(PUC)
Uma das coisas mais importantes da ficção literária é a possibilidade de dar voz, de mostrar em pé de igualdade os indivíduos de todas as classes e grupos, permitindo aos excluídos exprimirem o teor da sua humanidade que, de outro modo, não poderia ser verificada. Nas histórias de Malagueta, Perus e Bacanaço, João Antônio nos joga no universo noturno de São Paulo, mas de uma certa São Paulo, construída ao redor de alguns marginais moídos pela vida, procurando um jeito de sobreviver por meio da trapaça, da esperteza e da brutalidade. Outros, como João Antonio, terão sabido divisar a violência e a desigualdade dos centros urbanos, seja na Curitiba de Dalton Trevisan, seja no Rio de Janeiro de Rubem Fonseca.
(Baseado em CANDIDO, Antonio. O albatroz e o chinês. Rio de Janeiro: Ouro sobre azul, 2010. pp. 208 e 209)
Os grandes centros urbanos brasileiros, principalmente no Sudeste, sofreram considerável crescimento populacional nos anos 1970. Esse crescimento decorreu
das guerrilhas que ocorreram no campo, a exemplo da Guerrilha do Araguaia, e da ação das Ligas Camponesas, que causaram medo na população e alimentaram a fuga para os centros urbanos.
da migração nordestina estimulada pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste − SUDENE, órgão criado durante a ditadura militar para auxiliar a recolocação de trabalhadores no setor da construção civil, na região Sudeste.
do êxodo rural motivado pelo crescimento econômico batizado de Milagre Brasileiro, responsável pelo adensamento dos bairros periféricos e aumento substancial da pobreza urbana.
da crise econômica mundial desencadeada após o “choque do petróleo”, que impactou fortemente a produção rural brasileira, fazendo com os que os lavradores buscassem oportunidades nas indústrias, menos afetadas.
das ofertas de trabalhos propiciadas pelo PAEG − Plano de Ação Econômica do Governo, lançado durante o governo Médici e que estipulou metas de desenvolvimento e a criação de parques industriais, como o ABC.