(UFRGS - 2019)
– Para mim esta é a melhor hora do dia1 – Ema disse, voltando do quarto dos meninos. – Com as crianças na cama, a casa fica tão sossegada.
– Só que já é noite – a amiga corrigiu, sem tirar os olhos da revista. Ema agachou-se para recolher o quebra-cabeça esparramado pelo chão.
– É força de expressão, sua boba. O dia acaba quando eu vou dormir, isto é, o dia tem vinte quatro horas e a semana tem sete dias, não está certo? – Descobriu um sapato sob a poltrona. Pegou-o e, quase deitada no tapete, procurou, depois, o par ........ dos outros móveis.
Era bom ter uma amiga experiente. Nem precisa ser da mesma idade – deixou-se cair no sofá – Bárbara, muito mais sábia. Examinou-a a ler: uma linha de luz dourada valorizava o perfil privilegiado. As duas eram tão inseparáveis quanto seus maridos, colegas de escritório. Até ter filhos juntas conseguiram, acreditasse quem quisesse2. Tão gostoso, ambas no hospital. A semelhança física teria contribuído para o perfeito entendimento? “Imaginava que fossem irmãs”, muitos diziam, o que sempre causava satisfação.
– O que está se passando nessa cabecinha?3 – Bárbara estranhou a amiga, só doente pararia quieta. Admirou-a: os cabelos soltos, caídos no rosto, escondiam os olhos ..........., azuis ou verdes, conforme o reflexo da roupa. De que cor estariam hoje seus olhos?
Ema aprumou o corpo.
– Pensava que se nós morássemos numa casa grande, vocês e nós...
Bárbara sorriu. Também ela uma vez tivera a ideia. – As crianças brigariam o tempo todo.
Novamente a amiga tinha razão. Os filhos não se suportavam, discutiam por qualquer motivo, ciúme doentio de tudo. O que sombreava o relacionamento dos casais4.
– Pelo menos podíamos morar mais perto, então.
Se o marido estivesse em casa, seria obrigada a assistir à televisão5, ........, ele mal chegava, ia ligando o aparelho, ainda que soubesse que ela detestava sentar que nem múmia diante do aparelho – levantou-se, repelindo a lembrança. Preparou uma jarra de limonada. ........ todo aquele interesse de Bárbara na revista? Reformulou a pergunta em voz alta.
– Nada em especial. Uma pesquisa sobre o comportamento das crianças na escola, de como se modificam as personalidades longe dos pais.
Adaptado de: VAN STEEN, Edla. Intimidade.
In: MORICONI, Italo (org.) Os cem melhores
contos brasileiros do século.1. ed. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2009. p. 440-441.
Em várias passagens do texto, a autora usa sujeitos elípticos. Assinale a alternativa que apresenta uma oração com sujeito elíptico
– Para mim esta é a melhor hora do dia (ref. 1)
acreditasse quem quisesse (ref. 2)
O que está se passando nessa cabecinha? (ref. 3)
O que sombreava o relacionamento dos casais (ref. 4)
seria obrigada a assistir à televisão, [...] (ref. 5)