(Uerj 2004) SURDEZ HISTÓRICA
Com a ligeireza habitual, em notas encurtadas pelo tédio, parte da imprensa brasileira registrou, no dia 28 de maio, o referendo que aprovou a nova Constituição de Ruanda, um dos grotões da África profunda. O texto estabelece que nenhum partido poderá ter mais de 50% das vagas no parlamento. Nem poderão pertencer à mesma legenda política o presidente, o vice-presidente e o chefe do Poder Legislativo. (...)
Se o Brasil não fosse surdo às vozes da África, a imprensa teria anunciado o fato com pompas e fitas. (...)
Pouco antes do referendo, a paz entre os tutsi e os hutu parecia condenada a arder na fogueira dos ódios ancestrais. Um governo compartilhado pode existir em democracias ultradesenvolvidas do Primeiro Mundo. Como implantar a fórmula em Ruanda? (...)
(Adaptado de NUNES, Augusto. "Jornal do Brasil", 08/06/2003.)
Ruanda, como vários dos países africanos, viveu longos períodos de guerra civil desde sua descolonização. A proposta de um governo compartilhado é mais uma tentativa de pôr fim aos conflitos internos e inúmeras mortes.
No que se refere às características históricas dos povos africanos, as razões para a indagação do jornalista, em relação à sorte da proposta em Ruanda, podem ser explicadas por:
atraso no processo de industrialização e liberalização dos costumes
existência de disputas entre etnias e acesso reduzido a direitos políticos
influência de religiões fundamentalistas e presença de governos autoritários
manutenção de valores tradicionais e adoção de medidas econômicas monopolistas