Texto 1
GRITO
Quadro que fundou o expressionismo nasceu de um ataque de pânico.
Edvard Munch nasceu em 1863, mesmo ano em que O piquenique no bosque, de Édouard Manet, era exposto no Salão dos Rejeitados, chamando a atenção para um movimento que nem nome tinha ainda. Era o impressionismo, superando séculos de pintura acadêmica. Os impressionistas deixaram o realismo para a fotografia e se focaram no que ela não podia mostrar: as sensações, a parte subjetiva do que se vê.
Crescendo durante essa revolução, Munch – que, aliás, também seria fotógrafo – achava a linguagem dos impressionistas superficial e científica, discreta demais para expressar o que sentia. E ele sentia: Munch tinha uma história familiar trágica: perdeu a mãe e uma irmã na infância, teve outra irmã que passou a vida em asilos psiquiátricos. Tornou-se artista sob forte oposição do pai, que morreria quando Munch tinha 25 anos e o deixaria na pobreza. O artista sempre viveu na boemia, entre bebedeiras, brigas e romances passageiros, tornando-se amigo do filósofo niilista Hans Jæger, que acreditava que o suicídio era a forma máxima da libertação.
Fruto de suas obsessões, O Grito não foi seu primeiro quadro, mas o que o tornaria célebre. A inspiração veio do que parece ter sido um ataque de pânico, que ele escreveu em seu diário, pouco mais de um ano antes do quadro: “Estava andando por um caminho com dois amigos – o sol estava se pondo – quando, de repente, o sol tornou-se vermelho como o sangue. Eu parei, sentindo-me exausto, e me encostei na cerca – havia sangue e línguas de fogo sobre o fiorde negro e a cidade. Meus amigos continuaram andando, e eu fiquei lá, tremendo de ansiedade – e senti um grito infinito atravessando a natureza”.
Ali nasceria um novo movimento artístico. O Grito seria a pedra fundadora do expressionismo, a principal vanguarda alemã dos anos 1910 aos 1930.
Texto 2
O GRITO
Um tranquilo riacho suburbano,
Uma choupana embaixo de um coqueiro,
Uma junta de bois e um carreteiro:
Eis o pano de fundo e, contra o pano,
Figurantes – cavalos e cavaleiros,
Ressaltando o motivo soberano,
A quem foi reservado o meio plano
Onde avulta solene e sobranceiro.
Complete-se a figura mentalmente
Com o grito famoso, postergando
Qualquer simbologia irreverente.
Nem se indague do artista, casto obreiro,
Fiel ao mecenato e ao seu comando,
Quem o povo, se os bois, se o carreteiro.
PAES, José Paulo. Poesia Completa. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. P.105.
Leia com atenção o que se diz sobre os dois textos apresentados acima.
I. Há um trabalho explícito de interdiscursividade entre O Grito, em prosa, e O Grito, em verso.
II. O tipo de verso em que foi composto O Grito se adéqua ao tema explorado.
III. O tipo de verso em que foi composto o poema O Grito constitui uma ironia: o tom que o autor imprime ao poema não condiz com a nobreza do verso escolhido.
Está correto o que se diz somente em
I e II.
I e III.
II.
III.