Questão2009RedaçãoPortuguês
(UERJ 2009)
Heri na contemporaneidade
Quando eu era criana, passava todo o tempo desenhando super-heris.
Recorro ao historiador de mitologia Joseph Campbell, que diferenciava as duas figuras pblicas: o heri (figura pblica antiga) e a celebridade (a figura pblica moderna). Enquanto a celebridade se populariza por viver para si mesma, o heri assim se tornava por viver servindo sua comunidade. Todo super-heri deve atravessar alguma via crucis. Gandhi, lder pacifista indiano, disse que, quanto maior nosso sacrifcio, maior ser nossa conquista. Como Hrcules, como Batman.
Toda histria em quadrinhos traz em si alguma coisa de industrial e marginal, ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto. Os filmes de super-heri, ainda que transpondo essa cultura para a grande e famigerada indstria, realizam uma outra faanha, que provavelmente sem eles no ocorreria: a formao de novas mitologias reafirmando os mesmos ideais hericos da Antiguidade para o homem moderno. O cineasta italiano Fellini afirmou uma vez que Stan Lee, o criador da editora Marvel e de diversos heris populares, era o Homero dos quadrinhos.
Toda boa histria de super-heri uma histria de excluso social. Homem-Aranha um nerd, Hulk um monstro amaldioado, Demolidor um deficiente, os X-Men so indivduos excepcionais, Batman um rfo, Super-Homem um aliengena expatriado. So todos smbolos da solido, da sobrevivncia e da abnegao humana.
No se ama um heri pelos seus poderes, mas pela sua dor. Nossos olhos podem at se voltar a eles por suas habilidades fantsticas, mas na humanidade que eles crescem dentro do gosto popular. Os superheris que no sofrem ou simplesmente trabalham para o sistema vigente tendem a se tornar meio bobos, como o Tocha-Humana ou o Capito Amrica.
Hulk e Homem-Aranha so seres que criticam a inconsequncia da cincia, com sua energia atmica e suas experincias genticas. Os X-Men nos advertem para a educao inclusiva. Super-Homem aquele que mais se aproxima de Jesus Cristo, e por isso talvez seja o mais popular de todos, em seu sacrifcio solitrio em defesa dos seres humanos, mas tambm tem algo de Aquiles, com seu calcanhar que a kriptonita. Humano e super-heri, como Gandhi.
No houve nenhuma literatura que tenha me marcado mais do que essas histrias em quadrinhos. Eu raramente as leio hoje em dia, mas quando assisto a bons filmes de super-heris eu lembro que todos temos um lado ingnuo e bom, que pode ser capaz de suportar a dor da solido por um princpio.
CHU, Fernando. Adaptado dehttp://fernandochui.blogspot.com
A argumentao se estrutura por meio de diferentes mecanismos discursivos. No quarto pargrafo, o mecanismo empregado consiste na apresentao de: