(UNESP - 2022 - 1 fase - DIA 2) Para responder s questes de 11 a 14, leia o trecho do livro A solido dos moribundos, do socilogo alemo Norbert Elias. No mais consideramos um entretenimento de domingo assistir a enforcamentos, esquartejamentos e suplcios na roda. Assistimos ao futebol, e no aos gladiadores na arena. Se comparados aos da Antiguidade, nossa identificao com outras pessoas e nosso compartilhamento de seus sofrimentos e morte aumentaram. Assistir a tigres e lees famintos devorando pessoas vivas pedao a pedao, ou a gladiadores, por astcia e engano, mutuamente se ferindo e matando, dificilmente constituiria uma diverso para a qual nos prepararamos com o mesmo prazer que os senadores ou o povo romano. Tudo indica que nenhum sentimento de identidade unia esses espectadores queles que, na arena, lutavam por suas vidas. Como sabemos, os gladiadores saudavam o imperador ao entrar com as palavras Morituri te salutant (Os que vo morrer te sadam). Alguns dos imperadores sem dvida se acreditavam imortais. De todo modo, teria sido mais apropriado se os gladiadores dissessem Morituri moriturum salutant (Os que vo morrer sadam aquele que vai morrer). Porm, numa sociedade em que tivesse sido possvel dizer isso, provavelmente no haveria gladiadores ou imperadores. A possibilidade de se dizer isso aos dominadores alguns dos quais mesmo hoje tm poder de vida e morte sobre um sem-nmero de seus semelhantes requer uma desmitologizao da morte mais ampla do que a que temos hoje, e uma conscincia muito mais clara de que a espcie humana uma comunidade de mortais e de que as pessoas necessitadas s podem esperar ajuda de outras pessoas. O problema social da morte especialmente difcil de resolver porque os vivos acham difcil identificar-se com os moribundos. A morte um problema dos vivos. Os mortos no tm problemas. Entre as muitas criaturas que morrem na Terra, a morte constitui um problema s para os seres humanos. Embora compartilhem o nascimento, a doena, a juventude, a maturidade, a velhice e a morte com os animais, apenas eles, dentre todos os vivos, sabem que morrero; apenas eles podem prever seu prprio fim, estando cientes de que pode ocorrer a qualquer momento e tomando precaues especiais como indivduos e como grupos para proteger-se contra a ameaa da aniquilao. (A solido dos moribundos, 2001.) De acordo com o autor,
(UNESP - 2022 - 2 FASE)Sem dvida, o capital no tem ptria, e esta uma das suas vantagens universais que o fazem to ativo e irradiante. Mas o trabalho que ele explora tem me, tem pai, tem mulher e filhos, tem lngua e costumes, tem msica e religio. Tem uma fisionomia humana que dura enquanto pode. E como pode, j que a sua situao de raiz sempre a de falta e dependncia. Narrar a necessidade perfazer a forma do ciclo. Entre a conscincia narradora, que sustm a histria, e a matria narrvel, sertaneja, opera um pensamento desencantado, que figura o cotidiano do pobre em um ritmo pendular: da chuva seca, da folga carncia, do bem-estar depresso, voltando sempre do ltimo estado ao primeiro. a narrao, que se quer objetiva, da modstia dos meios de vida registrada na modstia da vida simblica. (Alfredo Bosi. Cu, inferno: ensaios de crtica literria e ideolgica, 2003. Adaptado.) O comentrio aplica-se com preciso obra
(UNESP - 2022 - 1 fase - DIA 1) Leia a cena inicial da comdia O novio, de Martins Pena. AMBRSIO: No mundo a fortuna para quem sabe adquiri-la. Pintam-na cega... Que simplicidade! Cego aquele que no tem inteligncia para v-la e a alcanar. Todo homem pode ser rico, se atinar com o verdadeiro caminho da fortuna. Vontade forte, perseverana e pertincia so poderosos auxiliares. Qual o homem que, resolvido a empregar todos os meios, no consegue enriquecer-se? Em mim se v o exemplo. H oito anos, era eu pobre e miservel, e hoje sou rico, e mais ainda serei. O como no importa; no bom resultado est o mrito... Mas um dia pode tudo mudar. Oh, que temo eu? Se em algum tempo tiver de responder pelos meus atos, o ouro justificar-me- e serei limpo de culpa. As leis criminais fizeram-se para os pobres... (Martins Pena. Comdias (1844-1845), 2007.) Um vocbulo tambm pode ser formado quando passa de uma classe gramatical a outra, sem a modificao de sua forma. o que se denomina derivao imprpria. Na fala de Ambrsio, constitui exemplo de derivao imprpria o vocbulo sublinhado em
(UNESP - 2022 - 1 fase - DIA 2) Para responder s questes de 11 a 14, leia o trecho do livroA solido dos moribundos, do socilogo alemo Norbert Elias. No mais consideramos um entretenimento de domingo assistir a enforcamentos, esquartejamentos e suplcios na roda. Assistimos ao futebol, e no aos gladiadores na arena. Se comparados aos da Antiguidade, nossa identificao com outras pessoas e nosso compartilhamento de seus sofrimentos e morte aumentaram. Assistir a tigres e lees famintos devorando pessoas vivas pedao a pedao, ou a gladiadores, por astcia e engano, mutuamente se ferindo e matando, dificilmente constituiria uma diverso para a qual nos prepararamos com o mesmo prazer que os senadores ou o povo romano. Tudo indica que nenhum sentimento de identidade unia esses espectadores queles que, na arena, lutavam por suas vidas. Como sabemos, os gladiadores saudavam o imperador ao entrar com as palavras Morituri te salutant (Os que vo morrer te sadam). Alguns dos imperadores sem dvida se acreditavam imortais. De todo modo, teria sido mais apropriado se os gladiadores dissessem Morituri moriturum salutant (Os que vo morrer sadam aquele que vai morrer). Porm, numa sociedade em que tivesse sido possvel dizer isso, provavelmente no haveria gladiadores ou imperadores. A possibilidade de se dizer isso aos dominadores alguns dos quais mesmo hoje tm poder de vida e morte sobre um sem-nmero de seus semelhantes requer uma desmitologizao da morte mais ampla do que a que temos hoje, e uma conscincia muito mais clara de que a espcie humana uma comunidade de mortais e de que as pessoas necessitadas s podem esperar ajuda de outras pessoas. O problema social da morte especialmente difcil de resolver porque os vivos acham difcil identificar-se com os moribundos. A morte um problema dos vivos. Os mortos no tm problemas. Entre as muitas criaturas que morrem na Terra, a morte constitui um problema s para os seres humanos. Embora compartilhem o nascimento, a doena, a juventude, a maturidade, a velhice e a morte com os animais, apenas eles, dentre todos os vivos, sabem que morrero; apenas eles podem prever seu prprio fim, estando cientes de que pode ocorrer a qualquer momento e tomando precaues especiais como indivduos e como grupos para proteger-se contra a ameaa da aniquilao. (A solido dos moribundos, 2001.) No primeiro pargrafo, a impessoalidade da linguagem est bem exemplificada no trecho:
(UNESP - 2022 - 1 fase - DIA 2) Para responder s questes de 11 a 14, leia o trecho do livroA solido dos moribundos, do socilogo alemo Norbert Elias. No mais consideramos um entretenimento de domingo assistir a enforcamentos, esquartejamentos e suplcios na roda. Assistimos ao futebol, e no aos gladiadores na arena. Se comparados aos da Antiguidade, nossa identificao com outras pessoas e nosso compartilhamento de seus sofrimentos e morte aumentaram. Assistir a tigres e lees famintos devorando pessoas vivas pedao a pedao, ou a gladiadores, por astcia e engano, mutuamente se ferindo e matando, dificilmente constituiria uma diverso para a qual nos prepararamos com o mesmo prazer que os senadores ou o povo romano. Tudo indica que nenhum sentimento de identidade unia esses espectadores queles que, na arena, lutavam por suas vidas. Como sabemos, os gladiadores saudavam o imperador ao entrar com as palavras Morituri te salutant (Os que vo morrer te sadam). Alguns dos imperadores sem dvida se acreditavam imortais. De todo modo, teria sido mais apropriado se os gladiadores dissessem Morituri moriturum salutant (Os que vo morrer sadam aquele que vai morrer). Porm, numa sociedade em que tivesse sido possvel dizer isso, provavelmente no haveria gladiadores ou imperadores. A possibilidade de se dizer isso aos dominadores alguns dos quais mesmo hoje tm poder de vida e morte sobre um sem-nmero de seus semelhantes requer uma desmitologizao da morte mais ampla do que a que temos hoje, e uma conscincia muito mais clara de que a espcie humana uma comunidade de mortais e de que as pessoas necessitadas s podem esperar ajuda de outras pessoas. O problema social da morte especialmente difcil de resolver porque os vivos acham difcil identificar-se com os moribundos. A morte um problema dos vivos. Os mortos no tm problemas. Entre as muitas criaturas que morrem na Terra, a morte constitui um problema s para os seres humanos. Embora compartilhem o nascimento, a doena, a juventude, a maturidade, a velhice e a morte com os animais, apenas eles, dentre todos os vivos, sabem que morrero; apenas eles podem prever seu prprio fim, estando cientes de que pode ocorrer a qualquer momento e tomando precaues especiais como indivduos e como grupos para proteger-se contra a ameaa da aniquilao. (A solido dos moribundos, 2001.) Em Embora compartilhem o nascimento, a doena, a juventude, a maturidade, a velhice e a morte com os animais, apenas eles, dentre todos os vivos, sabem que morrero (2o pargrafo), o termo sublinhado pode ser substitudo, sem prejuzo para o sentido do texto, por:
(UNESP - 2022 - 1 fase - DIA 1) Tal movimento deriva quase todos os seus critrios de probabilidade do empirismo das cincias naturais. Baseia seu conceito de verdade psicolgica no princpio de causalidade, o desenvolvimento apropriado da trama na eliminao do acaso e dos milagres, sua descrio do ambiente na ideia de que todo e qualquer fenmeno natural tem lugar numa interminvel cadeia de condies e motivos, sua utilizao de detalhes caractersticos no mtodo de observao cientfica que no despreza circunstncia alguma, por mais insignificante e trivial que seja. (Arnold Hauser. Histria social da arte e da literatura, 1994. Adaptado.) O texto refere-se ao movimento
(UNESP - 2022 - 1 fase - DIA 2) Para responder s questes de 11 a 14, leia o trecho do livroA solido dos moribundos, do socilogo alemo Norbert Elias. No mais consideramos um entretenimento de domingo assistir a enforcamentos, esquartejamentos e suplcios na roda. Assistimos ao futebol, e no aos gladiadores na arena. Se comparados aos da Antiguidade, nossa identificao com outras pessoas e nosso compartilhamento de seus sofrimentos e morte aumentaram. Assistir a tigres e lees famintos devorando pessoas vivas pedao a pedao, ou a gladiadores, por astcia e engano, mutuamente se ferindo e matando, dificilmente constituiria uma diverso para a qual nos prepararamos com o mesmo prazer que os senadores ou o povo romano. Tudo indica que nenhum sentimento de identidade unia esses espectadores queles que, na arena, lutavam por suas vidas. Como sabemos, os gladiadores saudavam o imperador ao entrar com as palavras Morituri te salutant (Os que vo morrer te sadam). Alguns dos imperadores sem dvida se acreditavam imortais. De todo modo, teria sido mais apropriado se os gladiadores dissessem Morituri moriturum salutant (Os que vo morrer sadam aquele que vai morrer). Porm, numa sociedade em que tivesse sido possvel dizer isso, provavelmente no haveria gladiadores ou imperadores. A possibilidade de se dizer isso aos dominadores alguns dos quais mesmo hoje tm poder de vida e morte sobre um sem-nmero de seus semelhantes requer uma desmitologizao da morte mais ampla do que a que temos hoje, e uma conscincia muito mais clara de que a espcie humana uma comunidade de mortais e de que as pessoas necessitadas s podem esperar ajuda de outras pessoas. O problema social da morte especialmente difcil de resolver porque os vivos acham difcil identificar-se com os moribundos. A morte um problema dos vivos. Os mortos no tm problemas. Entre as muitas criaturas que morrem na Terra, a morte constitui um problema s para os seres humanos. Embora compartilhem o nascimento, a doena, a juventude, a maturidade, a velhice e a morte com os animais, apenas eles, dentre todos os vivos, sabem que morrero; apenas eles podem prever seu prprio fim, estando cientes de que pode ocorrer a qualquer momento e tomando precaues especiais como indivduos e como grupos para proteger-se contra a ameaa da aniquilao. (A solido dos moribundos, 2001.) Em De todo modo, teria sido mais apropriado se os gladiadores dissessem Morituri moriturum salutant (Os que vo morrer sadam aquele que vai morrer) (1o pargrafo), o termo sublinhado pertence mesma classe gramatical do termo sublinhado em
(UNESP - 2022 - 1 fase - DIA 1) Para responder s questes de 14 a 19, leia o artigo P de pirlimpimpim, do neurocientista brasileiro Sidarta Ribeiro. Alcanar o aprendizado instantneo um desejo poderoso, pois o crebro sem informao pouco mais que estofo de macela1 . Emlia, a sabida boneca de Monteiro Lobato, aprendeu a falar copiosamente aps engolir uma plula, adquirindo de supeto todo o vocabulrio dos seres humanos ao seu redor. No filme Matrix (1999), a ingesto de uma plula colorida faz o personagem Neo descobrir que todo o mundo em que sempre viveu no passa de uma simulao chamada Matriz, dentro da qual possvel programar qualquer coisa. Poucos instantes depois de se conectar a um computador, Neo desperta e profere estupefato: I know kung fu. Entretanto, na matriz cerebral das pessoas de carne e osso, vale o dito popular: Urubu, pra cantar, demora. O aprendizado de comportamentos complexos difcil e demorado, pois requer a alterao massiva de conexes neuronais. H consenso hoje em dia de que o contedo dos nossos pensamentos deriva dos padres de ativao de vastas redes neuronais, impossibilitando a aquisio instantnea de memrias intrincadas. Mas nem sempre foi assim. H meio sculo, experimentos realizados na Universidade de Michigan pareciam indicar que as planrias, vermes aquticos passveis de condicionamento clssico, eram capazes de adquirir, mesmo sem treinamento, associaes estmulo-resposta por ingesto de um extrato de planrias j condicionadas. O resultado, aparentemente revolucionrio, sugeria que os substratos materiais da memria so molculas. Contudo, estudos posteriores demonstraram que a ingesto de planrias no condicionadas tambm acelerava o aprendizado, revelando um efeito hormonal genrico, independente do contedo das memrias presentes nas planrias ingeridas. A ingesto de memrias impossvel porque elas so estados complexos de redes neuronais, no um quantum de significado como a plula da Emlia. Por outro lado, sim possvel acelerar a consolidao das memrias por meio da otimizao de variveis fisiolgicas envolvidas no processo. Uma linha de pesquisa importante diz respeito ao sono, cujo benefcio consolidao de memrias j foi comprovado. Em 2006, pesquisadores alemes publicaram um estudo sobre os efeitos mnemnicos da estimulao cerebral com ondas lentas (0,75 Hz) aplicadas durante o sono por meio de um estimulador eltrico. Os resultados mostraram que a estimulao de baixa frequncia suficiente para melhorar o aprendizado de diferentes tarefas. Ao que parece, as oscilaes lentas do sono so puro p de pirlimpimpim. (Sidarta Ribeiro. Limiar: cincia e vida contempornea, 2020.) 1 macela: planta herbcea cujas flores costumam ser usadas pela populao como estofo de travesseiros. Por se tratar de um artigo de divulgao cientfica (e no um artigo cientfico propriamente), predomina no texto uma linguagem
(UNESP - 2022 - 1 fase - DIA 1) Para responder s questes de14a19, leia o artigo P de pirlimpimpim, do neurocientista brasileiro Sidarta Ribeiro. Alcanar o aprendizado instantneo um desejo poderoso, pois o crebro sem informao pouco mais que estofo de macela1. Emlia, a sabida boneca de Monteiro Lobato, aprendeu a falar copiosamente aps engolir uma plula, adquirindo de supeto todo o vocabulrio dos seres humanos ao seu redor. No filme Matrix (1999), a ingesto de uma plula colorida faz o personagem Neo descobrir que todo o mundo em que sempre viveu no passa de uma simulao chamada Matriz, dentro da qual possvel programar qualquer coisa. Poucos instantes depois de se conectar a um computador, Neo desperta e profere estupefato: I know kung fu. Entretanto, na matriz cerebral das pessoas de carne e osso, vale o dito popular: Urubu, pra cantar, demora. O aprendizado de comportamentos complexos difcil e demorado, pois requer a alterao massiva de conexes neuronais. H consenso hoje em dia de que o contedo dos nossos pensamentos deriva dos padres de ativao de vastas redes neuronais, impossibilitando a aquisio instantnea de memrias intrincadas. Mas nem sempre foi assim. H meio sculo, experimentos realizados na Universidade de Michigan pareciam indicar que as planrias, vermes aquticos passveis de condicionamento clssico, eram capazes de adquirir, mesmo sem treinamento, associaes estmulo-resposta por ingesto de um extrato de planrias j condicionadas. O resultado, aparentemente revolucionrio, sugeria que os substratos materiais da memria so molculas. Contudo, estudos posteriores demonstraram que a ingesto de planrias no condicionadas tambm acelerava o aprendizado, revelando um efeito hormonal genrico, independente do contedo das memrias presentes nas planrias ingeridas. A ingesto de memrias impossvel porque elas so estados complexos de redes neuronais, no um quantum de significado como a plula da Emlia. Por outro lado, sim possvel acelerar a consolidao das memrias por meio da otimizao de variveis fisiolgicas envolvidas no processo. Uma linha de pesquisa importante diz respeito ao sono, cujo benefcio consolidao de memrias j foi comprovado. Em 2006, pesquisadores alemes publicaram um estudo sobre os efeitos mnemnicos da estimulao cerebral com ondas lentas (0,75 Hz) aplicadas durante o sono por meio de um estimulador eltrico. Os resultados mostraram que a estimulao de baixa frequncia suficiente para melhorar o aprendizado de diferentes tarefas. Ao que parece, as oscilaes lentas do sono so puro p de pirlimpimpim. (Sidarta Ribeiro.Limiar: cincia e vida contempornea, 2020.) 1 macela: planta herbcea cujas flores costumam ser usadas pela populao como estofo de travesseiros. De acordo com o autor,
To variadas so as manifestaes desse movimento que impossvel formular-lhe uma definio nica; mesmo assim, pode-se dizer que sua tnica foi uma crena no valor supremo da experincia individual, configurando nesse sentido uma reao contra o racionalismo iluminista e a ordem do estilo neoclssico. Seus autores exploravam os valores da intuio e do instinto, trocando o discurso pblico do neoclassicismo, cujas formas compunham um repertrio mais comum e inteligvel, por um tipo de expresso mais particular. (Ian Chilvers (org.). Dicionrio Oxford de arte, 2007. Adaptado.) O movimento a que o texto se refere o
(UNESP - 2022 - 1 fase - DIA 2) Leia o trecho inicial da crnica Est aberta a sesso do jri, de Graciliano Ramos, publicada originalmente em 1943. O Dr. Frana, Juiz de Direito numa cidadezinha sertaneja, andava em meio sculo, tinha gravidade imensa, verbo escasso, bigodes, colarinhos, sapatos e ideias de pontas muito finas. Vestia-se ordinariamente de preto, exigia que todos na justia procedessem da mesma forma e chegou a mandar retirar-se do Tribunal um jurado inconveniente, de roupa clara, ordenar-lhe que voltasse razovel e fnebre, para no prejudicar a decncia do veredicto. No via, no sorria. Quando parava numa esquina, as cavaqueiras dos vadios gelavam. Ao afastar-se, mexia as pernas matematicamente, os passos mediam setenta centmetros, exatos, apesar de barrocas e degraus. A espinha no se curvava, embora descesse ladeiras, as mos e os braos executavam os movimentos indispensveis, as duas rugas horizontais da testa no se aprofundavam nem se desfaziam. Na sua biblioteca digna e sbia, volumes bojudos, tratados majestosos, severos na encadernao negra semelhante do proprietrio, empertigavam-se e nenhum ousava deitar-se, inclinar-se, quebrar o alinhamento rigoroso. Dr. Frana levantava-se s sete horas e recolhia-se meia-noite, fizesse frio ou calor, almoava ao meio-dia e jantava s cinco, ouvia missa aos domingos, comungava de seis em seis meses, pagava o aluguel da casa no dia 30 ou no dia 31, entendia-se com a mulher, parcimonioso, na linguagem usada nas sentenas, linguagem arrevesada e arcaica das ordenaes. Nunca julgou oportuno modificar esses hbitos salutares. No amou nem odiou. Contudo exaltou a virtude, emanao das existncias calmas, e condenou o crime, infeliz consequncia da paixo. Se atentssemos nas palavras emitidas por via oral, poderamos afirmar que o Dr. Frana no pensava. Vistos os autos, etc., perceberamos entretanto que ele pensava com alguma frequncia. Apenas o pensamento de Dr. Frana no seguia a marcha dos pensamentos comuns. Operava, se nonos enganamos, deste modo: considerando isto, considerando isso, considerando aquilo, considerando ainda mais isto, considerando porm aquilo, concluo. Tudo se formulava em obedincia s regras e era impossvel qualquer desvio. Dr. Frana possua um esprito, sem dvida, esprito redigido com circunlquios, dividido em captulos, ttulos, artigos e pargrafos. E o que se distanciava desses pargrafos, artigos, ttulos e captulos no o comovia, porque Dr. Frana est livre dos tormentos da imaginao. (Graciliano Ramos. Viventes das Alagoas, 1976.) 1barroca: monte de terra ou de barro. Na crnica, o Dr. Frana caracterizado como
(UNESP - 2022 - 1 fase - DIA 1) Alcanar o aprendizado instantneo um desejo poderoso, pois o crebro sem informao pouco mais que estofo de macela1. Emlia, a sabida boneca de Monteiro Lobato, aprendeu a falar copiosamente aps engolir uma plula, adquirindo de supeto todo o vocabulrio dos seres humanos ao seu redor. No filme Matrix (1999), a ingesto de uma plula colorida faz o personagem Neo descobrir que todo o mundo em que sempre viveu no passa de uma simulao chamada Matriz, dentro da qual possvel programar qualquer coisa. Poucos instantes depois de se conectar a um computador, Neo desperta e profere estupefato: I know kung fu. Entretanto, na matriz cerebral das pessoas de carne e osso, vale o dito popular: Urubu, pra cantar, demora. O aprendizado de comportamentos complexos difcil e demorado, pois requer a alterao massiva de conexes neuronais. H consenso hoje em dia de que o contedo dos nossos pensamentos deriva dos padres de ativao de vastas redes neuronais, impossibilitando a aquisio instantnea de memrias intrincadas. Mas nem sempre foi assim. H meio sculo, experimentos realizados na Universidade de Michigan pareciam indicar que as planrias, vermes aquticos passveis de condicionamento clssico, eram capazes de adquirir, mesmo sem treinamento, associaes estmulo-resposta por ingesto de um extrato de planrias j condicionadas. O resultado, aparentemente revolucionrio, sugeria que os substratos materiais da memria so molculas. Contudo, estudos posteriores demonstraram que a ingesto de planrias no condicionadas tambm acelerava o aprendizado, revelando um efeito hormonal genrico, independente do contedo das memrias presentes nas planrias ingeridas. A ingesto de memrias impossvel porque elas so estados complexos de redes neuronais, no um quantum de significado como a plula da Emlia. Por outro lado, sim possvel acelerar a consolidao das memrias por meio da otimizao de variveis fisiolgicas envolvidas no processo. Uma linha de pesquisa importante diz respeito ao sono, cujo benefcio consolidao de memrias j foi comprovado. Em 2006, pesquisadores alemes publicaram um estudo sobre os efeitos mnemnicos da estimulao cerebral com ondas lentas (0,75 Hz) aplicadas durante o sono por meio de um estimulador eltrico. Os resultados mostraram que a estimulao de baixa frequncia suficiente para melhorar o aprendizado de diferentes tarefas. Ao que parece, as oscilaes lentas do sono so puro p de pirlimpimpim. (Sidarta Ribeiro.Limiar: cincia e vida contempornea, 2020.) 1 macela: planta herbcea cujas flores costumam ser usadas pela populao como estofo de travesseiros. Entretanto, na matriz cerebral das pessoas de carne e osso, vale o dito popular: Urubu, pra cantar, demora. (2 pargrafo) Considerando o contexto, o ditado popular mencionado pode ser substitudo pelo seguinte provrbio:
(UNESP - 2022 - 1 fase - DIA 2) Leia o trecho inicial da crnica Est aberta a sesso do jri, de Graciliano Ramos, publicada originalmente em 1943. O Dr. Frana, Juiz de Direito numa cidadezinha sertaneja, andava em meio sculo, tinha gravidade imensa, verbo escasso, bigodes, colarinhos, sapatos e ideias de pontas muito finas. Vestia-se ordinariamente de preto, exigia que todos na justia procedessem da mesma forma e chegou a mandar retirar-se do Tribunal um jurado inconveniente, de roupa clara, ordenar-lhe que voltasse razovel e fnebre, para no prejudicar a decncia do veredicto. No via, no sorria. Quando parava numa esquina, as cavaqueiras dos vadios gelavam. Ao afastar-se, mexia as pernas matematicamente, os passos mediam setenta centmetros, exatos, apesar de barrocas e degraus. A espinha no se curvava, embora descesse ladeiras, as mos e os braos executavam os movimentos indispensveis, as duas rugas horizontais da testa no se aprofundavam nem se desfaziam. Na sua biblioteca digna e sbia, volumes bojudos, tratados majestosos, severos na encadernao negra semelhante do proprietrio, empertigavam-se e nenhum ousava deitar-se, inclinar-se, quebrar o alinhamento rigoroso. Dr. Frana levantava-se s sete horas e recolhia-se meia-noite, fizesse frio ou calor, almoava ao meio-dia e jantava s cinco, ouvia missa aos domingos, comungava de seis em seis meses, pagava o aluguel da casa no dia 30 ou no dia 31, entendia-se com a mulher, parcimonioso, na linguagem usada nas sentenas, linguagem arrevesada e arcaica das ordenaes. Nunca julgou oportuno modificar esses hbitos salutares. No amou nem odiou. Contudo exaltou a virtude, emanao das existncias calmas, e condenou o crime, infeliz consequncia da paixo. Se atentssemos nas palavras emitidas por via oral, poderamos afirmar que o Dr. Frana no pensava. Vistos os autos, etc., perceberamos entretanto que ele pensava com alguma frequncia. Apenas o pensamento de Dr. Frana no seguia a marcha dos pensamentos comuns. Operava, se nonos enganamos, deste modo: considerando isto, considerando isso, considerando aquilo, considerando ainda mais isto, considerando porm aquilo, concluo. Tudo se formulava em obedincia s regras e era impossvel qualquer desvio. Dr. Frana possua um esprito, sem dvida, esprito redigido com circunlquios, dividido em captulos, ttulos, artigos e pargrafos. E o que se distanciava desses pargrafos, artigos, ttulos e captulos no o comovia, porque Dr. Frana est livre dos tormentos da imaginao. (Graciliano Ramos. Viventes das Alagoas, 1976.) 1 barroca: monte de terra ou de barro. O cronista intromete-se explicitamente no texto no seguinte trecho:
(UNESP - 2022 - 1 fase - DIA 1) Para responder s questes de 14 a 19, leia o artigo P de pirlimpimpim, do neurocientista brasileiro Sidarta Ribeiro Alcanar o aprendizado instantneo um desejo poderoso, pois o crebro sem informao pouco mais que estofo de macela1. Emlia, a sabida boneca de Monteiro Lobato, aprendeu a falar copiosamente aps engolir uma plula, adquirindo de supeto todo o vocabulrio dos seres humanos ao seu redor. No filme Matrix (1999), a ingesto de uma plula colorida faz o personagem Neo descobrir que todo o mundo em que sempre viveu no passa de uma simulao chamada Matriz, dentro da qual possvel programar qualquer coisa. Poucos instantes depois de se conectar a um computador, Neo desperta e profere estupefato: I know kung fu. Entretanto, na matriz cerebral das pessoas de carne e osso, vale o dito popular: Urubu, pra cantar, demora. O aprendizado de comportamentos complexos difcil e demorado, pois requer a alterao massiva de conexes neuronais. H consenso hoje em dia de que o contedo dos nossos pensamentos deriva dos padres de ativao de vastas redes neuronais, impossibilitando a aquisio instantnea de memrias intrincadas. Mas nem sempre foi assim. H meio sculo, experimentos realizados na Universidade de Michigan pareciam indicar que as planrias, vermes aquticos passveis de condicionamento clssico, eram capazes de adquirir, mesmo sem treinamento, associaes estmulo-resposta por ingesto de um extrato de planrias j condicionadas. O resultado, aparentemente revolucionrio, sugeria que os substratos materiais da memria so molculas. Contudo, estudos posteriores demonstraram que a ingesto de planrias no condicionadas tambm acelerava o aprendizado, revelando um efeito hormonal genrico, independente do contedo das memrias presentes nas planrias ingeridas. A ingesto de memrias impossvel porque elas so estados complexos de redes neuronais, no um quantum de significado como a plula da Emlia. Por outro lado, sim possvel acelerar a consolidao das memrias por meio da otimizao de variveis fisiolgicas envolvidas no processo. Uma linha de pesquisa importante diz respeito ao sono, cujo benefcio consolidao de memrias j foi comprovado. Em 2006, pesquisadores alemes publicaram um estudo sobre os efeitos mnemnicos da estimulao cerebral com ondas lentas (0,75 Hz) aplicadas durante o sono por meio de um estimulador eltrico. Os resultados mostraram que a estimulao de baixa frequncia suficiente para melhorar o aprendizado de diferentes tarefas. Ao que parece, as oscilaes lentas do sono so puro p de pirlimpimpim. (Sidarta Ribeiro.Limiar: cincia e vida contempornea, 2020.) 1 macela: planta herbcea cujas flores costumam ser usadas pela populao como estofo de travesseiros. Em Ao que parece, as oscilaes lentas do sono so puro p de pirlimpimpim (4 pargrafo), o autor caracteriza as oscilaes lentas do sono como um processo
(UNESP - 2022 - 1 fase - DIA 2) O Dr. Frana, Juiz de Direito numa cidadezinha sertaneja, andava em meio sculo, tinha gravidade imensa, verbo escasso, bigodes, colarinhos, sapatos e ideias de pontas muito finas. Vestia-se ordinariamente de preto, exigia que todos na justia procedessem da mesma forma e chegou a mandar retirar-se do Tribunal um jurado inconveniente, de roupa clara, ordenar-lhe que voltasse razovel e fnebre, para no prejudicar a decncia do veredicto. No via, no sorria. Quando parava numa esquina, as cavaqueiras dos vadios gelavam. Ao afastar-se, mexia as pernas matematicamente, os passos mediam setenta centmetros, exatos, apesar de barrocas e degraus. A espinha no se curvava, embora descesse ladeiras, as mos e os braos executavam os movimentos indispensveis, as duas rugas horizontais da testa no se aprofundavam nem se desfaziam. Na sua biblioteca digna e sbia, volumes bojudos, tratados majestosos, severos na encadernao negra semelhante do proprietrio, empertigavam-se e nenhum ousava deitar-se, inclinar-se, quebrar o alinhamento rigoroso. Dr. Frana levantava-se s sete horas e recolhia-se meia-noite, fizesse frio ou calor, almoava ao meio-dia e jantava s cinco, ouvia missa aos domingos, comungava de seis em seis meses, pagava o aluguel da casa no dia 30 ou no dia 31, entendia-se com a mulher, parcimonioso, na linguagem usada nas sentenas, linguagem arrevesada e arcaica das ordenaes. Nunca julgou oportuno modificar esses hbitos salutares. No amou nem odiou. Contudo exaltou a virtude, emanao das existncias calmas, e condenou o crime, infeliz consequncia da paixo. Se atentssemos nas palavras emitidas por via oral, poderamos afirmar que o Dr. Frana no pensava. Vistos osautos, etc., perceberamos entretanto que ele pensava com alguma frequncia. Apenas o pensamento de Dr. Frana no seguia a marcha dos pensamentos comuns. Operava, se no nos enganamos, deste modo: considerando isto, considerando isso, considerando aquilo, considerando ainda mais isto, considerando porm aquilo, concluo. Tudo se formulava em obedincia s regras e era impossvel qualquer desvio. Dr. Frana possua um esprito, sem dvida, esprito redigido com circunlquios, dividido em captulos, ttulos, artigos e pargrafos. E o que se distanciava desses pargrafos, artigos, ttulos e captulos no o comovia, porque Dr. Frana est livre dos tormentos da imaginao. (Graciliano Ramos. Viventes das Alagoas, 1976.) O cronista recorre personificao no seguinte trecho: