Questão2006RedaçãoPortuguês
(Ufpr 2006)
PASSO NO RUMO CERTO
Na semana passada, a claque convocada para a inaugurao de um aeroporto na cidade mineira de Uberlndia ouviu de Lula a seguinte frase: Quero dizer que a crise extremamente grave. Em horas de crise preciso ter muita pacincia para no tomar deciso precipitada, no se deixar levar pelo estado emocional, mas, sim, pela razo. Embora o presidente j tenha se manifestado a respeito da difcil situao poltica em diversas ocasies (no raro para negar a sua realidade, como se tudo no passasse de uma alucinao coletiva promovida por prestidigitadores da elite, mas deixemos isso de lado), foi a primeira vez que ele uniu palavra crise um advrbio de intensidade, extremamente, e um adjetivo grandiloquente, grave. O encadeamento de tais termos permite supor que Lula finalmente (no que pode ser considerado um advrbio de alvio) reconheceu a existncia da fissura tica, poltica e criminosa que h mais de 100 dias se aprofunda mais e mais, levando o governo de cambulhada.
Nessa hiptese, e no se quer aqui evocar o doutor Pangloss, aquele personagem de Voltaire para quem todos vivamos no melhor dos mundos, uma tima notcia o presidente ter admitido que o horizonte anda carregado. Pelo simples motivo de que, para sanar um problema, qualquer que seja ele, preciso antes de mais nada reconhecer sua existncia. Caberia agora a Lula contribuir para que a resoluo da crise seja efetiva, no deixando margem impresso olfativa de que tudo terminar em pizza. O presidente volta e meia afirma que no tem como interferir no andamento das investigaes e das punies. No verdade. Pelo peso de seu cargo, e sem extrapolar suas atribuies constitucionais, Lula pode, sim, proceder a que corrompidos e corrompedores, no Legislativo e no Executivo, sintam na carne e na biografia que no sairo impunes dos crimes de desvio de dinheiro pblico, formao de quadrilha e trfico de influncia. Ao empenhar-se com afinco nesse objetivo, movido pela razo e sem emocionalismos, o presidente prestaria ao mesmo tempo um grande servio ao Brasil e a si prprio.
(VEJA, Editorial, 07 jul. 2005.)
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