(UNICAMP - 2008 - 2fase - Questo 10) O poema abaixo pertence aO Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro: Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo.... Por isso a minha aldeia to grande como outra terra qualquer Porque eu sou do tamanho do que vejo E no do tamanho da minha altura... Nas cidades a vida mais pequena Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro. Na cidade as grandes casas fecham a vista chave, Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o cu, Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar, E tornam-nos pobres porque a nossa nica riqueza ver. (Fernando Pessoa, Obra Potica. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1983, p.142.) O trecho abaixo pertence ao captulo VIII de A cidade e as serras, em que se narra a viagem de Jacinto a Tormes. Trepvamos ento alguma ruazinha de aldeia, dez ou doze casebres, sumidos entre figueiras, onde se esgaava, fugindo do lar pela telha-v o fumo branco e cheiroso das pinhas. Nos cerros remotos, por cima da negrura pensativa dos pinheirais, branquejavam ermidas. O ar fino e puro entrava na alma, e na alma espalhava alegria e fora. Um esparso tilintar de chocalhos de guizos morria pelas quebradas... Jacinto adiante, na sua gua rua, murmurava: - Que beleza ! E eu atrs, no burro de Sancho, murmurava: - Que beleza ! Frescos ramos roavam os nossos ombros com familiaridade e carinho. (Ea de Queiroz, Obra Completa. Beatriz Berrini (org.). Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1997, Vol.II, pp. 561, grifos nossos.) a) O que o trecho revela da viso de Jacinto sobre a aldeia e que afinidade existe entre essa viso e a de Alberto Caeiro no poema da questo anterior. b) Explique a relao entre o protagonista e a paisagem nas duas frases sublinhadas.
(UNICAMP - 2008 - 2fase - Questo 7) O poema abaixo, de Carlos Drummond de Andrade, pertence ao livro A rosa do povo (1945), que rene composies escritas na poca da Segunda Guerra Mundial e da ditadura do Estado Novo no Brasil: Passagem da Noite noite. Sinto que noite no porque a sombra descesse (bem me importa a face negra) mas porque dentro de mim, no fundo de mim, o grito se calou, fez-se desnimo. Sinto que ns somos noite, que palpitamos no escuro e em noite nos dissolvemos. Sinto que noite no vento, noite nas guas, na pedra. E que adianta uma lmpada? E que adianta uma voz? noite no meu amigo. noite no submarino. noite na roa grande. noite, no morte, noite de sono espesso e sem praia. No dor, nem paz, noite, perfeitamente a noite. Mas salve, olhar de alegria! E salve, dia que surge! Os corpos saltam do sono, o mundo se recompe. Que gozo na bicicleta! Existir: seja como for. A fraterna entrega do po. Amar: mesmo nas canes. De novo andar: as distncias, as cores, posse das ruas. Tudo que noite perdemos se nos confia outra vez. Obrigado, coisas fiis! Saber que ainda h florestas, sinos, palavras; que a terra prossegue seu giro, e o tempo no murchou; no nos dilumos! Chupar o gosto do dia! Clara manh, obrigado, o essencial viver! a) Explique o sentido metafrico da noite e o uso do verbo sentir, na 1 estrofe b) Explique o sentido metafrico do dia e o sentimento a ele associado, na 2 estrofe.
(UNICAMP - 2008 - 2fase - Questo 8) Na seguinte passagem do captulo LXXX (Venhamos ao captulo), de Dom Casmurro, o narrador trata da promessa feita por D. Glria. Um dos aforismos de Franklin que, para quem tem de pagar na pscoa, a quaresma curta. A nossa quaresma no foi mais longa que as outras, e minha me, posto me mandasse ensinar latim e doutrina, comeou a adiar a minha entrada no seminrio. o que se chama, comercialmente falando, reformar uma letra. O credor era arquimilionrio, no dependia daquela quantia para comer, e consentiu nas transferncias de pagamento, sem querer agravar a taxa do juro. Um dia, porm, um dos familiares que serviam de endossantes da letra, falou da necessidade de entregar o preo ajustado; est num dos captulos primeiros. Minha me concordou e recolhi-me a S.Jos. a) Quem lembrou D. Glria da promessa e qual seu vnculo com a famlia dela? b) Explique o uso da linguagem comercial no trecho citado acima e no romance.
(UNICAMP - 2008 - 2fase - Questo 1) a) No primeiro quadrinho, a meno a palavres constri uma expectativa que quebrada no segundo quadrinho. Mostre como ela produzida, apontando uma expresso relacionada a palavres, presente no primeiro quadrinho, que ajuda na construo dessa expectativa. b) No segundo quadrinho, o cmico se constri justamente pela quebra da expectativa produzida no quadrinho anterior. Entretanto, embora a relao pressuposta no primeiro quadrinho se mantenha, ela passa a ser entendida num outro sentido, o que produz o riso. Explique o que se mantm e o que alterado no segundo quadrinho em termos de pressupostos e relaes entre as palavras.
(UNICAMP - 2008 - 2fase - Questo 2) A carta abaixo reproduzida foi publicada em outubro de 2007, aps declarao sobre a legalizao do aborto feita por Srgio Cabral, governador do Estado do Rio de Janeiro. Sobre a declarao do governador fluminense, Srgio Cabral, deque as mes faveladas so uma fbrica de produzir marginais,cabe indagar: essas mes produzem marginais apenas quando do luz ou tambm quando votam? (Juarez R. Venitez, Sacramento-MG, seo Painel do Leitor, Folha de So Paulo, 29/10/2007.) a) H uma forte ironia produzida no texto da carta. Destaque a parte do texto em que se expressa essa ironia. Justifique. b) Nessa ironia, marca-se uma crtica declarao do governador do Rio de Janeiro. Entretanto, em funo da presena de uma construo sinttica, a crtica no incorre em uma oposio. Indique a construo sinttica que relativiza essa crtica. Justifique.
(UNICAMP - 2008 - 2fase - Questo 3) O seguinte enunciado est presente em uma campanha publicitria de provedor de Internet: Finalmente um lder mundial de Internet que sabe a diferena entre acabar em pizza e acabar empizza. Terra. A Internet do Brasil e do mundo. a) A propaganda joga com um duplo sentido da expresso acabar em pizza. Qual o duplo sentido? b) A propaganda trabalha com esse duplo sentido para construir a imagem de um provedor que se insere em mbitos internacional e nacional. De que modo a expresso acabar em pizza ajuda na construo dessa imagem?
(UNICAMP - 2008 - 2fase - Questo 4) Os versos seguintes fazem parte do poema Um chamado Joo de Carlos Drummond de Andrade em homenagem pstuma a Joo Guimares Rosa. Trabalhe as questes 4 e 5 a partir da leitura do poema. Um chamado Joo Joo era fabulista? fabuloso? fbula? Serto mstico disparando no exlio da linguagem comum? Projetava na gravatinha a quinta face das coisas inenarrvel narrada? Um estranho chamado Joo para disfarar, para farar o que no ousamos compreender? (...) Mgico sem apetrechos, civilmente mgico, apelador de precpites prodgios acudindo a chamado geral? (...) Ficamos sem saber o que era Joo e se Joo existiu deve pegar. (Carlos Drummond de Andrade, em Correio da Manh, 22/11/1967, publicado em Rosa, J. G. Sagarana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.) a) No ttulo, chamado sintetiza dois sentidos com que a palavra aparece no poema. Explique esses dois sentidos, indicando como esto presentes nas passagens em que chamado se encontra. b) Na primeira estrofe do poema, fbula derivada em fabulista e fabuloso. Mostre de que modo a formao morfolgica e a funo sinttica das trs palavras contribuem para a formao da imagem de Guimares Rosa.
(UNICAMP - 2008 - 2fase - Questo 5) Um chamado Joo Joo era fabulista? fabuloso? fbula? Serto mstico disparando no exlio da linguagem comum? Projetava na gravatinha a quinta face das coisas inenarrvel narrada? Um estranho chamado Joo para disfarar, para farar o que no ousamos compreender? (...) Mgico sem apetrechos, civilmente mgico, apelador de precpites prodgios acudindo a chamado geral? (...) Ficamos sem saber o que era Joo e se Joo existiu deve pegar. (Carlos Drummond de Andrade, em Correio da Manh, 22/11/1967, publicado em Rosa, J. G. Sagarana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.) Na segunda estrofe, h dois processos muito interessantes de associao de palavras. Em inenarrvel/narrada encontramos claramente um processo de derivao. Em disfarar/farar, temos a sugesto de um processo semelhante, embora farar no conste dos dicionrios modernos. a) Relacione o significado de inenarrvel com o processo de sua formao; e o de farar, na relao sugerida no poema, com disfarar. b) Explique como esses processos contribuem na construo dos sentidos dessa estrofe.
(UNICAMP - 2008 - 2fase - Questo 9) O poema abaixo pertence a O Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro: Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo.... Por isso a minha aldeia to grande como outra terra qualquer Porque eu sou do tamanho do que vejo E no do tamanho da minha altura... Nas cidades a vida mais pequena Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro. Na cidade as grandes casas fecham a vista chave, Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o cu, Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar, E tornam-nos pobres porque a nossa nica riqueza ver. (Fernando Pessoa, Obra Potica. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1983, p.142.) a) Explique a oposio estabelecida entre a aldeia e a cidade. b) De que maneira o uso do verso livre refora essa oposio?
(UNICAMP - 2008 - 2fase - Questo 11) Leia o seguinte trecho do captulo Contas, de Vidas Secas. Tinha a obrigao de trabalhar para os outros, naturalmente, conhecia do seu lugar. Bem. Nascera com esse destino, ningum tinha culpa de ele haver nascido com um destino ruim. Que fazer? Podia mudar a sorte? Se lhe dissessem que era possvel melhorar de situao, espantar-se-ia. (...) Era a sina. O pai vivera assim, o av tambm. E para trs no existia famlia. Cortar mandacaru, ensebar ltegos aquilo estava no sangue. Conformava-se, no pretendia mais nada. Se lhe dessem o que era dele, estava certo. No davam. Era um desgraado, era como um cachorro, s recebia ossos. Por que seria que os homens ricos ainda lhe tomavam uma parte dos ossos? Fazia at nojo pessoas importantes se ocuparem com semelhantes porcarias. (Graciliano Ramos, Vidas Secas. 103. ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 2007, p.97.) a) Que viso Fabiano tem de sua prpria condio? Justifique. b) Explique a referncia que ele faz aos homens ricos com base no enredo do livro.
(UNICAMP - 2008 - 2fase - Questo 6) O texto abaixo extrado de artigo jornalstico no qual se comparam duas notcias que chamaram a ateno da imprensa brasileira no ms de outubro de 2007: de um lado, o caso entre o senador Renan Calheiros e a jornalista Mnica Veloso; de outro, o artigo em que o apresentador de TV Luciano Huck expressa sua indignao contra o roubo de seu relgio Rolex. Aparentemente, o que aproxima todos esses personagens a disputa por um objeto de desejo. No caso dos assaltantes de Huck, por estar no pulso de um bacana, mais que um relgio, o objeto em questo aparece como um equivalente geral que pode dar acesso a outros objetos (...). Presente de sua mulher, a igualmente famosa apresentadora global Anglica, um relgio desse calibre sinal de prestgio, indicando um lugar social que, no Brasil, costuma abrir portas raras vezes franqueadas maior parte da populao. (...) Mais afinado com as tradies patriarcais de seu estado natal, Renan aparece nos noticirios, bem de acordo com a chamada preferncia nacional dos anncios de cerveja. Da que no seja possvel, em ambos os episdios, associar os casos em questo quele obscuro objeto de desejo que d ttulo a um dos mais instigantes filmes de Lus Buuel. Tratava-se, para o cineasta, de mostrar como um desejo singular, nico, podia engendrar um objeto de grande opacidade. Em direo oposta, tanto na parceria Calheiros/Veloso, quanto no confronto Huck/assaltantes, h uma espcie de exibio ostensiva dos objetos em jogo, como que marcando a coincidncia de desejos que perderam sua singularidade para cair na vala comum das banalidades. (Adaptado de Eliane Robert Moraes, Folha de So Paulo, 14/10/2007, grifos nossos.) a) Um dos usos de aspas o de destacar elementos no texto. Explique a finalidade desse destaque nas seguintes expresses presentes no texto: bacana, abrir portas e preferncia nacional. b) No caso de obscuro objeto de desejo, as aspas marcam o ttulo de um filme de Buuel. Explique como a referncia a esse ttulo estabelece uma oposio fundamental para a argumentao do texto.
(UNICAMP - 2008 - 2fase - Questo 12) O trecho abaixo pertence ao captulo XXII (Empenhos), de Memrias de um Sargento de Milcias. Isto tudo vem para dizermos que Maria-Regalada tinha um verdadeiro amor ao Major Vidigal; o Major pagava-lho na mesma moeda. Ora, D. Maria era uma das camaradas mais do corao de Maria-Regalada. Eis a porque falando delaD. Maria e a comadre se mostraram to esperanadas a respeito da sorte do Leonardo. J naquele tempo (e dizem que defeito do nosso) o empenho, o compadresco, era uma mola real de todo o movimento social. (Manuel Antonio de Almeida, Memrias de um Sargento de Milcias. Mamede Mustaf Jarouche (org.). Cotia: Ateli Editorial, 2000, p.319.) a) Explique o defeito a que o narrador se refere. b) Relacione o defeito com esse episdio, que envolveu o Major Vidigal e as trs mulheres.