(UNESP - 2020 - 1 FASE) Para responder s questes, leia o trecho de uma fala do personagem Quincas Borba, extrada do romance Quincas Borba, de Machado de Assis, publicado originalmente em 1891. [] O encontro de duas expanses, ou a expanso de duas formas, pode determinar a supresso de uma delas; mas, rigorosamente, no h morte, h vida, porque a supresso de uma condio da sobrevivncia da outra, e a destruio no atinge o princpio universal e comum. Da o carter conservador e benfico da guerra. Supe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire foras para transpor a montanha e ir outra vertente, onde h batatas em abundncia; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, no chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanio. A paz, nesse caso, a destruio; a guerra a conservao. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Da a alegria da vitria, os hinos, aclamaes, recompensas pblicas e todos os demais efeitos das aes blicas. Se a guerra no fosse isso, tais demonstraes no chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem s comemora e ama o que lhe aprazvel ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ao que virtualmente a destri. Ao vencido, dio ou compaixo; ao vencedor, as batatas. [...] Aparentemente, h nada mais contristador que uma dessas terrveis pestes que devastam um ponto do globo? E, todavia, esse suposto mal um benefcio, no s porque elimina os organismos fracos, incapazes de resistncia, como porque d lugar observao, descoberta da droga curativa. A higiene filha de podrides seculares; devemo-la a milhes de corrompidos e infectos. Nada se perde, tudo ganho. (Quincas Borba, 2016.) Em mas, rigorosamente, no h morte, h vida, porque a supresso de uma condio da sobrevivncia da outra e As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, os termos sublinhados estabelecem relao, respectivamente, de
(UNESP - 2020 - 1 FASE) Tal movimento distingue-se pela atenuao do sentimentalismo e da melancolia, a ausncia quase completa de interesse poltico no contexto da obra (embora no na conduta) e (como os modelos franceses) pelo cuidado da escrita, aspirando a uma expresso de tipo plstico. O mito da pureza da lngua, do casticismo vernacular abonado pela autoridade dos autores clssicos, empolgou toda essa fase da cultura brasileira e foi um critrio de excelncia. possvel mesmo perguntar se a viso luxuosa dos autores desse movimento no representava para as classes dominantes uma espcie de correlativo da prosperidade material e, para o comum dos leitores, uma miragem compensadora que dava conforto. (Antonio Candido. Iniciao literatura brasileira, 2010. Adaptado.) O texto refere-se ao movimento denominado
(UNESP - 2020 - 1 FASE) Perspectiva. Tcnica de representao, numa superfcie plana, do espao tridimensional, baseado no uso de certos fenmenos pticos, como a diminuio aparente no tamanho dos objetos e a convergncia das linhas paralelas medida que se distanciam do observador. (Ian Chilvers (org.). Dicionrio Oxford de arte, 2007.) Verificam-se distores e ambiguidades em relao tcnica da perspectiva na seguinte obra:
(UNESP - 2020 - 2 FASE) O sobrevivente Impossvel compor um poema a essa altura da evoluo da humanidade. Impossvel escrever um poema uma linha que seja de verdadeira poesia. O ltimo trovador morreu em 1914. Tinha um nome de que ningum se lembra mais. H mquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples. Se quer fumar um charuto aperte um boto. Palets abotoam-se por eletricidade. Amor se faz pelo sem-fio. No precisa estmago para digesto. Um sbio declarou a O Jornal que ainda falta muito para atingirmos um nvel razovel de cultura. Mas at l, felizmente, estarei morto. Os homens no melhoraram e matam-se como percevejos. Os percevejos heroicos renascem. Inabitvel, o mundo cada vez mais habitado. E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilvio. (Desconfio que escrevi um poema.) (Poesia 1930-1962, 2012.) a) Qual a opinio do eu lrico sobre a evoluo da humanidade? Justifique sua resposta com base no texto. b) possvel que o eu lrico, no verso O ltimo trovador morreu em 1914., tenha feito aluso a um importante evento histrico. De que evento se trata e qual sua relao com o tema geral do poema?
(UNESP - 2020 - 2 FASE) O sobrevivente Impossvel compor um poema a essa altura da evoluo da humanidade. Impossvel escrever um poema uma linha que seja de verdadeira poesia. O ltimo trovador morreu em 1914. Tinha um nome de que ningum se lembra mais. H mquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples. Se quer fumar um charuto aperte um boto. Palets abotoam-se por eletricidade. Amor se faz pelo sem-fio. No precisa estmago para digesto. Um sbio declarou a O Jornal que ainda falta muito para atingirmos um nvel razovel de cultura. Mas at l, felizmente, estarei morto. Os homens no melhoraram e matam-se como percevejos. Os percevejos heroicos renascem. Inabitvel, o mundo cada vez mais habitado. E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilvio. (Desconfio que escrevi um poema.) (Poesia 1930-1962, 2012.) a) Que relao pode ser estabelecida entre os dois primeiros versos e o ltimo verso do poema? b) Reescreva, na voz passiva, o trecho sublinhado no ltimo verso do poema (Desconfio que escrevi um poema.).
(UNESP - 2020 - 2 FASE) Leia o excerto do romance Clara dos Anjos, de Lima Barreto. Cassi Jones, sem mais percalos, se viu lanado em pleno Campo de SantAna, no meio da multido que jorrava das portas da Central, cheia da honesta pressa de quem vai trabalhar. A sua sensao era que estava numa cidade estranha. No subrbio tinha os seus dios e os seus amores; no subrbio, tinha os seus companheiros, e a sua fama de violeiro percorria todo ele, e, em qualquer parte, era apontado; no subrbio, enfim, ele tinha personalidade, era bem Cassi Jones de Azevedo; mas, ali, sobretudo do Campo de SantAna para baixo, o que era ele? No era nada. Onde acabavam os trilhos da Central, acabava a sua fama e o seu valimento; a sua fanfarronice evaporava-se, e representava-se a si mesmo como esmagado por aqueles caras todos, que nem o olhavam. [...] Na cidade, como se diz, ele percebia toda a sua inferioridade de inteligncia, de educao; a sua rusticidade, diante daqueles rapazes a conversar sobre coisas de que ele no entendia e a trocar pilhrias; em face da sofreguido com que liam os placards1 dos jornais, tratando de assuntos cuja importncia ele no avaliava, Cassi vexava-se de no suportar a leitura; comparando o desembarao com que os fregueses pediam bebidas variadas e esquisitas, lembrava-se que nem mesmo o nome delas sabia pronunciar; olhando aquelas senhoras e moas que lhe pareciam rainhas e princesas, tal e qual o brbaro que viu, no Senado de Roma, s reis, sentia-se humilde; enfim, todo aquele conjunto de coisas finas, de atitudes apuradas, de hbitos de polidez e urbanidade, de franqueza no gastar, reduziam-lhe a personalidade de medocre suburbano, de vagabundo domstico, a quase coisa alguma. (Clara dos Anjos, 2012.) 1 placards: nome que se dava s tabuletas que traziam resultados de competies esportivas, publicados nos jornais. a) no meio da multido que jorrava das portas da Central, cheia da honesta pressa de quem vai trabalhar (1o pargrafo). Identifique as figuras de linguagem utilizadas pelo narrador nas expresses sublinhadas. b) Reescreva o trecho lembrava-se que nem mesmo o nome delas sabia pronunciar (2o pargrafo), empregando a ordem direta e adequando-o norma-padro da lngua escrita.
(UNESP - 2020 - 2 FASE) A ma da conscincia de si. O labrador dourado saltando com a criana na grama; o bal acrobtico do sagui; a liberdade alada da arara-azul cortando o cu sem nuvens quem nunca sentiu inveja dos animais que no sabem para que vivem nem sabem que no o sabem? Inveja dos seres que no sentem continuamente a falta do que no existe; que no se exaurem e gemem sobre a sua condio; que no se deitam insones e choram pelos seus desacertos; que no se perdem nos labirintos da culpa e do desejo; que no castigam seus corpos nem negam os seus desejos; que no matam os seus semelhantes movidos por miragens; que no se deixam enlouquecer pela mania de possuir coisas? O nus da vida consciente de si desperta no animal humano a nostalgia do simples existir: o desejo intermitente de retornar a uma condio anterior conquista da conscincia. A empresa, contudo, padece de uma contradio fatal. A inteno de se livrar da autoconscincia visando a completa imerso no fluxo espontneo e irrefletido da vida pressupe uma aguda conscincia de si por parte de quem a alimenta. Ela como o fruto tardio sonhando em retornar semente da qual veio ao galho. [...] O desejo de saltar para aqum do crcere do pensar se pode compreender e at cultivar em certa medida, mas o lado de fora no h. A conscincia irreparvel; dela, como do tempo, ningum torna atrs ou se desfaz. Desmorder a ma no existe como opo. (Trpicos utpicos, 2016.) a) No ensaio, o que o autor entende por simples existir? b) Considere os seguintes trechos de poemas de Fernando Pessoa: 1. De resto, nada em mim certo e est De acordo comigo prprio. As horas belas So as dos outros ou as que no h. 2. O essencial saber ver, Saber ver sem estar a pensar, Saber ver quando se v, E nem pensar quando se v Nem ver quando se pensa. 3. O meu misticismo no querer saber. viver e no pensar nisso. No sei o que a Natureza: canto-a. 4. Venho de longe e trago no perfil, Em forma nevoenta e afastada, O perfil de outro ser que desagrada Ao meu atual recorte humano e vil. Em quais trechos se observa a inteno de se livrar da autoconscincia visando a completa imerso no fluxo espontneo e irrefletido da vida? Justifique sua resposta.
(UNESP - 2020 - 2 FASE) A ma da conscincia de si. O labrador dourado saltando com a criana na grama; o bal acrobtico do sagui; a liberdade alada da arara-azul cortando o cu sem nuvens quem nunca sentiu inveja dos animais que no sabem para que vivem nem sabem que no o sabem? Inveja dos seres que no sentem continuamente a falta do que no existe; que no se exaurem e gemem sobre a sua condio; que no se deitam insones e choram pelos seus desacertos; que no se perdem nos labirintos da culpa e do desejo; que no castigam seus corpos nem negam os seus desejos; que no matam os seus semelhantes movidos por miragens; que no se deixam enlouquecer pela mania de possuir coisas? O nus da vida consciente de si desperta no animal humano a nostalgia do simples existir: o desejo intermitente de retornar a uma condio anterior conquista da conscincia. A empresa, contudo, padece de uma contradio fatal. A inteno de se livrar da autoconscincia visando a completa imerso no fluxo espontneo e irrefletido da vida pressupe uma aguda conscincia de si por parte de quem a alimenta. Ela como o fruto tardio sonhando em retornar semente da qual veio ao galho. [...] O desejo de saltar para aqum do crcere do pensar se pode compreender e at cultivar em certa medida, mas o lado de fora no h. A conscincia irreparvel; dela, como do tempo, ningum torna atrs ou se desfaz. Desmorder a ma no existe como opo. (Trpicos utpicos, 2016.) a) No contexto do ensaio, o que significa desmorder a ma? b) Quais so os referentes dos trs pronomes sublinhados no ensaio?
(UNESP - 2020 - 2 FASE) Leia o excerto do romance Clara dos Anjos, de Lima Barreto. Cassi Jones, sem mais percalos, se viu lanado em pleno Campo de SantAna, no meio da multido que jorrava das portas da Central, cheia da honesta pressa de quem vai trabalhar. A sua sensao era que estava numa cidade estranha. No subrbio tinha os seus dios e os seus amores; no subrbio, tinha os seus companheiros, e a sua fama de violeiro percorria todo ele, e, em qualquer parte, era apontado; no subrbio, enfim, ele tinha personalidade, era bem Cassi Jones de Azevedo; mas, ali, sobretudo do Campo de SantAna para baixo, o que era ele? No era nada. Onde acabavam os trilhos da Central, acabava a sua fama e o seu valimento; a sua fanfarronice evaporava-se, e representava-se a si mesmo como esmagado por aqueles caras todos, que nem o olhavam. [...] Na cidade, como se diz, ele percebia toda a sua inferioridade de inteligncia, de educao; a sua rusticidade, diante daqueles rapazes a conversar sobre coisas de que ele no entendia e a trocar pilhrias; em face da sofreguido com que liam os placards1 dos jornais, tratando de assuntos cuja importncia ele no avaliava, Cassi vexava-se de no suportar a leitura; comparando o desembarao com que os fregueses pediam bebidas variadas e esquisitas, lembrava-se que nem mesmo o nome delas sabia pronunciar; olhando aquelas senhoras e moas que lhe pareciam rainhas e princesas, tal e qual o brbaro que viu, no Senado de Roma, s reis, sentia-se humilde; enfim, todo aquele conjunto de coisas finas, de atitudes apuradas, de hbitos de polidez e urbanidade, de franqueza no gastar, reduziam-lhe a personalidade de medocre suburbano, de vagabundo domstico, a quase coisa alguma. (Clara dos Anjos, 2012.) 1 placards: nome que se dava s tabuletas que traziam resultados de competies esportivas, publicados nos jornais. a) No excerto, o narrador contrape dois espaos. Identifique-os. b) Na poesia rcade tambm ocorre a contraposio de dois espaos, o que vem a ser um importante tpico dessa poesia. Quais so esses espaos?
(UNESP - 2020 - 2 FASE) O sobrevivente Impossvel compor um poema a essa altura da evoluo da humanidade. Impossvel escrever um poema uma linha que seja de verdadeira poesia. O ltimo trovador morreu em 1914. Tinha um nome de que ningum se lembra mais. H mquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples. Se quer fumar um charuto aperte um boto. Palets abotoam-se por eletricidade. Amor se faz pelo sem-fio. No precisa estmago para digesto. Um sbio declarou a O Jornal que ainda falta muito para atingirmos um nvel razovel de cultura. Mas at l, felizmente, estarei morto. Os homens no melhoraram e matam-se como percevejos. Os percevejos heroicos renascem. Inabitvel, o mundo cada vez mais habitado. E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilvio. (Desconfio que escrevi um poema.) (Poesia 1930-1962, 2012.) a) Explicite a anttese contida em H mquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples. (2estrofe). b) Identifique o pressuposto contido no trecho E se os olhos reaprendessem a chorar (4estrofe), relacionando-o com o tema geral do poema.
(UNESP - 2020 - 2 FASE) Examine os cartuns. a) Explicite o conceito explorado pelo cartum 1. De que modo a imagem ressalta esse conceito? b) Que princpio comanda o processo de criao artstica ilustrado pelo cartum 2? Tal princpio remete a qual vanguarda europeia do incio do sculo XX?