Questão2012RedaçãoPortuguês
(Ufpb 2012)
Casa de Penso (fragmento)
s oito horas, quando entrou em casa tinha j resolvido no ficar ali nem mais um dia. 1Era fazer as malas e bater quanto antes a bela plumagem!
Mas tambm, se por um lado no lhe convinha ficar em companhia do Campos; por outro, a ideia de se meter na repblica do Paiva no o seduzia absolutamente. 2Aquela misria e aquela desordem lhe causavam repugnncia. 3Queria liberdade, a bomia, a pndega sim senhor! tudo isso, porm, com um certo ar, com uma certa distino aristocrtica. No admitia uma cama sem travesseiros, um almoo sem talheres e uma alcova sem espelhos. 4Desejava a bela crpula, por Deus que desejava! mas no bebendo pela garrafa e dormindo pelo cho de guas-furtadas! Que diabo! no podia ser to difcil conciliar as duas coisas! ...
Pensando deste modo, subiu ao quarto. 5Sobre a cmoda estava uma carta que lhe era dirigida; abriu-a logo:
6Querido Amncio.
7Desculpe trat-lo com esta liberdade; como, porm, j sou seu amigo, no encontro jeito de lhe falar doutro modo. Ontem, quando combinamos no Hotel dos Prncipes a sua visita para domingo, 8no me passava pela cabea que hoje era dia santo e que fazamos melhor em aproveit-lo; por conseguinte, se o amigo no tem algum compromisso, venha passar a tarde conosco, que nos dar com isso grande prazer. Minha famlia, depois que lhe falei a seu respeito, est impaciente para conhec-lo e desde j fica sua espera.
Assinava Joo Coqueiro e havia o seguinte post-scriptum: 9Se no puder vir, previna-mo por duas palavrinhas; mas venha. Resende n ...
Amncio hesitou em se devia ir ou no. O Coqueiro, com a sua figurinha de tsico, o seu rosto chupado e quase verde, os seus olhos pequenos e penetrantes, de uma mobilidade de olho de pssaro, com a sua boca fria, deslabiada, o seu nariz agudo, o seu todo seco egosta, desenganado da vida, no era das coisas que mais o atrassem. No entanto, bem podia ser que ali estivesse o que ele procurava, um cmodo limpo, confortvel, um pouquinho de luxo, e plena liberdade. Talvez aceitasse o convite.
10Esta gente onde est? perguntou, indicando o andar de cima a um caixeiro que lhe apareceu no corredor, com a sua cala domingueira, cor de alecrim, o charuto ao canto da boca.
11Foram passear ao Jardim Botnico, respondeu aquele, descendo as escadas.
Todos? ainda interrogou Amncio.
Sim, disse o outro entre os dentes, sem voltar o rosto. E saiu.
Est resolvido! pensou o estudante. Vou casa do Coqueiro. Ao menos estarei entretido durante esse tempo!
E voltando ao quarto:
No! que tudo ali em casa do Campos j lhe cheirava mal!... Olhassem para o ar impertinente com que aquele galeguinho lhe havia falado! ... E tudo mais era pelo mesmo teor. Uma scia dasnos!
12Comeou a vestir-se de mau humor, arremessando a roupa, atirando com as gavetas. O jarro vazio causou-lhe febre, sentiu venetas de arroj-lo pela janela; ao tomar uma toalha do cabide, porque ela se no desprendesse logo, deu-lhe tal empuxo que a fez em tiras.
Um horror! resmungava, a vestir-se furioso, sem saber de qu.
Um horror!
E, quando passou pela porta da rua, teve mpetos de esbordoar o caixeiro, que nesse dia estava de planto.
AZEVEDO, Alusio. Casa de Penso. So Paulo: tica, 2009, p.59-60.
Considerando a carta escrita por Joo Coqueiro para Amncio, correto afirmar: