(UNESP - 2012 - Redao) As reaes do crebro bajulao Pesquisa mostra que se voc for bajular algum melhor fazer elogios descarados No o que os meritocratas convictos gostariam de ouvir. Uma pesquisa da escola de negcios da Hong Kong University of Science and Technology indica que a bajulao tem um efeito marcante no crebro da pessoa bajulada. Mais surpreendente do que isso a concluso do estudo de autoria de Elaine Chan e Jaideep Sengupta: quanto mais descarada a bajulao, mais eficiente ela . A pesquisa deu origem a um artigo no Journal of Marketing Research, intitulado Insincere Flattery Actually Works (Bajulao insincera de fato funciona, numa traduo literal) e rapidamente chamou a ateno da imprensa cientfica mundial. Os autores so cautelosos ao afirmar que puxar o saco funciona, mas nessa direo que sua pesquisa aponta. Elaine e Sengupta criaram situaes nas quais os pesquisados foram expostos bajulao insincera e oportunista. Numa delas, distriburam um folder entre os pesquisados que detalhava o lanamento de uma nova rede de lojas. O material publicitrio elogiava o apurado senso esttico do consumidor. Apesar do evidente puxa-saquismo, o sentimento posterior das pessoas foi de simpatia em relao rede. Entre os participantes, a medio da atividade cerebral no crtex pr-frontal (responsvel pelo registro de satisfao) indicou um aumento de estmulos nessa regio. O mesmo ocorreu em todas as situaes envolvendo elogios. Segundo os pesquisadores, a bajulao funciona devido a um fenmeno cerebral conhecido como comportamento de atraso. A primeira reao ao elogio insincero de rejeio e desconsiderao. Apesar disso, a bajulao fica registrada, cria razes e se estabelece no crebro humano. A partir da, passa a pesar subjetivamente no julgamento do elogiado, que tende, com o tempo, a formar uma imagem mais positiva do bajulador. Isso vale desde a agncia de propaganda at o funcionrio que leva um cafezinho para o chefe. A suscetibilidade bajulao nasce do arraigado desejo do ser humano de se sentir bem consigo mesmo, diz Elaine Chan. A obviedade e o descaramento do elogio falso, paradoxalmente, conferemlhe maior fora. Segundo os pesquisadores, a rapidez com que descartamos os elogios manipuladores que faz com que eles passem sem filtro pelo crebro e assim se estabeleam de forma mais duradoura. Segundo Elaine e Sengupta, outro fator contribui para a bajulao. o efeito acima da mdia. Temos a tendncia de nos achar um pouco melhor do que realmente somos, pelo menos em algum aspecto. Pesquisas com motoristas comprovam: se fssemos nos fiar na autoimagem ao volante, no haveria barbeiros. Isso vale at para a pessoa com baixa autoestima. Em alguma coisa, ela vai se achar boa, nem que seja em bater figurinha. Mas se corremos o risco de autoengano com a ajuda do bajulador, como se prevenir? Desenvolvendo uma autoestima autntica, diz Elaine. A pessoa equilibrada, que tem amor-prprio, mais realista sobre si mesma, aceita-se melhor e se torna mais imune bajulao. (As reaes do crebro bajulao. poca Negcios, maro de 2010, p. 71.) PROPOSIO Bajular, lisonjear, adular, puxar sacoso atitudes consideradas, muitas vezes, defeitos de carter ou deslizes de natureza tica; so, tambm, condenadas pelas prprias religies, como vcios ou pecados. As fices literrias, teatrais e cinematogrficas esto repletas de tipos bajuladores, lisonjeadores, aduladores, puxa-sacos, quase sempre sob o vis do ridculo e do desvio de carter. Modernamente, porm, pelo menos em parte, essa condenao bajulao e lisonja tem sido atenuada, e at mesmo justificada por alguns como parte do marketing pessoal, ou como estratgia para atingir metas, dado o fato de que, como se informa no prprio artigo acima apresentado, at o elogio mais insincero pode encontrar eco na mente e no corao do elogiado. Na passagem do conto de Machado de Assis, apresentada nesta prova, Clemente Soares acabou atingindo seus objetivos por meio da bajulao, e a personagem Fagundes, de Laerte, parece viver sempre feliz em sua atividade preferencial de bajular. Reflita sobre o contedo dos trs textos mencionados e elabore uma redao de gnero dissertativo, empregando a norma-padro da lngua portuguesa, sobre o tema: A BAJULAO: VIRTUDE OU DEFEITO?
Instruo: Leia o fragmento de Urups, de Monteiro Lobato, e o texto Antecedentes, da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria). Velha praga Andam todos em nossa terra por tal forma estonteados com as proezas infernais dos belacssimos vons alemes, que no sobram olhos para enxergar males caseiros. Venha, pois, uma voz do serto dizer s gentes da cidade que se l fora o fogo da guerra lavra implacvel, fogo no menos destruidor devasta nossas matas, com furor no menos germnico. Em agosto, por fora do excessivo prolongamento do inverno, von Fogo lambeu montes e vales, sem um momento de trguas, durante o ms inteiro. Vieram em comeos de setembro chuvinhas de apagar poeira e, breve, novo vero de sol se estirou por outubro a dentro, dando azo a que se torrasse tudo quanto escapara sanha de agosto. A serra da Mantiqueira ardeu como ardem aldeias na Europa, e hoje um cinzeiro imenso, entremeado aqui e acol de manchas de verdura as restingas midas, as grotas frias, as nesgas salvas a tempo pela cautela dos aceiros. Tudo mais crepe negro. hora em que escrevemos, fins de outubro, chove. Mas que chuva cainha! Que misria dgua! Enquanto caem do cu pingos homeopticos, medidos a conta-gotas, o fogo, amortecido mas no dominado, amoita-se insidioso nas picas*, a fumegar imperceptivelmente, pronto para rebentar em chamas mal se limpe o cu e o sol lhe d a mo. Preocupa nossa gente civilizada o conhecer em quanto fica na Europa por dia, em francos e cntimos, um soldado em guerra; mas ningum cuida de calcular os prejuzos de toda sorte advindos de uma assombrosa queima destas. As velhas camadas de hmus destrudas; os sais preciosos que, breve, as enxurradas deitaro fora, rio abaixo, via oceano; o rejuvenescimento florestal do solo paralisado e retrogradado; a destruio das aves silvestres e o possvel advento de pragas insetiformes; a alterao para pior do clima com a agravao crescente das secas; os vedos e aramados perdidos; o gado morto ou depreciado pela falta de pastos; as cento e uma particularidades que dizem respeito a esta ou aquela zona e, dentro delas, a esta ou aquela situao agrcola. Isto, bem somado, daria algarismos de apavorar; infelizmente no Brasil subtrai-se; somar ningum soma... (Monteiro Lobato. Urups. So Paulo: Editora Brasiliense, 1962.) (*) Picas: tocos semicarbonizados. Antecedentes O fogo uma tecnologia do Neoltico, amplamente utilizada na agricultura brasileira, apesar dos inconvenientes agronmicos, ecolgicos e de sade pblica. As queimadas ocorrem em todo territrio nacional, desde formas de agricultura primitivas, como as praticadas por indgenas e caboclos, at os sistemas de produo altamente intensificados, como a cana-de-acar e o algodo. Elas so utilizadas em limpeza de reas, colheita da cana-de-acar, renovao de pastagens, queima de resduos, para eliminar pragas e doenas, como tcnica de caa etc. Existem muitos tipos de queimadas, movidas por interesses distintos, em sistemas de produo e geografias diferentes. O impacto ambiental das queimadas preocupa a comunidade cientfica, ambientalista e a sociedade em geral, no Brasil como exterior. O fogo no limita-se s regies tropicais mas ocorre com frequncia, sob a forma de incndios florestais, nos climas mediterrnicos da Europa, Estados Unidos, frica do Norte, frica do Sul, Chile e Austrlia. Tambm acontece sob a forma de incndios florestais devastadores em reas de floresta boreal, como no Alasca, Canad, Finlndia e na Rssia. Em anos mais secos como nos episdios do El Nio o nmero e a extenso das queimadas e incndios aumentam em todo o planeta, como ocorreu em Roraima em 1998. O fogo afeta diretamente a fsico-qumica e a biologia dos solos, deteriora a qualidade do ar, levando at ao fechamento de aeroportos por falta de visibilidade, reduz a biodiversidade e prejudica a sade humana. Ao escapar do controle atinge o patrimnio pblico e privado (florestas, cercas, linhas de transmisso e de telefonia, construes etc.). As queimadas alteram a qumica da atmosfera e influem negativamente nas mudanas globais, tanto no efeito estufa como no tema do oznio. Comeam a surgir sistemas que visam monitorar a dinmica mundial das queimadas, nos USA [...] e Europa [...]. Um Centro Internacional de Monitoramento Global do Fogo (GFMC) foi criado [...], como uma atividade da ONU no mbito da UN International Strategy for Disaster Reduction (ISDR). Tambm no Brasil, as queimadas tm sido objeto de preocupao e polmica. Elas atingem os mais diversos sistemas ecolgicos e tipos de agricultura, gerando impactos ambientais em escala local e regional. Conjugando sensoriamento remoto, cartografia digital e comunicao eletrnica, a equipe da Embrapa Monitoramento por Satlite realiza, desde 1991, um monitoramento circunstanciado e efetivo das queimadas em todo o Brasil, com apoio da FAPESP. Os mapas semanais so geocodificados e analisados pela Embrapa Monitoramento por Satlite e seus parceiros, no tocante s reas onde esto ocorrendo as queimadas, sua origem, uso das terras em cada local, impacto ambiental decorrente etc. O sistema est operacional desde 1991, utilizando os Satlites da srie NOAA 12 e 14, e constantemente aperfeioado [...]. (www.queimadas.cnpm.embrapa.br) PROPOSIO Na letra da toada Quebra de milho, bem como no fragmento de Urups e no texto Antecedentes abordado, sob pontos de vista distintos, o problema das queimadas na agricultura. Jornais, rdios, revistas, televises e sites da internet exploram diariamente o mesmo assunto, que tambm estudado e discutido nas escolas. Com base em sua experincia e, se achar necessrio, levando em considerao os textos mencionados, escreva uma redao de gnero dissertativo, empregando a norma-padro da lngua portuguesa, sobre o tema: A questo das queimadas no Brasil