(UFPR - 2021 - 1ª FASE) Leia a seguir a primeira estrofe do poema “O meu sepulcro”, de Gonçalves Dias.
O auto de Natal pernambucano Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, apresenta algumas semelhanças temáticas com a estrofe acima transcrita, parte integrante do livro Últimos Cantos. Assinale a alternativa em que estão corretas as aproximações entre as duas obras.
A esperança e as dores da existência, mencionadas nos versos 2 e 7 (acima), estão presentes na obra de João Cabral no nascimento de uma criança: “E não há melhor resposta / que o espetáculo da vida: / vê-la desfiar seu fio, / que também se chama vida, / ver a fábrica que ela mesma, / teimosamente, se fabrica, / vê-la brotar como há pouco / em nova vida explodida”.
O ato do eu-lírico de se despedir das ilusões e das dores da vida, nos versos 5 a 8 (acima), também é encenado pelo retirante Severino, quando ele comunica a decisão de se suicidar: “– Seu José, mestre carpina, / que diferença faria / se em vez de continuar / tomasse a melhor saída: / a de saltar, numa noite, / fora da ponte e da vida?”.
A natureza benfazeja, mencionada nos versos 10 a 13 (acima), foi representada por João Cabral nesta imagem de satisfação das necessidades humanas: “Cedo aprenderá a caçar: / primeiro, com as galinhas, / que é catando pelo chão / tudo o que cheira a comida; / depois aprenderá com / outras espécies de bichos: / com os porcos nos monturos, / com os cachorros no lixo”
O eu-lírico opina, nos versos 17 a 21 (acima), que ricos e pobres se tornam iguais quando morrem; a mesma ideia foi apresentada nos seguintes versos de João Cabral: “– Não é cova grande, / é cova medida, / é a terra que querias / ver dividida. [...] É uma cova grande / para tua carne pouca, / mas a terra dada / não se abre a boca”.
A morte é representada como descanso merecido, nos versos 22 a 25 (acima), como também nesta fala de um coveiro, em Morte e Vida Severina: “– E esse povo lá de riba / de Pernambuco, da Paraíba, / que vem buscar no Recife / poder morrer de velhice, / encontra só, aqui chegando / cemitérios esperando. / [...] aí está o seu erro: / vêm é seguindo seu próprio enterro”.