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VestibularEdição do vestibular
Disciplina

(Ufjf-pism 3 2015)TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:Lei

(Ufjf-pism 3 2015)

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Leia o texto abaixo para responder à(s) questão(ões) a seguir.
Fábula do Ribeirão do Carmo

A vós canoras Ninfas, que no amado
Berço viveis do plácido Mondego,
Que sois da minha lira doce emprego,
Inda quando de vós mais apartado.
[...]
Aonde levantado
Gigante, a quem tocara,
Por decreto fatal de Jove irado 1 ,
A parte extrema, e rara
Desta inculta região, vive Itamonte 2 ,
Parto da terra, transformado em monte.
[...]
Vizinho ao berço caro
Aonde a Pátria tive,
Vivia Eulina, esse prodígio raro,
Que não sei se inda vive,
Para brasão eterno da beleza,
Para injúria fatal da natureza.
[...]
Sabia eu como tinha
Eulina por costume
(Quando o maior Planeta quase vinha
Já desmaiando o lume,
Para dourar de luz outro horizonte)
Banhar-se nas correntes de uma fonte.
A fugir destinado
Com o furto precioso,
Desde a Pátria, onde tive o berço amado,
Recolhi numeroso
Tesouro, que roubara diligente
A meu Pai, que de nada era ciente. 3
[...]
Quis gritar; oprimida
A voz entre a garganta,
Apolo? Diz, Apol... A voz partida

Em seus braços a tinha
O louro Apolo presa;
E já ludíbrio da fadiga minha,
Por amorosa empresa,
Era despojo da Deidade ingrata
O bem, que de meus olhos me arrebata.
[...]
Porém o ódio triste
De Apolo mais se acende;
E sobre o mesmo estrago que me assiste,
Maior ruína emprende: 4
Que chegando a ser ímpia uma Deidade,
Excede toda a humana crueldade.
Por mais desgraça minha,
Dos tesouros preciosos
Chegou notícia, que eu roubado tinha
Aos homens ambiciosos;
E crendo em mim riquezas tão estranhas,
Me estão rasgando as entranhas.
[...]
Daqui vou descobrindo
A fábrica eminente
De uma grande Cidade; 5 aqui polindo
A desgrenhada frente,
Maior espaço ocupo dilatado,
Por dar mais desafogo a meu cuidado.
Competir não pertendo 6
Contigo, ó cristalino
Tejo, que mansamente vais correndo:
Meu ingrato destino
Me nega a prateada majestade,
Que os muros banha da maior Cidade. 7
[...]
Enfim sou, qual te digo,
O Ribeirão prezado;

Lhe nega força tanta:
Mas ah! eu não sei como, de repente
Densa nuvem me põe do bem ausente.
[...]

De meus Engenhos 8 a fortuna sigo:
Comigo sepultado
Eu choro o meu despenho; eles sem cura
Choram também a sua desventura.

COSTA, Cláudio Manoel do. “Fábula de Ribeirão do Carmo”. In: PROENÇA FILHO, Domício. A Poesia dos Inconfidentes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996 [1768]. p. 120-127.

1 Por decreto fatal de Jove irado: alusão à guerra travada entre os deuses e os gigantes,
castigados no final por Júpiter, com a vitória dos deuses.
2 Itamonte: Itacolomi, pico de Minas Gerais.
3 (...) numeroso tesouro: alusão às riquezas da terra, ou de Itamonte, “pai” do infeliz Ribeirão.
4 emprende: forma que na época se alterna com empreende.
5 Alusão a Mariana, feita cidade em 1745.
6 pertendo: forma corrente à época; pretendo.
7 da maior Cidade: alusão a Lisboa.
8 Engenhos: aptidões, talentos naturais; aqui, entretanto, o vocábulo parece estar associado a Gênios, forças que dão o ser e o movimento às coisas; também os lugares estão, segundo a mitologia, sob a tutela dos Gênios (engenho <in – genium).

Em “Fábula do Ribeirão do Carmo”, pode-se entrever a denúncia de Cláudio Manoel da Costa quanto:

A

ao trabalho escravo que dominava a paisagem de todas as cidades mineiras.

B

à cobrança de pesados impostos pelos agentes do governo de Portugal.

C

à rebelião da elite colonial brasileira contra a Coroa portuguesa.

D

aos abusos que a mineração perpetrava nas Minas Gerais.

E

à internacionalização do ciclo de extração do ouro em Mariana.