(ITA - 2006 - 1ª FASE)
O texto a seguir reproduz alguns trechos do poema “Leito de folhas verdes”, do escritor romântico Gonçalves Dias, que consta do livro Últimos cantos (1851). Nesse longo poema, o poeta dá voz a uma índia que dirige um apelo emocionado e sensual ao seu amado, o índio Jatir, e que permanece na expectativa da chegada do homem amado para um encontro sexual. Ao final, o encontro eróticoamoroso acaba não se concretizando, pois Jatir não chega ao local em que a índia o aguarda.
“Por que tardas, Jatir, que tanto a custo
À voz do meu amor moves teus passos?
Da noite a viração, movendo as folhas,
Já nos cimos do bosque rumoreja.
[...]
Sejam vales ou montes, lago ou terra,
Onde quer que tu vás, ou dia ou noite,
Vai seguindo após ti meu pensamento:
Outro amor nunca tive: és meu, sou tua!
[...] Não me escutas, Jatir! nem tardo acodes
À voz do meu amor, que em vão te chama!
[...]”
Sobre esse poema, é INCORRETO afirmar que
há no poema a presença explícita da natureza como cenário perfeito para a realização do ato amoroso, o que costuma ser uma marca da poesia romântica.
a emoção do sujeito lírico feminino é notória pelo tom com que a índia apela ao amado para que ele venha ao seu encontro; daí a presença dos pontos de exclamação no poema.
a emoção do sujeito lírico feminino deriva do amor da índia por Jatir, amor que é sentimental e erótico (amor da alma e amor do corpo).
o texto é uma versão romântica das cantigas de amigo medievais, nas quais o trovador reproduzia a fala feminina que manifestava o desejo de encontro com o seu “amigo” (amado).
não se trata de um poema romântico típico, pois o amor romântico é sempre pautado pelo sentimento platônico e pelo ideal do amor irrealizável no plano corpóreo.