(UFJF 2002)
O fragmento de texto a segui, de Paulo Mendes Campos, foi publicado na edição comemorativa dos 110 anos do Jornal do Brasil, de 8 de abril de 2001.
Nunca se imprimiu tanto. E nunca se aproveitou tão pouco. Devoram-se toneladas de papel impresso em todas as línguas, mas a percentagem de nutrientes desse palavratório é quase nada. A chamada democratização da cultura, em vez de sucos, fabrica perto de 100% de refrescos aguados, essas publicações fajutas já chamadas "non-books".
O antilivro vai expulsando do mercado a ciência, a informação e a literatura. O grotesco é que os novos gêneros de impressão não chegam nem mesmo a cumprir o que nos prometem nos títulos e nas orelhas; a livralhada sexual é idiota; a violenta é pueril; a de terror não chega a impressionar crianças; a esotérica é de dar pena; a fofoqueira ainda pode distrair, mas mente pelos dedos. (...)
O século 20 lê mais que o século passado. Mas nosso avô comia um bife, e o nosso contemporâneo entulha-se com um saco de farinha ou pólvora ou titica.
A principal contradição que serve de sustentação à tese do autor está estabelecida entre:
o número de leitores e o número de obras publicadas.
o desperdício e a pobreza.
a literatura de elite a literatura de massa.
os autores do século XIX e os autores dos século XX.
a quantidade e a qualidade das obras produzidas.