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Questões de Redação - UERJ | Gabarito e resoluções

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2019RedaçãoPortuguês

(UERJ - 2019) Soneto da hora final Ser assim, amiga: um certo dia Estando ns a contemplar o poente Sentiremos no rosto, de repente O beijo leve de uma aragem fria. Tu me olhars silenciosamente E eu te olharei tambm, com nostalgia E partiremos, tontos de poesia Para a porta de treva aberta em frente. Ao transpor as fronteiras do Segredo Eu, calmo, te direi: No tenhas medo E tu, tranquila, me dirs: S forte. E como dois antigos namorados Noturnamente tristes e enlaados Ns entraremos nos jardins da morte. No ttuloSoneto da hora final, para revelar o tema do poema, recorre-se figura de linguagem denominada:

Questão
2019RedaçãoPortuguês

(UERJ 2019) Um poema de Vinicius de Moraes A flutuao do gosto em relao aos poetas normal, como normal a sucesso dos modos de fazer poesia. Pelo visto, Vinicius de Moraes anda em baixa acentuada. Talvez o seu prestgio tenha diminudo porque se tornou cantor e compositor, levando a opinio a consider-lo mais letrista do que poeta. Mas deve ter sido tambm porque encarnou um tipo de poesia oposto a certas modalidades para as quais cada palavra tende a ser objeto autnomo, portador de maneira isolada (ou quase) do significado potico. Na histria da literatura brasileira ele um poeta de continuidades, no de rupturas; e o nosso um tempo que tende ruptura, ao triunfo do ritmo e mesmo do rudo sobre a melodia, assim como tende a suprimir as manifestaes da afetividade. Ora, Vinicius melodioso e no tem medo de manifestar sentimentos, com uma naturalidade que deve desgostar as poticas de choque. Por vezes, ele chega mesmo a cometer o pecado maior para o nosso tempo: o sentimentalismo. Isso lhe permitiu dar estatuto de poesia a coisas, sentimentos e palavras extrados do mais singelo cotidiano, do coloquial mais familiar e at piegas, de maneira a parecer muitas vezes um seresteiro milagrosamente transformado em poeta maior. Joo Cabral disse mais de uma vez que sua prpria poesia remava contra a mar da tradio lrica de lngua portuguesa. Vinicius seria, ao contrrio, algum integrado no fluxo da sua corrente, porque se disps a atualizar a tradio. Isso foi possvel devido maestria com que dominou o verso, jogando com todas as suas possibilidades. Ele consegue ser moderno usando metrificao e cultivando a melodia, com uma imaginao renovadora e uma liberdade que quebram as convenes e conseguem preservar os valorescoloquiais. Rigoroso como Olavo Bilac, fluido como o Manuel Bandeira dos versos regulares, terra a terra como os poemas conversados de Mrio de Andrade, esse mestre do soneto e da crnica um raro malabarista. ANTONIO CANDIDO Adaptado deTeoria e debate,n 49. So Paulo: Fundao Perseu Abramo, out-dez, 2001. A articulao do primeiro com o segundo pargrafo revela o seguinte eixo principal da argumentao do crtico:

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2018RedaçãoPortuguês

(UERJ - 2018) No meio do caminho O homem ia andando e encontrou uma pedra no meio do caminho. Milhes de homens encontram uma pedra no caminho e dela se esquecem. Um poeta, que talvez nunca tenha encontrado pedra nenhuma, que fatalmente esqueceu muitas coisas, esqueceu caminhos que andou e pedras que no encontrou, fez um poema dizendo que nunca esqueceria a pedra encontrada no meio do caminho. Se a rosa uma rosa, a pedra deveria ser uma pedra, mas nem sempre . No meu primeiro dia de escola, da qual seria expulso por no saber falar o mnimo que se espera de uma criana, minha tia e madrinha, que ns chamvamos de Doneta, mas tinha outro nome do qual me esqueci, levou-me pela mo em silncio, e em silncio ia eu, sem saber o que representava o primeiro dia de escola. Quando percebi o que seria aquilo misturar-me a meninos estranhos e ferozes, ficar longe de casa e da mo da minha tia e madrinha entrei a espernear, aos berros aos quais mais tarde renunciaria por inteis. Foi ento que a tia e madrinha definiu a situao, dizendo com sabedoria: So os abrolhos, meu filho. Sim, os abrolhos comearam e at hoje no acabaram. No sei bem o que um abrolho, mas deve ser uma pedra no caminho da gente. A diferena mais substancial que bastou uma pedra no meio do caminho para que um poeta dela no se esquecesse. No sendo poeta, no me lembro de ter topado com pedra nenhuma no meio do caminho. Mas, em matria de abrolhos, sou douto. Mesmo no sabendo em que consiste um abrolho. Como disse acima, tiraram-me daquele abrolho inicial porque no sabia falar. Aprendi a escrever mal e porcamente, e os abrolhos vieram em legio. Fao fora para esquec-los, mas volta e meia penso que seria melhor encontrar uma pedra no meio do caminho. CARLOS HEITOR CONY Folha de So Paulo, 05/05/2002. A crnica No meio do caminho faz referncia a um poema de mesmo ttulo, de Carlos Drummond de Andrade, cuja primeira estrofe se l a seguir: No meio do caminho tinha uma pedra Tinha uma pedra no meio do caminho Tinha uma pedra No meio do caminho tinha uma pedra O tipo de relao intertextual que se estabelece entre a crnica e o poema pode ser definido como:

Questão
2018RedaçãoPortuguês

(UERJ 2018) COM O OUTRO NO CORPO, O ESPELHO PARTIDO O que acontece com o sentimento de identidade de uma pessoa que se depara, diante do espelho, com um rosto que no seu? Como possvel manter a convico razoavelmente estvel que nos acompanha pela vida, a respeito do nosso ser, no caso de sofrermos uma alterao radical em nossa imagem? Perguntas como essas provocaram intenso debate a respeito da tica mdica depois do transplante de parte da face em uma mulher que teve o rosto desfigurado por seu cachorro em Amiens, na Frana. Nosso sentimento de permanncia e unidade se estabelece diante do espelho, a despeito de todas as mudanas que o corpo sofre ao longo da vida. A criana humana, em um determinado estgio de maturao, identifica-se com sua imagem no espelho. Nesse caso, um transplante(ainda que parcial) que altera tanto os traos fenotpicos quanto as marcas da histria de vida inscritas na face destruiria para sempre o sentimento de identidade do transplantado? Talvez no. Ocorre que o poder do espelho esse de vidro e ao pendurado na parede no to absoluto: o espelho que importa, para o humano, o olhar de um outro humano. A cultura contempornea do narcisismo*, ao remeter as pessoas a buscar continuamente o testemunho do espelho, noconsidera que o espelho do humano , antes de mais nada, o olhar do semelhante. o reconhecimento do outro que nos confirma que existimos e que somos (mais ou menos) os mesmos ao longo da vida, na medida em que as pessoas prximas continuam a nos devolver nossa identidade. O rosto a sede do olhar que reconhece e que tambm busca reconhecimento. que o rosto no se reduz dimenso da imagem: ele a prpria presentificao de um ser humano,em sua singularidade irrecusvel. Alm disso, dentre todas as partes do corpo, o rosto a que faz apelo ao outro. A parte que se comunica, expressa amor ou dio e, sobretudo, demanda amor. A literatura pode nos ajudar a amenizar o drama da paciente francesa. O personagem Robinson Cruso do livro Sexta-feira ou os limbos do Pacfico, de Michel Tournier, perde a noo de sua identidade e enlouquece, na falta do olhar de um semelhante que lhe confirme que ele umser humano. No incio do romance, o nufrago solitrio tenta fazer da natureza seu espelho. Faz do estranho, familiar, trabalhando para civilizar a ilha e representando diante de si mesmo o papel de senhor sem escravos, mestre sem discpulos. Mas depois de algum tempo o isolamento degrada sua humanidade. A paciente francesa, que agradeceu aos mdicos a recomposio de uma face humana, ainda queno seja a sua, vai agora depender de um esforo de tolerncia e generosidade por parte dos que lhe so prximos. Parentes e amigos tero de superar o desconforto de olhar para ela e no encontrar a mesma de antes. Diante de um rosto outro, devero ainda assim confirmar que ela continua sendo ela. E amar a mulher estranha a si mesma que renasceu daquela operao. MARIA RITA KEHL Adaptado de folha.uol.com.br, 11/12/2005. A literatura pode nos ajudar a amenizar o drama da paciente francesa. No penltimo pargrafo, a histria do personagem citado pela autora refora a seguinte tese central do texto:

Questão
2018Redação

(UERJ2018) BRASIL SER PAS DE MAIORIA IDOSA EM 2030, REVELA IBGE Na esteira dos pases desenvolvidos, o Brasil caminha para se tornar um pas de populao majoritariamente idosa. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), o grupo de idosos de 60 anos ou mais ser maior que o grupo de crianas com at 14 anos j em 2030 e, em 2055, a participao de idosos na populao total ser maior que a de crianas e jovens com at 29 anos. A tendncia de envelhecimento da populao j foi observada no Censo de 2002 e ganhou fora nos ltimos dez anos. Em comparao com o ltimo Censo, verifica-se que a participao do grupo com at 24 anos de idade cai de 47,4% em 2002 para 39,6% em 2012. Essa mudana tambm fica clara no aumento da idade mdia da populao, que passou de 29,4 anos em 2002 para 33,1 anos em 2012. Os idosos, segundo a pesquisa, so em sua maioria mulheres (55,7%) brancas (54,5%) e moradores de reas urbanas (84,3%) e correspondem a 12,6% da populao total do pas, considerando a participao relativa das pessoas com 60 anos ou mais. Os nmeros do IBGE mostram ainda que a principal fonte de rendimento dos idosos de 60 anos ou mais foi a aposentadoria ou a penso, equivalendo a 66,2%, e chegando a 74,7% no caso do grupo de 65 anos ou mais. A coordenadora da pesquisa, Ana Lcia Saboia, destaca a necessidade de ateno a essa mudana na composio da populao. Hoje em dia a populao de idosos que recebe benefcios muito expressiva, grande parte recebe contribuies de transferncia de renda. Os trabalhadores (que iro se aposentar no futuro e tm carteira assinada) tm mais garantias. O sistema previdencirio tem que estar atento ao envelhecimento, afirma. Luiz Genro Adaptado de jornalggn.com.br. Luiz Genro apresenta fatos e previses a partir de uma pesquisa do IBGE. Essa caracterstica contribui com o seguinte objetivo principal de seu texto:

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2017Redação

(UERJ 2017) Pietro Brun, meu tetrav paterno, embarcou em um navio no final do sculo 19, como tantos italianos pobres, em busca de uma utopia que atendia pelo nome de Amrica. Pietro queria terra, sim. Mas o que o movia era um territrio de outra ordem. Ele queria salvar seu nome, encarnado na figura de meu bisav, Antnio. Pietro fora obrigado a servir o exrcito comosoldado por anos demais (...). Havia chegado a hora de Antnio se alistar, e o pai decidiu que no perderia seu filho. Fugiu com ele e com a filha Luigia para o sul do Brasil. Como desertava, meu bisav Antnio foi levado em um bote at o navio que j se afastava do porto de Gnova. Embarcou como clandestino. Ao desembarcar no Brasil, em 10 de fevereiro de 1883, Pietro declarou o nome completo.O funcionrio do Imprio, como aconteceu tantas e tantas vezes, registrou-o conforme ouviu. Tornando-o, no mundo novo, Brum com m. Meu pai, Argemiro, filho de Jos, neto de Antnio e bisneto de Pietro, tomou para si a misso de resgatar essa histria e document-la. No incio dos anos 1990 cogitamos reivindicar a cidadania italiana. Possumos todos os documentos, organizados numa pasta. Mas entre ns existe essa diferena na letra. Antes deingressar com a documentao, seria preciso corrigir o erro do burocrata do governo imperial que substituiu um n por um m. Um segundo ele deve ter demorado para nos transformar, e com certeza morreu sem saber. E, se soubesse, no teria se importado, porque era apenas o nome de mais um imigrante a bater nas costas do Brasil despertencido de tudo. Cabia a mim levar essa empreitada adiante. H uma autonomia na forma como damos carne ao nosso nome com a vida que construmos e no com a que herdamos. (...) Eu escolho a memria. A desmemria assombra porque no a nomeamos, respira em nossos pores como monstros sem palavras. A memria, no. uma escolha do que esquecer e do que lembrar e uma oportunidade de ressignificar o passado para ganhar um futuro. Pela memria nos colocamos no s em movimento, mas nos tornamoso prprio movimento. Gesto humano, para sempre incompleto. Ao fugir para o Brasil, metade dos Brun ganhou uma perna a mais. O n virou m. Mas essa perna a mais era um membro fantasma, um ganho que revelava uma perda. (...) Quando Pietro Brun atravessou o mar deixando mortos e vivos na margem que se distanciou, ele no poderia ser o mesmo ao alcanar o outro lado. Ele tinha de ser outro, assim como ns, queresultamos dessa aventura desesperada. Era imperativo que ele fosse Pietro Brum e depois at Pedro Brum. ELIANE BRUM Meus desacontecimentos: a histria da minha vida com as palavras. So Paulo: LeYa, 2014. A partir da narrativa de um episdio familiar, a autora elabora reflexes que vo alm desse contexto pessoal, generalizando-o. Essa generalizao pode ser observada no emprego da primeira pessoa do plural no seguinte trecho:

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2016RedaçãoPortuguês

(UERJ 2016) A ARTE DE ENGANAR Em seu livro Pernas pro ar, Eduardo Galeano recorda que, na era vitoriana, era proibido mencionar calas na presena de uma jovem. Hoje em dia, diz ele, no cai bem utilizar certas expresses perante a opinio pblica: O capitalismo exibe o nome artstico de economia de mercado; imperialismo se chama globalizao; suas vtimas se chamam pases em via de desenvolvimento; oportunismo se chama pragmatismo; despedir sem indenizao nem explicao se chama flexibilizao laboral etc. A lista longa. Acrescento os inmeros preconceitos que carregamos: ladro sonegador; lobista consultor; fracasso crise; especulao derivativo; latifndio agronegcio; desmatamento investimento rural; lavanderia de dinheiro escuso paraso fiscal; acumulao privada de riqueza democracia; socializao de bens ditadura; governar a favor da maioria populismo; tortura constrangimento ilegal; invaso interveno; peste pandemia; magricela anorxica. Eufemismo a arte de dizer uma coisa e acreditar que o pblico escuta ou l outra. um jeitinho de escamotear significados. De tentar encobrir verdades e realidades. Posso admitir que perteno terceira idade, embora esteja na cara: sou velho. Ora, poderia dizer que sou seminovo! Como carros em revendedoras de veculos. Todos velhos! Mas o adjetivo seminovo os torna mais vendveis. Coitadas das palavras! Elas so distorcidas para que a realidade, escamoteada, permanea como est. No conseguem, contudo, escapar da luta de classes: pobre ladro, rico corrupto. Pobre viciado, rico dependente qumico. Em suma, eufemismo um truque semntico para tentar amenizar os fatos. Frei Betto Adaptado de O Dia, 21/03/2015. Frei Betto inicia seu texto com uma citao do escritor uruguaio Eduardo Galeano, recorrendo a recurso comum de argumentao. Esse recurso constitui um argumento de:

Questão
2016Redação

(UERJ 2016) TERRORISMO LGICO O terrorismo duplamente obscurantista: primeiro no atentado, depois nas reaes que desencadeia.Said e Chrif Kouachi eram descendentes de imigrantes. Said e Chrif Kouachi so suspeitos do ataque ao jornal Charlie Hebdo, na Frana. Se no houvesse imigrantes na Frana, no teria havido ataque ao Charlie Hebdo. Said e Chrif Kouachi, suspeitos do ataque ao jornal Charlie Hebdo, eram filhos de argelinos. Zinedine Zidane filho de argelinos. Zinedine Zidane terrorista. Zinedine Zidane filho de argelinos. Said e Chrif Kouachi, suspeitos do ataque ao jornal Charlie Hebdo, eram filhos de argelinos. Said e Chrif Kouachi sabiam jogar futebol. Muulmanos so uma minoria na Frana. Membros de uma minoria so suspeitos do ataque terrorista. Olha a no que d defender minoria... A esquerda francesa defende minorias. Membros de uma minoria so suspeitos pelo ataque terrorista. A esquerda francesa culpada pelo ataque terrorista. A extrema direita francesa demoniza os imigrantes. O ataque terrorista fortalece a extrema direita francesa. A extrema direita francesa est por trs do ataque terrorista. Marine Le Pen a lder da extrema direita francesa. Le Pen O Caneta, se tomarmos o artigo em francs e o substantivo em ingls. Eis a uma demonstrao de apoio da extrema direita francesa liberdade de expresso 􀃠 e aos erros de concordncia nominal. Numa democracia, desejvel que as pessoas sejam livres para se expressar. Algumas dessas expresses podem ofender indivduos ou grupos. Numa democracia, desejvel que indivduos ou grupos sejam ofendidos. Os terroristas que atacaram o jornal Charlie Hebdo usavam gorros pretos. Black blocs usam gorros pretos. Black blocs so terroristas. Todo abacate verde. O Incrvel Hulk verde. O Incrvel Hulk um abacate. Antonio Prata Adaptado de Folha de So Paulo, 11/01/2015. Todo abacate verde. O Incrvel Hulk verde. O Incrvel Hulk um abacate. Todo argumento pode se tornar um sofisma: um raciocnio errado ou inadequado que nos leva a concluses falsas ou improcedentes. O ltimo pargrafo do texto um exemplo de sofisma, considerando que, da constatao de que todo abacate verde, no se pode deduzir que s os abacates tm cor verde. Esse o tipo de sofisma que adota o seguinte procedimento:

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2014Redação

(UERJ - 2014) Os usos da casimira inglesa Estou lhe escrevendo, Matilda, para lhe transmitir aquilo que a contrariedade (para no falar indignao) me impediu de dizer de viva voz. Note, a primeira vez que isso acontece nos nossos 35 anos de casados, mas primeira vez que pode tambm ser a ltima. No ameaa. constatao. Estou profundamente magoado com sua atitude e no sei se me recuperarei. Tudo por causa de sua teimosia. Voc insiste, contra todas as minhas ponderaes, em dar a seu pai um corte de casimira inglesa como presente de aniversrio. Eu j sei o que voc vai me dizer: seu pai, voc gosta dele, quer homenage-lo. Mas, com casimira, Matilda. Com casimira inglesa, Matilda. Que horror, Matilda. Raciocinemos, Matilda. Casimira inglesa, voc sabe o que isso? A l dos melhores ovinos, Matilda. A tecnologia de um pas que, afinal, deu ao mundo a Revoluo Industrial. O trabalho de competentes funcionrios. E sobretudo tradio, a qualidade. Esse o tecido que est em questo, Matilda. A casimira inglesa. (...) Isso, a casimira inglesa. Agora, seu pai. Ele est fazendo noventa anos. uma idade respeitvel, e no so muitos que chegam l, mas quanto tempo ele pode ainda viver? (...) mesmo que ele viva dez anos, mesmo que ele viva vinte anos, a casimira sem dvida durar mais. A, depois que o sepultarmos, depois que voltarmos do cemitrio, depois que recebermos os psames dos parentes, e dos amigos, e dos conhecidos, teremos de decidir o que fazer com as coisas dele, que so poucas e sem valor exceo de um casaco confeccionado com o corte de casimira que voc pretende lhe dar. Voc, em lgrimas, dir que no quer discutir o assunto, mas eu terei que insistir, at para o seu bem, Matilda; os mortos esto mortos, os vivos precisam continuar a viver, eu direi. Algumas hipteses sero levantadas. Vender? Voc dir que no; seu pai, o velho fazendeiro, verdade que arruinado, despreza coisas como comprar e vender, ele acha que ser lojista, como eu, a suprema degradao. Dar? A quem? A um pobre? Mas no, ele sempre detestou pobres, Matilda, voc lembra a frase caracterstica de seu pai: tem que matar esses vagabundos. O casaco ficaria pendurado em nosso roupeiro, Matilda. Ficaria pendurado muito tempo l. A no ser, Matilda, que seu pai dure mais tempo que o casaco. No apenas isso impossvel, como remete a uma outra interrogao: e o seguro de vida dele, Matilda? E as joias de sua me, que ele guarda debaixo do colcho? Quanto tempo ainda terei de esperar? Estou partindo Matilda. Deixo o meu endereo. Como voc v, estou indo para longe, para uma pequena praia da Bahia. Trpico, Matilda. L ningum usa casimira. Moacyr Scliar, Contos reunidos. So Paulo: Cia. das Letras, 1995. O conto de Moacyr Scliar adota a forma de uma carta, gnero que tem convenes especficas. Uma das marcas que permitem associar esse texto a uma carta a presena de:

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2012Redação

(UERJ 2012) Sobre a origem da poesia A origem da poesia se confunde com a origem da prpria linguagem. Talvez fizesse mais sentido perguntar quando a linguagem verbal deixou de ser poesia. Ou: qual a origem do discurso no potico, j que, restituindo laos mais ntimos entre os signos e as coisas por eles designadas, a poesia aponta para um uso muito primrio da linguagem, que [5] parece anterior ao perfil de sua ocorrncia nas conversas, nos jornais, nas aulas, conferncias, discusses, discursos, ensaios ou telefonemas. Como se ela restitusse, atravs de um uso especfico da lngua, a integridade entre nome e coisa que o tempo e as culturas do homem civilizado trataram de separar no decorrer da histria. A manifestao do que chamamos de poesia hoje nos sugere mnimos flashbacks de uma possvel [10] infncia da linguagem, antes que a representao rompesse seu cordo umbilical, gerando essas duas metades significante e significado. Houve esse tempo? Quando no havia poesia porque a poesia estava em tudo o que se dizia? Quando o nome da coisa era algo que fazia parte dela, assim como sua cor, seu tamanho, seu peso? Quando os laos entre os sentidos ainda no se haviam desfeito, ento msica, poesia, [15] pensamento, dana, imagem, cheiro, sabor, consistncia se conjugavam em experincias integrais, associadas a utilidades prticas, mgicas, curativas, religiosas, sexuais, guerreiras? Pode ser que essas suposies tenham algo de utpico, projetado sobre um passado pr-bablico, tribal, primitivo. Ao mesmo tempo, cada novo poema do futuro que o presente alcana cria, com sua ocorrncia, um pouco desse passado. [20] Lembro-me de ter lido, certa vez, um comentrio de Dcio Pignatari, em que ele chamava a ateno para o fato de, tanto em chins como em tupi, no existir o verbo ser, enquanto verbo de ligao. Assim, o ser das coisas ditas se manifestaria nelas prprias (substantivos), no numa partcula verbal externa a elas, o que faria delas lnguas poticas por natureza, mais propensas composio analgica. [25] Mais perto do senso comum, podemos atentar para como colocam os ndios americanos falando, na maioria dos filmes de cowboy eles dizem ma vermelha, gua boa, cavalo veloz; em vez de a ma vermelha, essa gua boa, aquele cavalo veloz. Essa forma mais sinttica, telegrfica, aproxima os nomes da prpria existncia como se a fala no estivesse se referindo quelas coisas, e sim apresentando-as (ao mesmo tempo em que se apresenta). [30] No seu estado de lngua, no dicionrio, as palavras intermedeiam nossa relao com as coisas, impedindo nosso contato direto com elas. A linguagem potica inverte essa relao, pois, vindo a se tornar, ela em si, coisa, oferece uma via de acesso sensvel mais direto entre ns e o mundo. (...) J perdemos a inocncia de uma linguagem plena assim. As palavras se desapegaram das coisas, assim como os olhos se desapegaram dos ouvidos, ou como a criao se desapegou da vida. Mas temos esses pequenos osis os poemas contaminando o deserto da referencialidade. ARNALDO ANTUNES www.arnaldoantunes.com.br Na coeso textual, ocorre o que se chama catfora quando um termo se refere a algo queainda vai ser enunciado na frase. Um exemplo em que o termo destacado constri uma catfora :

Questão
2012Redação

(UERJ 2012) Memrias do crcere 1Resolvo-me a contar, depois de muita hesitao, casos passados h dez anos e, antes de comear, digo os motivos por que silenciei e por que me decido. No conservo notas: algumas que tomei foram inutilizadas, e assim, 16com o decorrer do tempo, ia-me parecendo cada vez mais difcil, quase impossvel, redigir esta narrativa. Alm disso, julgando a matria superior s minhas foras, esperei que outros mais aptos se ocupassem dela. No vai aqui falsa modstia, como adiante se ver. 2Tambm me afligiu a ideia de jogar no papel criaturas vivas, sem disfarces, com os nomes que tm no registro civil. Repugnava-me deform-las, 9dar-lhes pseudnimo, fazer do livro uma espcie de romance; mas teria eu o direito de 5utiliz-las em histria presumivelmente verdadeira? Que diriam elas se se vissem impressas, realizando atos esquecidos, repetindo palavras contestveis e obliteradas? (...) O receio de cometer indiscrio exibindo em pblico pessoas que tiveram comigo convivncia forada j no me apoquenta. Muitos desses antigos companheiros distanciaram-se, apagaram-se. 10Outros permaneceram junto a mim, ou vo reaparecendo ao cabo de longa ausncia, alteram-se, completam-se, avivam recordaes meio confusas e no vejo inconvenincia em mostr-los. (...) E aqui chego ltima objeo que me impus. 13No resguardei os apontamentos obtidos em largos dias e meses de observao: num momento de aperto fui obrigado a atir-los na gua. 6Certamente me iro fazer falta, mas ter sido uma perda irreparvel? Quase me inclino a supor que foi bom privar-me desse material. 17Se ele existisse, ver-me-ia propenso a consult-lo a cada instante, mortificar-me-ia por dizer com rigor a hora exata de uma partida, 11quantas demoradas tristezas se aqueciam ao sol plido, em manh de bruma, a cor das folhas que tombavam das rvores, num ptio branco, a forma dos montes verdes, tintos de luz, frases autnticas, gestos, gritos, gemidos. Mas que significa isso? 15Essas coisas verdadeiras podem no ser verossmeis. E se esmoreceram, deix-las no esquecimento: valiam pouco, pelo menos imagino que valiam pouco. Outras, porm, conservaram-se, cresceram, associaram-se, e inevitvel mencion-las. 7Afirmarei que sejam absolutamente exatas? Leviandade. (...)14Nesta reconstituio de fatos velhos, neste esmiuamento, exponho o que notei, o que julgo ter notado. 3Outros devem possuir lembranas diversas. No as contesto, mas espero que no recusem as minhas: 4conjugam-se, completam-se e me do hoje impresso de realidade. Formamos um grupo muito complexo, que se desagregou. De repente nos surge a necessidade urgente de recomp-lo. Define-se o ambiente, as figuras se delineiam, vacilantes, ganham relevo, a ao comea. 18Com esforo desesperado arrancamos de cenas confusas alguns fragmentos. Dvidas terrveis nos assaltam. De que modo reagiram os caracteres em determinadas circunstncias? O ato que nos ocorre, ntido, irrecusvel, ter sido realmente praticado? No ser incongruncia? Certo a vida cheia de incongruncias, mas estaremos seguros de no nos havermos enganado? Nessas vacilaes dolorosas, 12s vezes necessitamos confirmao, apelamos para reminiscncias alheias, convencemo-nos de que a mincia discrepante no iluso. Difcil sabermos a causa dela, 8desenterrarmos pacientemente as condies que a determinaram. Como isso variava em excesso, era natural que varissemos tambm, apresentssemos falhas. Fiz o possvel por entender aqueles homens, penetrar-lhes na alma, sentir as suas dores, admirar-lhes a relativa grandeza, enxergar nos seus defeitos a sombra dos meus defeitos. Foram apenas bons propsitos: devo ter-me revelado com frequncia egosta e mesquinho. E esse desabrochar de sentimentos maus era a pior tortura que nos podiam infligir naquele ano terrvel. GRACILIANO RAMOS Memrias do crcere. Rio de Janeiro: Record, 2002. Graciliano Ramos busca dar uma explicao mais objetiva ao leitor sobre os motivos que justificam seu relato. Entretanto, j nesta explicao, o autor lana mo de recursos da linguagem figurada, frequentes no discurso literrio. O fragmento do texto que melhor exemplifica o uso de linguagem figurada :

Questão
2012Redação

(UERJ 2012) Memrias do crcere 1Resolvo-me a contar, depois de muita hesitao, casos passados h dez anos e, antes de comear, digo os motivos por que silenciei e por que me decido. No conservo notas: algumas que tomei foram inutilizadas, e assim, 16com o decorrer do tempo, ia-me parecendo cada vez mais difcil, quase impossvel, redigir esta narrativa. Alm disso, julgando a matria superior s minhas foras, esperei que outros mais aptos se ocupassem dela. No vai aqui falsa modstia, como adiante se ver. 2Tambm me afligiu a ideia de jogar no papel criaturas vivas, sem disfarces, com os nomes que tm no registro civil. Repugnava-me deform-las, 9dar-lhes pseudnimo, fazer do livro uma espcie de romance; mas teria eu o direito de 5utiliz-las em histria presumivelmente verdadeira? Que diriam elas se se vissem impressas, realizando atos esquecidos, repetindo palavras contestveis e obliteradas? (...) O receio de cometer indiscrio exibindo em pblico pessoas que tiveram comigo convivncia forada j no me apoquenta. Muitos desses antigos companheiros distanciaram-se, apagaram-se. 10Outros permaneceram junto a mim, ou vo reaparecendo ao cabo de longa ausncia, alteram-se, completam-se, avivam recordaes meio confusas e no vejo inconvenincia em mostr-los. (...) E aqui chego ltima objeo que me impus. 13No resguardei os apontamentos obtidos em largos dias e meses de observao: num momento de aperto fui obrigado a atir-los na gua. 6Certamente me iro fazer falta, mas ter sido uma perda irreparvel? Quase me inclino a supor que foi bom privar-me desse material. 17Se ele existisse, ver-me-ia propenso a consult-lo a cada instante, mortificar-me-ia por dizer com rigor a hora exata de uma partida, 11quantas demoradas tristezas se aqueciam ao sol plido, em manh de bruma, a cor das folhas que tombavam das rvores, num ptio branco, a forma dos montes verdes, tintos de luz, frases autnticas, gestos, gritos, gemidos. Mas que significa isso? 15Essas coisas verdadeiras podem no ser verossmeis. E se esmoreceram, deix-las no esquecimento: valiam pouco, pelo menos imagino que valiam pouco. Outras, porm, conservaram-se, cresceram, associaram-se, e inevitvel mencion-las. 7Afirmarei que sejam absolutamente exatas? Leviandade. (...)14Nesta reconstituio de fatos velhos, neste esmiuamento, exponho o que notei, o que julgo ter notado. 3Outros devem possuir lembranas diversas. No as contesto, mas espero que no recusem as minhas: 4conjugam-se, completam-se e me do hoje impresso de realidade. Formamos um grupo muito complexo, que se desagregou. De repente nos surge a necessidade urgente de recomp-lo. Define-se o ambiente, as figuras se delineiam, vacilantes, ganham relevo, a ao comea. 18Com esforo desesperado arrancamos de cenas confusas alguns fragmentos. Dvidas terrveis nos assaltam. De que modo reagiram os caracteres em determinadas circunstncias? O ato que nos ocorre, ntido, irrecusvel, ter sido realmente praticado? No ser incongruncia? Certo a vida cheia de incongruncias, mas estaremos seguros de no nos havermos enganado? Nessas vacilaes dolorosas, 12s vezes necessitamos confirmao, apelamos para reminiscncias alheias, convencemo-nos de que a mincia discrepante no iluso. Difcil sabermos a causa dela, 8desenterrarmos pacientemente as condies que a determinaram. Como isso variava em excesso, era natural que varissemos tambm, apresentssemos falhas. Fiz o possvel por entender aqueles homens, penetrar-lhes na alma, sentir as suas dores, admirar-lhes a relativa grandeza, enxergar nos seus defeitos a sombra dos meus defeitos. Foram apenas bons propsitos: devo ter-me revelado com frequncia egosta e mesquinho. E esse desabrochar de sentimentos maus era a pior tortura que nos podiam infligir naquele ano terrvel. GRACILIANO RAMOS Memrias do crcere. Rio de Janeiro: Record, 2002. Em sua reflexo acerca das possibilidades de recompor a memria para escrever o livro, o narrador utiliza um procedimento de construo textual que contribui para a expresso de suas inquietudes. Tal procedimento pode ser identificado como:

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2012Redação

(UERJ 2012) A palavra Tanto que tenho falado, tanto que tenho escrito como no imaginar que, sem querer, feri algum? s vezes sinto, numa pessoa que acabo de conhecer, uma hostilidade surda, ou uma reticncia de mgoas. Imprudente ofcio este, de viver em voz alta. s vezes, tambm a gente tem o consolo de saber que alguma coisa que se disse por acaso [5] ajudou algum a se reconciliar consigo mesmo ou com a sua vida de cada dia; a sonhar um pouco, a sentir uma vontade de fazer alguma coisa boa. Agora sei que outro dia eu disse uma palavra que fez bem a algum. Nunca saberei que palavra foi; deve ter sido alguma frase espontnea e distrada que eu disse com naturalidade porque senti no momento e depois esqueci. [10] Tenho uma amiga que certa vez ganhou um canrio, e o canrio no cantava. Deram-lhe receitas para fazer o canrio cantar; que falasse com ele, cantarolasse, batesse alguma coisa ao piano; que pusesse a gaiola perto quando trabalhasse em sua mquina de costura; que arranjasse para lhe fazer companhia, algum tempo, outro canrio cantador; at mesmo que ligasse o rdio um pouco alto durante uma transmisso de jogo de futebol... mas o canrio no cantava. [15] Um dia a minha amiga estava sozinha em casa, distrada, e assobiou uma pequena frase meldica de Beethoven e o canrio comeou a cantar alegremente. Haveria alguma secreta ligao entre a alma do velho artista morto e o pequeno pssaro cor de ouro? Alguma coisa que eu disse distrado talvez palavras de algum poeta antigo foi despertar melodias esquecidas dentro da alma de algum. Foi como se a gente soubesse que de repente, [20] num reino muito distante, uma princesa muito triste tivesse sorrido. E isso fizesse bem ao corao do povo; iluminasse um pouco as suas pobres choupanas e as suas remotas esperanas. RUBEM BRAGA PROENA FILHO, Domcio (org.). Pequena antologia do Braga. Rio de Janeiro: Record, 1997 s vezes,tambm(l. 4) Ao estabelecer coeso entre os dois primeiros pargrafos, a palavra tambm, nesse contexto, expressa determinado sentido. Considerando esse sentido, tambm poderia ser substitudo pela seguinte expresso:

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2009RedaçãoPortuguês

(UERJ 2009) Heri na contemporaneidade Quando eu era criana, passava todo o tempo desenhando super-heris. Recorro ao historiador de mitologia Joseph Campbell, que diferenciava as duas figuras pblicas: o heri (figura pblica antiga) e a celebridade (a figura pblica moderna). Enquanto a celebridade se populariza por viver para si mesma, o heri assim se tornava por viver servindo sua comunidade. Todo super-heri deve atravessar alguma via crucis. Gandhi, lder pacifista indiano, disse que, quanto maior nosso sacrifcio, maior ser nossa conquista. Como Hrcules, como Batman. Toda histria em quadrinhos traz em si alguma coisa de industrial e marginal, ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto. Os filmes de super-heri, ainda que transpondo essa cultura para a grande e famigerada indstria, realizam uma outra faanha, que provavelmente sem eles no ocorreria: a formao de novas mitologias reafirmando os mesmos ideais hericos da Antiguidade para o homem moderno. O cineasta italiano Fellini afirmou uma vez que Stan Lee, o criador da editora Marvel e de diversos heris populares, era o Homero dos quadrinhos. Toda boa histria de super-heri uma histria de excluso social. Homem-Aranha um nerd, Hulk um monstro amaldioado, Demolidor um deficiente, os X-Men so indivduos excepcionais, Batman um rfo, Super-Homem um aliengena expatriado. So todos smbolos da solido, da sobrevivncia e da abnegao humana. No se ama um heri pelos seus poderes, mas pela sua dor. Nossos olhos podem at se voltar a eles por suas habilidades fantsticas, mas na humanidade que eles crescem dentro do gosto popular. Os superheris que no sofrem ou simplesmente trabalham para o sistema vigente tendem a se tornar meio bobos, como o Tocha-Humana ou o Capito Amrica. Hulk e Homem-Aranha so seres que criticam a inconsequncia da cincia, com sua energia atmica e suas experincias genticas. Os X-Men nos advertem para a educao inclusiva. Super-Homem aquele que mais se aproxima de Jesus Cristo, e por isso talvez seja o mais popular de todos, em seu sacrifcio solitrio em defesa dos seres humanos, mas tambm tem algo de Aquiles, com seu calcanhar que a kriptonita. Humano e super-heri, como Gandhi. No houve nenhuma literatura que tenha me marcado mais do que essas histrias em quadrinhos. Eu raramente as leio hoje em dia, mas quando assisto a bons filmes de super-heris eu lembro que todos temos um lado ingnuo e bom, que pode ser capaz de suportar a dor da solido por um princpio. CHU, Fernando. Adaptado dehttp://fernandochui.blogspot.com A argumentao se estrutura por meio de diferentes mecanismos discursivos. No quarto pargrafo, o mecanismo empregado consiste na apresentao de:

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2006Redação

(UERJ 2006) NEM A ROSA, NEM O CRAVO As frases perdem seu sentido, as palavras perdem sua significao costumeira, como dizer das rvores e das flores, dos teus olhos e do mar, das canoas e do cais, das borboletas nas rvores, quando as crianas so assassinadas friamente pelos nazistas? Como falar da gratuita beleza dos campos e das cidades, quando as bestas soltas no mundo ainda destroem os campos e as cidades? J viste um loiro trigal balanando ao vento? das coisas mais belas do mundo, mas os hitleristas e seus ces danados destruram os trigais e os povos morrem de fome. Como falar, ento, da beleza, dessa beleza simples e pura da farinha e do po, da gua da fonte, do cu azul, do teu rosto na tarde? No posso falar dessas coisas de todos os dias, dessas alegrias de todos os instantes. Porque elas esto perigando, todas elas, os trigais e o po, a farinha e a gua, o cu, o mar e teu rosto. (...) 1Sobre toda a beleza paira a sombra da escravido. como ua nuvem inesperada num cu azul e lmpido. Como ento encontrar palavras inocentes, doces palavras cariciosas, versos suaves e tristes? Perdi o sentido destas palavras, destas frases, elas me soam como uma traio neste momento. (...) Mas eu sei todas as palavras de dio e essas, sim, tm um significado neste momento. 2Houve um dia em que eu falei do amor e encontrei para ele os mais doces vocbulos, as frases mais trabalhadas. 3Hoje s o dio pode fazer com que o amor perdure sobre o mundo. S o dio ao fascismo, mas um dio mortal, um dio sem perdo, um dio que venha do corao e que nos tome todo, que se faa dono de todas as nossas palavras, que nos impea de ver qualquer espetculo - desde o crepsculo aos olhos da amada - sem que junto a ele vejamos o perigo que os cerca. 4Jamais as tardes seriam doces e jamais as madrugadas seriam de esperana. Jamais os livros diriam coisas belas, nunca mais seria escrito um verso de amor. Sobre toda a beleza do mundo, sobre a farinha e o po, sobre a pura gua da fonte e sobre o mar, sobre teus olhos tambm, se debruaria a desonra que o nazifascismo, se eles tivessem conseguido dominar o mundo. No restaria nenhuma parcela de beleza, a mais mnima. Amanh saberei de novo palavras doces e frases cariciosas. Hoje s sei palavras de dio, palavras de morte. No encontrars um cravo ou uma rosa, uma flor na minha literatura. Mas encontrars um punhal ou um fuzil, encontrars uma arma contra os inimigos da beleza, contra aqueles que amam as trevas e a desgraa, a lama e os esgotos, contra esses restos de podrido que sonharam esmagar a poesia, o amor e a liberdade! (AMADO, Jorge. Folha da Manh, 22/04/1945.) O enunciador do texto defende, como modo de reao s crueldades referidas, a utilizao das mesmas armas dos agressores. O trecho em que essa ideia se apresenta mais claramente :

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