas a sobrevivncia do indivduo, mas a vida da espcie. O trabalho e seu produto, o artefato humano, emprestam certa permanncia e durabilidade futilidade da vida mortal e ao carter efmero do corpo humano. A ao, na medida em que se empenha em fundar e preservar corpos polticos, cria a condio para a lembrana, ou seja, para a histria. O labor e o trabalho, bem como a ao, tm tambm razes na natalidade, na medida em que sua tarefa produzir e preservar o mundo para o constante influxo de recm-chegados que vm a este mundo na qualidade de estranhos, alm de prev-los e lev-los em conta. No obstante, das trs atividades, a ao a mais intimamente relacionada com a condio humana da natalidade; o novo comeo inerente a cada nascimento pode fazer-se sentir no mundo somente porque o recm-chegado possui a capacidade de iniciar algo novo, isto , de agir. Neste sentido de iniciativa, todas as atividades humanas possuem um elemento de ao e, portanto, de natalidade. Alm disto, como a ao a atividade poltica por excelncia, a natalidade, e no a mortalidade, pode constituir a categoria central do pensamento poltico, em contraposio ao pensamento metafsico. A condio humana compreende algo mais que as condies nas quais a vida foi dada ao homem. Os homens so seres condicionados: tudo aquilo com o qual eles entram em contato torna-se imediatamente uma condio de sua existncia. O mundo no qual transcorre a vita activa consiste em coisas produzidas pelas atividades humanas; mas, constantemente, as coisas que devem sua existncia exclusivamente aos homens tambm condicionam os seus autores humanos. Alm das condies nas quais a vida dada ao homem na Terra e, at certo ponto, a partir delas, os homens constantemente criam as suas prprias condies que, a despeito de sua variabilidade e sua origem humana, possuem a mesma fora condicionante das coisas naturais. O que quer que toque a vida humana ou entre em duradoura relao com ela, assume imediatamente o carter de condio da existncia humana. por isso que os homens, independentemente do que faam, so sempre seres condicionados. Tudo o que espontaneamente adentra o mundo humano, ou para ele trazido pelo esforo humano, torna-se parte da condio humana. O impacto da realidade do mundo sobre a existncia humana sentido e recebido como fora condicionante. A objetividade do mundo o seu carter de coisa ou objeto e a condio humana complementam-se uma outra; por ser uma existncia condicionada, a existncia humana seria impossvel sem as coisas, e estas seriam um amontoado de artigos incoerentes, um no mundo, se esses artigos no fossem condicionantes da existncia humana. ARENDT, Hannah. A Condio Humana. Traduo de Roberto Raposo: Editora da Universidade de So Paulo, 1981. pp. 15-17 (texto adaptado). 4Quando se analisa o pensamento poltico ps-clssico, muito se pode aprender verificando-se qual das duas verses bblicas da criao citada. Assim, tpico da diferena entre os ensinamentos de Jesus de Nazareth e de Paulo o fato de que Jesus, discutindo a relao entre marido e mulher, refere-se a Gnesis 1:27 No tendes lido que quem criou o homem desde o princpio f-los macho e fmea (Mateus 19:4), enquanto Paulo, em ocasio semelhante, insiste em que a mulher foi criada do homem e, portanto, para o homem, embora em seguida atenue um pouco a dependncia: nem o varo sem mulher, nem a mulher sem o varo (1 Cor.11:8-12). A diferena indica muito mais que uma atitude diferente em relao ao papel da mulher. Para Jesus, a f era intimamente relacionada com a ao; para Paulo, a f relacionava-se, antes de mais nada, com a salvao. Especialmente interessante a este respeito Agostinho (De civitate Dei xii.21), que no s desconsidera inteiramente o que dito em Gnesis 1:27, mas v a diferena entre o homem e o animal no fato de ter sido o homem criado unum ac singulum, enquanto se ordenou aos animais que passassem a existir vrios de uma s vez (plura simul iussit existere). Para Agostinho, a histria da criao constitui boa oportunidade para salientar-se o carter de espcie da vida animal, em oposio singularidade da existncia humana. Texto 2 DAS VANTAGENS DE SER BOBO O bobo, por no se ocupar com ambies, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que no faz alguma coisa, responde: Estou fazendo. Estou pensando.. Ser bobo s vezes oferece um mundo de sada porque os espertos s se lembram de sair por meio da esperteza, e 1o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia. O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos no veem. Os espertos esto sempre to atentos _____(i)_____ espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo um Dostoievski. _____(ii)_____ desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para _____(iii)_____ compra de um ar refrigerado de segunda mo: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gvea onde fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem v-lo sequer. Resultado: no funciona. Chamado um tcnico, a opinio deste era de que o aparelho estava to estragado que o conserto seria carssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo ter boa-f, no desconfiar, e portanto estar tranquilo, enquanto o esperto no dorme noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com lcera no estmago. O bobo no percebe que venceu. Aviso: no confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. uma das tristezas que o bobo no prev. Csar terminou dizendo a clebre frase: 2At tu, Brutus?. Bobo no reclama. Em compensao, como exclama! Os bobos, com todas as suas palhaadas, devem estar todos no cu. Se Cristo tivesse sido esperto no teria morrido na cruz. O bobo sempre to simptico que h espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo uma criatividade e, como toda criao, difcil. Por isso que os espertos no conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensao os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ningum desconfie. Alis no se importam que saibam que eles sabem. H lugares que facilitam mais _____(iv)_____ pessoas serem bobas (no confundir bobo com burro, com tolo, com ftil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por no nascer em Minas! 3Bobo Chagall, que pe vaca no espao, voando por cima das casas. quase impossvel evitar o excesso de amor que o bobo provoca. que s o bobo capaz de excesso de amor. E s o amor faz o bobo. LISPECTOR, Clarice. Das vantagens de ser bobo. Disponvel em: http://www.revistapazes.com/das-vantagens-de-ser-bobo/. Acesso em 10 de maio de 2017. Originalmente publicado no Jornal do Brasil em 12 de setembro de 1970 Comparando-se os textos, possvel dizer que
(IME - 2017/2018 - 2 FASE ) Texto 1 A CONDIO HUMANA A Vita Activa e a Condio Humana Com a expresso vita activa, pretendo designar trs atividades humanas fundamentais: 1labor, trabalho e ao. Trata-se de atividades fundamentais porque a cada uma delas corresponde uma das condies bsicas mediante as quais a vida foi dada ao homem na Terra. O labor a atividade que corresponde ao processo biolgico do corpo humano, 2cujos crescimento espontneo, metabolismo e eventual declnio tm a ver com as necessidades vitais produzidas e introduzidas pelo labor no processo da vida. A condio humana do labor a prpria vida. 3O trabalho a atividade correspondente ao artificialismo da existncia humana, existncia esta no necessariamente contida no eterno ciclo vital da espcie, e cuja mortalidade no compensada por este ltimo. O trabalho produz um mundo artificial de coisas, nitidamente diferente de qualquer ambiente natural. Dentro de suas fronteiras habita cada vida individual, embora esse mundo se destine a sobreviver e a transcender todas as vidas individuais. A condio humana do trabalho a mundanidade. A ao, nica atividade que se exerce diretamente entre os homens sem a mediao das coisas ou da matria, corresponde condio humana da pluralidade, ao fato de que homens, e no o Homem, vivem na Terra e habitam o mundo. Todos os aspectos da condio humana tm alguma relao com a poltica; mas esta pluralidade especificamente a condio no apenas a conditio sine qua non, mas a conditio per quam de toda a vida poltica. Assim, o idioma dos romanos talvez o povo mais poltico que conhecemos empregava como sinnimas as expresses viver e estar entre os homens (inter homines esse), ou morrer e deixar de estar entre os homens (inter homines esse desinere). Mas, em sua forma mais elementar, a condio humana da ao est implcita at mesmo em Gnesis (macho e fmea Ele os criou), se entendermos que esta verso da criao do homem diverge, em princpio, da outra segundo a qual Deus originalmente criou o Homem (adam) a ele, e no a eles, de sorte que a pluralidade dos seres humanos vem a ser o resultado da multiplicao4. A ao seria um luxo desnecessrio, uma caprichosa interferncia com as leis gerais do comportamento, se os homens no passassem de repeties interminavelmente reproduzveis do mesmo modelo, todas dotadas da mesma natureza e essncia, to previsveis quanto a natureza e a essncia de qualquer outra coisa. A pluralidade a condio da ao humana pelo fato de sermos todos os mesmos, isto , humanos, sem que ningum seja exatamente igual a qualquer pessoa que tenha existido, exista ou venha a existir. As trs atividades e suas respectivas condies tm ntima relao com as condies mais gerais da existncia humana: o nascimento e a morte, a natalidade e a mortalidade. O labor assegura no apenas a sobrevivncia do indivduo, mas a vida da espcie. O trabalho e seu produto, o artefato humano, emprestam certa permanncia e durabilidade futilidade da vida mortal e ao carter efmero do corpo humano. A ao, na medida em que se empenha em fundar e preservar corpos polticos, cria a condio para a lembrana, ou seja, para a histria. O labor e o trabalho, bem como a ao, tm tambm razes na natalidade, na medida em que sua tarefa produzir e preservar o mundo para o constante influxo de recm-chegados que vm a este mundo na qualidade de estranhos, alm de prev-los e lev-los em conta. No obstante, das trs atividades, a ao a mais intimamente relacionada com a condio humana da natalidade; o novo comeo inerente a cada nascimento pode fazer-se sentir no mundo somente porque o recm-chegado possui a capacidade de iniciar algo novo, isto , de agir. Neste sentido de iniciativa, todas as atividades humanas possuem um elemento de ao e, portanto, de natalidade. Alm disto, como a ao a atividade poltica por excelncia, a natalidade, e no a mortalidade, pode constituir a categoria central do pensamento poltico, em contraposio ao pensamento metafsico. A condio humana compreende algo mais que as condies nas quais a vida foi dada ao homem. Os homens so seres condicionados: tudo aquilo com o qual eles entram em contato torna-se imediatamente uma condio de sua existncia. O mundo no qual transcorre a vita activa consiste em coisas produzidas pelas atividades humanas; mas, constantemente, as coisas que devem sua existncia exclusivamente aos homens tambm condicionam os seus autores humanos. Alm das condies nas quais a vida dada ao homem na Terra e, at certo ponto, a partir delas, os homens constantemente criam as suas prprias condies que, a despeito de sua variabilidade e sua origem humana, possuem a mesma fora condicionante das coisas naturais. O que quer que toque a vida humana ou entre em duradoura relao com ela, assume imediatamente o carter de condio da existncia humana. por isso que os homens, independentemente do que faam, so sempre seres condicionados. Tudo o que espontaneamente adentra o mundo humano, ou para ele trazido pelo esforo humano, torna-se parte da condio humana. O impacto da realidade do mundo sobre a existncia humana sentido e recebido como fora condicionante. A objetividade do mundo o seu carter de coisa ou objeto e a condio humana complementam-se uma outra; por ser uma existncia condicionada, a existncia humana seria impossvel sem as coisas, e estas seriam um amontoado de artigos incoerentes, um no mundo, se esses artigos no fossem condicionantes da existncia humana. ARENDT, Hannah. A Condio Humana. Traduo de Roberto Raposo: Editora da Universidade de So Paulo, 1981. pp. 15-17 (texto adaptado). 4Quando se analisa o pensamento poltico ps-clssico, muito se pode aprender verificando-se qual das duas verses bblicas da criao citada. Assim, tpico da diferena entre os ensinamentos de Jesus de Nazareth e de Paulo o fato de que Jesus, discutindo a relao entre marido e mulher, refere-se a Gnesis 1:27 No tendes lido que quem criou o homem desde o princpio f-los macho e fmea (Mateus 19:4), enquanto Paulo, em ocasio semelhante, insiste em que a mulher foi criada do homem e, portanto, para o homem, embora em seguida atenue um pouco a dependncia: nem o varo sem mulher, nem a mulher sem o varo (1 Cor.11:8-12). A diferena indica muito mais que uma atitude diferente em relao ao papel da mulher. Para Jesus, a f era intimamente relacionada com a ao; para Paulo, a f relacionava-se, antes de mais nada, com a salvao. Especialmente interessante a este respeito Agostinho (De civitate Dei xii.21), que no s desconsidera inteiramente o que dito em Gnesis 1:27, mas v a diferena entre o homem e o animal no fato de ter sido o homem criado unum ac singulum, enquanto se ordenou aos animais que passassem a existir vrios de uma s vez (plura simul iussit existere). Para Agostinho, a histria da criao constitui boa oportunidade para salientar-se o carter de espcie da vida animal, em oposio singularidade da existncia humana. Texto 2 DAS VANTAGENS DE SER BOBO O bobo, por no se ocupar com ambies, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que no faz alguma coisa, responde: Estou fazendo. Estou pensando.. Ser bobo s vezes oferece um mundo de sada porque os espertos s se lembram de sair por meio da esperteza, e 1o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia. O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos no veem. Os espertos esto sempre to atentos _____(i)_____ espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo um Dostoievski. _____(ii)_____ desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para _____(iii)_____ compra de um ar refrigerado de segunda mo: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gvea onde fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem v-lo sequer. Resultado: no funciona. Chamado um tcnico, a opinio deste era de que o aparelho estava to estragado que o conserto seria carssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo ter boa-f, no desconfiar, e portanto estar tranquilo, enquanto o esperto no dorme noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com lcera no estmago. O bobo no percebe que venceu. Aviso: no confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. uma das tristezas que o bobo no prev. Csar terminou dizendo a clebre frase: 2At tu, Brutus?. Bobo no reclama. Em compensao, como exclama! Os bobos, com todas as suas palhaadas, devem estar todos no cu. Se Cristo tivesse sido esperto no teria morrido na cruz. O bobo sempre to simptico que h espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo uma criatividade e, como toda criao, difcil. Por isso que os espertos no conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensao os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ningum desconfie. Alis no se importam que saibam que eles sabem. H lugares que facilitam mais _____(iv)_____ pessoas serem bobas (no confundir bobo com burro, com tolo, com ftil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por no nascer em Minas! 3Bobo Chagall, que pe vaca no espao, voando por cima das casas. quase impossvel evitar o excesso de amor que o bobo provoca. que s o bobo capaz de excesso de amor. E s o amor faz o bobo. LISPECTOR, Clarice. Das vantagens de ser bobo. Disponvel em: http://www.revistapazes.com/das-vantagens-de-ser-bobo/. Acesso em 10 de maio de 2017. Originalmente publicado no Jornal do Brasil em 12 de setembro de 1970 Marque a opo em que a regra usada para a colocao das vrgulas a mesma encontrada no trecho abaixo destacado: () cujos crescimento espontneo, metabolismo e eventual declnio tm a ver com as necessidades vitais produzidas e introduzidas pelo labor no processo da vida (A condio humana, referncia 2).
(IME - 2017/2018 - 2 FASE ) Texto 1 A CONDIO HUMANA A Vita Activa e a Condio Humana Com a expresso vita activa, pretendo designar trs atividades humanas fundamentais: 1labor, trabalho e ao. Trata-se de atividades fundamentais porque a cada uma delas corresponde uma das condies bsicas mediante as quais a vida foi dada ao homem na Terra. O labor a atividade que corresponde ao processo biolgico do corpo humano, 2cujos crescimento espontneo, metabolismo e eventual declnio tm a ver com as necessidades vitais produzidas e introduzidas pelo labor no processo da vida. A condio humana do labor a prpria vida. 3O trabalho a atividade correspondente ao artificialismo da existncia humana, existncia esta no necessariamente contida no eterno ciclo vital da espcie, e cuja mortalidade no compensada por este ltimo. O trabalho produz um mundo artificial de coisas, nitidamente diferente de qualquer ambiente natural. Dentro de suas fronteiras habita cada vida individual, embora esse mundo se destine a sobreviver e a transcender todas as vidas individuais. A condio humana do trabalho a mundanidade. A ao, nica atividade que se exerce diretamente entre os homens sem a mediao das coisas ou da matria, corresponde condio humana da pluralidade, ao fato de que homens, e no o Homem, vivem na Terra e habitam o mundo. Todos os aspectos da condio humana tm alguma relao com a poltica; mas esta pluralidade especificamente a condio no apenas a conditio sine qua non, mas a conditio per quam de toda a vida poltica. Assim, o idioma dos romanos talvez o povo mais poltico que conhecemos empregava como sinnimas as expresses viver e estar entre os homens (inter homines esse), ou morrer e deixar de estar entre os homens (inter homines esse desinere). Mas, em sua forma mais elementar, a condio humana da ao est implcita at mesmo em Gnesis (macho e fmea Ele os criou), se entendermos que esta verso da criao do homem diverge, em princpio, da outra segundo a qual Deus originalmente criou o Homem (adam) a ele, e no a eles, de sorte que a pluralidade dos seres humanos vem a ser o resultado da multiplicao4. A ao seria um luxo desnecessrio, uma caprichosa interferncia com as leis gerais do comportamento, se os homens no passassem de repeties interminavelmente reproduzveis do mesmo modelo, todas dotadas da mesma natureza e essncia, to previsveis quanto a natureza e a essncia de qualquer outra coisa. A pluralidade a condio da ao humana pelo fato de sermos todos os mesmos, isto , humanos, sem que ningum seja exatamente igual a qualquer pessoa que tenha existido, exista ou venha a existir. As trs atividades e suas respectivas condies tm ntima relao com as condies mais gerais da existncia humana: o nascimento e a morte, a natalidade e a mortalidade. O labor assegura no apenas a sobrevivncia do indivduo, mas a vida da espcie. O trabalho e seu produto, o artefato humano, emprestam certa permanncia e durabilidade futilidade da vida mortal e ao carter efmero do corpo humano. A ao, na medida em que se empenha em fundar e preservar corpos polticos, cria a condio para a lembrana, ou seja, para a histria. O labor e o trabalho, bem como a ao, tm tambm razes na natalidade, na medida em que sua tarefa produzir e preservar o mundo para o constante influxo de recm-chegados que vm a este mundo na qualidade de estranhos, alm de prev-los e lev-los em conta. No obstante, das trs atividades, a ao a mais intimamente relacionada com a condio humana da natalidade; o novo comeo inerente a cada nascimento pode fazer-se sentir no mundo somente porque o recm-chegado possui a capacidade de iniciar algo novo, isto , de agir. Neste sentido de iniciativa, todas as atividades humanas possuem um elemento de ao e, portanto, de natalidade. Alm disto, como a ao a atividade poltica por excelncia, a natalidade, e no a mortalidade, pode constituir a categoria central do pensamento poltico, em contraposio ao pensamento metafsico. A condio humana compreende algo mais que as condies nas quais a vida foi dada ao homem. Os homens so seres condicionados: tudo aquilo com o qual eles entram em contato torna-se imediatamente uma condio de sua existncia. O mundo no qual transcorre a vita activa consiste em coisas produzidas pelas atividades humanas; mas, constantemente, as coisas que devem sua existncia exclusivamente aos homens tambm condicionam os seus autores humanos. Alm das condies nas quais a vida dada ao homem na Terra e, at certo ponto, a partir delas, os homens constantemente criam as suas prprias condies que, a despeito de sua variabilidade e sua origem humana, possuem a mesma fora condicionante das coisas naturais. O que quer que toque a vida humana ou entre em duradoura relao com ela, assume imediatamente o carter de condio da existncia humana. por isso que os homens, independentemente do que faam, so sempre seres condicionados. Tudo o que espontaneamente adentra o mundo humano, ou para ele trazido pelo esforo humano, torna-se parte da condio humana. O impacto da realidade do mundo sobre a existncia humana sentido e recebido como fora condicionante. A objetividade do mundo o seu carter de coisa ou objeto e a condio humana complementam-se uma outra; por ser uma existncia condicionada, a existncia humana seria impossvel sem as coisas, e estas seriam um amontoado de artigos incoerentes, um no mundo, se esses artigos no fossem condicionantes da existncia humana. ARENDT, Hannah. A Condio Humana. Traduo de Roberto Raposo: Editora da Universidade de So Paulo, 1981. pp. 15-17 (texto adaptado). 4Quando se analisa o pensamento poltico ps-clssico, muito se pode aprender verificando-se qual das duas verses bblicas da criao citada. Assim, tpico da diferena entre os ensinamentos de Jesus de Nazareth e de Paulo o fato de que Jesus, discutindo a relao entre marido e mulher, refere-se a Gnesis 1:27 No tendes lido que quem criou o homem desde o princpio f-los macho e fmea (Mateus 19:4), enquanto Paulo, em ocasio semelhante, insiste em que a mulher foi criada do homem e, portanto, para o homem, embora em seguida atenue um pouco a dependncia: nem o varo sem mulher, nem a mulher sem o varo (1 Cor.11:8-12). A diferena indica muito mais que uma atitude diferente em relao ao papel da mulher. Para Jesus, a f era intimamente relacionada com a ao; para Paulo, a f relacionava-se, antes de mais nada, com a salvao. Especialmente interessante a este respeito Agostinho (De civitate Dei xii.21), que no s desconsidera inteiramente o que dito em Gnesis 1:27, mas v a diferena entre o homem e o animal no fato de ter sido o homem criado unum ac singulum, enquanto se ordenou aos animais que passassem a existir vrios de uma s vez (plura simul iussit existere). Para Agostinho, a histria da criao constitui boa oportunidade para salientar-se o carter de espcie da vida animal, em oposio singularidade da existncia humana. Texto 2 DAS VANTAGENS DE SER BOBO O bobo, por no se ocupar com ambies, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que no faz alguma coisa, responde: Estou fazendo. Estou pensando.. Ser bobo s vezes oferece um mundo de sada porque os espertos s se lembram de sair por meio da esperteza, e 1o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia. O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos no veem. Os espertos esto sempre to atentos _____(i)_____ espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo um Dostoievski. _____(ii)_____ desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para _____(iii)_____ compra de um ar refrigerado de segunda mo: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gvea onde fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem v-lo sequer. Resultado: no funciona. Chamado um tcnico, a opinio deste era de que o aparelho estava to estragado que o conserto seria carssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo ter boa-f, no desconfiar, e portanto estar tranquilo, enquanto o esperto no dorme noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com lcera no estmago. O bobo no percebe que venceu. Aviso: no confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. uma das tristezas que o bobo no prev. Csar terminou dizendo a clebre frase: 2At tu, Brutus?. Bobo no reclama. Em compensao, como exclama! Os bobos, com todas as suas palhaadas, devem estar todos no cu. Se Cristo tivesse sido esperto no teria morrido na cruz. O bobo sempre to simptico que h espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo uma criatividade e, como toda criao, difcil. Por isso que os espertos no conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensao os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ningum desconfie. Alis no se importam que saibam que eles sabem. H lugares que facilitam mais _____(iv)_____ pessoas serem bobas (no confundir bobo com burro, com tolo, com ftil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por no nascer em Minas! 3Bobo Chagall, que pe vaca no espao, voando por cima das casas. quase impossvel evitar o excesso de amor que o bobo provoca. que s o bobo capaz de excesso de amor. E s o amor faz o bobo. LISPECTOR, Clarice. Das vantagens de ser bobo. Disponvel em: http://www.revistapazes.com/das-vantagens-de-ser-bobo/. Acesso em 10 de maio de 2017. Originalmente publicado no Jornal do Brasil em 12 de setembro de 1970 Texto 3 EXAUSTO Eu quero uma licena de dormir, perdo pra descansar horas a fio, sem ao menos sonhar a leve palha de um pequeno sonho. Quero o que antes da vida foi o sono profundo das espcies, a graa de um estado. Semente. Muito mais que razes. PRADO, Adlia. Exausto. Disponvel em http://byluleoa-tecendopalavras.blogspot.com.br/. Acesso em 31/07/17. Considere os trs textos desta prova para analisar as assertivas abaixo. I. O desejo de ser semente (Exausto, verso 8) pode ser comparado ao labor explanado no texto A condio humana, ou seja, aquilo que d permanncia e continuidade vida sem que haja, necessariamente, uma ao para que essa continuidade e permanncia aconteam. II. O texto Das vantagens de ser bobo desconstri a ideia de que o mundo dos espertos. III. As implicaes de que estar no mundo estar em constante relao com o outro so questes relativas alteridade e no dizem respeito a nenhum dos trs textos. Assinale a opo correta: