(UERJ - 2019) Soneto da hora final Ser assim, amiga: um certo dia Estando ns a contemplar o poente Sentiremos no rosto, de repente O beijo leve de uma aragem fria. Tu me olhars silenciosamente E eu te olharei tambm, com nostalgia E partiremos, tontos de poesia Para a porta de treva aberta em frente. Ao transpor as fronteiras do Segredo Eu, calmo, te direi: No tenhas medo E tu, tranquila, me dirs: S forte. E como dois antigos namorados Noturnamente tristes e enlaados Ns entraremos nos jardins da morte. No ttuloSoneto da hora final, para revelar o tema do poema, recorre-se figura de linguagem denominada:
(UERJ 2019) Um poema de Vinicius de Moraes A flutuao do gosto em relao aos poetas normal, como normal a sucesso dos modos de fazer poesia. Pelo visto, Vinicius de Moraes anda em baixa acentuada. Talvez o seu prestgio tenha diminudo porque se tornou cantor e compositor, levando a opinio a consider-lo mais letrista do que poeta. Mas deve ter sido tambm porque encarnou um tipo de poesia oposto a certas modalidades para as quais cada palavra tende a ser objeto autnomo, portador de maneira isolada (ou quase) do significado potico. Na histria da literatura brasileira ele um poeta de continuidades, no de rupturas; e o nosso um tempo que tende ruptura, ao triunfo do ritmo e mesmo do rudo sobre a melodia, assim como tende a suprimir as manifestaes da afetividade. Ora, Vinicius melodioso e no tem medo de manifestar sentimentos, com uma naturalidade que deve desgostar as poticas de choque. Por vezes, ele chega mesmo a cometer o pecado maior para o nosso tempo: o sentimentalismo. Isso lhe permitiu dar estatuto de poesia a coisas, sentimentos e palavras extrados do mais singelo cotidiano, do coloquial mais familiar e at piegas, de maneira a parecer muitas vezes um seresteiro milagrosamente transformado em poeta maior. Joo Cabral disse mais de uma vez que sua prpria poesia remava contra a mar da tradio lrica de lngua portuguesa. Vinicius seria, ao contrrio, algum integrado no fluxo da sua corrente, porque se disps a atualizar a tradio. Isso foi possvel devido maestria com que dominou o verso, jogando com todas as suas possibilidades. Ele consegue ser moderno usando metrificao e cultivando a melodia, com uma imaginao renovadora e uma liberdade que quebram as convenes e conseguem preservar os valorescoloquiais. Rigoroso como Olavo Bilac, fluido como o Manuel Bandeira dos versos regulares, terra a terra como os poemas conversados de Mrio de Andrade, esse mestre do soneto e da crnica um raro malabarista. ANTONIO CANDIDO Adaptado deTeoria e debate,n 49. So Paulo: Fundao Perseu Abramo, out-dez, 2001. A articulao do primeiro com o segundo pargrafo revela o seguinte eixo principal da argumentao do crtico: